terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Vida Mística e Oculta de Jesus(livro parte15)

Dorismo e Ionismo
Dorismo e ionismo são termos também empregados e o leitor, menos
versado, não desgostará que lhes indiquemos a origem, embora de modo
perfuntório, mas cujo desenvolvimento se encontrará na Mission des Juifs.
O primeiro termo é derivado de uma região da antiga Grécia, ao Sul da
Thessalia, chamada Dorida.
É deste luar que teve origem, no Oriente, a Ordem arquitetônica chamada
Dórica, implantada pelo patriarca Rama que, sem dúvida, a recebera por tradição,
dos atlantes, pois os templos desenterrados ali, no México, no Peru, na Oceania e
na Caldéia confirmam, exuberantemente, a existência dessa primitiva Ordem.
Mas, como uma Ordem arquitetônica não se cria como cogumelo, da noite
para o dia, segue-se que, nessa época, deviam existir sérias academias. A prova é
que os doutos modernos, apesar da evolução da arte dos bangalôs e arranha-céus,
ainda não conseguiram criar outra, além das cinco clássicas.
O próprio módulo, por exemplo, cuja origem científica ainda é
desconhecida pelas academias, era tirado de regras musicais como veremos e, de
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acordo com essas regras, se construíam os templos, Seus vasos, seus vitrais etc. e
baseavam sua liturgia.
Essas regras estão claramente indicadas na Bíblia por Moisés, Ezequiel e
outros, quando, por ordem de Jeová, tiveram de construir o templo. Cada medida ali
indicada corresponde, exatamente, à nota musical do acorde tomado por base.
Cada nota possui um número certo de vibrações, facilmente verificável, com as
placas vibrantes dos nossos laboratórios de física, e estas estabeleciam o desenho
da ordem, do estilo, o formato dos vasos, dos vitrais etc.
Essa descoberta foi feita por Saint-Yves e magistralmente descrita por Ch.
Gougy279, arquiteto de Paris.
Séculos depois de instituída a Ordem Dórica, isto é, cerca de 3.500 anos
antes da nossa era, se deu na Índia o citado cisma de Irshu.
Tendo esse revolucionário, ambicioso por uma tiara, constituído suas
hostes para a propaganda das idéias naturalistas e feministas, compôs um
estandarte com fundo vermelho, tendo ao centro uma pomba branca, símbolo da
mulher. A pomba, em sânscrito, traduz-se por Ionah. Daí o ionismo.
O Estandarte de Semiramis280, rainha da Babilônia, tinha como emblema a
pomba vermelha, em fundo branco, tendo-se esta rainha passado para o ionismo, tal
como seu falecido marido — Ninus — o terrível e sanguinário imperador da Assíria.
Deste termo Ionah se originou, por inversão, o de João, o Batista, Io-hanlo-
nah.
Lucas I, 13, 60 a 63 esclarece bastante a respeito. É a pomba que João
diz ter visto descer sobre Jesus, por ocasião do seu batismo — puro simbolismo;
279 L'Harmonie des formes et des sons en Architecture.
280 Nome que revela sua religião — Sem — Ram.
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como simbolismo, também é o Sol que Jesus teria encarado nessa ocasião,
figurando a dinastia solar, a Ordem dórica, a religião de Rama.
Ainda hoje, os ascetas iniciados no Taoísmo, japonês, encaram o Sol em
um prolongado êxtase, até verem nele refletido seu espírito, como o corpo material é
refletido pelo espelho281.
Moisés, depositário da tradição dessa Ordem, não se esqueceu de
consigná-la em Gênesis XIX, 14, citando Melquisedeque, rei de Salém, e Abraão,
chefe da respectiva academia abramide.
Não há, pois, como se vê, interpretações ou idealismo; mas pura tradução
ao pé da letra, da significação que essas figuras tinham naquela época e que, com o
tempo, se foram deturpando, passando a pomba a representar mais tarde o Espírito
Santo, em pessoa, isto é, uma das três parcelas de Deus!
Das academias que esse cisma produziu saiu a Ordem arquitetônica
chamada iônica.
São essas duas as verdadeiras Ordens cientificamente baseadas em uma
matemática quantitativa e qualitativa.
Delas derivaram, depois, a Coríntia, a Composita que, como indica seu
nome, é uma composição das anteriores e, por último, a Toscana, não passando de
mera expressão da vaidade e do orgulho do seu povo, com caráter puramente
externo.
É bom dizer, de passagem, que a palavra Toscano (Tos-Kans), a antiga
Etrúria, significa, em sânscrito, Ciência, Potência, Potência dos letrados, e era um
dos 12 povos oriundos do Oriente, que ocupou uma parte da península italiana, do
Arnus ao Tibre.
281 La Chine — Le Voile d'lsis — número especial
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Por aí se pode deduzir que não cria uma Ordem quem quer, porque esta
é a síntese de vastos conhecimentos. Por isso até agora ainda não surgiu outra
Ordem, propriamente dita, apesar das capacidades intelectuais que as academias
possuem.
Mas, não devemos confundir Ordem com Estilo.
O mesmo se dá com a música, que lhe serviu de base, na qual ainda não
se conseguiu introduzir mais uma nota, nem com a física, mais uma cor, nem com a
astronomia, mais um planeta.
Dorismo e ionismo representam, igualmente, a fonte do patriarcado e do
matriarcado, largamente desenvolvido por Saint-Yves. O patriarcado tinha relação
com o sacerdócio do Deus masculino, simbolizado no disco solar, e o matriarcado
com o deus feminino, simbolizado pela lua.
Já Orfeu, condiscípulo de Moisés nos templos do Egito, sintetizava esse
monoteísmo no seguinte verso: "Júpiter é o Esposo e a Esposa divinos".
A Ordem Dórica, a patriarcal de Rama, foi a Ordem Teocrática, a Ordem
Arbitral.
A Ordem Iônica, filha de um cisma, foi a Ordem Militar, a Ordem Arbitrária.
Para mais detalhes acerca da aplicação prática da ordem dórica,
enviamos o leitor ao nosso artigo a respeito de "Referências Bíblicas" — inserido no
Adendo.
Conseqüências do Cisma de Irshu
Do cisma de Irshu, que revolucionou o mundo naquela época, destruindo
o dorismo, suas academias, seus patriarcas e seus pontífices, dos quais escapou
um, mais tarde, que foi o célebre Melquisedeque, nasceu todo o mal que infelicita
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atualmente a humanidade de um pólo ao outro, e que recrudesce com mais
violência, apesar dos esforços tentados para paralisá-lo, à medida que se
desenvolvem as idéias de militarismo e de feminismo.
Foi a substituição da Autoridade282 pelo Poder283, foi o militarismo que daí
nasceu, foi a política partidária que este estado de coisas cria, foi conseqüentemente
a anarquia nacional e internacional, mental e governamental que hoje rege os povos;
foi, em suma, o feminismo de Irshu. Foi o desaparecimento gradual, embora lento,
do dever da mulher na sociedade, perante a natureza e de seus fins no lar, que é o
de preparar as gerações vindouras pela educação moral, e cujos filhos, hoje, são
entregues a mercenárias, enquanto a mãe debate um processo na barra do Tribunal,
ou açode a um doente, ou vai martelar em uma máquina de escrever, se não vai
pelas avenidas em passeios sem destino.
É o resultado a que chegou em nossa pátria, o desinteresse das crianças
e da mocidade por questões transcendentes, preferindo-as pelos jogos esportivos e
fitas de faroeste.
É a anomalia desarmamentista e a criação de batalhões infantis e de
escoteirismo.
A educação moral e cívica de um povo não se adquire nas escolas; é no
regaço da mãe, no balbuciar das primeiras palavras e nas preces que ela ensina ao
filho para elevar ao Altíssimo.
A mãe é quem educa, o pai instrui; a mãe é a Autoridade, o pai é o Poder.
O lar em que faltar um desses fatores ou não for compreendida essa distinção, é um
lar desorganizado, pendendo para a anarquia, porque um só não pode exercer as
282 Autor - o que ensina e não o possuidor de uma parcela do Poder.
283 Militarismo, Política, Anarquia.
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duas funções, simultaneamente, sem que uma delas fique em perigo. Disso temos
particular experiência.
Mas, para encobrir essa falta do seu sagrado dever, dá-se hoje o
retumbante nome de Emancipação da Mulher, como se fosse uma escravidão ser o
guia da humanidade, o espírito do futuro homem, o farol das gerações, o anjo
intermediário de Deus.
Mas, em suma, a que Ordem de mulher se refere essa emancipação?
Tanto direito tem a essa suposta liberdade a mãe intelectual, como a mãe
analfabeta, a mãe milionária como a pobretona, a branca como a negra.
E o que significa essa liberdade? Agir como o homem, ocupando seus
cargos?
Ora, sendo o direito um só, quem irá se encarregar dos deveres maternos
e caseiros?
A milionária não deveria encontrar substituta, porque as pobres que se
empregam também se julgam com o mesmo direito a essa curiosa emancipação.
Mas, como a necessidade de viver obriga uma parte a se alugar, segue-se que essa
irônica emancipação é só para a milionária ou para a burguesa que, por natureza,
não precisam dela. Trabalhar como criada, datilografa, lavadeira ou caixa é incidir na
mesma escravidão ao trabalho, imposta pela milionária ou burguesa, que se batem
por essa estupenda liberdade! Há, talvez, uma diferença: essa escravidão da classe
pobre ao trabalho é livre, ao passo que a escravidão no lar indolente dos nossos
tempos é insuportável e aviltante, embora sofram a prole e o futuro da humanidade.
Desse modo, em boa lógica, ao homem competirá, um dia, essa
escravidão, voltando aos costumes druídicos e das Hamas-Ohnes, que povoaram
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Salém, e ainda em uso nas Canárias, quando todos os empregos masculinos forem
exercidos pela mulher, salvo, dirão, o de carne para canhão!
Pois, nem isso escaparia como se vai ver do telegrama passado à
imprensa em junho de 1929:
"As mulheres pediram para alistar-se no exército; o
governo de Buenos Aires respondeu-lhes que o dever da
mulher era outro: no lar, para a educação dos filhos".
Já estavam escritas estas linhas, quando nos mostraram o seguinte
artigo, saído na Vanguarda, em 28 de maio de 1929, da pena de Nicolau Ciancio, ao
qual pedimos licença para transcrever.
"As grandes questões sociais."
"A Inglaterra proíbe às mulheres o estudo da medicina."
"Há já algum tempo que lemos notícias contra o feminismo na
Inglaterra”.
“Há tempos lemos que as universidades inglesas haviam
fechado a porta às 'misses'. Isso foi no começo do ano letivo de
1928."
"Depois, os jornais noticiaram que essa hostilidade se estendia
às datilógrafas. Bancos e casas de alto comércio não admitiam
mais o sexo fraco para escrever à máquina. Por quê?"
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"Porque explicavam os diretores desses estabelecimentos: As
mulheres põem as casas em sobressalto284."
"Agora a questão é mais séria. Foi levado ao parlamento inglês
por sir Graham Littis. É que as cinco principais clínicas de
Londres negaram no começo deste ano a matrícula às
estudantes de Medicina. Elas tiveram de concentrar-se todas
nas duas clínicas, cujas diretoras são mulheres. Mas houve
dois inconvenientes: 1º, não houve lugar para todas; 2º, não é
nessas duas clínicas que há os melhores mestres”.
“Mas, por que os homens não querem que as mulheres
estudem Medicina? Alegam ser anti-social a masculinização da
mulher”.
“Em um estado moderno o papel da mulher deve ser
principalmente a maternidade e a criação dos filhos; assim
afirmam os diretores das clínicas londrinas. E acrescentam:
'Cada doutora que se forma é, ao mesmo tempo, uma boa
esposa e uma boa mãe perdida'.”
“A dedicação da mulher aos livros de ciências é uma subtração
de carinho ao esposo e aos filhos."
E, enfim:
284 Temos o mesmo exemplo nos nossas repartições públicas.
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"Quanto mais se enriquecem os laboratórios e os hospitais com
a inteligência feminina, tanto mais se empobrece o mundo em
Amor".
A América do Norte, modelo em questões sociais, deu início a uma
campanha antifeminista, como se vê em um comunicado epistolar da United Press:
Winnipeg, Manitoba, Canadá — Janeiro — "Dentro de poucas semanas o
governo provincial de Manitoba iniciará um movimento destinado a afastar de todos
os empregos governamentais as senhoras casadas que tenham quem delas se
ocupe". Uma comunicação nesse sentido, aliás, foi feita oficialmente por C. M.
McCann, comissário do Serviço Civil do Estado.
Esse movimento obedece a uma Lei que deveria ter começado a vigorar
cm 1º de janeiro, e que foi esposada pelo gabinete da província, ordenando a todos
os governos de departamentos que deixem de empregar mulheres casadas cujos
maridos tenham com que ganhar a vida.
A exclusão das mulheres casadas, que não necessitam trabalhar nos
empregos do governo, virá aliviar grandemente a atual falta de trabalho, segundo o
desejo provincial e segundo espera McCann.
Não é de hoje essa campanha pela burlesca emancipação da mulher,
com direitos iguais aos dos homens.
E, se essa estrambótica emancipação viesse um dia a ser legislada, como
parece já o pretendem fazer nesta pobre terra de macaqueação com a reforma
Constitucional, adeus à poesia da esposa, adeus ao verdadeiro sentimento amoroso
do lar, como o que existia no tempo dos nossos pais, ainda há 20 anos, dando uma
prole educada e respeitadora dos seus progenitores.
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Já não basta o vergonhoso espetáculo a que se assiste no centro e em
todos os subúrbios da nossa Capital; a prole é criada no meio da rua, onde fica até
altas horas da noite, tal como as galinhas, cães, porcos e cabritos, com a única
diferença que esses animais se recolhem cedo aos seus abrigos. As crianças
formam grupos, nos quais os vícios e os maus costumes são transmitidos aos mais
ingênuos, constituindo verdadeira sementeira de malfeitores e de mal-educados, o
que concorre para depreciação de uma cidade, que pretende ser civilizada.
E como não ser assim? Não tendo os pais recebido a devida educação
dos seus maiores, claro é que não a podem transmitir à prole.
Fosse o Ministro da Educação criado com o fim especial de EDUCAR e
INSTRUIR, simultaneamente, a mocidade nos bons costumes de um povo que se
presa, e no conhecimento das ciências, distribuindo a mãos cheias códigos de
civilidade, se poderia, ainda, esperar, num futuro próximo, uma nova geração
educada e instruída.
O indiferentismo, porém, dos nossos governos, por essas questões
sociais, levará o Brasil a manter uma população de muitos analfabetos e uma legião
de gavroches.
Mas onde está a mãe para guiar essas pobres criaturas? Está
emancipada!
Não será de estranhar assistir-se um dia a diálogos desta natureza:
"De onde viestes, esposa? São três horas da manhã
e tive de acudir ao petiz que reclamava a mamadeira”.
“Que te importa isso? Estive numa reunião feminista
tratando das futuras eleições!"
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O mal já vem de tão longe que o próprio Buda era antifeminista.
Eis uma das suas lições, ao seu discípulo Ananda:
"Como deveremos nos comportar para com as mulheres?
“Não as procureis, Ananda.
Mas, se as virmos, como faremos?”
“Não lhes faleis”.
“Mas, se tivermos de lhes falar, como deveremos nos
comportar?”
“Concentrareis toda a força do vosso espírito".
Ai! No dia em que o homem procurar reivindicar seus direitos naturais,
respeitados no reino animal, será a repetição das eras druídicas. É essa a opinião
de Saint-Yves em Mystéres de l'Orient. E essa a opinião da escritora Rachilde em
Pourquoi je ne suis pas féministe.
Lei do Verbo
E sabido que o homem nunca inventou nenhuma lei, seja ela qual for. De
acordo com sua evolução mental e moral lhe é dado constatar essas leis em certas e
determinadas épocas.
Todos os fenômenos da natureza repousam, alguns, em leis
perfeitamente definidas hoje, e outros ainda por definir. Essas leis, por sua vez, têm
por base principal um Princípio. Embora o homem desconheça esse Princípio,
como na eletricidade, nos raios X etc., ele reproduzirá o fenômeno tantas vezes
quantas quiserem, se lhe conhecer a lei.
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O mesmo dá-se com a Lei do Verbo, cujo fenômeno se verifica na
palavra humana, lei intimamente ligada aos fenômenos da sonometria, da
cromometria etc., e cujo Princípio é DEUS.
A Lei do Verbo, pois, é a própria Lei Matemática do Criador, porque ele é
a própria Unidade, de onde tudo parte, ele é o Princípio incognoscível de todas as
leis.
Para dar ao leitor uma pequeníssima idéia do que seja esta lei, faremos
uma súmula da letra Y ou I do triângulo de Jesus, I-Sh-0 (Figura 2), comparando, em
seguida, as homologias das outras letras a 180 graus sobre o Arqueômetro, sua
inversão por metátese, como se compunham as palavras litúrgicas, científicas,
sociais, sua junção com outras, suas correspondências com as constelações e os
planetas, obedecendo, assim, às forças fenomênicas regidas pelos números, numa
matemática quantitativa e qualitativa, e provaremos que as palavras não eram
formadas arbitrariamente como hoje, mas, semicingindo-se à Lei Divina, à Lei do
Verbo. Essa Lei formava uma tecnologia sábia em várias línguas, bem distantes
umas das outras, o que corrobora a Universalidade da mesma Ciência e as palavras
de Moisés.
As palavras eram formadas, unicamente, com as 12 consoantes que eram
e são letras mudas, isto é, impronunciáveis, relacionando-se com certos fenômenos
da natureza, representados, por sua vez, simbolicamente, pela sua conformação
geométrica, por isso chamada morfológica, isto é, falante, como veremos.
O som dessas letras era dado por uma das sete vogais que se
relacionavam, por sua vez, com uma das sete notas da música, que, a seu turno,
igualmente, tem íntima ligação com a questão dos números a que está preso o
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problema universal das vibrações, que tem dado lugar às estupendas descobertas
modernas.
Para que o leitor se compenetre de que o Verbo, na Antigüidade, era
considerado como o dom mais sagrado e misterioso que foi dado ao homem,
citemos as palavras do maior sábio egiptólogo, M. G. Maspero: "A palavra é o
instrumento mágico por excelência, aquele sem o qual as operações mais elevadas
da arte jamais atingiriam: 'cada uma das suas emissões alcança o mundo invisível e
põe em jogo forças de que o vulgo não suspeitaria, nem as múltiplas ações nem
mesmo a existência' ".
Sem dúvida, o texto de uma evocação, a seqüência das palavras de que
ela é composta, tem seu valor real, mas, incompleto, se a voz não vem animar a
letra; para ser eficaz, a conjuração deve ser acompanhada de um canto, tornar-se
uma encarnação, um carma. Quando se a declamava com a melopéia sacramentai,
sem modificar uma ondulação, ela produzia necessariamente seus eleitos; uma nota
falsa, um erro de compasso, a intervenção de dois sons de que ela se compunha,
nulificava o efeito. Eis por que todos que recitavam uma prece ou uma fórmula
destinada a ligar os deuses285 para a realização de um ato determinado chamavamse
Ma Khrôon, isto é, certos de voz, gente de voz justa, e não só os mortos, como
se crê vulgarmente, mas os vivos mesmo; o resultado favorável ou desfavorável da
operação dependia inteiramente da justeza da voz.
Demetrius de Phatero, sábio historiador do terceiro século antes de Cristo,
escreveu: "No Egito os padres cantam louvores a Deus, servindo-se das sete vogais
que eles repetem sucessivamente, e a eufonia agradável do som dessas letras pode
substituir a flauta e a citara".
285 Entenda-.se as forças da natureza — os Eloins.
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Esses sete sons estavam e estão em relação íntima com cada uma das
sete esferas planetárias, conforme já garantia Nicomaque de Gerare, grande
matemático e músico profundo do 2º século da nossa era e discípulo de Pitágoras.
Diz ele: "Os sons de cada uma das sete esferas produzem um certo ruído; a primeira
realizando o som inicial, e a esses sons é que deram os nomes das vogais. Os
sábios qualificam essas coisas de inexprimíveis por si mesmas, visto como o som,
aqui, tem o mesmo valor que a Unidade em aritmética, o ponto em geometria, a letra
em gramática. Se essas coisas forem combinadas com substâncias materiais, tais
como são as consoantes, do mesmo modo que a alma é unida ao corpo e a
harmonia às cordas, elas realizam seres animados, sendo que, umas realizam sons
e cantos, outras faculdades ativas e produtivas das coisas divinas. Eis por que os
teurgos, quando adoram a divindade, a invocam simbolicamente com assovios
estridentes ou suaves, com sons inarticulados e sem consoantes".
Esses cantochões, esses hinos de fancaria de todas as igrejas,
acompanhados por um órgão desafinado, choramingados, por vozes fanhosas, em
vez de produzirem a necessária harmonia nos átomos etéreos, fazendo vibrar a
alma numa sintonia celeste, produzem a desarmonia entre as próprias leis que
regem o som, repercutindo desagradavelmente no sistema nervoso, como sucede
com os jazz-bands, os sambas, as cuícas e quejandos instrumentos, tão apreciados
por indivíduos sem fibras humanas. O próprio cão uiva de dor quando se toca na
vizinhança um sino ou um clarim desafinados.
Santo Irineu dizia que as vogais repercutem nos sete céus (planetas).
Euzébio de Cezarea diz que as sete vogais celebram o nome misterioso
de Deus. Esse nome, segundo diz Moisés, foi-lhe revelado pelo próprio Criador na
sarça ardente, e traduz-se por I E V E, isto é, segundo a pronúncia I E O A, Jeová.
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O nome IEVE é igual, em matemática quantitativa, a 10 + 5 + 6 + 5 = 26;
este número se encerra em duas letras sânscritas KV. Ora KaVi significa: "O Criador
pela Palavra".
Este número 26, trazido à sua raiz de simetria que é o 13, se traduz em
duas letras adâmicas: IG, segundo o sistema decimal A G.
Em sânscrito é AGNI, o Fogo Divino.
Moisés diz: "Nosso Deus é um Fogo devorador".
Porfírio já fazia alusão à teoria paga da pronúncia das sete vogais, de
acordo com as sete notas musicais correspondentes, por sua vez, aos sete planetas
e às sete cores do espectro solar, teoria esta, segundo os gregos, trazida da Caldeupersa,
por Ostanes, partidário da doutrina de Zoroastro.
Essas vogais eram as seguintes e correspondiam aos sistemas
planetários sonométrico e cronométrico, como se vê:
a e h i o (y) (õ)
Lua Mercúrio Vênus Sol Marte Júpiter Saturno
Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá
Lá Sol Fá Mi Ré Dó Si
Amarelo Vermelho Azul Branco Alaranjado Verde Violeta
Obs.: As notas em negrito estão de acordo com o Arqueômetro. Saint-Yves inverteu
a ordem dando razão a Bailly. Verifique o Arqueômetro.
Mas segundo Edmond Bailly (Le chant des voyelles — 1912) deve-se
inverter a ordem musical, passando o lá para a Lua e assim por diante. Este erro
partiu do abade Barthelemy, pela confusão que ele fez entre o baixo e o agudo que
inverteu.
Segundo R. Koening, os cinco planetas (excluídos o Sol e a Lua) do
sistema grego u o a e i, são caracterizados pelas cinco oitavas do Si bemol, ou seja,
451
em números redondos respectivamente a 450 — 900 — 1800 — 3600 — 7200 —
vibrações sonoras por segundo, o que está de acordo com a descoberta de Saint-
Yves, do verdadeiro metro musical, baseada no número 144 mil do Apocalipse de
João, correspondente à nota Sol.
Os chineses, cuja música é conhecida há mais de seis mil anos, têm cinco
tonalidades na voz, por isso parecem cantar quando falam. É essa a maior
dificuldade para um ocidental aprender a língua chinesa. Um mesmo sinal (Kua)
muda de sentido conforme a modalidade musical que se lhe imprime, e só mesmo
um ouvido educado por muitos anos conseguirá diferenciá-lo.
Por isso a palavra Abraão, em chinês, não pode ser pronunciada de outro
modo senão por A-pu-la-mu.
Segundo a inscrição cuneiforme de Borsipa, Nabucodonosor gaba-se de
ter restaurado a torre das sete luzes da terra, construída por um antigo rei do país,
alta de sete andares, distinguidos pelas sete cores do espectro solar,
correspondentes cada uma a um planeta, o que faz remontar sua construção e sua
ciência astronômica a uma remotíssima Antigüidade, cuja torre, na opinião de A.
Maury e F. Lenormont, não seria outra senão a famosa Torre de Babel, que já
demonstramos ser uma tentativa de síntese religiosa científica.
A reunião de duas ou mais letras para formar as palavras como se verifica
no Arqueômetro obedecia, portanto, a uma ciência, como a música obedece às leis
da Harmonia, a física e a química às leis de vibrações moleculares, a astronomia às
leis da matemática, a matemática às leis dos números e o número às leis divinas.
