domingo, 30 de novembro de 2008

Linguagem corporal

Na crítica cinematográfica é comum dizer que o corpo fala por Charles Chaplin e, constantemente, ressalta-se a expressividade dos olhos de Bette Davis.
No romance O processo Maurizius, Jakob Wasermann fala em olhos interrogativos, olhar inquiridor, olhar sombrio e hostil etc.
Sabe-se que os olhos mereceram especial atenção de Machado de Assis, pois lhe retratavam a natureza íntima - boa ou má - das pessoas. Para ficar com apenas uma obra, encontram-se em Dom Casmurro, olhos dorminhocos (Tio Cosme); olhos curiosos (Justina); olhos refletidos (Escobar); olhos quentes e intimativos (Sancha); olhos policiais (Escobar); olhos oblíquos e de ressaca (Capitu).
Na debatida questão do adultério de Capitu, entre os argumentos, todos indícios, embora alguns veementes, há o olhar de Capitu perto do esquife de Escobar.
Frente aos fatos trágicos da vida, desfivelam-se as máscaras e frustram-se as dissimulações; é o que acontece com Capitu. Ela fita o defunto com olhos de viúva e revela, então, que o homem dela, seu marido, de facto, era Escobar.
Avalie-se a força do olhar nos versos de Menotti del Picchia:
"A peçonha da cobra eu curo... Quem souber cure o veneno que há no olhar de uma mulher!"
As partidas de futebol tornaram-se mais atraentes com a linguagem gestual dos jogadores. Já na antiga Roma, nos jogos circenses, o imperador, com o pole­gar levantado ou abaixado, prolatava as sentenças de vida ou de morte.
Cesare Lombroso, fundador da Antropologia Criminal, procurava identi­ficar o criminoso pelo levantamento de determinados traços físicos ou pela con­formação óssea do crânio.
Assim, exprime-se Lombroso em L’uomo delinquente:
"Nessa manhã de um soturno dia de dezembro, não foi apenas uma idéia o que tive, mas um relâmpago de clarividência. Ao ver o crânio do salteador Vihella, percebi subitamente, iluminado como uma imensa planície sob um céu em fogo, a natureza do criminoso. Um ser atávico, reproduzindo os ferozes instintos da humanidade primitiva, dos animais inferiores. Assim podemos explicar (o crimi­noso) pelas enormes mandíbulas, ossos salientes das maçãs, arcos proeminentes dos supercílios, tamanho exagerado das órbitas, olhar sinistro, visão extremamente aguçada, nenhuma propensão à calvície, orelhas em alça, insensibilidade à dor, nariz tendendo à direita, falta de simetria geral. No comportamento, indolência excessiva, incapacidade de ruborizar, paixão por orgias - e desejo insano do mal pelo próprio mal. Vontade não apenas de tirar a vida da vítima mas também de mutilar-lhe o corpo, rasgar sua carne, beber seu sangue."
(Soares, Veríssimo, Millôr, 1992:93)
Pela mímica pode-se conhecer o testemunho de surdos-mudos como ocor­reu em Mogi das Cruzes (Folha de S. Paulo, 30-4-93).
A falsidade de um depoimento pode revelar-se até mesmo pela transpiração, pela palidez ou simples movimento palpebral.

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