Na crítica cinematográfica é comum dizer que o corpo fala por Charles Chaplin e, constantemente, ressalta-se a expressividade dos olhos de Bette Davis.
No romance O processo Maurizius, Jakob Wasermann fala em olhos interrogativos, olhar inquiridor, olhar sombrio e hostil etc.
Sabe-se que os olhos mereceram especial atenção de Machado de Assis, pois lhe retratavam a natureza íntima - boa ou má - das pessoas. Para ficar com apenas uma obra, encontram-se em Dom Casmurro, olhos dorminhocos (Tio Cosme); olhos curiosos (Justina); olhos refletidos (Escobar); olhos quentes e intimativos (Sancha); olhos policiais (Escobar); olhos oblíquos e de ressaca (Capitu).
Na debatida questão do adultério de Capitu, entre os argumentos, todos indícios, embora alguns veementes, há o olhar de Capitu perto do esquife de Escobar.
Frente aos fatos trágicos da vida, desfivelam-se as máscaras e frustram-se as dissimulações; é o que acontece com Capitu. Ela fita o defunto com olhos de viúva e revela, então, que o homem dela, seu marido, de facto, era Escobar.
Avalie-se a força do olhar nos versos de Menotti del Picchia:
"A peçonha da cobra eu curo... Quem souber cure o veneno que há no olhar de uma mulher!"
As partidas de futebol tornaram-se mais atraentes com a linguagem gestual dos jogadores. Já na antiga Roma, nos jogos circenses, o imperador, com o polegar levantado ou abaixado, prolatava as sentenças de vida ou de morte.
Cesare Lombroso, fundador da Antropologia Criminal, procurava identificar o criminoso pelo levantamento de determinados traços físicos ou pela conformação óssea do crânio.
Assim, exprime-se Lombroso em L’uomo delinquente:
"Nessa manhã de um soturno dia de dezembro, não foi apenas uma idéia o que tive, mas um relâmpago de clarividência. Ao ver o crânio do salteador Vihella, percebi subitamente, iluminado como uma imensa planície sob um céu em fogo, a natureza do criminoso. Um ser atávico, reproduzindo os ferozes instintos da humanidade primitiva, dos animais inferiores. Assim podemos explicar (o criminoso) pelas enormes mandíbulas, ossos salientes das maçãs, arcos proeminentes dos supercílios, tamanho exagerado das órbitas, olhar sinistro, visão extremamente aguçada, nenhuma propensão à calvície, orelhas em alça, insensibilidade à dor, nariz tendendo à direita, falta de simetria geral. No comportamento, indolência excessiva, incapacidade de ruborizar, paixão por orgias - e desejo insano do mal pelo próprio mal. Vontade não apenas de tirar a vida da vítima mas também de mutilar-lhe o corpo, rasgar sua carne, beber seu sangue."
(Soares, Veríssimo, Millôr, 1992:93)
Pela mímica pode-se conhecer o testemunho de surdos-mudos como ocorreu em Mogi das Cruzes (Folha de S. Paulo, 30-4-93).
A falsidade de um depoimento pode revelar-se até mesmo pela transpiração, pela palidez ou simples movimento palpebral.
domingo, 30 de novembro de 2008
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