Analisaremos, portanto, isoladamente, ou junto a outras, as letras do I Ph
O e I Sh O, que se lêem no Arqueômetro e na Figura 2, com sua significação literal
em várias línguas da Antigüidade, cujo sentido era sempre o mesmo.
452
Daremos também, em seguida, uma demonstração clara e precisa, da
maneira como foi formada a palavra Abraão (Abraham), pela qual se verá que este
termo não representava uma personalidade de carne e osso, como a Bíblia o
traduziu no primeiro sentido, para melhor compreensão da massa ignorante.
A respeito do Arqueômetro e da Figura 2 se vê à direita a letra:
Y ou I ou J = 10
Sua significação em várias línguas (Isoladamente)
Ya A Potência Divina manifestando-se – Deus em ato pelo seu Verbo........
A afirmação divina....................................................................................
A Potência unitiva, a Doação, a Glorificação............................................
A Emissiva de ida, a Remissiva de volta..................................................
Hebraico
Hebraico
Hebraico
Hebraico
Yaj O surto da Oração e da Adoração........................................................... Sânscrito
I O Santo Sacrifício, a ação de sacrificar-se.............................................. Sânscrito
ij-Ya O Mestre espiritual................................................................................... Sânscrito
As letras Zodiacais duas a duas
(Correntes e invertidas)
I Ph A Manifestação perfeita da Graça e da Beleza.................... Hebraico e Árabe
Ph I A Palavra de Deus...............................................................
A Boca de Deus...................................................................
Hebraico e Árabe
Árabe
Ph O O Sopro da boca e, portanto a Voz e a Palavra...................
A luz, Phos; a Voz, Phone....................................................
Sânscrito e Hebraico
Grego
PA Va A Unificação das Almas....................................................... Sânscrito
O Ph A Manifestação gloriosa....................................................... Árabe
O ph A Visão divina....................................................................... Grego
Va J A reintegração na Vida Divina.............................................. Védico
Y O O movimento remissivo da Luz............................................ Hebraico
453
Ya O A Potência divina dessa remissão....................................... Sânscrito
Va Ya O Movimento da Volta.......................................................... Sânscrito
A letra planetária com as zodiacais, duas a duas*
I Ça O Mestre Supremo – o Soberano Sobrenatural........... Sânscrito
Ya Ç A Glória soberana......................................................... Sânscrito
I SH O Pensamento Vivo em Ato Vivo................................. Hebraico
Si A Terra dos Vivos......................................................... Védico
As letras zodiacais três a três
(Correntes e invertidas)
I Ph O O Verbo de Deus — Deus Verbo.............................................. Sânscrito
Ph O Y O Verbo de Deus — Deus Verbo.............................................. Sânscrito
O Ph Y A Glória de Deus....................................................................... Sânscrito
I Ou Pa O troféu divino, a Cruz, o tronco sagrado no qual se amarra a
vítima.........................................................................................
Sânscrito
As letras planetárias com as zodiacais três a três
(Correntes e invertidas)
Y Sh O O Deus Homem, o Deus Salvador, o Deus da Humanidade
— Jesus..................................................................................
Hebraico
Yç Va O Senhor................................................................................. Sânscrito
Sh Ou Y O Homem Deus...................................................................... Etíope
S Va Ja O Filho.................................................................................... Sânscrito
Ç I Va O Bem-aventurado, o Libertador Final................................... Sânscrito
* Nota: As letras chamadas Zodiacais e planetárias são as que correspondem aos signos zodiacais e
aos planetas, que se vêem no Arqueômetro.
454
V Iç Wa O Universal............................................................................. Sânscrito
O Sh I O Homem Deus...................................................................... Egípcio
Sa V Ya O Norte, a Orientação dos Arianos......................................... Egípcio
A letra planetária com as zodiacais, quatro a quatro
(Correntes e invertidas)
S O Ph Ya A Sabedoria de Deus............................................. Hebraico e grego
YOSh e Ph A Esfera Luminosa de Deus..................................
O Livro de Luz, o Livro mostrado no Monte a
Moisés, o Livro evidente de que fala Maomé,
declarando não lhe compreender os mistérios. O
nome de IOSEPH (José) é derivado deste
hierograma..............................................................
Hebraico
Hebraico
Por onde se vê claramente que os termos IShO — IPhO, como todos os
outros, foram compostos, como dissemos, baseados numa ciência e não
arbitrariamente.
I-PhO — Pho significa também palavra, voz, som e luz.
Por homologia a 180 graus (vide a figura)
Y R (Irá) A Palavra — Divindade da Palavra............................ Sânscrito
R Y (inv.) Sim rei — Reinar........................................................ Sânscrito
Vejamos agora o termo:
INRI
(I-na-ra-ya)
I-NRI Ele, a humanidade.............................................................. Vattan
455
I-Na-Ra Ele, a Alma do Universo..................................................... Veda
I-Na-Ra-Ya Ele, o Na Ra Deva, o Homem Deus (mas, como o
homem superior entre os homens e não como divindade
propriamente dita)...............................................................
Sânscrito
Eis o verdadeiro significado do letreiro posto na Cruz, e não com o sentido
que lhe deram os tradutores que ignoravam essas línguas. Esta significação era
certamente conhecida por Pilatos, iniciado nas ciências como devia ser pelo seu
cargo, por isso respondeu aos judeus: "O que escrevi, escrevi" (João XIX, 19).
As homologias dessas letras sobre o Arqueômetro, a 180°, isto é, nas
duas extremidades do seu diâmetro, são YR — LHa ou LHe — MÔ — WZ — PhE —
KT e, inversamente, RY — EI — OM — ZW ou ÉPh — TaK.
De modo que, traduzindo-se seus significados em sânscrito, teremos:
IR — Palavra, Divindade da Palavra.
La ou Le — O Rei dos Céus, o Mestre do Swarga ou do Paraíso, o Mestre
interior, a Alma, a Consciência.
MÔ — raiz de MÔX e de MOXA: Libertação, Salvação, Libertação dos
laços do corpo e das misérias da vida.
WZ — o ardor e o brilho luminoso.
PhE — Pa — A Potência que governa.
KT — o K significa a alma — o T a Ambrosia, a essência imortal.
Invertendo-se a leitura teremos:
RY ou Rã — Ser rei — reinar.
El, Al — Conter, salvação, glorificação, exaltação.
ÔM, AUM.
ZW ou SWa, Bem.
456
EPh — Que cobre e protege, garantia segura (hebraico).
TaK — Suportar, suster (hebraico); Sede, Trono (caldaico).
No 1° triângulo lê-se IShO — Jesus
No 2° triângulo lê-se M-RiaH
No 3º triângulo lê-se La Ka Za — O Éter, a Potência Éter
No 4° triângulo lê-se HOut — O Fogo divino
Os 3° e 4º triângulos reunidos, partindo do centro A, ao ocidente La e ao
Oriente H, dá o nome ALaH significando, Aquele. Os árabes duplicam o L. Lê-se
também nesta mesma estrela hexagonal o termo ALaH-IM (Eloim) e invertido Mi-He-
La que significa Milícia Celeste — a astralidade.
Correspondências científicas Sudoeste da letra I por 60° sul
Como pequeno exemplo das correspondências das letras para com as
forças fenomenais da natureza, damos em seguida a da letra Y ou I. Por aí se vê
que essa letra ocupava os graus 105 da circunferência, contados da direita para a
esquerda, e os graus 255 contados da esquerda para a direita: que esta letra
correspondia ao verão (agosto, setembro) do hemisfério norte; que sua cor era a
azul; sua forma adâmica era uma espécie de U; seu número quantitativo, 10; sua
nota, MI; seu planeta, Mercúrio; seu signo zodiacal, Virgem etc. Assim:
1 Grau 105° = 360°
255°
2 Verão — Agosto — Setembro
3 Escudo — Azul 120
457
4 Letra vatânica — V
5 Número desta letra — 10
6 Ângulo azul 120 do triângulo de Terra
7 Letra Helicoidal pendida com dardo (vatânico)
8 Número desta letra — 90
9 A Notal Sol
10 A Virgem e suas correspondências
11 Mercúrio diurno e suas correspondências
12 Ângulo azul 120
13 O Raio branco visando este ângulo
14 A Nota Mi e a letra do Sol
Essas correspondências se lêem sobre o Arqueômetro, que, infelizmente,
não podemos reproduzir aqui, e não são obra de acaso nem da fantasia, pois, como
já temos dito, tudo ali obedece a uma rigorosa matemática de vibrações
sonométricas, cromométricas, planetárias e zodiacais, pois tudo no Universo é
numerado, medido e pesado.
São as três célebres palavras do fogo que Baltazar, o Mago, viu aparecer
na sala do seu festim na Babilônia: Mane... Thecel... Pharés (número, peso e
medida).
Santo Agostinho, São Paulo, Ezequiel e muitos outros da Igreja fazem
copiosas referências aos números, dizendo que são as bases em que reside todo
fenômeno da Terra.
458
A própria Bíblia tem um extenso capítulo a respeito de Números,
incompreendidos hoje pelos seus milhões de leitores, bem como o Êxodo286 — Os
Reis287 — Sabedoria288 — etc.
Para que o leitor possa melhor se convencer da maneira como os templos
depositários da Ciência do Verbo compunham suas palavras, vamos extrair do
Arqueômetro a que se refere a palavra Abraham — Ab-ra-ham (Abraão) cujo termo
é a conseqüência das três letras do triângulo de Maria da nossa figura 2 MRH. Por aí
se verá, claramente, que este nome não se referia a homem algum, mas a um
Princípio Sociológico que Moisés sintetizou, como, aliás, todos os personagens da
sua Gênese — e cujos tradutores de primeiro sentido revestiram de carne e osso.
Assim:
As letras zodiacais uma a uma
M - Ma - Me = 40
(seu significado)
Ma O Tempo — a Medida — o Mar,— a Luz refletida — o Reflexo, — a Morte
— a Água.......................................................................................................
Árabe
Mâ A negação Medir, distribuir, dar, arranjar, produzir....................................... Árabe
Ma A água — Tudo ou Nada...............................................................................
A Potência embriogênica, o desenvolvimento no Tempo e no Espaço —
Esta mesma letra também exprime a possibilidade, a interrogação.............
Sânscrito
Hebraico
aM Adorar, sair de si; amata, o Tempo, a Doença, a Morte, concebida como
mutação; amati, o Tempo, o Ano, a Aparência, o Exterior das coisas..........
A Potência receptora, plástica e formadora — a Origem temporal, antítese
do Princípio eterno.........................................................................................
Sânscrito
Hebraico
286 Êxodo XXV e XXVII.
287 Reis VI.
288 Reis XI, I.
459
A Maternidade, a Matriz, a Potência da Emanação...................................... Árabe
R - Ra - Re = 200
(seu significado)
Ra O Desejo, o Movimento, a Rapidez, o Fogo, o Calor
enquanto fluídico e liquidificador..................................
O movimento próprio — a irradiação visível e visual...
A visibilidade e a Visão................................................
Sânscrito
Egípcio e Hebraico
Egípcio e Hebraico
a Ra Rapidez, Raio, Roda.................................................... Sânscrito
a R O Movimento retilíneo, a Força, o Vigor, o Impulso, o
Ardor Gerador...............................................................
Árabe
H - Ha - He = 8
(seu significado)
Em:
Ha A água Viva, o Céu, o Paraíso, a Mor-Morte que para lá conduz,
a Geração que encarna, por oposição à Morte que desencarna....
A aspiração vital, o esforço humano e seu meio.............................
Sânscrito
Hebraico
A Hi A serpente, emblema do tempo.......................................................
As nuvens sublunares.....................................................................
Sânscrito
Védico
aH A similitude na Espécie, a Identidade, a Fraternidade, a
Parentela, o Foco.............................................................................
Hebraico
A letra planetária B, só — combinada com as zodiacais
(seu significado)
Em:
460
B’a Luz refletida — Bondade............................................................. Sânscrito
B’a O Mundo planetário e sua Luz.................................................... Sânscrito
Ba O Meio, o Lugar, a Locomoção, o Temporal, a Origem, a
Duração, a Extensão...................................................................
O Movimento reflexo...................................................................
Árabe
Hebraico
B’U A Terra, como meio e lugar de evolução temporal — Como
Verbo: Existir num lugar e numa condicionalidade.....................
Sânscrito
aB Ter, como corolário de Ser, a Paternidade — a Frutificação, a
Germinação, a Vegetação, a Água, o Mar..................................
Sânscrito
Aa B A Água como elemento orgânico................................................ Persa
Ba-Ha O fundo do âmago das águas..................................................... Sânscrito
BA-RH Redizer—criar pela Palavra........................................................ Sânscrito
B’R â Mi Sustentar, alimentar.................................................................... Sânscrito
As zodiacais duas a duas
(seu significado)
Em:
Mâ Ra A Morte — o Amor...................................................................... Sânscrito
a M Ra A Imortalidade, o Amor............................................................... Sânscrito
Ma Ra A mutação, o Transporte fugitivo dos sentidos.......................... Hebraico
Ra – Ma A Graça — a Volúpia — a Exaltação.......................................... Sânscrito
Hé Ré O Mistério.................................................................................... Hebraico
Ma Ha A Potência que absorve.............................................................. Sânscrito
Ra Ha A raptora aérea — Juno.............................................................. Grego
Ha Ra O Sacrifício — a oblação............................................................
A Purificação...............................................................................
Sânscrito
Hebraico
Ha M O ardor gerador carnal — a Paixão — a Cólera — o Fogo — o
Calor...........................................................................................
Hebraico
461
As letras zodiacais, três a três
(seu significado, Correntes e Invertidas)
Em:
Ha R Mya O que encerra – o Órgão, vísceras – Casa – Palácio,
cidade celeste...................................................................
Sânscrito
Ha R Ma A Obra, o encanto envolvido em seu efeito...................... Védico
Ho R Mas Mesmo sentido. O condutor das Almas ascendentes e
descendentes ..................................................................
Grego
Ra Ha M A eletricidade em movimento – o Raio, o Trovão............. Grego
Ma R-H O Mar................................................................................ Etrusco
Ma Ryâ-H A Pureza – a Virtude – a Virgindade (este sentido é do
Arqueômetro que, por analogia, se refere à mãe de
Jesus)...............................................................................
Etrusco
A letra planetária com as zodiacais, quatro a quatro
(seu significado, Correntes e Invertidas)
Em:
B Ra H Ma Uma das três Potências da Trindade embriogênica dos
Bramas — o Sustentáculo........................................................
Sânscrito
Ma Ha Ba Ra
(inversão)
A grande criação pela palavra. Seu resultado — o Ato — o
Poema Divino............................................................................
Sânscrito
aB Ra Ha M
(inversão)
Abraham (Abraão) a Potência que preside ao segundo
nascimento, ao da Graça; aB Ra Ma, o pai da Graça; Ba Ra
Ma, na Graça............................................................................
Sânscrito
462
Abraão é, como Brama, o Patriarca dos Limbos e do Nirvana, isto é, no
triângulo embriogênico das águas vivas.
Os Bramas dizem: "Extinguir-se em Brama, isto é, voltar aos Limbos".
Em I Crônicas — I, 27 — lê-se: "Abraão que é Abraão".
Segundo o Evangelho, Abraão, isto é, o Princípio Sociológico, a Religião
de Rama, não morreu, ainda vive. Não terá isso alguma analogia com o desejo de
Jesus acerca da permanência de João na terra iniciada, como ele foi por Jesus,
como se depreende do seu Apocalipse?
Ora, como se vê, por este pequeno exemplo, a confecção de uma palavra
não obedecia, como hoje, ao simples capricho do povo, ou de uma Academia de
poetas e romancistas, nem era formada pela derivação de outros idiomas. Elas eram
construídas não só pela sua correspondência geométrica como pelas
correspondências com a cor, o som, o planeta, o signo zodiacal, que elas teriam de
encerrar, como hoje se representa um termo químico pelas anotações de cada
componente.
Os nomes de anjos e arcanjos de que as escrituras estão cheias foram
compostos por Moisés, obedecendo às mesmas regras matemáticas, de acordo com
as funções divinas que representam, isto é, como representantes das forças
fenomenais do Cosmos, verificáveis no Arqueômetro e na astrologia dos persas, nos
quais são representados como anjos de luz e anjos de trevas.
Isso quer dizer que esses nomes não foram criados arbitrariamente como
apelidos, para especificar entidades celestiais, mas são os símbolos científicos das
forças que regem o Universo.
463
E como se disséssemos CH3 Cl para significar o Cloreto de Metila, em
que C é o Carbono, H o Hidrogênio e Cl o Cloro, e pronunciássemos estas letras:
Caotricolo — formando assim um nome.
São abreviações usadas pela química, herdadas da Alquimia, em sua
fonte primordial, como o sistema criptográfico usado pelos governos e pelo
comércio, nas suas comunicações secretas.
Assim, há uma infinidade de nomes de anjos, todos eles compostos de
consoantes que, como sabemos, são letras mudas, impronunciáveis, letras divinas,
fonetizadas pelas sete vogais, correspondentes às vibrações sonoras e cromáticas,
terminando todos pela letra L (EL).
Para não nos alongarmos, citaremos somente os seguintes: Gabriel: G B
R L (Ga-Bara-El) — Ga — Harmonia em movimento desde a das vozes. Bara —
Palavra. El — Deus.
É na Bíblia o portador da Palavra de Deus. É, como já vimos, o mesmo
anjo que falou a Maria e a Maomé.
Rafael: R Ph L (Ra-Pha-El) Ra — Movimento determinado, atingindo seu
fim, a palavra em Ação. Pha — O Órgão do Pensamento vivo do Criador. O sopro
vital e potencial. El — Deus.
Micael: MKL (Mi-Ka-El) Mi — O Centro vibratório (vide Arqueômetro). Ka
— o céu, o que cobre e protege. El — Deus.
Samuel: SMOL (Sam-U-El) — o Esplendor de Deus.
Ismael: ISH M L (Ishma-El) — o Princípio Fluídico da expansão.
Israel: I Sh V R L (Ishwarael) — Povo Real de Deus.
Esses significados são tirados das línguas vatânicas (adâmica), da Zende
e da sânscrita e em todas a letra L significa o Rei dos Reis — Deus.
464
Há nisso, realmente, coisa mais transcendente do que as imagens de
entidades celestiais, munidas de um par de asas e empunhando espada de fogo ou
ramo de flor.
Cada letra corresponde a uma função cosmológica, a uma força
fenomenal, a uma Potência sideral, a um ıloim — por metátese, ou seja, por
inversão — Milhela — Milícia Celeste — Astralidade, e todas estão sujeitas ao
Número — base das vibrações de qualquer sistema solar ou científico.
O "Zohar" que explica os Mistérios da Cabala, diz que as letras hebraicas
são brasas de fogo, cujo manejo requer muita prudência. Daí a razão das palavras
cabalísticas empregadas até na liturgia católica.
Ora, como se vê por este pequeno extrato, a Ciência do Verbo era
positivamente uma ciência e não uma linguagem do pé para a mão, como o
Esperanto ou como os termos da gíria de um povo.
Orfeu escreveu a Ciência do Verbo hoje perdida. Pitágoras denominou o
Verbo de Hieros-Logos (palavra sagrada).
Além dessas correspondências verbais, temos as que se relacionam com
a sonometria, com a cromometria, e, em suma, com toda a matemática quantitativa
e qualitativa que rege a questão de vibrações.
É certo que isso dito assim nada significa para o leitor que não conheça o
Arqueômetro e as ciências positivas, por isso pedimos para dar um pequeno
exemplo entre muitos.
João diz em seu Apocalipse XIV, 12, que "viu 144 mil anjos tocando 144
mil harpas".
Tomando-se esta frase ao pé da letra, parece que João viu uma colossal
orquestra de harpistas celestiais.
465
Além de muitas outras correspondências, essa frase se relaciona com as
144 mil vibrações da nota Sol, que revelou a Saint-Yves o novo e verdadeiro metro
musical, com o estalão métrico dos antigos, 1,44, com o número 1.440 que se refere
às três letras do alfabeto adâmico AMTh (Amath) isto é, a primeira A e a última Th,
que somam 1.400, ao qual se junta 40 da letra M, que significa Lei. Jesus dizia: "Eu
sou o primeiro e o último" — "Eu sou o Verbo, a Palavra". Eu sou o Amath.
São Paulo, Swedenborg e tantos outros criadores e apologistas do
Cristianismo estão de pleno acordo em reconhecer que os nomes da Bíblia são
puras alegorias de fatos altamente importantes.
Saint-Yves, porém, foi o único que desvendou, cientificamente, todos
esses símbolos, tendo para isso se aprofundado em todas as línguas a ponto de
redescobrir a vatânica, ou seja, a adâmica, pelo alfabeto que os Bramas possuem,
que reproduzimos mais adiante (Figura 10) — auxiliado pelo védico e pelo sânscrito
que aprendeu, e da qual ele formou uma farta lexicologia em seu Arqueômetro.
Não há, portanto, fantasia, combinações ou interpretações metafísicas,
como as de seus antecessores, que, certamente, se conhecessem essas chaves
teriam modificado seus ensinos. Mas o leitor por ali compreenderá que não é em um
ensaio como este que se poderia desenvolver o assunto.
Com essa chave se verifica que a Gênese de Moisés é uma Cosmogonia
e não uma Cosmografia necrográfica, com a agravante das corrupções e
deturpações feitas pelos intermináveis tradutores e interpretadores deste Esdras,
Vulgata e vulgos.
Então exclamaremos igualmente com o padre Vigouroux: "A Bíblia diz a
Verdade. Ela é um repositório de todas as ciências" que foram ocultadas até hoje.
466
A origem da escrita sempre foi para nós um ponto de suma importância
para o estudo do desenvolvimento intelectual da humanidade desde seu berço. Por
isso vamos terminar chamando a atenção do leitor para a Árvore Sagrada, três ou
quatro vezes milenária existente no Tibete, cujas folhas reproduzem as letras do
alfabeto tibetano. O próprio tronco que mede três metros de circunferência por três
de altura, tirando-se-lhe uma lasca a canivete deixa ver uma letra e repetindo-se a
operação no mesmo local nova letra aparece.
A descrição dessa árvore misteriosa é lida na obra Dans le Thibet, do
padre Huc, missionário católico, que a foi estudar de perto, com o fim de destruir a
lenda que corria, terminando por confirmá-la.
Esta árvore, segundo a tradição, surgiu no mesmo monte após o
nascimento misterioso de Tsong-Kaba, o reformador do Lamaísmo.
Não é, pois, uma fantasia, mas um fato que deixa muito que pensar
acerca da Ciência do Verbo.
Entretanto, é esta ciência que, por simples capricho, Brasil e Portugal
entendem destruir com uma simples borradela de tinta.
Primitivo Alfabeto
Segundo as investigações de Saint-Yves (O Arqueômetro), nos alfabetos
de Cabala (Ka-Ba-La)289, o mais oculto, o mais secreto que, certamente, serviu de
protótipo, não só a todos do mesmo gênero, mas também aos sinais védicos e às
letras sânscritas, é um alfabeto ariano, que lhe foi fornecido pelos Bramas, os quais
lhe ignoram a essência, e trazem-no inscrito em seu Peitoral, tal como os judeus o
fazem com o seu (Figura 10).
289 Ka-Ba-La tem como número 22, pois, Ka = 20, BA = 2 e La significa a potência dos 22.
467
Figura 10
468
Os Bramas chamam esse alfabeto — vattan — parecendo remontar à
primeira raça humana, pois, por suas cinco formas rigorosamente geométricas,
como veremos, ele se assina Adam — Eva — Adamah.
Moisés parece designá-lo no versículo 19 do capítulo II.
Esse alfabeto se escreve de baixo para cima, como veremos adiante, e
suas letras se agrupam de modo a formar imagens morfológicas ou falantes.
É, pois, um alfabeto esquemático, de todas as línguas, pois esquema não
significa somente "signo da palavra" mas, também, Glória. É a esta dupla
significação que Paulo em Coríntios, capítulo II, versículos 6, 7 e 8, faz alusão; do
mesmo modo quando Jesus pedia que o "Pai o glorificasse com a glória que já teve
antes que esse mundo fosse", isto é, com o verbo que Deus criara, sendo ele a
encarnação deste verbo, desta palavra humana, desta Ciência, do Verbo que os
homens anarquizaram, embaralharam e presentemente se procura destruir no nosso
país.
No quadro anterior verifica-se que as letras tomam formas invertidas,
conforme a vogal que lhe dá o som: é ba ou be etc.
No círculo zodiacal superior encontram-se os neumas, e na descrição
deste quadro a função deste Zodíaco.
Esses neumas eram empregados no solfejo dos hinos teúrgicos.
A frase, ou antes, a série de Datus sânscritos que se vê abaixo do círculo
zodiacal das vogais, é seu hino mesmo, hino teúrgico que os Bramas do mais alto
grau iniciático pronunciam, a sós, cantando, no mais profundo mistério, e na
operação desses mistérios — que Saint-Yves não quis desvendar, embora não se
visse ligado por promessa alguma.
469
Diz ele que, se foi guiado diretamente do seio de Deus mesmo e no seu
Espírito, quanto à verificação sagrada ou religiosa, isso não altera, absolutamente, o
valor científico dos fatos obtidos, tomando o termo — científico — na acepção mais
vulgar, mais terra-a-terra, mais positiva e mais moderna.
Para melhor edificar o leitor, vamos agora reproduzir esse alfabeto do
ARQUEÔMETRO na Figura 11, mostrando a perfeita analogia existente entre ele e
os sinais astronômicos, o sânscrito e o vattan ou adâmico.
Figura 11
A 1ª linha corresponde ao valor numérico que as letras tinham nas
primitivas Academias templárias, mudado com a criação da língua latina.
A 2ª linha corresponde ao alfabeto latino de 22 letras.
A 3ª linha corresponde aos sinais astronômicos.
A 4ª linha corresponde às letras vatânicas ou adâmicas.
A 5ª linha corresponde às letras sânscritas.
Queira o leitor prestar um minuto de atenção, descobrindo a analogia
existente nesses sinais. Esta página merece ser meticulosamente estudada e não
voltada de afogadilho. Esses rabiscos encerram poemas de alta ciência.
Notemos, desde já, que a primeira letra, a do meio, e a última dos
alfabetos adâmicos e sânscritos (a 4ª e a 5ª linhas) não têm correspondência com os
sinais astronômicos (3ª linha).
470
Essas letras são: A S Th, a respeito das quais já nos referimos e mais
adiante tornaremos a falar.
Notemos, também, com certa aplicação, que as letras adâmicas e as
sânscritas reproduzem, por curiosa analogia, os sinais astronômicos.
Ora, não podendo uma ciência existir sem uma academia que a professe,
é claro que os sinais astronômicos foram moldados sobre o alfabeto que exista
naquela época, pois o contrário seria absurdo, e esse alfabeto não pode ser outro
senão o adâmico, porquanto sabemos que o sânscrito, tal como é conhecido hoje, é
relativamente moderno, datando sua reforma de cerca de 400 anos a.C; ele é
derivado de outros idiomas, quase semelhantes, porém, mais imperfeitos, à medida
que se recua no tempo, como poderíamos mostrar com o largo confronto que
possuímos em um trabalho inédito.
Os sinais astronômicos derivaram, portanto, do alfabeto adâmico, e,
certamente, essa academia havia de ter existido em uma época que regula entre 80
ou 100 mil anos.
Que isso não cause espanto ao leitor, pois a velha Crônica de George Le
Syncelle, as listas de Manethon, que era o historiógrafo daqueles tempos, os livros
de Hermes, o de Jó, os tijolos da Babilônia, as inscrições petrográficas do México,
do Peru, do Brasil, da Europa, da África, da Ásia, etc. confirmam, exuberantemente,
essa Antigüidade, indo mesmo além.
Deodoro, Cícero, Oppert e muitos outros fazem remontar as observações
astronômicas dos caldaicos, na Babilônia, a uma época de 473 mil anos, antes da
expedição de Alexandre, provando, pelas suas inscrições, que eles já haviam
determinado eclipses solares e lunares periódicos e os movimentos planetários
11.542 anos a.C.
471
Na China, igualmente, 2.150 anos a.C, no reinado de Chu King, alguns
astrônomos haviam sido condenados à morte por terem errado, em alguns minutos,
o aparecimento do eclipse.
Além disso, uma ciência não se cria de um dia para o outro.
Na contemplação da abóbada celeste, os primeiros Pastores notaram que
certas estrelas eram fixas, outras móveis e que o Sol não passava sempre pelos
mesmos grupos estelares.
Séculos levaram nessa observação, auxiliados, talvez, por aparelhos
desconhecidos hoje, porque, em suma, não se pode conceber que esse estudo
fosse feito somente a olho nu ou por meio de tubos de bambu, considerando os
complicados instrumentos de que dispõem os atuais observatórios astronômicos.
É incontestável, também, que deviam possuir uma matemática elevada ao
último grau de perfeição, e aprofundados estudos de trigonometria, de que
efetivamente se encontram as provas na grande Pirâmide de Gizé (Py Rama),
símbolo Pontifical de Rama, de que falaremos mais adiante, e meticulosamente
estudada por sábios modernos e, sobretudo, pelo astrônomo e padre católico
Moreux, que confirmam plenamente aqueles conhecimentos.
Mas, para a observação do fenômeno da marca do Sol, tiveram os
primeiros patriarcas que dividir o céu em 12 partes, dando, a cada grupo de estrelas
fixas, um nome tomado na nomenclatura terrestre, que ainda perdura na Astronomia.
São eles: Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança,
Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes, que constituem o que se chama:
"Constelações" e formam o Zodíaco290 (Figura 12).
290 Zodíaco vem do sânscrito Keja-Devas ou Kaya-Devas - A estrada dos anjos.
472
Signos do Zodíaco
Figura 12
O México, cuja Antigüidade é ainda mais remota que a do Egito, já
possuía o seu sistema Zodiacal, tal como os que foram encontrados no Egito, em
Esneh e Denderah.
Os astecas conheciam a medicina, sobretudo, a astronomia. Nesse ramo
de ciências, seu calendário era mais exato que o dos espanhóis, quando estes lhe
assaltaram o território. O dos espanhóis estava atrasado em seu cômputo, mais ou
menos dez dias, ao passo que no daqueles a diferença era, apenas, de pouco
menos de uma hora.
William Prescott291 diz que, no México, os dias da semana eram sete,
assim denominados: Lebre, Serpente, Macaco, Cachorro, Onça, Camaleão e Águia.
291 Histoire de Ia Conquète du Mexique — 1846.
473
Segundo o bispo Las Casas, o México contava o ano em 18 meses de 20
dias, o que dá o total de 360, correspondente aos graus da circunferência e mais
cinco para os jogos públicos que correspondem também aos cinco epagômenos do
Egito.
Os mongóis davam-lhe denominações diferentes, como nos foi legado
pelos povos do Oriente. Assim: Camundongo, Boi, Leopardo, Lebre, Crocodilo,
Cobra, Carneiro, Macaco, Galinha, Cachorro e Porco.
Os manchus (tártaros), japoneses e tibetanos substituíam o Leopardo
pelo Tigre, o Crocodilo pelo Dragão e o Carneiro pela Cabra.
E não só dessa semelhança entre povos tão distantes, separados por
dois enormes oceanos, e dos monumentos, que incessantemente vão aparecendo
no Egito, no México, no Peru, na Bolívia e nas ilhas da Oceania, que tem surgido a
interrogação a respeito da primazia de Antigüidade dos povos do Ocidente ou do
Oriente.
A história, na sua mudez monolítica e nas folhas dos seus livros
petrográficos, vem provando a existência pré-histórica da Universalidade de uma
Academia, representada no termo hoje conhecido por Adam (Adão).
Por isso o mundo científico tende a considerar o Ocidente americano
como o primitivo berço da civilização humana, o que não quer dizer que o berço da
humanidade tenha sido o Ocidente. O homem, segundo Saint-Yves, não nasceu
simultaneamente em todos os continentes; seu aparecimento na Terra fazia-se de
acordo com as condições de vitalidade de cada continente; o vermelho, na Atlântida
ou na América; o negro, na África; o amarelo, na Ásia; e o branco, na Europa, como
último produto da natureza, pois até seu próprio continente foi um dos últimos a
emergir das águas.
474
Os primitivos sábios, portanto, observaram que o Sol levava 2.160 anos a
passar de um signo zodiacal ao outro e, naturalmente, o leitor, também, já terá
observado que, em 2.160 anos havia de ter passado muitas gerações de sábios.
Pedimos para chamar a atenção do leitor estudioso para este curioso
numero 2.160, tão repetido, como dias, pelos profetas e pelos apóstolos.
Os 2.160 anos iam se sucedendo, e ao cabo de 26 mil anos notaram
aqueles sábios que o Sol tinha percorrido os 12 signos e voltado ao seu ponto de
partida.
Esses 26 mil anos constituíram, portanto, o primeiro Ciclo de Observação
(2.160 x 12 e fração).
Seguiram-se outros 26 mil anos, que serviam para a verificação do
fenômeno, e mais outros 26 mil anos que, finalmente, permitiram o estabelecimento
da Lei da Precessão dos Equinócios.
Ora, a menos que toda esta ciência tenha caído do céu como por
encanto, com livros impressos e um arsenal de aparelhos, ou mesmo sido revelada
e ensinada com todas as minúcias aos primitivos homens, temos forçosamente de
conceder um período nada inferior a 78 mil anos, para comprovar a existência de
academias, quiçá, melhormente instrumentadas que as de hoje.
Os sinais astronômicos, portanto, são cópias, por analogia, do alfabeto
usado por essas academias, o qual ainda existe no Tibete e especialmente no
Agartha292, pelo qual Saint-Yves reconstituiu a língua adâmica, cuja hermenêutica se
encontra no Arqueômetro.
Os signos adâmicos eram morfológicos, isto é, falantes por si mesmos, e
vamos dar um pequeno exemplo:
292 Ossendowisky – refere-se a este alfabeto que ele sabe existir no Agartha.
475
A
S
Th
É a primeira, a do meio e a última do alfabeto adâmico, e ainda são as do
hebraico, as quais, como vimos há pouco na Figura 11, são as únicas que não têm
correspondência com os sinais astronômicos.
É o diâmetro, os pontos centrais de dois hemisférios e a circunferência
desdobrada nesses dois hemisférios.
É o sinal que Moisés, por ordem de Jeová, levantou no deserto,
significando que ele possuía a ciência dos patriarcas293, e que os tradutores e
interpretadores transformaram em uma Serpente de bronze, que, afinal, nada
exprime e nunca mais foi levantado. Ei-lo:
É o Aleph hebraico: (A) do alfabeto que Moisés organizou pelo
aramaico, alfabeto sírio, com o qual ele compôs a Gênese.
É o caduceu imaginado por Orfeu, condiscípulo de Moisés, e cuja
manifestação na Grécia foi artisticamente feita por uma mitologia, em que ele
procurou materializar as ciências divinas, dando-lhes formas humanas e materiais,
para melhor impressionar o espírito público, o que, com efeito, produziu o resultado
293 Êxodo IV, 3.
476
que esperava e que toda a História da Grécia nos relata. Daí ter sido esta nação o
berço da Arte e do Belo.
Era o símbolo de Esculápio, o Pai da medicina.
É o AUM védico, do qual partiram os sinais alfabéticos das primitivas
línguas zende, pehlvi etc. É a palavra mística, impronunciável, com a qual os bramas
se exteriorizam nos mistérios do instase.
E como se vê o A (—), o U (o), o M (.), do alfabeto adâmico do qual
Moisés tirou sua Serpente de Bronze.
E, mesmo, por analogia, a ave-maria, da liturgia católica, que entrelaça
estas letras
No evangelho, lê-se em siríaco: "Eu sou o Aleph e o Thau", que se
traduziu em grego por Alfa e Omega, o primeiro e o último dos sinais adâmicos.
Na escrita morfológica adâmica, o traço indica o raio ou o diâmetro e é a
letra A; os dois pontos indicam uma circunferência desdobrada em dois meioscírculos
invertidos S.
477
Essas três letras adâmicas ASTh, essas duas letras assírias Ath,
significam, pois, a tríplice potência divina constitutiva do Universo: o círculo significa
o Infinito; o centro, o Absoluto; o raio ou o diâmetro, sua manifestação, sua relação.
Essas três letras são as que Jesus pronunciou quando disse: "Eu sou o
primeiro e o último — eu sou o Verbo (a palavra, o alfabeto); eu sou o A Th (em
sânscrito), o espírito constitutivo, a alma, a razão viva".
Eu sou o A Ma Th, que encerra por metátese:
A Th — a alma das almas.
A Th Ma — a Existência infinita da essência absoluta.
Tha Ma — o Milagre da Vida, sua manifestação na essência universal.
Ma Th A — a Razão Suprema de todas as Razões. A Eudoxia de todas as
doutrinas.
Ora, tudo isso é mais transcendente e mais científico do que as
ingenuidades interpretativas dos evangelhos, feitas por certas doutrinas, em que é
digno de admiração o fantástico esforço mental para materializar o que é espiritual e
espiritualizar o que é material. É um verdadeiro jogo de malabarismo de palavras.
São outras tantas charadas para explicar logogrifos.
Pelo Arqueômetro não há interpretações; lê-se o verdadeiro sentido da
palavra na sua pureza originária, organizada pela Ciência do Verbo que encerra em
si toda a matemática divina.
Vejamos agora a matemática desse curioso alfabeto para provar, mais
uma vez, sua essência puramente morfológica e divina, pois cada letra adâmica,
além da sua morfologia própria, ocupa no Arqueômetro o ponto que lhe cabe, não
só com relação à sua correspondência literal no terreno da química, da física, da
sonometria, como já vimos, mas também em seus números de vibrações: os
478
números, qualitativamente, pronunciam o Criterium divino da Constituição de IEVE
(Jeovah, Deus). Assim:
As três letras básicas: A S Th
Têm por número: 1 60 400 = 461
Que, em sânscrito
Significa: DEVA - Divindade
As 7 evolutivas ou
planetárias ou vogais:
B
G
D
C
N
Ts
Sh
Têm por número 2 3 4 20 50 90 300 = 469
Que, em sânscrito
Significa: DEVATA - Deidade
As 12 involutivas ou
constelações:
E
V
Z
H
T
Y
L
M
W
P
K
R
Têm por número 5 6 7 8 9 10 30 40 70 80 100 300 = 565
Que, em sânscrito
Significa: EVE – Vida Absoluta
Somando-se da: 1.495
Que em sânscrito
Significa: Indivisível Vida
479
1 + 4 + 9 + 5 = 19 = 10 = I – (Iod) letra de Isho – Jesus
Sentado à direita do Pai EVE-I
Em vattan Eu, a Vida Absuluta.
Em hebraico Eu sou a Vida Absoluta
O leitor que nutrir desejo de enfronhar-se nessa antiga Ciência do Verbo
deverá igualmente deter, por momentos, sua atenção para esse quadro. Com
facilidade verá, então, que as palavras não eram compostas a esmo, como se
procede hoje, encerrando, portanto, a chave de muitos mistérios.
As três letras constitutivas A S Th correspondem no Arqueômetro,
matematicamente, às três notas básicas da música Sol, Si, Fá; às três cores do
espectro solar azul, amarelo, encarnado; que se relacionam com os hieróglifos
Sem-Cham-Japhet; e, se pudéssemos ir mais longe, mostraríamos a
correspondência do calor, do frio, do morno, do positivo, do negativo e de toda a
trilogia em que se baseia a razão de ser de qualquer Universo.
Zoroastro já dizia que o algarismo três reina no Universo, sendo a
Unidade seu Princípio, que é Deus.
Nas mesmas condições se acham as letras involutivas, ou seja, as 12
consoantes, ou 12 constelações, e as sete evolutivas, ou seja, as sete vogais, ou
sete planetas, as sete notas musicais e as sete cores.
Pitágoras, sábio grego, depositário de várias tradições do Oriente, já
ensinava que "os sete modos sagrados emanados das sete notas correspondem às
sete cores da luz, aos sete planetas e aos sete modos da existência, reproduzida em
todas as esferas da vida material e espiritual. O número contém o segredo das
coisas".
480
"Ora, diz Saint-Yves, todas as revelações que precedem são
autológicas pelos números, bem como pelas letras; não são,
pois, palavras de homem, mas Palavra do Verbo, diretamente
por meio dos fatos experimentais."
É mais: é a Lei de p (Pi) 3,1416, isto é, da relação do raio para com a
circunferência, achada, não pelos nossos modernos matemáticos, mas pelos
primitivos patriarcas e consignada na própria Pirâmide do Egito (Pa-Ram).
Ei-la:
22 + 7 = 3,1428; mas suprimindo as três básicas, fica: 0,1428 x 22 =
3,1416.
22 representa as 22 letras do alfabeto templário.
7 representa as forças fenomênicas.
3 representa a base de toda trilogia.
Até nisso há curiosa relação com a ciência do Verbo.
E... coisa mais assombrosa:
O alfabeto adâmico é baseado nas únicas cinco formas fundamentais da
geometria (outrora chamada morfologia porque as formas falam): o ponto, a linha, a
circunferência, o triângulo e o quadrado,
cujas formas, por si mesmas, pronunciam, exatamente, em adâmico ou vatânico
481
A D A M
(Adão)
E V A
(Eva)
A D A M A
(Lei, Regra)
e assim se arrumam, segundo o modo pelo qual era escrita a língua:
v
e
m
d
a
Adam – Eva – Ma (Lei)
Ou seja, em linha horizontal
a d m ¾ e v ¾ m
Só isso bastaria para destruir a interpretação bíblica do primeiro casal,
como tronco do gênero humano, se não fosse por demais infantil a história ali
contada, sem, contudo, fazer referência à sua cor ou raça.
Trata-se, como se vê, da Lei, da base, de uma Academia cuja
Universidade é representada pelo termo Adão, sendo Eva a Natureza, a Terra, a
mãe dos homens.
Não há, portanto, interpretações metafísicas, mas simplesmente
verificação de uma ciência que, é certo, antes do Arqueômetro, vivia ainda em
mistério.
482
O alfabeto chinês, ou antes, a base de seus sinais, assenta nos mesmos
sinais geométricos, com mais a perpendicular armada de gancho:
A Academia adâmica escrevia de baixo para cima significando
homenagem à direção de onde partiu a Ciência, do alto do Céu294.
O chinês escreve inversamente de cima para baixo, voltando-se para o
Sul, significando homenagem à Índia de quem recebeu, por Fo-hi, seus modernos
sinais.
O Oriente escreve da direita para a esquerda homenageando o Ocidente
de onde lhe veio a Luz.
O Ocidente escreve da esquerda para a direita como homenagem à Raça
Vermelha, berço, quiçá, das Ciências e da Proto-síntese.
Na Grécia e na Rússia, países constituídos de vários povos orientais, e
não autóctones, como se pensa, houve um tempo em que, não sabendo como
homenagear a direção, escreviam uma linha da direita para a esquerda e a mesma
frase da esquerda para a direita, por isso muitas de suas letras eram invertidas como
se verifica ainda no alfabeto russo e no importante trabalho de Des Hautesrayes295
publicado sob os auspícios de Luiz XIV, até que, com o tempo, este uso foi
desaparecendo.
Os impropriamente chamados Semíticos do Sul, Yaqtamide, Talmudita
(Safa) (1º século a.C), tinham, quase, os mesmo caracteres da Grécia e da Etrúria e
294 Fabre d'Olivet— Histoire P. du Genre Humain —p. 191, Tom. 1.
295 Caracteres alphabètes des langues mortes — 1653 — possuímos este trabalho encadernado com
outras obras raríssimas por Elipha Levy, ex-abbé Constant, Monterayes.
483
são deles, positivamente, os que se encontram gravados nos rochedos do norte do
Brasil296.
O alfabeto grego é constituído de sinais indianos, persas, etiópicos,
alguns dos quais eram usados nas academias templárias. Sua língua é originária
das línguas orientais; não sendo, pois, uma língua indígena. Por isso, não deixa de
ser curioso ler nos dicionários referências à etimologia das nossas palavras como
sendo gregas, quando, de fato, essa etimologia penetra no zende, no pelhvi e outros
idiomas da Índia, do Egito, da Etiópia etc.
Ora, ante tais provas matemáticas e filológicas de que aqui só
apresentamos um pálido esboço, será possível atribuir-se qualquer intervenção
humana, a não ser unicamente a da sua constatação, na composição do estupendo
instrumento revelador da Revelação a que Saint-Yves denominou Arqueômetro?
Tão pouco é impossível lhe atribuir, a não ser por má-fé, qualquer
qualidade ou função oculta, por ser ele o próprio a revelar o que até agora se achava
ocultado sob vários símbolos, usados por diferentes doutrinas que lhe esqueceram
os significados.
Seria, pois, irreflexão tachar-se, também, de ocultista, herege ou
anticristão aos que, aprofundando-se nesses estudos, descobrem pela própria
ciência, pelo próprio Verbo, pelas próprias escrituras, a verdadeira personalidade de
Jesus e, com mais convicção, mais fé e mais ciência, tem a consciência íntima de
que Jesus é, de fato, a encarnação do Logos, do Verbo Divino, da Palavra Criadora,
o Primogênito e o Unigênito, isto é, a primeira coisa engendrada, a primeira
concepção de Deus, o Baereschit297, de Moisés, isto é, a Palavra hexagonal, ou o
296 Fartas provas se encontram em um nosso sentenciado trabalho intitulado Origem da Grafia.
297 Boera (palavra), Schit (seis), Be-Resh-I Th (princípio, radical e não começo).
484
hexágono da palavra, ou seja, ainda os seis dias da criação, o Princípio de João298, o
Senhor de Paulo, de Swedenborg e dos profetas, o Messias prometido e anunciado
por estes, o Redentor da Humanidade e o Cristo em Jesus-Homem, segundo São
Paulo, mas não o filho de um deus antropomorfo de barbas brancas.
"E o verbo se fez carne", diz João.
Descobrem-se mais, que a doutrina que ele pregou foi a de Moisés,
amalgamada, sobretudo, com a Budista. Verifica-se que Moisés era o depositário da
tradição de Abraão, o qual era filiado à Ordem de Rama, da qual também fazia parte
Melquisedeque, personagens estes venerados por Jesus a ponto de os fazer
aparecer no monte perante seus apóstolos que propuseram construir três templos299.
Paulo repete que Jesus é o Pontífice eterno segundo a Ordem de
Melquisedeque. Ou esta frase tem valor teologal na boca de Paulo ou então
suprimam-se todas as suas epístolas.
A vista do que ficou dito, em tão mirradas linhas, é fácil compreender a
pequenez do campo intelectual de meia dúzia de literatos portugueses que, em vez
de se entregarem a tais estudos, entenderam atirar toda nossa literatura a uma
fornalha, a fim de forçar o Brasil a dar saída às suas obras, impressas por aquele
sistema, e recusando receber e exibir nas montras dos seus livreiros trabalhos
brasileiros!
Há mais, ainda, e esta anarquia é exatamente um dos frutos da época em
que atravessamos: não contentes em apagar a tradição do verbo, os pretensiosos
gênios procuram ainda reformar a tradicional grafia dando formas esquisitas às
letras, às vezes, de difícil leitura à primeira vista.
298 A radical, a essência, o ponto de partida de uma série ontológica de fatos e não o começo, a
origem, o que é muito diferente, porque o Princípio que é Deus não teve origem.
299 Mateus XVII, 3,4 e outros.
485
Ora, se os alunos na aprendizagem dos alfabetos tradicionais já custam a
retê-los na memória, o que não será doravante?
Mas tudo isso é o fruto da nossa época: anarquia mental, governamental
e social!
Pirâmide e Esfinge
Como é nosso intuito esclarecer a algum leitor menos afeito a esses
estudos arqueológicos, faremos agora uma resumida descrição dos dois colossais
monumentos que têm por nome "Pirâmide do Egito" e "Esfinge", que se vêem na
vista panorâmica, Figura 13, os quais, impávidos, afrontam as inclemências do
tempo há cerca de oito mil anos.
Por essa descrição, o leitor se convencerá do alto grau intelectual e moral
que tinham atingido aqueles povos. Verá que aqueles monumentos não representam
as bobagens que, interessadamente, nos descreveram as enciclopédias; pois a
perseguição sofrida pelo Egito, com várias invasões de povos orientais, dos seus
faraós e dos irshuitas, e, conseqüentemente, a destruição dos seus templos dóricos,
dos seus sacerdotes râmicos, dos seus Melquisedeques, que eram substituídos por
outros do ionismo, como se verifica pela superposição das construções e raspações
de inscrições, isso durante alguns séculos, fez com que a tradição se fosse
apagando da memória dos descendentes, os quais passaram a considerar esses
monumentos como túmulos de faraós, que os teriam mandado construir para sua
residência final.
486
Figura 13
Figura 14
A lenda se perpetuou, se avolumou e o Catolicismo já teria mesmo
destruído esses formidáveis livros da História da Humanidade, se não fosse o zelo
dos ingleses. Por onde um frade ou um padre católico passasse e visse uma esteia,
um papiro, um tijolo gravado, tudo era destruído ou queimado, pois, segundo diziam,
uma vez que não entendiam aqueles rabiscos, é porque era obra do diabo, e no
local erguiam logo uma cruz de Cristo.
487
Nabonassar, rei da Babilônia, no ano 747 a.C, já usara esse sistema.
Ordenou que se apagassem todas as inscrições, que se quebrassem todas as
estelas de bronze, que se queimassem todas as bibliotecas, que se destruísse, por
todos os meios e modos, tudo quanto se referisse à época anterior ao seu reinado.
Na China foi Tsin-Tche-Loang quem ultrapassou, em ferocidade a
Nabonassar.
Em 213 a.C. Chi-Hoang-Ti fez queimar todas as bibliotecas de 25 séculos.
Omar, fanático discípulo de Maomé, fez queimar a Biblioteca de
Alexandria, incomparável tesouro das tradições da humanidade.
Papas cristãos, intolerantes, destruíram monumentos antigos e tudo
quanto se pudesse referir às primitivas religiões, chegando mesmo à ousadia de
transformarem os templos pagãos em templos cristãos, aproveitando as próprias
imagens da Virgem Ísis, transformando-as em Virgem Maria.
Os arquivos do México e os do Peru desapareceram para satisfazer o
zelo fanático do bispo espanhol Las Casas.
Foi assim que o orgulho e a ignorância de pontífices e do povo,
juntamente com o fanatismo da massa clerical, privaram a humanidade de conhecer
sua própria história originária, que, aliás, malgrado o Catolicismo, vai sendo refeito
aos poucos, como Cuvier refez a fauna pré-histórica e para confirmar as palavras de
Jesus: "as pedras falarão a bem da verdade". Há poucos séculos que a ciência só
tem se dedicado em estudar esses monumentos, e, dentre esses sábios, já citamos
o eminente astrônomo e padre Sr. Moreux, diretor do Observatório de Bourges,
figura, portanto, insuspeita e a cuja palavra tem de se curvar, quer queira quer não,
qualquer pé-rapado tonsurado, com ares de sabichão.
Tratemos primeiro da Pirâmide da Figura 13.
488
Este nome, já por si: Pá-Rama, diz bem claro, nas línguas orientais, que
era o gnomo de Rama, isto é, o marco em que se encerraria todo o Princípio da
Ciência dórica daquela época: Astronomia, Geodésica, Geometria, Trigonometria.
Matemática, Química, Física e a própria Ciência do Verbo, de que acabamos de
falar.
É o que vamos ver.
Cada lado da base mede 232,805 m e este número tem sua indicação
como veremos mais adiante.
Sua altura é de 148,208 m e corresponde à distância da Terra ao Sol,
uma vez acrescidos os zeros, de acordo com o sistema templário, isto é,
148.000.000 de quilômetros.
As diagonais da base encerram, exatamente, o Delta do Nilo (Figura 15) e
constituem o mais perfeito meridiano, por abranger a maior soma de continentes,
como se vê na Figura 16, extraída da obra La Science Mystérieuse des Pharaons,
do citado padre Moreux.
Essas diagonais, como se vê, estão geograficamente orientadas para os
quatro pontos cardeais da Terra.
Olhando-se pela galeria subterrânea representada no corte da Figura 17,
vê-se constantemente, no firmamento, a estrela polar que, embora não sendo
sempre a mesma, nunca perde aquela posição, indicando, assim, ao homem o eixo
da Terra e sua inclinação na órbita.
489
Figura 15
Essa particularidade astronômica já era conhecida na China há mais de
seis mil anos, pois Jó, em seu livro, também a ela se refere.
Figura 16
490
Igualmente no México e no Peru foram achados os instrumentos de pedra
com os quais seus sábios acompanhavam o movimento sideral.
O comprimento da chamada Câmara do Rei, medida em polegadas
piramidais e multiplicado por 3,1416, número também achado por aqueles sábios,
dá, exatamente, a divisão do ano solar: 365d.242.
Multiplicando-se o peso da pirâmide por 2,06, que é o número da
densidade da sua pedra, teremos o peso da Terra.
Figura 17
Na chamada Câmara do Rei há uma cuba de pedra, que as
enciclopédias indicam como sendo o túmulo destinado ao sepultamento do faraó,
cuja massa retangular é de 1,97 m x 0,68 x 0,85. Sendo seu volume interno de 69
mil polegadas piramidais, e, multiplicando-se 50 polegadas, ou seja, 1/10 do eixo
interno do globo por 5,52, que é a densidade média da Terra, teremos que o volume
interno desse cofre era uma medida de capacidade premeditada.
491
Multiplicando-se a polegada piramidal por 100 bilhões, obteremos o curso
da Terra sobre sua órbita, em um dia de 24 horas.
A pirâmide tem quatro lados em sua base (2 x 2), quatro arestas na
massa, cinco faces e cinco ângulos. Os números 2 e 5 são característicos do
sistema decimal que é o sistema numérico da mesma.
A relação do raio para com a circunferência acima referida (3,1416)
parece ter sido achada com os algarismos supracitados. Assim:
4 x 232,805 = 931,22 = 3,1416
2x 148,208
Mas, coisa mais curiosa, descoberta por Saint-Yves, este número tem,
igualmente, relação com a Ciência do Verbo, como já vimos acima, pois 22 -r 7 =
3,1428; mas 22 x 1428 = 3,1416.
A polegada piramidal medindo 25,4264 milímetros, teremos 25,4264 x 25
= 0,635660 m que é, exatamente, o comprimento do côvado sagrado que serviu
aqueles arquitetos.
Multiplicando-se este número por 10 milhões, teremos 635.660 m que ó,
exatamente, o comprimento do raio polar ao centro da Terra, sendo que, desse
modo, o côvado de 635 milímetros atual já constituía o estalão métrico, que os
nossos modernos cientistas Mechain e Delambre foram buscar no meridiano
equatorial, após penosos trabalhos e que, por essa medição, é, igualmente, ali
encontrado.
O número de polegadas piramidais contidas nas duas diagonais da base
dá 25.800 e fração, ou seja, 26 mil. Este número, como já vimos, corresponde,
igualmente, à precessão dos equinócios, isto é, a volta do pólo celeste ao mesmo
ponto de partida.
492
A libra, peso inglês, contém 453,59 gramas e este número é ali
encontrado do mesmo modo. Ele é fundado sobre a densidade da Terra e uma
fração do eixo polar, constituindo, por isso, o melhor estalão que se poderia adotar.
Será que os ingleses tinham herdado este peso pela tradição céltica?
O distinto engenheiro e professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro,
Milton Torres Cruz, em sua comunicação ao Presidente dos Estados Unidos,
publicada em O Globo, em 13.2.1931, descobriu que a metade da diagonal do
suposto sarcófago da Câmara do Rei que, como já vimos, mede 1,97 x 0,85 x 0,68 é
igual a 1,125 m.
Calculando-se mais a semidiagonal da seção vertical teremos 107,277
cm.
Desse modo obteremos, primeiro, a retificação da semi-secção equatorial
do Sol no periélio segundo a semi-secção equatorial do afélio, determinando-se,
assim, imediatamente, o valor do "raio médio do Sol", isto é, 695.670 quilômetros.
Determinando-se o ângulo produzido pela semidiagonal da seção vertical,
o cálculo dá 23°20'20"8 que é exatamente a inclinação da órbita da Terra na época
da construção dessa pirâmide.
O que, porém, vai causar profunda admiração é dizer-se que tal pirâmide
foi construída de cima para baixo, o que, na linguagem simbólica daqueles sábios,
significava que todas essas ciências vieram de cima e foram dadas por Deus.
De fato, assim foi, conforme vamos demonstrá-lo, baseado nos estudos
feitos por Jacques Hervé300.
Na vasta planície do Nilo surgiam de terra vários blocos de rochedos. Um
deles, o menor, foi escolhido para a ereção dessa pirâmide, preliminarmente
300 L'Égypte — 1883.
493
submetida a longos e minuciosos estudos, pois ela teria de constituir a síntese das
ciências.
Estabelecido definitivamente o plano e os detalhes, começaram os
obreiros atacando o cume do bloco, na sua maior culminância, cavando ali uma
redução do monumento, obedecendo provavelmente a uma escala, baseada, quiçá,
no côvado anteriormente referido, pois as linhas dessa pedra de ângulo, dessa
pedra angular, a que se referiu Jesus, seguiam em linha reta a medida que o edifício
subia.
Esculpida, assim, essa primeira pedra, foram eles descendo, cavando
largos degraus até o solo. É sobre esses degraus, partindo sempre de cima para
baixo, que eram colocados os novos blocos de pedra, munidos, porém, macho e
fêmea, de uma polegada em suas partes inferior e superior, o que dispensava
argamassa. É essa a razão da inamovibilidade de qualquer bloco. O trabalho de
esquadria e de justaposição era tão perfeito pela sua planitude, que ainda hoje não
se pode introduzir uma lâmina de canivete nas frestas.
Antes de terminada definitivamente a pirâmide, ela tinha necessariamente
a forma truncada; mister se fazia, portanto, completá-la, dando-lhe a forma aguda.
Para isso esculpiram a última pedra angular, do mesmo tamanho que a que serviu
de base e a colocaram como tampa. É essa a pedra acerca da qual disse Jesus que
os homens haviam rejeitado, pois de outro modo não há sentido nessa frase, tanto
mais que, como já sabemos, era ele o Pontífice eterno, segundo a Ordem de
Melquisedeque, que era a da Ordem de Rama, por Ab-Ram.
Erguida a pirâmide, passaram ao seu revestimento externo, de cima para
baixo, por meio de placas lisas, à guisa de ladrilhos, razão por que brilhava a mesma
494
com extraordinário fulgor e era vista de muito longe, refletindo a imagem do Sol,
como se fosse outro sol. É o olho irradiante do triângulo maçônico.
No interior dessa pirâmide, obedecendo aos planos estabelecidos, foram
reservados extensos corredores que dão acesso às Câmaras do Rei e da Rainha.
Engenhosos são os sistemas que permitem a entrada da luz e do ar nessa imensa
montanha de pedra.
Dessa pirâmide, partia um corredor subterrâneo cavado na pedra, que se
comunica com a esfinge, que lhe fica pouco distante, conforme se vê na Figura 17.
Ora, tudo isso não pode ser produto de mera coincidência, e, se
coincidência houvesse em cada um desses cálculos, teríamos de reconhecer que
essa coincidência é terrivelmente inteligente.
Não é, pois, como as enciclopédias ensinam à mocidade: Túmulo de
faraós, deixando transparecer, não a ignorância, mas o interesse do programa
católico em esconder esses estudos aos seus fiéis, porque é o desmascaramento do
embuste.
Vejamos agora a Esfinge na Figura 14.
A cento e poucos metros dali, sejam mesmo 144 como querem alguns,
surgia outro bloco de pedra maior, cujo aspecto se assemelhava à pedreira de São
Diogo, junto à nossa estrada de ferro, medindo mais de 20 metros de altura e mais
de 30 de comprimento.
Foi nessa montanha de pedra que os milhares de operários escultores
levaram séculos a cavar a fantástica figura que denominamos de Esfinge, da qual
falam os profetas Ezequiel, Daniel e João em seu Apocalipse.
Fizeram-na com cabeça de homem, patas de leão, corpo de touro e asas
de águia.
495
Basta um pouco de concentração para medir o arrojo da empresa em
desbastar uma pedreira a buril, para reduzi-la a uma imagem, e a soma de
conhecimentos técnicos a par do grau de perfeição artística a que tinham atingido os
operários que se sucediam de gerações a gerações, operando sobre andaimes de
20 metros de altura, sem o necessário recuo para apreciação do efeito, obedecendo
unicamente a um rigoroso traçado.
Pela boca que mede 2 metros e 33 centímetros de largura se pode tirar
uma conclusão do resto.
A expressão do olhar, ainda hoje, é tão surpreendente que aquele
monólito parece ter vida. Que seria então quando ele ainda possuía os olhos de
bronze vidrado!
Ela firma a vista para o lado do Ocidente, quiçá da Atlântida, erguendo um
pouco a cabeça, como que para abranger maior horizonte.
Pintaram-na de vermelho, simbolizando, talvez, a raça vermelha
desaparecida no cataclismo, raça que ela conheceu, por se achar arquivada nos
templos, como já vimos na Figura 8. É curioso mesmo notar que no México, no Peru
e no Brasil sempre foram encontrados ídolos pintados com essa cor, bem como
inscrições petrográficas.
Essa estátua sintetizava a Religião, como filha da Ciência, figurada ao
lado da pirâmide, e essa Religião era fundada na Astrologia, como ainda teremos
ocasião de ver, da qual os sábios compuseram a Cosmogonia e os poetas, mais
tarde, as várias mitologias, para uso externo da massa ignorante, conforme se
verifica do magistral estudo de Dupuis.
Esses quatro animais figuram em todos os antigos planisférios de datas
pré-históricas, como sendo os quatro pontos cardeais da Terra.
496
É essa Besta a que João, o discípulo amado de Jesus, se refere em seu
Apocalipse, dentro da qual, diz ele, havia 24 anciãos sentados, dizendo ao que
estava no centro, vestido de branco, semelhante ao Filho do Homem (que não é
outro senão Jesus) "Santo! Santo! Santo! és, de desvendares o selo, porque as
coisas que são foram criadas por ti..." (pelo Verbo).
Figura 18
Ora é um fato a existência de 24 bancos numa sala subterrânea em forma
de T (Figura 18) — a letra Tau do alfabeto hebraico —, sala que João desconhecia
por ainda estar soterrada, cuja descoberta se deve ultimamente aos ingleses; isso
prova, pois, que esta Besta não é a Besta que a Besta de duas cabeças do
Vaticano quer atirar à execração do mundo inteiro, como a Besta do Apocalipse.
Pois, se assim fosse, João não diria em VII, 11: "E todos os anjos
estavam ao redor do trono e dos anciãos e dos quatro animais e prostravam-se
497
diante do trono sobre seus rostos e adoravam a Deus". João diz mais em XIII, 11
que "esta Besta tinha dois cornos semelhantes aos do Cordeiro e falava como o
dragão".
O Cordeiro que, para João, é Jesus tem dois cornos como Moisés, que
falava como o Dragão do Budismo chinês.
Além disso, se esses quatro animais devessem ser execrados e
repudiados, por que o Catolicismo os aplica como brasão nobiliário a cada um dos
quatro evangelistas: a Águia a João, o Leão a Mateus, o Touro a Lucas e o Homem
a Marcos?
O leitor curioso poderá verificar esse fato nas fachadas das igrejas do
Sacramento e da Cruz dos Militares, nesta cidade, e notará mesmo que o homem,
de Marcos, em vez de ser representado pelo aquário, que é um homem derramando
água por um jarro, é representado por uma criança, de joelhos, de braços cruzados,
com os olhos postos no céu, como quem exclama a Deus: "E essa! roubaram-me o
jarro!"
À primeira vista não se descobre a razão dessa adaptação; mas verificase
depois que foi uma adaptação do Maniqueísmo, religião de Zoroastro que, como
sabemos, era fundada sobre a astrologia, e assim ficou até hoje, sem que os
teólogos católicos lhe tenham encontrado explicação.
Essa esfinge se comunicava, subterraneamente, com a pirâmide, sendo,
porém, a entrada principal para os iniciados, praticada entre as patas dianteiras.
Essa estátua esteve soterrada pelas areias do deserto numa altura de
cerca de dez metros, só se lhe vendo a cabeça de fora. Se hoje ela está
desafogada, deve-se isso à Inglaterra, para bem da humanidade estudiosa.
498
Figura 19
Édipo decifrando o enigma da Esfinge
Essa estátua sintetizava a religião de Rama, cujos mistérios astrológicos
foram por Jesus desvendados a João, e que os profetas Ezequiel e Daniel,
venerados por Jesus, também descrevem. Essa estátua, figurando os quatro pontos
cardeais da Terra, representa, ipso facto, o planisfério com suas 12 constelações,
seus sete planetas, cuja cosmogonia se encontra perfeitamente descrita no
Apocalipse, de que falaremos mais adiante, provando, exuberantemente, que Jesus
é o Cordeiro, de João, símbolo de Rama, e que sua religião era a que essa Besta
sintetizava.
A Figura 21 na sua parte central nos dá uma perfeita idéia da sua íntima
relação com esta Besta, vendo-se mesmo ali a descrição do candelabro com sete
braços, que João chamou de igrejas.
499
Daí os mitos criados pela imaginação de poetas, como o de Édipo,
decifrando o enigma que a Besta impunha a todo viajante que lhe passasse perto
(Figura 19) devorando-o se não o decifrasse.
"Olham-se", diz ela, "eu sou a Esfinge — Natureza — Anjo e Águia, Leão
e Touro; tenho a face augusta de um Deus e o corpo de um animal alado e rugidor.
Não tens, nem meu dorso, nem minhas garras, nem minhas asas, mas teu busto é
igual ao meu. Quem és tu? Donde vens? Para onde vais? Terás saído do limo da
terra ou descendes tu do disco faiscante desse glorioso Sol que surge, ao longe, no
monte arábico? Quanto a mim, sou, vejo e sei desde sempre. Pois sou um dos
Arquétipos eternos que vivem na luz incriada... mas... me é tolhido falar de outro
modo, senão pela minha presença. Quanto a ti, homem efêmero, viajante obscuro,
sombra que passa, procura... e adivinha, senão... desespera!"
"Tu vens de um mundo divino e para lá podes voltar, se queres. Há em ti
algo de efêmero e algo de eterno. Serve-te só do primeiro para desenvolver o
segundo301".
Para melhor edificar o leitor acerca da linguagem charadística dos
Apocalipses e, especialmente, do de João, que, em suma, é uma repetição mais
detalhada dos de Ezequiel e Daniel, passaremos a nos ocupar dos planisférios,
pedindo a Dupuis que nos forneça sua luz.
Astrologia – Cosmogonia -
Mitologia
Ora, pelo que ficou dito até agora, fácil será deduzir-se que, numa época
muitíssimo anterior ao Cristianismo, a humanidade inteira, de pólo a pólo, possuía
301 Ed. Schuré — L'Évolution divine.
500
uma religião uniforme na sua essência; ela era universal e possuía a crença em um
Deus Único, que era cultuado e adorado por cada povo, de acordo com seu
desenvolvimento intelectual.
Seus ensinos foram gravados nas grutas, na face dos rochedos, em
tijolos, papiros etc., e se verifica que são eles saturados de incomparável moral,
ensinos esses que desafiam a sagacidade dos modernos sociólogos e teólogos para
a confecção do mais insignificante aforismo social.
Figura 20
501
Planisfério que representa a posição no céu no momento do nascimento do Deus-
Dia, à meia-noite de 25 de dezembro
Figura 21
Planisfério explicando o Apocalipse de João
Desde uma remota Antigüidade, como já vimos, todos os povos da Terra
conheciam a Ciência astronômica, o que implica, como dissemos acima, vastos
conhecimentos matemáticos, geométricos, físicos, químicos etc. Se insistimos nesta
repetição, é para bem salientar que nossa suposta civilização data somente de
502
alguns séculos, e que os povos que nos precederam não eram os bárbaros,
selvagens e heréticos, como o Catolicismo propala.
Este, pelo contrário, é que os tem perseguido, destruindo tudo quanto
pudesse e possa testemunhar-lhes o progresso para submetê-los a uns dogmas
aparentemente espirituais, a fim de subjugá-los politicamente.
Os livros compostos pelos cristãos, nos três primeiros séculos, são todos
baseados nas Cosmogonias da Pérsia, do Egito, da Síria, da Arábia e dos países
circunvizinhos que eles habitaram. Essas cosmogonias nos foram legadas pelo
padre Kircker, em sua obra Cedip, Tomo II, § 1º, páginas 425 e 426. Nela se vê todo
o sistema da hierarquia celeste, tal como o ensina a Igreja Católica, e fica-se
convencido, pela inspeção do mapa, que os cristãos, isto é, os católicos, nada
inventaram, nem mesmo suas fábulas cosmogônicas e teúrgicas; tudo é cópia e
adaptação de outras religiões que eles chamam pagas.
O próprio Apocalipse de João nada mais é do que outro poema
descrevendo os mesmos fenômenos.
Por falta da chave as atuais gerações não mais compreenderam essas
histórias.
É claro, pois, que daí surgissem várias religiões, ou antes, várias
modalidades da mesma religião solar, em diferentes postos do globo, e que, mais
tarde, isto é, muito depois do advento do Cristianismo, fossem tidas como religiões
pagas.
Foi dessas mitologias que surgiram as religiões do Mito Solar, do Mitra
persa, do Osíris egípcio, do Adônis fenício, enfim dos deuses da Etiópia, da China,
do México, do Peru etc.
503
O mundo, em matéria de religião, guiava-se, pois, pelo Mito Solar, não
como sendo o Sol, o Deus propriamente, mas seu filho, seu reflexo.
Por esse tempo surgiu o advento do Cristianismo, sem templo, sem culto,
sem dogmas, sem rituais, a não ser os mosaicos. Foi sobre a Cosmogonia
Zoroástrica que o Catolicismo bordou sua teologia, fazendo uma adaptação ao
Jesus Nazareno.
Essas antigas academias dividiram o firmamento em 12 partes, as quais
deram um nome de acordo com a tecnologia conhecida (Figura 12).
Por uma comparação material, o Ser Divino era representado pelo Sol,
cercado dessas 12 constelações. A geometria o descreve e suas Forças são
Numeradas.
"O círculo é o Ser Onipotente; o triângulo que se
encerra nele é o Verbo Solar; o quadrado corresponde aos
quatro elementos: fogo, água, ar, terra; o número Sete
simboliza os sete deuses planetários e o número 12, as
Hierarquias302".
O Sol que percorre esse zodíaco entra mensalmente em um signo. Esse
Sol, como símbolo da Vida, era chamado pelo nome que as teologias lhe deram:
Mitra, também chamado Jesus, Cristo, Osíris, Adônis etc. etc.
O planisfério que eles dividiram em 360 graus e que correspondia, como o
dissemos, com mais cinco dias epagômenos, aos 365 dias do ano, o tempo que a
Terra dá a volta no Sol, era, por sua vez, dividido em duas partes, uma
302 GABRIEL TRARIEUX – Ce qu’il faut connaître de l’occultisme – 1931.
504
representando duas estações do ano, o verão e a primavera, e outra o outono e o
inverno, comportando, portanto, cada uma seis signos (Figura 20).
E claro que não poderíamos em algumas linhas nos estender a respeito
dessa Cosmogonia, cujo desenvolvimento é encontrado no estudo de Dupuis303;
mas, para dar uma pálida idéia de como foi arquitetada a teologia que forma a base
do Zoroastrismo, do Mosaísmo e do Cristianismo, cataremos ali algumas lições.
Na parte inferior e invisível do planisfério (Figura 20) está colocado o
Signo de Capricórnio, que, à meia-noite do dia 25 de dezembro, daquela época, isto
é, há cerca de dois mil anos, estava no meridiano superior e visível.
Esse Capricórnio é seguido pelo Homem — Aquário — que na mistagogia
cristã é o brasão do evangelista Marcos. Ele é precedido pela Águia, que também
deram como brasão a João304. Ambos, isto é, Homem e Águia, são opostos
diametralmente a dois outros animais, que estão no hemisfério superior: o Leão e o
Touro, o primeiro servindo de brasão a Mateus e o segundo a Lucas.
Esses animais estão colocados nos quatro pontos cardeais do
firmamento.
São os quatro rios alegóricos ou os quatros fluidos de Moisés; são os
quatro animais da Esfinge de Gizé; são os quatro animais de Ezequiel, de Daniel e
de João, no seu Apocalipse.
Na parte superior e visível desse planisfério se vê, à direita, a constelação
Virgem. Ela tem sob seus pés, no horizonte inferior, o Dragão que sobe após ela
com a Balança, parecendo persegui-la. É a mesma analogia da descrição do
Apocalipse, do Dragão, perseguindo a mulher que ia dar à luz o Deus que devia
303 L'origine de tous les Cultes — 1835 — Paris.
304 Estas duas estátuas, com seus respectivos brasões, são vistas em seus nichos na fachada da
Igreja do Sacramento, no Rio de Janeiro.
505
reinar no Universo. Sobre a cabeça tem ela a imagem do Sol e sob os pés a da Lua.
Essa Virgem é ali representada levando uma criança ao colo. O Dragão faz esforços
para apoderar-se da criança; mas, ao lado, há um rio navegável, que o Dragão
engole, enquanto a Virgem se refugia no deserto, que é um espaço do planisfério,
sem constelações (vide figura). Aos pés da Virgem, ao lado oriental, está a estrela
Janus, representada por um homem calvo, segurando uma chave, o mesmo que
serviu de modelo para São Pedro, chefe dos 12 apóstolos, a quem Jesus prometera
a chave do céu, como Janus era o chefe dos 12 meses na mitologia, ou 12 signos
postos aos seus pés.
A esse apóstolo o Catolicismo deu o Galo por brasão, como emblema da
sua renegação.
Na linha horizontal, no Oriente, vê-se o Filho da Virgem Ísis, mãe do
Deus-Luz, precedida da barca de Janus, da qual fizeram a barca de Pedro.
No horizonte, vê-se Estefanos, de que fizeram Santo Estêvão, primeiro
testemunho, que se festeja no dia imediato ao nascimento de Cristo, 26 de
dezembro. Ele é seguido pela Águia, que se festeja em 27 do mesmo mês.
A virgem é precedida do signo de Leão, que acompanha Mateus. Esse
Leão é o que corresponde ao seu Leão da Tribo de Judá.
No meridiano superior acha-se Câncer que encerra o berço de Júpiter
nascente, e os asnos de Baco ou Deus-Sol, que se representava sob o emblema da
criança, no Solstício de Inverno. Assim, pois, no meridiano inferior, acha-se o
estábulo de Augias, filho do Sol; no meridiano superior, o asno e a creche no
Oriente, a Virgem e seu filho recém-nascido; e no poente, o Cordeiro, cuja forma ele
toma no momento da sua ressurreição e da exaltação do Sol.
506
É o Cordeiro da Teofania ou da manifestação de Deus. Ele tem, por
cima, Orion305 que encerra as três belas estrelas que vemos no firmamento todas as
noites, conhecidas, ainda hoje, pelo povo, sob a denominação de Três Reis Magos,
os quais, avisados pela estrela vista no Oriente, foram adorar o Cordeiro reparador,
ou Cristo. Essa estrela é a que foi anunciada por Zoroastro.
Acima dos Três Reis Magos está o Touro, aplicado a Lucas.
Tal era a exata posição das constelações na abóbada celeste, e não no
papel no momento preciso, meia-noite de 25 de dezembro, em que fizeram nascer o
Cristo, e o mesmo em que os persas celebravam o nascimento de Mitra que também
tinha por nome Jesus, o Cristo, deus da luz e do dia, filho de Deus, o qual, como o
Cristo, morria e ressuscitava no terceiro dia, redimindo seus iniciados.
Como se vê, não pode haver mais perfeita analogia, nem adaptação mais
evidente, para quem tem olhos de ver, a não ser, como já dissemos, que se adote a
opinião de Julius Firmicus, a de que o diabo, prevendo a vinda do Cristo Jesus,
fizera Zoroastro adotar cinco mil anos antes a vida de Jesus com a ciência
astronômica daqueles tempos. E quem pensasse desse modo ainda assim erraria
porque a posição da esfera era muito outra na época do 1º Zoroastro. No tempo
desse legislador, o Sol entrava na Constelação de Touro, ao passo que no de Cristo
entrava na de Peixes.
Os maniqueístas, seita cristã oriental, da qual fazia parte Santo Agostinho,
diziam que o Cristo era o mesmo Sol que Mitra. A teologia antiga, como diz Platão,
chama o Sol de Filho Único de Deus. São Leão confirma essa opinião. O
Catolicismo coloca a hóstia em uma custódia representando o Sol irradiante. Que é
isso senão imitação paga?
305 Outro sistema solar.
507
Por essas poucas palavras, é fácil ao estudioso deduzir a maneira por que
nasceram os cultos dessa cosmogonia, cultos bordados sobre uma mitologia,
preparada pelos poetas, em que eles personificavam essas constelações e
descreviam feitos heróicos para melhor impressionar a massa ignara.
Antes do reinado de Augusto, o signo correspondente ao nascimento do
Sol era o Cordeiro, do qual nasceu novo culto, por isso, na Grécia, se via Júpiter
com chifres do Cordeiro, assim como Amon, no Egito, também era representado
com esses adornos.
Para o católico, ingênua vítima política de um clero, vítima, a seu turno, de
cânones decretados contra as próprias leis científicas conhecidas da natureza, Deus
criou unicamente a Terra, dentre miríades de outros mundos, como sendo o único
grão de pó sideral, habitável por uma humanidade feita à sua semelhança
antropomorfa. O primeiro casal fabricado por Ele desviou-se de um regulamento
preestabelecido, recaindo essa transgressão sobre sua descendência por toda a
eternidade. Arrependido, o Criador inundou esta bola, um belo dia, salvando, porém,
outro casal, para não ter o trabalho insano de reamassá-lo em alguma barreira;
desse par, por sua vez, surgiu nova humanidade prevaricadora, teimosa e perversa.
Foi então que, na sua Infinita Bondade, para não arrasar novamente essa pílula,
pela água ou pelo fogo, lembrou-se, Jeová, num dia de tristeza, há uns dois mil
anos, de mandar seu filho de carne e osso encarnar-se num homem, na Judéia, para
que redimisse um povo que teimava em cometer o célebre pecado original; para
essa redenção derramou o Enviado seu próprio sangue divino. Eis a súmula da
doutrina católica.
Ora, sabido como é por quem estuda, que há dois mil anos a massa
popular do Ocidente desconhecia a ciência astronômica, tal como existia nas
508
academias persas, milhares de anos antes, é claro que a humanidade, ignorante dos
mistérios científicos, de que pequenos farrapos chegaram ao conhecimento de
alguns sábios, como o astrônomo Cláudio Ptolomeu, nascido no Egito no segundo
século da nossa era, considerasse a Terra como único ponto habitável, sendo seu
Criador constituído da mesma matéria que o boçal africano ou o próprio gorila.
Por esses impuros resíduos, o citado astrônomo idealizou um sistema do
mundo, que foi cristianizado (Figura 22), por isso os teólogos o adotaram,
causando-lhes grande sucesso na Idade Média, isto é, no século das trevas; esse
sistema foi derrotado pelo de Copérnico, astrônomo polaco, também professado por
Giordano Bruno, Galileu e outros, que demonstraram o duplo movimento dos
planetas, a rotação da Terra em volta do Sol, a habitabilidade dos mundos; por essa
razão se viram condenados pelos Papas, visto como suas teorias iam de encontro
às palavras da Bíblia.
Figura 22
509
Cosmografia dos Livros sacros do catolicismo
Nesse mapa; a Terra é representada com a parte superior voltada para a
Luz e a inferior voltada para a treva, chamada inferi, isto é, inferior, do que fizeram o
Céu e o Inferno.
Seguindo-se a marcha ascendente, atravessam-se as seguintes esferas:
a do Ar, que incandesce, a dos Sete planetas, a do Firmamento, considerada como
sólida, por isso lhe pregaram as estrelas, a do Nono Céu, para estar de acordo com
as filosofias do Oriente, a do Primeiro móvel ou cristalino e, finalmente, a do Empíreo
Celeste ou Sede propriamente dita dos bem-aventurados.
Não é de admirar, portanto, que a Igreja achasse ótimo esse sistema, que
permitia que todos os planetas, inclusive o Sol, andassem numa eterna dança, sem
finalidade, a não ser a de alumiar os habitantes da Terra, e representasse, com uma
facilidade infantil, as residências de Deus e do seu antagonista; o diabo.
Esse sistema é encontrado na Suma de São Tomás de Aquino e em
todos os Livros da Igreja Romana, como sendo a expressão da Verdade.
Daí a necessidade da criação de um Redentor, de um lugar para
recompensar e outro para tormentos, e de uma legião de intermediários, entre os
pobres homens e a Potência divina.
Desde, porém, que o Supremo Criador das miríades e miríades de
mundos, julgou oportuno fazer vibrar uma pequena centelha da sua Sabedoria, no
cérebro de homens puros, predestinados à evolução humana, Ele fez cair ao mesmo
tempo o véu da ignorância, que essa seita ímpia jogara sobre os olhos da
humanidade, derrubou seu orgulhoso Poder temporal, apagou suas infernais
510
fogueiras, rasgou novos horizontes sobre o infinito e permitiu ao homem poder
adorar, extático, sua Grandeza, seu Poder e sua Sabedoria.
A ciência cresceu e o Antro da ignorância diminuiu. Os dogmas, porém,
estacionaram, empoeirados nos Arquivos, guardados, não mais por uma elite de
fanáticos espirituais, mas por um bando de políticos que sonham com a volta do
Poder ao mundo, contando, para isso, com a legião de pobres analfabetos, ingênuos
e fanatizados, tanto na baixa como na alta camada social. Os atores já entraram em
cena, um na Itália e outro na Alemanha.
Eles foram os prepostos do Inferno, para atearem fogo ao mundo.
Para confirmar o que ficou dito terminaremos este artigo apelando para a
opinião do citado padre Moreux306, a respeito da Cosmogonia, no seu respectivo
capítulo:
"É neste ponto de vista, algo novo, que convém
examinar as cosmogonias antigas e mais particularmente a de
Moisés, consignada em sua Gênese".
"Aquele que ler a Bíblia como um livro vulgar pode
ficar certo de nada entender da sua linguagem. A Escritura
oferece vários sentidos: o simbólico, o hebraico e o teólogo, ou
seja, o simbólico, o iniciático e o teológico."
"E preciso dizer, também, que, na hora atual, apesar
do que possam pensar certos sábios e alguns exegetas, a
Cosmogonia tornou-se uma verdadeira ciência, com seus
princípios e suas leis."
306 La Sciencie Mysterieux des pharaons.
511
"... se, lendo a Gênese, escrita por Moisés, eu vejo
algum acordo com o que a ciência me ensinou de mais certo,
quem ousará negar-me o direito de afirmá-lo e de publicá-lo."
Ora, quem assim fala é um eminente padre e sábio astrônomo, a cujos
pés o papa-missas da nossa freguesia tem de abaixar os olhos.
Se se quer firmar a história das religiões, diz Fabre d'Olivet, baseada na
Cosmogonia de Moisés, ao pé da letra como o Judaísmo, o Cristianismo e o
Catolicismo, cai-se logo em uma flagrante contradição com todas as Cosmogonias,
muitíssimo anteriores, escritas pelos homens mais esclarecidos da China, da Índia,
da Pérsia, da Caldéia, do Egito, da Grécia, da Etrúria, dos Celtas, que dão à terra
uma Antigüidade incomparavelmente superior aos infantis seis mil anos ali descritos.
Em vez de o governo cogitar de montar cinemas nas escolas e nos
quartéis, fazendo passar fitas de faroeste e outras impróprias, deveria imitar a
Europa montando um "Planetário", não diremos em todas as escolas e quartéis,
mas em um local destinado ao público em geral e especialmente aos alunos e
militares que, assim, conheceriam as maravilhas do Universo Sideral, assistiriam à
majestosa contradança dos astros, veriam como nascem e morrem mundos, ficariam
estupefatos ante a vertiginosa carreira de cometas descabelados.
Então, em um momento de concentração, arrebentando os grilhões que
os prendem a essa bola e a dogmas religiosos, inventados para embrutecê-los,
elevariam seus espíritos até o Supremo Criador, reconhecendo sua Grandeza, seu
Poder, sua Sabedoria e sua Bondade, convencidos de que não foi a Terra o único
planeta criado para ser habitado, mas que todos esses pontos luminosos são outros
512
tantos mundos que "narram a Glória de Deus", conforme o tem demonstrado o
genial Camillo Flammarion307.
Impressionado por tal espetáculo, seus espíritos evoluiriam, decerto,
incitando-os ao estudo, invertendo, portanto, para a glória do Brasil, o número da
porcentagem de analfabetos como, vergonhosamente, confessam nossas
estatísticas.
Apocalipse de João e Outros
Segundo os estudos de Dupuis, ex-padre católico, é bom frisar308, o
Apocalipse de João, como os de Daniel, de Ezequiel e outros, é uma cópia da
mistagogia dos orientais e de povos ainda mais antigos.
Não é nosso intuito, está claro, dar aqui outra interpretação a esse
misterioso livro, que tem feito correr tonéis de tinta e surgir dezenas de combinações
engenhosas; mas, como, por um lado, esses estudos, positivamente científicos,
estabelecem uma perfeita analogia do ARQUEÔMETRO com o APOCALIPSE de
João, e, por outro lado, sendo a obra de Dupuis de suma raridade, mesmo na
França, julgamos merecer o agrado do leitor estudioso, traduzindo a parte referente
ao assunto, do capítulo XII, volume III, do RESUMO ABREVIADO DA GRANDE
OBRA.
Além disso, esse trabalho servirá para provar o que temos dito e teremos
de dizer, a respeito da cosmogonia de Moisés, a respeito da analogia das
passagens do Apocalipse com a astronomia, com a sonometria, com a cromometria,
com a arquitetura musical e artes correlativas e preparar o espírito do leitor para
melhor compreender o que tão imperfeitamente pretendemos elucidar. Diz ele:
307 A Pluralidade dos mundos habitados
308 Origine de tous les Cultes — 1826.
513
"O Livro conhecido sob o nome de APOCALIPSE só
pareceu ininteligível até aqui, porque se obstinaram em ver
uma predição real do futuro, que cada um explica a seu modo,
e no qual sempre se achou o que se quis, isto é, outra coisa
diferente do que ele encerra".
Newton e Bossuet, se não fossem já revestidos de glória, seriam tachados
de loucos nas tentativas infrutíferas que fizeram para nos dar uma explicação
satisfatória. Ambos partiram de uma hipótese falsa, a saber: que era um Livro
inspirado. Hoje, que está reconhecido, pelos bons espíritos, que não há livros
inspirados e que todos os livros trazem o cunho da sabedoria ou da tolice humanas,
analisaremos o do Apocalipse, segundo os princípios da Ciência Sagrada e de
acordo com o gênio, bem conhecido, da mistagogia dos orientais, de que este
trabalho é uma produção.
Os discípulos de Zoroastro ou os magos, dos quais os judeus e os
cristãos tiraram seus principais dogmas, ensinaram que Orzmud e Arimã, chefe, um
da luz e do bem e o outro das trevas e do mal, tinham seus gênios secundários ou
anjos e seus partidários ou povos favoritos, que se combatiam neste mundo e
destruíam reciprocamente suas obras; mas que, por fim, o povo de Arimã seria
vencido, que o Deus da luz e seu povo triunfariam; os bens e os males, então,
deviam voltar aos seus princípios e os dois chefes iriam habitar com seus povos, um
na luz e o outro nas trevas iniciais dos quais tinham saído.
Devia, pois, surgir um tempo marcado pelo destino, diz Theopompe, em
que Arimã depois de ter trazido a peste e a fome seria inteiramente destruído.
514
Então a terra, sem desigualdade, devia ser a residência de homens
felizes, vivendo sob a mesma lei e revestidos de corpos transparentes; aí é que eles
deviam gozar da felicidade inalterável, sob o império de Orzmud ou do Deus da Luz.
Que se leia o Apocalipse, e então se terá a convicção de que aí reside a
idéia teológica, em que se baseia toda essa obra. Todos os detalhes misteriosos que
a envolvem nada mais são do que o esqueleto desse único dogma, posto em ação,
e como que teatralizado nos santuários dos iniciados nos mistérios da luz em
Orzmud.
Toda essa encenação teatral e maravilhosa é tirada das imagens do céu
ou das constelações que presidem as revoluções do tempo e que ornam o mundo
visível, das ruínas, do qual a varinha mágica do padre309 vai fazer surgir o mundo
luminoso, no qual passarão os iniciados ou a Terra Santa, e a Jerusalém celeste.
No meio da noite, diz o iniciado nos mistérios, de Ísis o Sol me pareceu
brilhando com luz ofuscante e, após ter pisado o solo de Prosérpina e ter passado
através dos elementos, eu me encontrei na presença dos deuses310.
Nos mistérios de Eleusis dava-se ao iniciado o antegozo de uma
felicidade futura e a idéia de que a iniciação elevava a alma depois da morte.
Faziam-se suceder as profundas trevas em que ele era mergulhado algum tempo (o
que representava a imagem desta vida), uma luz viva, que, de súbito, o envolvia de
seu brilho e lhe desvendava a estátua do deus aos mistérios no qual o iniciavam.
Aqui (em João), é o Cordeiro que é a grande divindade, cuja imagem se reproduz
em toda essa obra apocalíptica.
Esse Cordeiro está colocado à testa dessa cidade celeste que tem 12
divisões como o zodíaco, de que ÁRIES311, ou o Cordeiro, é também o chefe. Eis ao
309 O evangelista João.
310 Conforme disse Davi, já citado.
515
que se reduz toda a obra do Apocalipse de João. Para fazer-lhe a comparação com
os traços da esfera e analisar nos detalhes os diversos quadros que damos na
nossa GRANDE OBRA, acompanhada como está do planisfério. Entretanto,
traçaremos aqui um resumo abreviado desse trabalho, suficiente para que o leitor
possa ter uma idéia da correspondência que existe entre os quadros do
APOCALIPSE e os do céu e de suas divisões (Figura 21).
Duas coisas ferirão logo a atenção do leitor estudioso: é a repetição
freqüente que o autor312 faz no seu livro dos números 7 e 12, sagrados em todas as
teologias, porque eles exprimem duas grandes divisões do mundo, a do sistema
planetário e a do zodíaco ou a dos signos, os dois grandes instrumentos da
fatalidade e as duas bases da ciência astrológica que presidiu a composição desta
obra. O número 7, ali, está repetido 24 vezes e o 12, 14 vezes.
O sistema planetário, ali, está designado, sem nenhuma espécie de
equívoco, por um castiçal de sete braços (Figura 21) ou por sete castiçais e por sete
estrelas que empunham o gênio luminoso, semelhante ao deus princípio, Orzmud,
adorado pelos persas. Esse emblema simbolizava os sete grandes corpos
celestes313, nos quais se distribui a luz incriada e no centro dos quais brilha o SOL,
seu principal foco. É o anjo do Sol que, sob a forma de um gênio resplandecente de
luz, aparece a João e lhe descobre os mistérios que ele deve revelar aos iniciados.
São os próprios escritores judeus e cristãos que nos fornecem a explicação que
damos dos sete castiçais que exprimem a mesma idéia cosmogônica, indicada pelo
símbolo do castiçal de sete braços, colocado no templo de Jerusalém.
311 Carneiro.
312 João.
313 Sol, Lua, Júpiter, Saturno, Marte, Vênus, Mercúrio.
516
Clemente, bispo de Alexandria, pretende que o castiçal de sete braços,
colocado no meio do altar dos perfumes, represente os sete planetas.
De cada lado partiam três braços suportando cada qual uma lâmpada.
No meio estava a lâmpada do Sol, centralizando os seis braços, porque
esse astro, colocado no meio do sistema planetário, comunica sua luz nos planetas
que estão abaixo e acima, segundo as leis da sua ação divina e harmônica.
Josephe e Philon, dois escritores judaicos, dão a mesma explicação.
Os sete recintos do templo representavam a mesma coisa. São também
os sete olhos do Sepher, designados pelos espíritos que se apóiam sobre a verga
que se eleva da raiz de Jessé, continua sempre Clemente de Alexandria.
Notar-se-á que o autor do Apocalipse diz, também, que os sete cornos do
Cordeiro são os sete espíritos de Deus e, conseqüentemente, eles representam o
sistema planetário que recebe seu impulso de Áries, do cordeiro, o primeiro dos
signos. No monumento da religião dos persas314, ou de Mitra, encontraram-se
igualmente sete estrelas destinadas a representar o sistema planetário e junto a
cada uma vê-se o atributo característico do planeta que a estrela representa.
O autor do Apocalipse nada mais fez, portanto, do que empregar um
emblema aceito para exprimir o sistema harmônico do Universo, no santuário do
qual a iniciação introduzia o homem, como se pode ver no nosso capítulo a respeito
dos Mistérios.
Mais convencido se ficará dessa verdade, quando se refletir que este
mesmo emblema designava as sete igrejas, cuja primeira estava em Éfeso e em que
se adorava o primeiro desses planetas, a Lua, sob o nome de Diana.
314 Zoroastro.
517
Em seguida ao sistema planetário, o mistagogo nos apresenta o quadro
do céu dos fixos315 e as quatro figuras celestes ali colocadas nos quatro ângulos,
segundo o sistema astrológico.
Essas quatro figuras são o Leão, o Touro, o Homem do aquário e a Águia
que dividiam todo o zodíaco em quatro partes ou de três em três signos nos pontos
da esfera, chamados, por isso, fixos e sólidos. As estrelas, que a tal correspondiam,
chamavam-se as quatro estrelas. (De onde a corruptela de sete estrelos.)
Nos mistérios de Mitra, além das sete estrelas destinadas a representar
os sete planetas, havia uma oitava que correspondia ao céu dos fixos. Por isso, o
autor do Apocalipse diz que viu uma porta aberta no céu, e que o convidaram a
entrar lá para ver as coisas que deviam acontecer no futuro. Segue-se daí, partindo
dos princípios da astrologia ou da Ciência que desvenda os segredos do futuro, que
o autor, depois de nos mostrar o sistema planetário sob o império dos sete castiçais,
nos fere a vista com o oitavo céu e sobre o zodíaco que, com os planetas, concorre
para revelar os pretendidos segredos da adivinhação.
O mistagogo nada mais fez do que teria feito um astrólogo, que se
apresentasse como devendo revelar os destinos do mundo e predizer as
infelicidades que ameaçassem a Terra e que fossem os arautos da sua destruição.
Ele estabelece a esfera sobre os quatro pontos cardeais das
determinações astrológicas e apresenta aos olhos as quatro figuras que dividiam em
quatro partes iguais o círculo da fatalidade, estando essas figuras distribuídas a
distâncias iguais em volta do trono de Deus, isto é, do firmamento, acima do qual se
colocava a divindade.
315 São as estrelas fixas que vemos no firmamento e que não se confundem com os planetas as quais
são sóis milhões e milhões de vezes maiores que o nosso, tendo cada um seu sistema planetário.
518
As 24 partes do tempo, que dividiam a revolução do céu, são ali
chamadas 24 anciãos, como o tempo mesmo ou Saturno sempre foram chamados.
Essas horas, tomadas seis a seis, são também chamadas asas, as quais,
como se sabe, sempre foram dadas ao tempo.
Eis por que os animais celestes, dividindo o zodíaco de seis em seis
horas, são considerados como tendo seis asas.
Essas figuras de animais que achamos colocados no céu dos fixos e
distribuídos na mesma ordem, segundo a qual o Apocalipse as nomeia, são figuras
de querubins, os mesmos que vemos em Ezequiel. Ora, os caldaicos e os sírios
chamavam o céu dos fixos, o "céu dos querubins", e colocavam acima o grande mar
ou as águas superiores316 e o céu de cristal. O autor do Apocalipse fala, pois, a
mesma linguagem que a astrologia oriental.
Os escritores cristãos justificam, ainda aqui, nossas explicações.
Clemente de Alexandria, entre outros, diz, formalmente, que as asas dos querubins
designavam o tempo que circula no zodíaco; as figuras zodiacais, que
correspondem, exatamente, às quatro divisões dadas pelas asas, não podem ser
senão os querubins, aos quais estão apegadas essas asas, pois são absolutamente
as mesmas figuras de animais. Por que procurá-las em um céu ideal, se são
encontradas em um céu real e astronômico, o único em que se vêem as figuras de
animais, chamadas vulgarmente animais celestes? Pois bem, olhemos com ele esse
céu.
Essas mesmas figuras são as dos quatro animais atribuídos aos
evangelistas. São também as dos quatro anjos que, para os persas, devem tocar as
trombetas do fim do mundo. Os antigos persas veneravam quatro estrelas principais,
316 Referidas por Moisés posteriormente.
519
que velavam nos quatro cantos do mundo, e essas quatro estrelas correspondiam
aos quatro animais celestes que têm as mesmas figuras do Apocalipse.
Entre os chineses se encontram quatro astros que serviam para designar
as quatro estações, que, no tempo de Iao, correspondiam a esses pontos do céu.
O astrólogo que compôs o Apocalipse nada mais fez, portanto, do que
repetir o que já se achava em todos os livros antigos da astrologia oriental.
Foi depois de ter assim firmada sua esfera sobre seus pontos cardeais,
que ele abre o livro dos destinos do mundo, chamado ali alegoricamente o livro
fechado com sete selos, cujo rompimento está confiado ao primeiro dos signos,
Áries, o Cordeiro.
Nonnus317 em suas Dionisíacas se serve de uma expressão mais ou
menos semelhante para designar o livro da fatalidade: ele chama-o de livro das sete
tábuas, em que estão escritos os destinos. Cada tábua tinha o nome de um planeta.
Assim, é fácil reconhecer no livro dos sete selos o livro da fatalidade, que consulta
aquele que se encarrega, ali, de anunciar o que vai acontecer ao mundo. Por isso, o
capítulo VI até XI, inclusive, contém todas as predições que encerram a série dos
males de que o Universo está ameaçado, tais como guerra, fome, mortalidade etc.
Os traços desses quadros são bastante arbitrários e frutos de uma imaginação
exaltada.
Seria, talvez, tão difícil analisá-los, segundo os princípios da ciência,
quanto o de dar razão às visões de um doente em delírio. De resto, a doutrina dos
magos ensinava que antes que Arimã fosse destruído a peste, a fome e outros
flagelos desolariam a Terra. Os videntes toscanos publicavam também que, quando
o Universo fosse dissolvido para tomar nova face, se ouviria a trombeta nos ares e
317 Muito anterior ao Cristianismo.
520
sinais apareceriam no céu e na terra. São esses dogmas da teologia dos persas e
dos toscanos que forneceram a matéria de amplificação do padre, autor do
Apocalipse: eis a trama em que ele bordou seus seis capítulos.
No duodécimo capítulo, o autor deita ainda seu olhar ao céu dos fixos e
para parte do firmamento em que está o navio, chamado a arca, a virgem, o
dragão que a segue, a baleia que se deita ao despertar da mesma, a besta com
cornos de cordeiro, ou Medusa, que desperta ao seu deitar; são as diversas
paisagens que ele exibe em espetáculo e que encaixilha em um quadro maravilhoso
e todo alegórico (Figura 21).
Depois de ter passado na tela a parte das constelações que determinam a
época do tempo em que todos os anos a natureza se renova, quando o Sol atinge o
signo do cordeiro, o autor do Apocalipse traça uma série de acontecimentos nos
quais se vêem as predições, que ele tirara do livro da fatalidade, realizar-se,
finalmente. Tudo se executa na mesma ordem em que ele predisse.
É no fim desses flagelos que se realiza o grande julgamento, ficção que
encontramos em Platão e que se ligava à mistagogia oriental. Já que se tinham
imaginado recompensas e penas, é natural supor-se que a justiça presidiria a essa
distribuição, e que o grande Juiz trataria cada um segundo suas obras. Assim os
gregos acreditavam no julgamento de Minos. Os cristãos, até aqui, nada inventaram;
eles copiaram os dogmas dos antigos chefes de iniciação.
O efeito desse julgamento era o de separar o povo de Orzmud do de
Arimã e de fazê-lo marchar sob o estandarte do seu Chefe, um para o Tártaro e
outro para o Eliseu, ou seja, a mansão de Orzmud.
Eis o assunto dos últimos capítulos, a começar no décimo sétimo. O mau
princípio ali figura como na teologia dos persas, sob a forma monstruosa da
521
serpente, de que Arimã se revestia nessa teologia. Ele dá combate aos príncipes do
bem e da luz e ao seu povo; mas, finalmente, é vencido e precipitado com os seus
na horrenda morada das trevas onde nasceu; é Júpiter, no poema de Nonnus,
fulminando Typhon, antes de restabelecer a harmonia dos céus.
O deus de luz, vencedor, arrasta consigo seu povo e seus eleitos para a
mansão de luz e de eterna felicidade, terra nova; o mal e as trevas, que reinam
neste mundo, serão para sempre banidos. Mas, esse novo mundo ainda tem as
divisões do antigo e o número duodecimal que dividia o primeiro céu ali também se
acha atribuído às divisões do novo Universo: o Cordeiro ou Áries, igualmente ali
preside.
É principalmente nessa última parte da obra que se reconhece a
astrologia. Com efeito, os antigos astrólogos orientais haviam submetido todas as
produções da natureza à influência dos signos celestes, e haviam classificado as
plantas, as árvores, os animais, as pedras preciosas, as qualidades elementares, as
cores etc., sob os 12 animais do zodíaco, pela razão da analogia que se acreditava
neles residissem com a natureza dos signos.
Fizemos imprimir na nossa Grande Obra o quadro sistemático das
influências que exprimem a relação das causas celestes com os efeitos sublunares
no reino animal, vegetal e mineral. Notam-se ali 12 pedras preciosas, absolutamente
as mesmas do Apocalipse, arrumadas na mesma ordem e atribuídas cada qual a um
signo. Assim, os signos celestes foram representados por outras tantas pedras
preciosas, e, como na distribuição dos meses, os signos se agrupam três a três para
marcar as quatro estações; no Apocalipse, as pedras preciosas se agrupam,
igualmente, três a três, na cidade de 12 portas e 12 fundamentos.
522
Cada uma das faces da cidade sagrada encara um dos pontos cardeais
do mundo, segundo a divisão astronômica que atribuía três signos para cada um
desses pontos, decorrente dos ventos que sopram das diversas direções do
horizonte; este dividiu em 12, como as partes dos signos. Os três signos de ESTE
correspondiam à primavera; os de OESTE ao outono; os do SUL ao verão e os do
NORTE ao inverno.
Há, diz um astrólogo, 12 ventos por causa das 12 portas do Sol, pelas
quais saem esses ventos originados pelo Sol. É por isso que Homero deu 12 filhos a
Eolo, ou deus dos ventos.
Quanto às 12 portas do Sol, são elas que estão designadas aqui sob o
nome das 12 portas da cidade sagrada do deus da luz. A cada uma das portas, o
autor coloca um anjo ou gênio, o que presidia cada vento de um modo particular.
Via-se em Constantinopla uma pirâmide encimada por uma figura que, por
seu movimento, retraçava os 12 ventos representados por 12 gênios ou 12 imagens.
São, também, anjos que, no Apocalipse, presidem ao sopro dos ventos. Vêem-se
quatro que estão encarregados dos quatro ventos, que partem dos quatro cantos do
horizonte. Aqui, o horizonte é dividido em 12 ventos; eis por que se vêem 12 anjos.
Em tudo isso só há astrologia, ligada ao sistema dos anjos ou dos gênios, adotada
pelos caldaicos e persas, dos quais os hebreus e os cristãos tiraram essa teoria.
Os nomes das 12 tribos318, escritos sobre as 12 portas, nos lembram
ainda o sistema astrológico dos hebreus, que haviam acomodado cada uma das
suas tribos sob um dos signos celestes, e, com efeito, vê-se na predição de Jacó
que os traços característicos de cada um dos seus filhos se adaptavam a cada um
dos signos sob o qual os hebreus colocam a tribo de que ele é o Chefe.
318 De Israel.
523
Simão Joachitas, depois de ter feito a separação das inteligências, que
ele distribui segundo as relações que elas devem ter com os quatro pontos cardeais,
coloca ao centro um templo santo que sustenta tudo. Ele tem 12 portas, sobre cada
uma das quais está gravado um signo de Áries ou Cordeiro. São estes, continua o
rabino, os 12 chefes ou moderadores que foram arrumados segundo o plano de
distribuição de uma cidade ou de um campo; são os 12 anjos que presidem ao ano e
aos 12 termos ou divisões do Universo.
Psellus, no seu livro dos gênios ou dos anjos, a quem pertence a
vigilância do mundo, os agrupa também três a três, de modo a fazer face aos quatro
cantos do mundo.
Mas, ouçamos os doutores cristãos e os próprios judeus. O sábio bispo de
Alexandria nos fala do racional aplicado sobre o peito do Sumo sacerdote dos
judeus, que é uma imagem do céu; que as 12 pedras que nele se vêem e que são
arrumadas três a três sobre um quadrilátero designam o zodíaco e as quatro
estações de três em três meses. Ora, essas pedras, dispostas como as do
Apocalipse, são também as mesmas com pouca diferença. Philon e Joseph dão
idêntica explicação. Sobre cada uma das pedras, diz Joseph, estava gravado o
nome de um dos doze filhos de Jacó, chefe das tribos, e essas pedras
representavam os meses ou os 12 signos figurados no zodíaco.
Philon acrescenta que essa distribuição feita três a três indicava
visivelmente as estações que, sob cada um dos meses, correspondiam a três
signos.
Segundo esses testemunhos, não nos é permitido duvidar que o mesmo
gênio astrológico que presidiu a composição do racional não tivesse dirigido o plano
524
da cidade Santa, resplendente de luz, e na qual são introduzidos os eleitos e os fiéis
discípulos de Orzmud.
Encontra-se, também, em Luciano, uma cidade idêntica destinada a
receber os bem-aventurados e na qual se vêem brilhar o ouro e as pedras que
ornavam a cidade de Apocalipse. Não há diferença nenhuma entre as duas ficções,
a não ser que, em Luciano, a divisão ou o sistema planetário, por ele representado,
é de sete, e que, no Apocalipse, se preferiu a divisão por 12, que é a do zodíaco, por
meio do qual os homens passavam a voltar ao mundo luminoso. Os maniqueístas,
em suas ficções acerca da volta das almas ao ar perfeito e à coluna de luz,
figuravam esses mesmos signos por 12 vasos ligados a uma roda que, circulando,
elevava as almas dos infelizes para o foco da luz eterna.
O gênio mistagógico variou os emblemas pelos quais se designou o
mundo e o zodíaco; esta grande roda é o zodíaco, chamado pelos hebreus a roda
dos Signos. São as rodas que Ezequiel vê se movimentarem nos céus; pois, os
orientais, observa judiciosamente Beausobre, são sumamente místicos e não
exprimem seus pensamentos senão por símbolos e figuras. Tomá-los ao pé da letra,
seria tomar a sombra pela realidade. Assim é que os maometanos designam o
Universo como uma cidade que tem 12 mil pórticos, isto é, que eles empregam a
divisão milésima, de que os persas fazem uso na fábula da criação, para representar
o tempo ou o famoso período que se dividem entre si os dois princípios. Essas
fábulas encontram-se em toda a parte.
Os povos do Norte falam, também, de 12 governadores encarregados de
regular o que concerne à administração da cidade celeste. Sua assembléia se
realiza na planície chamada Ida, que está no centro da residência divina. Eles se
reúnem em uma sala em que há 12 tronos, além do ocupado pelo pai universal.
525
Essa sala é a maior e a mais esplêndida do mundo; ali só se vê ouro por
fora e por dentro, é denominada mansão da alegria. Na extremidade do céu está a
mais bela de todas as cidades e chamam-na Gimle; ela é mais brilhante que o
próprio Sol. Ela subsistirá, ainda, depois da destruição do céu e da terra; os homens
bons e íntegros habitá-la-ão durante todas as eras.
Nota-se nas fábulas sagradas desses povos, como no Apocalipse, um
embasamento do mundo atual e a transferência dos homens para outro mundo, no
qual eles devem viver. Vê-se, em seguimento de vários prodígios que acompanham
essa grande catástrofe, aparecerem várias moradas, umas agradáveis e outras
horrendas. A melhor de todas é GIMLE.
O Edda fala, como no Apocalipse, de um céu novo e de uma nova terra.
"Sairá", diz ele, "do mar, uma nova terra bela e agradável, coberta de verdura e de
campos, onde o grão crescerá por si mesmo, sem cultura. Os males serão banidos
do mundo".
Na Volupsa, poema dos escandinavos, vê-se também o grande dragão do
Apocalipse que o filho de Odin ou o deus Thor atacou e matou. "Então o Sol se
apaga, a terra se dissolve no mar, a chama devoradora atinge os limites da criação e
atira-se para o céu”. Mas, do seio das ondas, diz a profetiza, vejo sair uma nova
terra vestida de verdura. Vêem-se colheitas maduras que não foram semeadas; o
mal desaparece. Em GIMLE, vejo uma morada coberta de ouro e mais brilhante que
o Sol; ali habitam povos virtuosos e sua felicidade não tem fim.
Penso que ninguém admitirá como inspirada por Deus essa profetiza dos
escandinavos. Por que olhar-se, igualmente, como inspirado o autor da profecia dos
cristãos da Frígia ou da revelação do profeta João?
526
São absolutamente as mesmas idéias mistagógicas que vimos
consagradas na teologia dos Magos, de que Theopompe nos deu uma perfeita
descrição, muito tempo antes que houvesse cristãos.
Possuímos um precioso texto dessa teologia, no 24º discurso de Dion
Chrysostomo, em que o sistema de embrasamento do mundo e da sua
reorganização está descrita sob o véu da alegoria. Nota-se ali o dogma de Zenon e
de Heráclito, acerca da transfusão ou metamorfose dos elementos um no outro, até
que os elementos do fogo consigam converter tudo em sua natureza. Esse sistema é
o dos indianos, em que Vishnu faz tudo voltar na sua subsistência, para dali tirar um
novo mundo. Em tudo isso nada se vê de surpreendente nem de inspiração, mas
simplesmente uma opinião filosófica como outras tantas. Por que a encararmos
como uma verdade revelada? Será por que ela se acha em um livro reputado
sagrado?
Essa noção em Dion Chrysostomo está revestida de imagens tão
maravilhosas quanto às do Apocalipse. Cada um dos elementos é representado por
um cavalo que tem o nome do cavalo do deus que preside o elemento. O primeiro
cavalo pertence ao elemento do fogo etéreo, chamado Júpiter; ele é superior aos
três outros, como o fogo que ocupa o lugar mais elevado na ordem dos elementos.
Esse cavalo é alado e o mais rápido de todos; ele descreve o círculo maior, aquele
que abrange todos os outros; ele brilha da mais pura luz e sobre seu dorso estão as
imagens do Sol e da Lua e dos astros que estão traçados na região etérea. Esse
cavalo é o mais belo de todos, é singularmente amado por Júpiter. O Apocalipse
também tem seus cavalos cada qual distinguido por sua cor.
Há um segundo que vem logo após ele e que o toca de mais perto: é o de
Juno, isto é, o ar, pois Juno é, às vezes, tomado pelo ar, ao qual essa deusa
527
preside. Ele é inferior em força e em ligeireza ao primeiro, e descreve um círculo
interior mais estreito; sua cor é preta, naturalmente, mas a parte exposta ao Sol
torna-se luminosa enquanto a que está na sombra conserva sua cor natural. Quem
não reconhece logo o ar que durante o dia é luminoso e tétrico à noite.
O terceiro cavalo é consagrado a Netuno ou ao deus das águas. É mais
pesado em sua marcha que o segundo.
O quarto é imóvel. Chama-se o cavalo de Vesta. Ele não arreda do lugar,
mordendo seu freio. Os dois mais chegados apóiam-se contra ele, inclinando-se por
cima. O mais afastado circula em volta como ao redor de sua estaca.
Basta notar aqui que Vesta é o nome que Platão dá à terra e ao fogo
central que ela contém. Ele a representa igualmente imóvel no centro do mundo.
Assim a terra, colocada no centro, vê elevar-se acima dela três camadas
concêntricas de elementos, cuja velocidade está na razão inversa da sua densidade.
O mais sutil, como o mais rápido, é o elemento fogo, figurado pelo primeiro cavalo; o
mais pesado é a terra, estável e fixa no centro do mundo e figurada por um cavalo
imóvel, em volta do qual os outros três circulam em distâncias e velocidades que
crescem em proporções da sua distância do centro. Esses quatro cavalos, apesar da
diferença de temperamentos, vivem em bom entendimento, expressão figurada que
anuncia esse princípio, conhecido dos filósofos, em que o mundo se sustenta pela
concórdia e pela harmonia dos elementos.
Entretanto, depois de muitas voltas, o fôlego vigoroso e quente do
primeiro cavalo atinge os outros e especialmente o último; sua crina se queima, bem
como seu paramento que tanto o orgulhava. É esse episódio, dizem os magos, que
os gregos cantaram na fábula de Phaeton, cuja explicação já demos na nossa
Grande Obra.
528
Vários anos depois, o cavalo de Netuno, agitando-se muito fortemente se
cobriu de um suor que inundou o cavalo imóvel atrelado perto dele: é o dilúvio de
Deucalião que já explicamos.
Essas duas ficções exprimem um dogma filosófico dos antigos, que
diziam que o incêndio do mundo adviria quando o princípio do fogo dominasse, e o
dilúvio, quando o princípio da água se tornasse superabundante. Contudo, esses
desastres não levariam à destruição total do mundo.
Havia outra catástrofe ainda mais terrível e que trazia a destruição
universal de todas as coisas, era a que resultasse da metamorfose ou da
transmutação dos quatro cavalos um no outro, ou para falar sem figura, da
transfusão dos elementos entre si até que eles se fundissem numa só natureza,
cedendo à ação vitoriosa do mais forte. Os magos comparam, ainda, este último
movimento a uma atrelagem de carros. O cavalo de Júpiter, sendo o mais vigoroso,
consome os outros que, em relação a ele, são como feitos de cera; ele os absorve
na sua substância sendo ele, mesmo, de uma natureza infinitamente melhor. Depois
que a substância única se estendeu e se rarefez de modo a retomar toda a pureza
da sua primitiva natureza, ele tende então em se reorganizar e em reproduzir as três
outras naturezas ou elementos de que se compõe um novo mundo de uma forma
agradável, com todas as graças e com o frescor de uma obra nova.
Não é, pois, de admirar ver reproduzir-se sob outras formas, nas diversas
seitas religiosas, este dogma filosófico de um mundo destruído, renovado e
substituído por uma melhor ordem de coisas. É este dogma que constitui a base da
quarta égloga de Virgílio e das ficções dos indianos a respeito da volta da idade do
ouro. É também achado no terceiro livro das questões novas de Sêneca.
529
Na teologia dos indianos, escrita, absolutamente, no mesmo estilo que
este trecho da teologia dos magos, supõe-se que, depois da destruição total do
Universo, Deus, que havia permanecido como uma chama ou como uma luz, quis
que o mundo voltasse ao seu primitivo estado e procedeu à reprodução dos seres.
Não seguiremos adiante o paralelo de todas essas opiniões filosóficas, que cada um
dos mistagogos traduziu a seu modo. Nos limitaremos a este exemplo, que basta
para nos dar uma idéia do gênio alegórico dos antigos sábios do Oriente e para
justificar o uso que fizemos dos dogmas filosóficos que nos são conhecidos para
descobrir o sentido dessas monstruosas ficções da mistagogia oriental.
Essa maneira de instruir os homens, ou melhor, de lhes impor idéias, sob
pretexto de os instruir, está tão afastada dos nossos costumes, quanto a escrita
hieroglífica é diferente da nossa. Mas, tal era a linguagem que se usava com os
iniciados, diz o autor da Cosmogonia fenícia, a fim de excitar a admiração e o
espanto dos mortais.
É esse mesmo gênio que presidiu a redação dos primeiros capítulos da
Gênese, e que criou a fábula da árvore dos dois princípios ou da árvore da ciência
do bem e do mal e a da famosa serpente, que introduziu no mundo um mal, que só
pode ser redimido pelo Cordeiro.
O fim da ficção apocalíptica era, não só de excitar o espanto dos iniciados
nos mistérios do Cordeiro, como também o de imprimir o terror no coração de todos
aqueles que não fossem fiéis às leis da iniciação, pois todas as grandes fábulas
sacerdotais, como as do tártaro, dos dilúvios, do fim do mundo etc., tiveram este fim.
Os padres quiseram governar o mundo pelo medo. Armaram toda a
natureza contra o homem; não há nenhum fenômeno que não tivesse sido um sinal
ou um efeito da cólera dos deuses.
530
A geada, o raio, o incêndio, a peste etc., todos os flagelos que afligem
nossa triste humanidade foram considerados como outros tantos golpes da vingança
divina, que fere as gerações culpadas.
O incêndio de Sodoma é apresentado como uma punição dos seus
habitantes.
Os árabes têm tribos chamadas perdidas, porque elas não obedeceram à
voz dos profetas. A famosa Atlântida, que talvez nunca tenha existido, senão na
imaginação dos padres do Egito, foi submersa porque os deuses quiseram punir os
crimes desses insulares. Os japoneses têm também a ficção da ilha Maury,
igualmente submergida pela vingança divina.
Mas, é principalmente do dogma filosófico da transmutação dos
elementos de que mais se abusou sob o rótulo de fim do mundo; tudo pareceu bem
aos padres, para espantar os homens e mantê-los sob sua dependência. Conquanto
essa ameaça nunca tivesse de ser realizada, contudo, todos a temiam e era o
quanto bastava. É verdade que, nem por isso, os homens se tornaram melhores. Se,
por acaso, se ousava fixar a época dessa catástrofe, ficava-se quite, por qualquer
motivo, em adiá-la para outros tempos, e o povo continuava a ser engazopado; tal é
sempre sua sorte quando ele se entrega aos padres.
Daí, esses terrores perpétuos, nos quais o mantiveram durante os
primeiros séculos da igreja, e esses funestos receios do fim do mundo, que se
acreditava sempre próximo319, mas que foi mais uma vez adiado para o século XI, ou
seja, o ano 1000 da era cristã. Mesmo nesses últimos séculos, se tem avivado essa
319 Como Jesus, Paulo, seus apóstolos, etc.
531
quimera, que não espanta mais ninguém, nem mesmo sob a forma de cometas,
dada por charlatões320.
Compete à filosofia, auxiliada pela erudição, desvendar a origem dessas
fábulas, analisando seus relatos maravilhosos e principalmente indicar seu fim. Foi o
que fizemos neste trabalho.
"Os antigos tinham fé nas regras quiméricas da
Astrologia; procuravam adivinhar a fortuna dos homens, das
cidades e mesmo do Império, pela inspeção do céu, no
momento do seu nascimento, ou de sua fundação; era o
horóscopo de uns e de outros. Um amigo de Cícero havia
tirado o horóscopo da fundação de Roma. Constantino fez tirar
o da cidade, a qual ele deu seu nome. Não se ficará, pois,
admirado de ver o horóscopo do Deus-Dia, na época em que
ele nascia, isto é, no Solstício de Inverno, à meia-noite de 25
de dezembro, dia ao qual os mármores antigos fixam o
nascimento do Sol Invencível" (Figura 20).
"Os quatro cantos do céu, nesse instante, eram
ocupados, no Oriente, pela Virgem e seu filho nascido, tais
como o representam as Esferas Pérsicas, de Aben Esra e de
Abulmazar, com seu nome de Cristo e de Jesus; no Nadir, pelo
bode ou Capricórnio; no Ocidente, pelo Carneiro ou Cordeiro
Celeste, junto ao qual brilhava o Touro e no Zênite, finalmente,
pelo asno e pela creche do Câncer. Aos pés da virgem, vê-se
320 Um frade de Pesqueira, Pernambuco, reviveu esta farsa para o ano de 1932, conforme veremos
mais adiante, prometendo a salvação àqueles que lhe comprassem velas bentas!
532
uma de suas belas estrelas, chamada Janus, que, oito dias
depois, encetava o ano romano, representado calvo e tendo
um molho de chaves nas mãos, sendo o príncipe ou chefe dos
12 meses."
"Acima do Cordeiro, no Ocidente, aparecem as três
estrelas do signo de Orion, chamadas pelo povo de 'Três Reis
Magos'."
É possível se desejarem relações mais pronunciadas com o Cristo de
milhares de anos após, que nasce de uma virgem, numa creche, cercado de
animais, visitado por três reis magos, fugindo para o deserto por um lapso de tempo,
sofrendo, morrendo como um Cordeiro, ressuscitando, etc.?
Foi dessas mitologias, calcadas na Cosmogonia, que nasceram os
famigerados deuses do Paganismo, profligados pelo Mosaísmo, destruídos pelo
Cristianismo e atrozmente perseguidos pelo Catolicismo, cujas doutrinas, no entanto,
como se vê, muito se assemelham a eles.
Os poemas de Hércules, dos Argonautas321, de Júpiter etc., são, segundo
Dupuis, a exata descrição científica e não romântica da marcha ou evolução do
Universo Sideral, demonstrando, por lateral comparação, a perfeita semelhança das
poéticas alegorias do nascimento, vida, combate e morte de deuses de várias
categorias, com o nascimento, marcha, oposição, conjunção e ocultação abaixo do
horizonte, de todo o sistema estelar, para renascer, mais tarde, sob outros aspectos,
de acordo com o novo signo zodiacal.
321 Vigilantes do mar; Argus — olho; nautos — navegantes.
533
E já que estamos com a mão na massa, seja-nos permitido falar da "Nova
Jerusalém", ali descrita por João, a ponto de ter formado a igreja dos
swedenborgistas.
Para se compreender esta pequena digressão é conveniente ter-se à
vista a Figura 1, do Arqueômetro.
Dizem o Apocalipse XXI, 2, 3 e os dois últimos capítulos: "E eu João vi a
Santa cidade, a Nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma
esposa ataviada para seu marido..."
Esta cidade, diz ele, é quadrada e mede de cada lado 600 quilômetros,
sejam, portanto, 2.400 quilômetros de perímetro, ou seja, os 12 mil estádios ali
indicados.
Os muros medem cerca de 80 metros e fração de altura, ou seja, ainda,
os 144 côvados ali citados.
Ela tem 12 fundamentos de pedras preciosas que são ali nomeadas,
cujas cores são mais belas que as do arco-íris.
Ela tem 12 portas de pérolas diferentes, isto é, três de cada lado.
As avenidas são atravessadas de ruas formando ângulo reto.
Esta cidade vem descendo do céu... etc. Isso simboliza que toda sua
descrição é baseada na astrologia e nas ciências que com ela se relacionam.
A analogia, portanto, dessa cidade com a forma geométrica do
Arqueômetro é por demais patente, notando-se que o Arqueômetro é o aparelho, ou
seja, o livro circular que os profetas comeram achando-o doce na boca e amargo no
ventre, pois ele sintetiza todas as ciências.
Vejamos agora essas ciências, começando pela matemática.
534
Nas medidas antigas os 2.400 quilômetros acima citados equivalem aos
12 mil estádios ali indicados.
Os 80 metros e fração são o resultado das seguintes dimensões lineares:
o côvado valia 22 polegadas, número correspondente à Ciência do Verbo, e a
polegada valia 0,0255; portanto, os 80 metros e fração dão os 144 côvados
indicados por João. Esse número corresponde, como já vimos acima, à nota Sol, por
ser constituída fisicamente de 144 mil vibrações. Os 144 mil harpistas tocando 144
mil harpas, vistos por este apóstolo, são um simbolismo da Ciência sonométrica,
cuja verdadeira chave se encontra no Arqueômetro.
Desenhando-se um quadrado com seis centímetros de cada lado na
escala de um por cem, teremos, de acordo com a matemática templária, um
quadrado com 600 quilômetros, ou seja, um perímetro de 2.400 quilômetros. Esses
600 quilômetros correspondem igualmente ao espaço de dois ângulos de 30 graus,
acrescidos de um zero como estatuía a matemática para sintetizar um determinado
fato.
Os 80 metros e fração são o comprimento da diagonal do quadrado. As
12 pedras preciosas são aplicadas simbolicamente a cada uma das 12 pontas da
estrela. Essas pontas são as 12 portas de pérolas diferentes, que são as letras ali
colocadas, isto é, três de cada lado, correspondendo exatamente às três pontas de
cada lado do quadrilátero. E o simbolismo da mineralogia e da Ciência do Verbo.
Na porta do Oriente, diz João alhures, ninguém pode entrar ou sair senão
o filho do homem; ora, já sabemos que essa porta tem por letra o Y de IShO (de
Jesus).
As cores do arco-íris são as constituídas das três cores básicas do
espectro solar, azul, encarnado e amarelo, aplicadas ao triângulo de IShO; as outras
535
três ao triângulo de M R H, exatamente nos intervalos das três básicas, resultando
daí a fusão de seis, sendo a última, a sétima, que é o raio branco no qual residem as
seis aplicadas ao centro, representando o Sol, simbolizando tudo isso a Ciência
Cromométrica que, ligada à Ciência Sonométrica, definem a ciência Vibratória, hoje,
em progresso assombroso, em todos os ramos do conhecimento humano.
Podíamos prosseguir em mais comparações; mas bastam esses
pequenos reparos para provar que o Apocalipse de João é uma perfeita descrição,
por meio do simbolismo usado naquela época, da Ciência Astrológica, hoje batizada
de Astronomia, que encerra todas as manifestações fenomenais do Cosmos, como
física, química etc.
Essas ciências que Jesus aprendeu nos templos de Jerusalém, e que
desde sua meninice já explicava nas sinagogas, cujo desenvolvimento ele foi buscar
em sua longa peregrinação na Índia e alhures, as transmitiu mais especialmente ao
seu discípulo amado, mandando, porém, que as ocultasse por meio de outros
símbolos, visto aquele povo não as poder compreender cientificamente.
Saint-Yves, por uma divina inspiração, descobriu toda aquela fantasia e,
genialmente, a transportou para seu verdadeiro terreno científico, por meio da chave
que ele denominou Arqueômetro.
Ora, isso é mais transcendental do que interpretações pueris de pessoas
espirituosas, de uma cidade já construída, estilo Agache, pronta para ser expedida
um belo dia para a Palestina por algum cometa de passagem.
Isso, porém, não quer dizer que os swedenborgistas esperem por esse
acontecimento material. Eles atribuem o simbolismo de João ao sentido espiritual,
segundo a Ciência das Correspondências, isto é, que a nova doutrina que deverá
reinar na terra, no coração dos homens, será inspirada do Céu, sem contudo a
536
objetivarem, embora o façam espiritualmente. E a razão é simples: desconhecem as
chaves do Arqueômetro e as do genial Dupuis. Se tal se der um dia, reconhecerão
então que as palavras de João, não só neste caso como em todo o seu livro,
encerram uma mitologia calcada nas outras mitologias de todos os povos, mas,
sobretudo, dos da Grécia, com quem estava em íntima relação, e que ela é um
resumo da ciência astrológica. E uma das provas disso é que várias vezes João,
entre frivolidades aparentemente sem nexo, salienta intencionalmente as seguintes
frases: "Aqui há ciência", "aqui há sentido".
Mas, por que essa cidade deve ser a de Jerusalém e não outra?
Porque Jerusalém, a antiga Salém de Melquisedeque, de cuja Ordem
Jesus fazia parte, segundo rezam as escrituras, sendo a capital do Mosaísmo, era o
sacrário da religião de Abraão e de todas as ciências antigas ali deixadas pelo
patriarca Rama, as quais tinham de ser mais tarde novamente divulgadas à
humanidade, e nessa mesma cidade evoluída. Foi o que fez Jesus confiando ao seu
discípulo João as misteriosas primícias dessas ciências.
O Catolicismo, porém, entravou-lhe o desenvolvimento, não só ali como
no próprio Ocidente, até o final do século XVI, século de trevas, de obscurantismo,
de inquisição e de infernais perseguições por parte da Companhia de Jesus, quando
então, com o advento da Renascença, tomou novo impulso, até hoje, cada vez mais
crescente, em benefício da humanidade, se não moralmente ao menos
materialmente, embora isso faça ranger os dentes dos jesuítas de batina e,
sobretudo, dos de casaca, que querem ser mais realistas que o rei e mais cristãos
que o próprio Cristo.
É essa ciência astronômica e cosmogônica que encerra a matemática, a
física etc., que constituíam os chamados Mistérios dos Templos de Eleusis e de
537
muitos outros, cuja revelação era feita a uma classe de homens preparados, por isso
que, chamados Iniciados, tal como se pratica, hoje, em nossas academias
superiores.
Os primitivos cristãos sacrificavam os Mistérios, tal qual faziam os
judeus, Jesus e os pagãos.
O Catolicismo emprega a palavra Mistério para encobrir sua completa
incapacidade em discutir ou esclarecer um ponto qualquer da sua ortodoxia.
Os quatro cavalos do Apocalipse estão igualmente representados nesses
mapas.
Da Constelação Persea, simbolizada por um homem a cavalo matando
um dragão, o Catolicismo fez um São Jorge. Da Constelação Coroa, chamada
Margarida, pelo seu brilho, colocada perto da Serpente sobre a qual tem um pé,
fizeram Santa Margarida. Santo Hipólito322 é o filho da Constelação Teseu, arrastado
pela constelação Cavalo. A Constelação Gêmeos serviu para simbolizar Adão e
Eva. E assim por diante.
"Submisso à voz do padre que ordena a fé e proíbe
de raciocinar, o homem se esquece de que a essência da
verdade é apresentar-se mais luminosa, quando é
cuidadosamente examinada e aprofundada, ao passo que está
na natureza do erro e do seu prestígio o receio de um exame
sério."
"A fé ou a credulidade em religião são sinônimos. O
padre diz: crê-me; o sábio diz: ouvi-me e raciocina."
322 Hipo — Cavalo.
538
"O inimigo da Razão humana, cujo principal aliado é
o fanatismo e cujo principal efeito é o desenvolvimento do
sentimento religioso, chama-se misticismo."
O homem deve ouvir sua razão, consultar seu livre-arbítrio e julgar por si.
A palavra liberdade não existe no Catolicismo. O católico contenta-se
com o termo e não liga importância à coisa.
Roma lhe ordena não pensar nisso, porque ela disso se encarrega por si.
Que o homem se limite às concepções de um paraíso de eterna beatitude indolente,
de um inferno igualmente eterno e terrível e de um Deus mau e vingativo.
"É esse medonho espectro que o Catolicismo nos
apresenta hoje. É esse espectro que caminha sempre a par do
carrasco e do padre, mais cruéis que ele próprio."
O que se quer implantar no Brasil é este fantasma armado de um punhal
que matou milhões de homens na S. Bartolomeu, que devorou os primitivos
habitantes do México, que exterminou milhões de vidas na Vandéia, que sangrou 20
milhões de fanáticos nas Cruzadas, que acendeu fogueiras em Roma, em Madri e
em Goa, que absorve e empobrece o patrimônio das nações, com a remessa de
ouro para as arcas do Vaticano, que procura manter o mundo acorrentado a essa
hidra da ignorância e do fanatismo.
Quem alimenta essa hidra é mais inimigo da humanidade e da sua pátria
em particular do que ela própria.
O erro é o egoísmo e a cupidez.
539
O contrário é a Fraternidade e a Caridade.
O Arqueômetro e as Artes
Pelo superficial estudo que acabamos de fazer da Astrologia e pelas
aplicações a que nos temos referido no decorrer deste trabalho, do maravilhoso
aparelho cuja semelhança com os apocalipses é perfeita, seja-nos ainda lícito,
embora em poucas linhas, citar mais algumas analogias com referência às Ciências,
às Artes, às Indústrias etc.
Por aí ver-se-á que esse instrumento mobilizável não é um brinquedo
criado pela fantasia ou pelo gênio inventivo de um homem, nem petrecho de magia,
nem Signo de Salomão, nem um divertido passa-tempo; mas, sim, o Tabernáculo
da Palavra de Deus, em que se acham encerrados todos os princípios matemáticos
das forças que regem o mundo e todos os universos.
Na sonometria, por exemplo, Saint-Yves descobriu o verdadeiro estalão
musical, provando o erro dos Conservatórios de Música; aliás, estão todos de acordo
em reconhecê-lo, por isso o chamam de Temperado ou Tolerado. Esse falso
estalão métrico foi tirado dos de Ptolomeu e Arquimedes, sábios gregos depositários
de farrapos da tradição.
Esse metro de Saint-Yves, ao contrário, coincide exatamente com o metro
decimal, dividido em mil milímetros, ao passo que o Tolerado apresenta uma
diferença de milésimos, razão por que todos estão de acordo em reconhecer que
nossa música está mais baixa alguns pontos do que deveria ser.
Daí ter Saint-Yves organizado um novo sistema de Harmonia, de cujo
segredo já se acha de posse, por nosso intermédio, o eminente professor de
540
Harmonia do nosso Conservatório, José Raymundo da Silva, segredo desvendado
pelo discípulo de Saint-Yves, J. Jemain, professor de Música em Paris.
Na Arquitetura demonstrou Saint-Yves que esta Ciência tem como base
fundamental o estalão musical acima, de que o sábio arquiteto francês Ch. Gougy,
também discípulo de Saint-Yves, desvendou os mistérios em sua obra323 e dos quais
nossa revista A Casa tem publicado fartas demonstrações e causado sensação na
classe de arquitetos. Essa chave também foi dada, por nosso intermédio, ao
eminente professor da nossa Escola de Belas-Artes, Raul Saldanha da Gama.
Por essas descobertas, Saint-Yves demonstra praticamente que todos os
templos da mais remota Antigüidade sejam os do México, do Peru, da Etiópia, do
Egito, bem como os descritos por Moisés, Ezequiel, Daniel, João, sob o ditado do
próprio Deus, e os levantados por Davi e Salomão foram todos construídos por
acordes musicais, perfeitamente definidos pela matemática quantitativa e qualitativa,
obedecendo a uma série de vibrações físicas e verbais, das quais resulta a razão
científica do módulo, ainda desconhecida das nossas Escolas (Figuras 25 e 26, ver
p. 463).
No livro da "Construção dos Templos", encontrado nas escavações do
Egito, datando de mais de 8 mil anos, lê-se que todos os Santuários se erguiam
sobre o modelo descrito no "Livro das Divinas Arquiteturas", como os de Edfu,
Denderah e outros, e, também, se lê no manuscrito a descrição da fundação de
Heliópolis (cidade do Sol).
Os próprios vasos desses templos, de cujos modelos os nossos são
grosseiras cópias, não eram também o resultado da fantasia dos artistas, mas o
efeito das vibrações musicais das placas vibrantes dos nossos gabinetes de física,
323 L'Harmonie des Proportions et des formes dans l'Architecture, d'après les lois de l'harmonie des
sons – Massin - Paris.
541
de acordo com a nota musical inerente a cada placa e com o acorde do nome
litúrgico tomado como base324 (Figuras 27, 28 e 29, ver pp. 466-467).
Na física, estão destruídas as teorias de Newton e de Chevreuil a respeito
da composição do raio branco, que, em vez de puro e cinzento, pois, da cromática, o
estudo das cores do espectro solar com suas vibrações, resulta o raio branco puro.
A movimentação do Arqueômetro325 em uma sala fechada, onde penetre
um pequeno raio de luz, põe em evidência as ondulações vibratórias do éter,
fazendo destacar sobre ele uma atmosfera amarela, que é exatamente a cor
fotogênica, desaparecendo as outras que, aliás, pareciam mais vivas.
Dessa descoberta, Saint-Yves estabelece para os pintores um sistema
matemático de mesclar as tintas e uma nomenclatura de cores baseada em número
e não em nomes, que nada exprimem e são incapazes de traduzir a cor.
Na filosofia, ele estabelece um critério científico baseado na Ciência do
Verbo e não uma metafísica puramente humana.
Na filologia os lingüistas irão descobrir a origem, a significação científica
dos termos litúrgicos da Antigüidade, dos nomes da Bíblia, desde Adão. Como
pequeno exemplo, aliás já citado, tomando a figura hexagonal, vemos ali as letras I
R colocadas a 180°, as quais, em adâmico, védico e sânscrito, significam: "Palavra",
a "Divindade da Palavra", na qual se vê a relação do I de IShO. Inversamente, por
metátese, RI significa: "Ser rei", "Reinar".
Em INRI também se encontram essas duas letras, que bem se poderiam
interpretar por "Jesus Nazareno Rei de Israel", como Rei de Justiça, como
Melquisedeque, e não como Rei político do Reino da Judéia.
324 Vide O Arqueômetro.
325 Possuímos o único e original aparelho construído pelo próprio Saint- Yves, cuja experiência
fizemos. Seria de lamentar que mãos ignorantes o fizessem desaparecer, por isso que o
presenteamos a uma editora.
542
O Arqueômetro encerra, embora velado, o verdadeiro esoterismo e a
chave de todas as religiões da humanidade e de todos os seus conhecimentos
científicos. Mas, não nos iludamos, ele o diz claramente: o Arqueômetro não fornece
uma casa pronta, mas todo o material necessário para construí-la. A cada um o
mérito de o conseguir.
Não será fácil sua construção. Mister se faz possuir inúmeros e vários
conhecimentos de matemática, astronomia, física, química, pintura, arquitetura,
hebraico, chinês, sânscrito, védico e, sobretudo, música, por mais extraordinário que
isso pareça. Na China houve um tempo em que se dizia: "Ninguém pode bem
governar sua casa e ainda menos um povo se não souber bem música". Houve um
Ministério de Música.
Mas, organizado um grupo de cientistas, cada qual versado em uma
especialidade, é certo que em curto prazo a luz brilharia naquele Cenáculo e a
Verdade dali irradiaria aos poucos pelo Universo, para glória do Brasil e benefício da
humanidade.
Todo Credo religioso ou filosófico iria encontrar ali os elementos
necessários à elucidação de sua doutrina; todos reconheceriam a fonte primordial da
qual eles jorraram. O anticristão verificaria que Jesus existiu de fato e o cristão se
compenetraria que a doutrina moral que o Nazareno pregou foi bebida na Masdeísta
e na Budista, condensada no Mosaísmo. O católico se convenceria, dado o
verdadeiro desejo de salvar-se, que o culto romano lhe impinge, por meio do terror,
penas eternas, impostas por um Deus mau e vingativo, às ordens do Vaticano,
executadas por outro Deus rival de sua própria fabricação; verificaria mais que o
Catolicismo, na pura acepção do termo, não é um culto religioso como soem ser os
543
de outros credos; mas uma organização genuinamente política, cujo ideal, embora
utópico, é o de se apoderar das rédeas do mundo.
544
Conclusões
Sinarquia
Após a tremenda guerra a que assistimos de perto, a qual infelicitou o
mundo pela desmedida ambição do militarismo, açulado por sua nefasta filha, a
política, todas as nações não têm cessado de procurar uma fórmula para reimplantar
a paz neste anarquizado planeta.
Têm sido, porém, vãos os esforços.
Ligas de Nações, Convenções etc., tudo tem sido tentado, além de várias
propostas avulsas de eminentes políticos e sociólogos.
Se, porém, aparece uma proposta mais ou menos viável, surgem logo a
astúcia e a hipocrisia sob a capa da diplomacia para inutilizar todo o trabalho.
Se bem que a atual proposta "Kellog" pareça satisfazer o desejo
universal; ainda assim, ela deixa uma enorme brecha para a escapatória de
qualquer uma das partes.
É, em suma, a repetição da catástrofe de 1914.
É querer apagar-se o fogo com líquido inflamável.
A única vantagem que poderia resultar dessas propostas seria forçar a
provocadora a meditar bastante, antes de se entregar à aventura, pois as
possibilidades do fracasso deveriam ser todas contra ela.
Desarmamentos parciais ou totais nunca impedirão que os homens se
estraçalhem como feras, enquanto o poder for dirigido pela espada, pela política e
por sua filha dileta, a diplomacia, sinônimos de anarquia, porque esta é a
conseqüência da força, da violência e da astúcia e onde elas imperam não há lugar
para a reflexão, para a calma e para a fraternidade.
545
É de notar-se o primeiro conflito surgido no momento em que foram
escritas essas linhas, entre a Bolívia e o Paraguai, signatários do referido Pacto
Kellog.
É de notar-se também o quase conflito sino-russo, cujas partes aceitaram
o citado Pacto.
É típico o estado belicoso a que chegaram a China e o Japão, ambas
signatárias desse Pacto.
É de estranhar-se, igualmente, o afã com que as próprias nações que
fazem parte da Liga de desarmamentos, constroem apressadamente canhões e
navios de guerra.
Todos os Tratados entre nações só têm produzido guerras funestas,
porque as ambições sobrepujam o direito do mais fraco. É mesmo frase de
Guilherme II de que os Tratados são trapos sujos.
Mas, então, como transformar-se o Regime Social do Mundo?
Um meio que nos afigura como de certa eficácia na diminuição dos
primeiros embates guerreiros entre duas nações, seria a boicotagem do material de
guerra às nações em luta, bem como de gêneros alimentícios destinados a esse fim
e sua conseqüente exportação, sujeitando-se a nação que o fizesse à rigorosa
penalidade monetária.
Foi a falta de munições de boca e de guerra, foi essa boicotagem que
reduziu a Alemanha a levantar as mãos, pedindo paz.
Sem um porrete, ninguém pode dar porrada em outro.
Se o Ocidente tem encarado o Oriente com injustificável desdém, pois
este nunca procurou incomodar aquele, com mais razão o Oriente teria o direito de
recriminar o Ocidente pelas invasões militaristas, encobertas sob o pretexto de
546
civilização, pois o Oriente já existia, possuindo academias e uma religião modelar,
milhares de anos antes do aparecimento das tribos selvagens européias que viviam
em cavernas.
Contudo, o movimento nacionalista que irrompeu na China, com justa
razão, bem pode ser o prenuncio de terríveis calamidades para o Ocidente; essas
calamidades, no nosso modo de ver, serviriam de cáustico aos males políticos e
religiosos que têm mantido a Europa e o resto do mundo em constante pé de guerra
e transformaria o Poder em Autoridade para a felicidade da humanidade.
Assim é que se exprimia uma entidade chinesa326 muitos anos antes dos
presentes acontecimentos.
"Deixe lá, nós chineses somos pacíficos e vós sois
guerreiros. Sereis vítimas de mútuas invasões e talvez de
desmembramentos."
"Sim, talvez a Rússia se apodere do Norte, a França
do Sul e a Inglaterra do Leste. Mas... a raça de cabelos pretos
tem o senso da história. Dia virá que vos diremos: Gentleman,
é tempo de vos retirardes para vossas casas! E retirar-vos-eis!"
"Por assim falar, talvez eu seja debicado; mas... rirá
bem quem rir por último."
E, de fato, o atual estado de coisas na China nada mais é do que uma
ordem de retirada às nações que lhe invadiram o território. Como, porém, substituir o
326 ROBERT HART — La terre de Simim.
547
Tigre pelo Cordeiro? Toda obra de Saint-Yves repousa exclusivamente sob este
tema.
Devemos principiar eliminando o Tigre, sedento de sangue, personificado
por Moisés, no Militarismo que absorve inutilmente uma boa parte do suor dos
povos, empregando-se as fabulosas somas destinadas à destruição em sementes e
instrumentos da lavoura, que deveriam ser manejados em tempos de paz, por esse
mesmo exército desarmado, em campos apropriados, à guisa de exercícios
militares. A própria renda bastaria para equilibrar a despesa e o povo viveria feliz
pela fartura de produtos. Deixaríamos, então, de importar sementes de couve da
Europa!
Para alcançar este fim, todas as nações deveriam começar proibindo a
fabricação não só de armas de guerra como de brinquedos que lembrassem a
guerra; soldados de chumbo, armas, tambores etc. deveriam ser banidos
completamente; a formações de escoteiros com fins guerreiros, transformando-os
em batalhões de reflorestadores e lavradores, substituindo a farsa da Festa da
Árvore numa realidade prática.
Desse modo se iria infundindo o horror à guerra desde a mais tenra idade,
em vez de alimentar em seus cérebros ingênuos a paixão sanguinária.
Nos bancos das escolas se incutiria às crianças o juramento sagrado de
não obedecerem a seus superiores nas fileiras de uma milícia, quando forçados a
marchar contra seus próprios irmãos, em matéria de revoluções políticas, como nos
sucedeu em 1930-1932, porém, que estivessem prontos a reprimir uma invasão
estrangeira, que viria destruir seus esforços e sua riqueza. Por falta de combatentes,
as ambições partidárias se resolveriam na praça pública entre os contendores.
548
Mais útil à coletividade seria o aproveitamento do vigor da mocidade no
reflorestamento da paz e sobretudo no do Ceará, condenado como está, num futuro
não muito longe, a ser privado da madeira e da água.
Mas, para isso se faz mister um dirigente digno deste nome e uma
Câmara Parlamentarista com responsabilidade direta.
Devemos curar, conseqüentemente, as loucuras cometidas pela política
— causadora da anarquia, administrando-lhe o único antídoto denominado
Sinarquia.
Para isso, bastaria realizar o ideal de Saint-Yves em sua obra — Mission
des Ouvriérs. Esse ideal sintetiza-se na escolha dos representantes da Nação em
três categorias distintas de especialistas, na instrução, na justiça e na economia.
Essa escolha se faria com listas de especialistas nessas matérias
entregues ao povo, que votaria no número cominado em lei.
Assim como não se entrega a direção de uma locomotiva a um doutor
diplomado, ou seja, a um leigo, nem ao manicômio a um louco, com mais razão não
devemos entregar a direção de uma nação a indivíduos incompetentes; mas, sim,
procurar especialistas nas respectivas matérias.
Essa idéia que tivemos a honra de submeter à apreciação do Governo
Provisório, cinco dias após sua vitória, foi infelizmente desvirtuada, agora, (1933),
com a apresentação de Representações de classes.
Será curioso assistir-se na Câmara aos debates entre o pedreiro, o
sapateiro, o barbeiro, o padeiro, o motorneiro etc. etc., para defenderem os
complexos interesses da Nação. Preparemo-nos para rir!
549
Pela forma exposta tudo quanto se referisse ao ensino, à justiça ou à
finança seria estudado e legislado unicamente pela respectiva Câmara
especializada, sem intromissão das outras duas câmaras, leigas no assunto.
Devemos igualmente manter intangível o sacrossanto direito do homem
em matéria de liberdade de pensamento e de crenças que tão alto tem elevado e
engrandecido a França, Portugal, Espanha, México e a nós mesmos, durante 42
anos, já na seleção de um povo forte, sadio e inteligente como na aquisição de uma
riqueza monetária extraída do próprio seio em que ela dorme, pela incúria dos
homens.
Devemos, por isso, impedir a intromissão de determinado credo religioso
na direção intelectual, direta ou indireta, de um povo jovem como o nosso que acaba
de sair da adolescência, pois o resultado seria a sua escravidão a essa mesma
seita, cujo ideal é a volta do feudalismo medieval, com todas as fatais
conseqüências de perseguições, mesmo presentemente demonstradas, embora
ostentando um rótulo de bondade e caridade.
Para conservar seu poder e suas riquezas, o Papa não trepidaria, por
meio de novas cruzadas, em sublevar e anarquizar o Universo, embora cobrisse a
Terra de cadáveres e mudasse a cor dos rios e dos mares para vermelho.
Disse Swedenborg há três séculos: "Sem a Reforma que reprimia o
domínio dos Papas, eles teriam se apoderado das possessões e das riquezas de
toda a Europa, tornando-se então únicos senhores, sendo os homens seus
escravos. Sua opulência já vinha de séculos em que eles podiam excomungar e
destronar os reis que não lhes obedecessem".
550
"Em tais homens, a Igreja não é o que era no
começo; estes, no começo, aparentavam zelo pelo senhor, pela
palavra, pelo amor, pela fé e principalmente pela salvação das
almas; mas hoje neste zelo está o culto em fogo de domínio
que, pela marcha do tempo, explode conforme o Poder se
avoluma. À medida que cresce, as coisas santas da Igreja
tornam-se os meios, e o domínio é seu fim."
"Quando o domínio alcança o fim, as coisas santas
da Igreja são empregadas por eles para atingir este fim e,
então, não só se arrogam o Poder sobre as almas, mas
apropriam-se mesmo do Poder do Senhor."
Tais palavras parecem escritas hoje.
Foi por isso que em 14 de julho de 1789 a humanidade, representada na
heróica França, apavorada, cansada de assistir a tantos horrores, farta de tanto
sangue derramado e de tanta cinza humana, em nome do meigo Jesus, arfou de
desespero e fulminou em nome desse mesmo Jesus essas nefastas e criminosas
corporações, fazendo raiar a época de liberdade, igualdade e fraternidade, de que a
humanidade tem tirado algum proveito — senão gozado plenamente dela.
Entretanto, segundo o correspondente de O Jornal de 24 de outubro de
1929, o Papa já cogita de coroar novamente o Rei da Itália, como prenuncio de uma
volta àqueles tempos. É que os italianos sempre foram ávidos por festas
carnavalescas, embora o resultado lhes seja desagradável. Pasquino, que era a voz
do povo, não cessava de lamentar-se quando essas festas eram suprimidas, como
se vê de uma de suas pasquinadas, pela morte de Leão XII:
551
"Pregaste-nos três peças, ó Padre Santo:
Aceitar o Papado, viver tanto
E morrer no Carnaval para ter pranto327..."
E Mussolini, que conhece a lama italiana, procura satisfazê-la sempre
com esses aparatos carnavalescos já ferreteados por Pasquino.
Saint-Yves remontou à origem do mal, escalpelou-o em todo sentido,
acompanhou a marcha milenária da moléstia por entre as nações e, por fim, verificou
que o único remédio eficaz é o que tem por nome Sinarquia.
E o regime social de Rama, o mesmo que Moisés implantou de novo entre
o povo que selecionou para este fim, povo rude, teimoso, inimigo da servidão e do
jugo político, o mesmo que Jesus veio confirmar com seu sangue e que chamava —
Reinado da Paz — Reinado do Céu.
Nesse regime quem rege a nação é a Autoridade e não o Poder, é a pena
e não a espada, é a justiça e não o arbítrio, é o Cordeiro e não o Tigre de unhas
afiadas sempre sedento de sangue.
Governar é prever; prever é saber; saber é lembrar-se; assim diziam os
antigos.
Foi pela palavra, pelo saber que Amenófis IV, rei de Tebas, há 2.200
anos, pai de Tutancâmon, cuja múmia foi descoberta, evitou a invasão do seu país,
convencendo o inimigo de que isso era contrário aos desígnios do Criador.
A primeira guerra travada no mundo realizou-se há sete mil anos, por
Smerkt, sucessor de Menés, primeiro monarca da primeira dinastia menfítica, por ele
instituída.
327 F. HAYWARD – escritor católico – Le dernier siècle de la Rome Pontificale.
552
As armas da Autoridade são o ensino, a justiça e a economia, que fazem
a riqueza de uma nação, ao passo que as do Poder são o arbítrio, a força e o
despotismo que tudo desorganiza, a ponto de empobrecê-lo até seu aniquilamento.
Toda a história da humanidade aí está para confirmar o que acabamos de
dizer. A única dificuldade, aliás, aparente, consiste no aparecimento de um Pontífice
para o Governo Geral do Mundo, porém, destituído de dogmas ou de idéias
imperialistas.
Esse Pontífice estaria indicado no Cristianismo, se não fossem aquelas
peias, porque então facilmente haveria a reconciliação de todos os credos
divergentes.
A liberdade poria o Papa à testa do mundo. O exclusivismo estreito o isola
do mundo.
Este Pontífice deveria residir em Jerusalém cujo território seria tornado
neutro e passaria a ser a Capital do Poder Espiritual, mesmo porque Jerusalém é
a encruzilhada dos três continentes do Antigo Mundo: Ásia, Índia e África.
Neste sentido tivemos oportunidade, em junho de 1931, em virtude dos
graves acontecimentos surgidos na Espanha, na Itália, na Lituânia e no México
contra o Vaticano, de sugerir, por carta ao primeiro-ministro da Itália — il Duce
Benito Mussolini —, a remoção para Jerusalém do grotesco personagem que, por
procuração outorgada por si próprio a si mesmo, se intitula pomposamente o
Representante de Deus na Terra, baseado em um direito de sucessão, que abrange
os grandes celerados que ocuparam a cadeira pontifical. Desse modo, ficariam
cerceadas suas ambições políticas européias e preparada uma nova era de paz
espiritual para o mundo.
553
Seria a volta do Reinado da Paz, da antiga Salém, da Sinarquia de
Moisés, como regime social, tendo uma religião universal a Judeu-Cristã que é, em
suma, a religião do Cordeiro, não fusionadas, umas com as outras, no pé em que
estão, porque toda fusão traz forçosamente confusão, em decorrência dos
componentes heterogêneos; mas decididamente aliadas, porquanto a base, a
essência, a doutrina de todas são as mesmas, emanadas da mesma Lei que é o
Decálogo, alicerce de qualquer religião do mundo, por mais esquisita que possa
parecer.
Não há nenhuma religião que mande não adorar a Deus, que mande
matar, roubar, caluniar etc.; mas há o culto católico que manda cometer todos esses
crimes, uma vez que faça restrição mental.
Fusionar também não é combinar. Na fusão os elementos misturados
permanecem tais quais em constante ebulição; na combinação eles desaparecem na
aparência, mas persistem na sua essência para dar lugar a uma nova realidade
superior.
Dogmas, liturgia, teurgia, ritualismo, tudo é dispensável.
Será uma utopia?
Não.
Essa experiência já foi feita duas vezes na própria China, em 1913 e
1925. Senão leiamos o "Eco" publicado no Universo Israelita, em 9 de outubro de
1925:
"Um Cartel das Religiões"
"As 'Notícias Religiosas', bureau católico da
imprensa, publicaram em seu último número que, ante as
554
ameaças do materialismo ateu, inimigo de todos, constituiu-se
recentemente, em Pequim, uma Sociedade de Defesa e de
Socorros Mútuos das Religiões”.
“Budismo, Taoísmo, Maometismo, Igreja Ortodoxa,
Protestantismo e até o Catolicismo fizeram-se representar”.
“Acrescentam as 'Notícias Religiosas' que esta
Sociedade não se ocupava de nenhuma questão de dogmas
ou de disciplina religiosa, o que permitiu que os católicos
tomassem parte.
Já em 1913 o mesmo fato se produziu na China,
onde se formou o Cartel das Cinco Religiões, para combater
a noção do Confucionismo, religião do Estado. (?!)
O que é possível na China não será também
possível na nossa Europa, de pós-guerra, onde o ateísmo e o
materialismo são ameaçadores?"
J. Bricout, protótipo do católico, em sua citada obra328, na qual
colaboraram 15 personalidades das maiores intelectualidades católicas européias,
assim se exprime a respeito dessa religião que talvez tenha soado pela primeira vez
aos ouvidos do leitor:
"A Religião Judeu-Cristã é uma expressão que eu
emprego, com a devida permissão, para salientar a unidade
328 Tomo II, página 532.
555
substancial do Judaísmo e do Cristianismo. O primeiro é a
Aurora e a preparação do segundo.
“A Religião Judeu-Cristã se assemelha, sem dúvida,
em certos pontos, com todas as religiões, embora ela difira por
outros”.
“E claro que a Religião Judeu-Cristã por ser uma
religião que corresponde às mesmas necessidades das outras
religiões deve, como elas, abranger uma moral, um culto e
sacerdotes”.
“A originalidade, a superioridade e a transcendência
da Religião judeu-Cristã é inegável”.
“O Cristianismo mergulha suas raízes na religião de
Israel329 ao mesmo tempo em que desaparecem os limites que
embaraçavam a expansão da antiga religião, a nova (a Judeu-
Cristã) adquire todas as aptidões que podem fazer dela a
Religião Universal (Toussaint)330.”
“A religião que Maomé anunciava era uma espécie
de Judeu-Cristianismo, que ele acreditava estar em
conformidade com a Bíblia. Não se pode duvidar da
sinceridade de Maomé”.
“Esse profeta pretendia reatar a tradição patriarcal e
restaurar a religião de Abraão331".
329 Tomo II, página 548
330 Um dos 15 colaboradores.
331 Página 438.
556
A religião que Pedro, João, Tiago, Mateus e Barnabé pregaram em
Jerusalém, e por todo o Oriente, era positivamente a Judeu-Cristã, como se verifica
nos evangelhos, nas Epístolas de Paulo e nos Atos dos Apóstolos. A questão é ler e
não fechar os olhos à evidência.
O apóstolo Tiago, irmão de Jesus, após sua morte, usava em Jerusalém
as insígnias de Grande Sacerdote Judaico, certamente por estar de acordo com a
doutrina do Mestre, sem o que ele não iria usar os hábitos talares de uma religião
condenada pelo mesmo.
Paulo, porém, como já dissemos, discordou desse modo de ver porque
entendia que Jesus havia ab-rogado a lei mosaica com seu sacrifício, o que é um
contra-senso porque a doutrinação de Jesus a confirma, a não ser que Jesus não
soubesse o que fazia, nem dizia. Paulo confundiu a lei social com a espiritual, que
reside no Decálogo e nem uma nem outra o Messias ab-rogou porque ele veio
exatamente para confirmá-las e salvar o povo de Israel, isto é, o povo escolhido por
Deus, seu filho primogênito, das garras de um terrível despotismo romano.
Ora, como o Mosaísmo é a religião depositária de toda a tradição da
Antigüidade, o que ainda ninguém foi capaz de contestar, nem o próprio Paulo332,
fácil seria trazer o Bramanismo, o Budismo, o Lamaísmo, o Islamismo, o
Ortodoxismo, o Protestantismo e o próprio Catolicismo à mesma fonte da qual afinal
saíram.
Santo Agostinho, em Retratações L. I. capítulo XIII, n° 3, diz:
"A coisa que se chama hoje Religião (ou Síntese)
Cristã já existia entre os antigos. Ela não passou desde a
332 Epístola aos Hebreus.
557
origem de assistir o gênero humano até que o Cristo veio em
pessoa encarnar-se nela. Daí o nome de Cristã que foi desde
então dada a Religião (ou Síntese) verdadeira, a que já existia".
Ora, isso é dito pelo maior doutor da Igreja Católica e confirma
plenamente tudo quanto temos dito a respeito da origem da religião de Cristo.
O próprio São Tomás de Aquino, outro eminente sábio da Igreja, reuniu
todos os conhecimentos da Antigüidade, agrupados por Aristoto, com adição das
doutrinas dos judeus e dos árabes e reconheceu que o Cristianismo tinha suas
raízes em todas elas e que a doutrina do Cristo nada veio inovar, confirmando assim
as palavras de Jesus, de não ser dele a doutrina que pregava, mas, sim, a do Pai, a
de Jeová.
"Será, como diz Saint-Yves, a Igreja Universal,
porque ela se define por si própria na Sinarquia através dos
tempos: é a Igreja Patriarcal — a Igreja Mosaica — a Igreja
Evangelista, as quais possuem sua Língua, seus Mistérios, sua
Síntese velada."
"Essas igrejas não morreram, ainda vivem em todo
seu fulgor: é a Patriarcal Noéchida ou Ramida, com seus Livros
Védicos, a Mosaica com o Tora e a nossa com o Evangelho."
O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo são as "Três Filhas da Bíblia",
segundo Hyppolite Rodrigues. O mal de Roma é que tem carcomido o homem. Dia
virá, porém, que a religião judeu-cristã será a Religião Católica, isto é, a Universal,
558
como sonhou Leibnitz, e o mundo será regido socialmente pela Sinarquia, pois a
humanidade já se sente, por demais, envenenada com tantos tóxicos espirituais
fabricados para matar este ou aquele pecado e procurará então voltar à primitiva
fonte da qual continua a jorrar em profusão a Verdadeira Luz.
Essa fonte está no Agartha.
É um lugar existente pelos lados da Tartária, na direção do Himalaia, mas
totalmente desconhecido dos povos, lugar descrito na Mission de Vinde, apesar da
nossa visível contradição e ao qual também se refere Ossendowski333, em seu
sensacional trabalho já traduzido para o nosso idioma.
Esse autor, que é muito provável nunca tivesse lido aquele livro, por ter
sido reconhecida e queimada por Saint-Yves a edição de 1886, da qual escapou um
exemplar que havia sido dado ao seu sogro, o Conde de Keller, que por sua vez o
doara aos Amigos de Saint-Yves, em 1910, para sua reedição, revela a existência
desse lugar, sem, contudo, lhe determinar posição geográfica e desvendar certos
fatos extraordinários que estabelecem uma perfeita concordância entre si.
Essa concordância impressionou por tal forma a intelectualidade européia,
que motivou o aparecimento, em 1927, do sensacional estudo de René Guénon334,
comparando as revelações de Saint-Yves com as daquele escritor russo.
Ossendowski diz que o Agartha, cuja significação é o intangível, o
impalpável, o inacessível, o inviolável, tem flagrante semelhança com Lhassa335, que
é o centro do Lamaísmo, religião dos Lamas, ou seja, a de Rama e a de Zoroastro,
cuja sede outrora era o Paraíso. Isso parece certo, como posição geográfica, mas há
333 Homens, Bestas e Deuses.
334 Le Roi du Monde.
335 Casa de Deus.
559
mais de seis mil anos passou a funcionar subterraneamente, correspondendo essa
data com a do Kali-Yuga, ou idade do ferro, idade negra dos antigos ocidentais.
João em Apocalipse V 3, 13; Paulo em Epístola aos Filipenses II, 10 e
Isaías em XLV, 23 fazem referências a habitantes de debaixo da terra, os quais,
certamente, pela linguagem empregada, não serão as minhocas nem as toupeiras
nem tampouco se pode atribuir essa concordância à força de expressão.
No norte da Rússia há ainda um povo que vive exclusivamente debaixo
da terra, onde tem suas casas, suas plantações etc., saindo só para caçar em
determinada época.
Anna Catharina Emmerich, segundo René Guénon, teve a visão de um
lugar misterioso, que ela chama de "Montanha dos Profetas" e que se situa na
mesma região do Agartha.
Swedenborg declara que é entre os sábios do Tibete e da Tartária que é
preciso procurar a "Palavra Perdida".
O título em hebraico das Epístolas de Paulo refere-se exatamente a esse
lugar: "Agartha-al-Ephesim, Agartha-al-Galatim, Agartha-al-Romin, isto é, o Agartha
aos Efésios, o Agartha aos Gaiatas e o Agartha aos Romanos".
Será uma utopia ou uma fantasia essa localidade?
O tempo nada é na vida do homem; é o intervalo obedecendo à Lei dos
Ciclos que rege a marcha dos Cometas. O que hoje é uma utopia, amanhã é uma
realidade; disso tem a humanidade sobejas provas.
Tempo virá, pois, em que essa Academia se manifestará ao mundo.
A semente já foi lançada por Saint-Yves; as chaves foram por ele achadas
e todo o plano Sinárquico se acha organizado.
560
Nada há que desorganizar nos regimes políticos atuais; os barcos
governamentais continuarão, por certo tempo, a se moverem sob as ordens dos
atuais comandantes e oficiais, que se irão substituindo, de acordo com o plano
traçado.
Só restará, depois, aguardar o aparecimento do Pontífice a que já nos
referimos, mas revestido da verdadeira qualidade teologal e não de um Papa-Rei
armado com a espada imperialista e com legiões de fanáticos, espiritualmente
cegos, aos quais nem é dado o direito de pensar.
Papa Rei
Nosso intuito agora não é de descrever a vida dos Papas, para isso há
centenas de obras a respeito, baseadas na documentação arquivada na própria
Biblioteca do Vaticano.
Salientaremos, simplesmente, a antinomia do título de Papa, para com os
próprios princípios doutrinários do fundador da Igreja cristã.
O termo Papa é um diminutivo familiar de papá, papai, atribuído ao bispo
de Roma, como sendo o Pai da família cristã. Ora, Jesus proibiu que o chamassem
de Pai, porque este título só pertence a Deus que é o Pai de todos. Não consentiu
que o chamasse de Bom, de Mestre e ainda menos de Santo; mas o Papa é
chamado de Bom Pai e até de ... Santíssimo Pai.
Jesus não tinha onde repousar a cabeça, só tinha uma túnica, um par de
sandálias e se alimentava quando a sacola de Judas, seu Tesoureiro, o permitia.
Proibiu a construção de templos. Enviou seus apóstolos a pregar o Evangelho do
Reinado da Paz, sem alforjes. Repudiou o título que lhe queriam dar de Rei de
561
Israel e fugiu mesmo para o monte. Em suma, pregou a bondade de coração, o
amor ao próximo e deu o exemplo da perfeita humildade.
Se Jesus disse, fazendo, como querem, um trocadilho inadmissível na
língua que ele falava, que sua Igreja seria construída sobre a rocha, isso não
significa que ele fizesse Pedro de pedra fundamental do seu Templo, pois este
mesmo apóstolo, em Atos, frisa que Deus não reside em templos de pedra,
construídos e servidos pela mão do homem, confirmando as palavras do seu mestre,
quando este mandava que todos se recolhessem ao seu aposento, em segredo, e aí
implorassem ao Pai que tudo via e lhe concederia o voto.
Ademais, quem ficou representando esse templo em Jerusalém foi Tiago,
discípulo e irmão de Jesus, revestindo as insígnias de Sumo Sacerdote dos
Judeus e não do Cristo, que não usava nenhuma.
Pedro, portanto, conservou-se na penumbra ou quando muito, por sua
idade, como era praxe respeitar-se, presidiu uma agremiação de fiéis, aliás,
destruída por Paulo, que não consentia que Jesus tivesse instituído sua Igreja sobre
a circuncisão.
Quando Cornelius se ajoelhou aos pés de Pedro para adorá-lo, este
levantou-o dizendo: "Levanta-te, eu mesmo também sou homem" (Atos X, 26).
Entretanto, quão longe estão seus sucessores dessas lições de
humildade!
Há mesmo, por parte do Catolicismo, uma declarada ojeriza aos sãos
preceitos do verdadeiro Cristianismo, ojeriza que temos notado a cada passo e que
não pode sofrer a menor contestação.
Os primeiros dirigentes da Igreja de Cristo eram simples bispos
(vigilantes), ora escolhidos dentre eles, ora por imposições partidárias, ora por
562
conquista pelas armas; havia mesmo, às vezes, dois e três bispos simultaneamente,
o que denotava a anarquia espiritual reinante no Vaticano, que mais parecia ser
dirigido pelo próprio Satanás, conforme teremos ocasião de ver.
Era a ambição do Poder pessoal e não a humildade espiritual que os
guiava. Era o orgulho satânico que fazia pulsar o coração desses energúmenos,
pois, seguindo as teses que inspiraram o Reinado de Gregório VIII: "Um Papa
romano torna-se indubitavelmente um SANTO. Só há no mundo um nome
único: PAPA. É o único homem a quem os povos devem beijar os pés. Ele não
pode ser julgado por ninguém. Ele tem o direito de depor os imperadores. A
Igreja Romana jamais errou e não pode errar".
O Papa se considera investido de uma delegação sobrenatural, de um
Poder absoluto, ilimitado, estendendo-se tanto sobre as consciências, como sobre
os atos exteriores: é um Deus Vivo, cuja autoridade não pode sofrer limite ou
controle, um ser sobre-humano, confidente do Espírito Santo, pronunciando
oráculos.
Mas sua ousadia sobe de ponto quando ele se intitula maior que Deus.
Senão, ouçamos o Papa Nicolau III, na 96º distinção do Direito Canônico: "Que é
evidente que o Pontífice romano não pode ser julgado por ninguém, porque
ELE É DEUS!"
Jamais se encontra maior blasfêmia satânica, vomitada em Credo algum
do mundo, por mais pagão ou herege que seja. O próprio Satanás, julgando-se igual
a Deus, não teve tal ousadia!
Se fosse no Paganismo, Júpiter teria fulminado com seus raios o canalha
que a tal se atrevesse!
563
O Papa, protótipo do orgulho como se vê (Figura 23), se considera o Rei
dos Reis, o Rei do Mundo e, como tal, mantém, além de um exército armado e
municiado336, toda a hierarquia política e nobiliária dos regimes monárquicos,
representada pelos Cardeais, que equivalem a Vice-Reis das Províncias Vaticanas;
estas são as nações, representadas pelos Núncios, que são os Embaixadores
políticos, pelos arcebispos, bispos, monsenhores, cônegos etc., que ocupam cargos
correspondentes aos de vice-rei, governador, ministro, cônsul, juiz etc., com sua
Corte de Príncipes, Marqueses, Condes, Viscondes e quejandos títulos vaidosos
profligados pelo Cristo, nas seguintes palavras: "Bem sabeis que os príncipes dos
gentios os dominam e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será
assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, seja vosso
fâmulo; qualquer dentre vós que quiser ser primeiro, será vosso servo". "Não é o
servo maior que seu Senhor, nem o enviado maior que aquele que o enviou" "e entre
vós não haverá maior nem menor337".
Em agosto de 1929 foi comunicado ao mundo inteiro que o Papa Pio XI ia
conferir títulos de nobreza a grande número de personalidades italianas e
estrangeiras, antes de terminar o ano do seu jubileu sacerdotal.
Dizia-se que Sua Santidade (que aberração) criaria dois novos príncipes,
três duques, 20 marqueses, 45 condes e 60 barões.
Príncipes? Para quê? Para herdarem o trono?
Os mais importantes príncipes romanos saíram do nepotismo. Há no
Capitólio um registro, por ordem alfabética, de toda a nobreza romana a qual os
Papas são ramificados. Por aí se reconhece que eles têm uma genealogia terrena,
mas não celeste.
336 FERNAND HAYWARD – Le dernier Siécle de Rome Pontificiale – 1927.
337 João XIII, 16.
564
A história da nobreza romana, intimamente ligada à nobreza pontifical, é
simplesmente inconciliável com os ensinos de Cristo.
A primeira elevação oficial a Papa foi feita 607 anos depois de Cristo, na
pessoa de Bonifácio III, pelo imperador Phocas, cruel, assassino, o que prova que a
Igreja não havia herdado esse título por hereditariedade de Pedro, Sancho ou
Martinho, nem de tal supremacia se cogitava. A necessidade política é que constituiu
essa nova forma de governo espiritual.
"Desde a primeira homenagem do beija-pé de um
Papa, toda a vida desse homem é uma cadeia sem fim de
adorações e tudo está ajeitado de modo a fazê-lo crer que um
abismo o separa dos outros mortais338."
O papismo, outorgando-se por suas próprias mãos a representação de
Deus na Terra, força seus adeptos a adorá-lo como sendo o próprio Deus e aos
santos como a semideuses.
Essa pretensão a Vice-Deus não passa de uma idolatria à sua pessoa,
conforme o Cardeal Contarini já havia censurado ao Papa Paulo III.
Quando um Papa é reconhecido pelo Conclave, revestem-no com
indumentária própria, passando então a ser adorado por três vezes.
A primeira consiste em beijar-lhe os pés e as mãos pelos Cardeais
ajoelhados, tudo acompanhado de coros, música e badalar de sinos.
A segunda efetua-se quando ele é colocado com a mitra sobre o altar,
onde é adorado pelos mestres-de-cerimônias.
338 Rui Barbosa — O Concilio e o Papa.
565
A terceira, quando revestido com seus hábitos pontificais, é colocado sob
um palio vermelho ante o altar-mor de São Pedro e adorado pelo povo.
Envolto em nuvens de incenso e embalado por uma música litúrgica, qual
o homem que não se deixaria levar a essa tentação superior às forças humanas?
Oliva, Geral dos Jesuítas, disse: "Tão deplorável influência tem as
cerimônias no caráter do eleito a Papa, que nenhum homem de bem deseja essa
dignidade e o melhor dos Cardeais promovidos a Papa não saberá desempenhar
as boas intenções que tinha antes de eleito339".
Por ocasião da morte de um Papa, poremos de parte as complicadíssimas
cerimônias desde o momento em que, com três marteladas no alto da cabeça,
imitando os costumes pagãos, se reconhece oficialmente seu falecimento, até o
embalsamento que condenaram aos egípcios e salientaremos, apenas, que seu
corpo é colocado no ataúde com os pés em evidência; o ataúde é empurrado junto a
uma grade para permitir que o povo venha beijar-lhes as plantas, ainda depois de
morto!
E é esse ostensivo protótipo do Orgulho e da Vaidade que pretende
representar o meigo e humilde Nazareno!
"Quem recebe o pobre recebe a mim", disse Jesus; mas não seria de
admirar que se este, em pessoa, tivesse a lembrança de, um dia, bater às portas do
Vaticano para conferenciar com o Papa fosse repelido como qualquer vagabundo,
embora ele jurasse ser o próprio Jesus; isso, aliás, já aconteceu com o Mahatma
Gandhi, quando procurou humildemente o representante de Cristo; não lhe
consentiram por causa de sua ridícula e miserável túnica, igual, entretanto, à que
Jesus usava!
339 Rui Barbosa — Passim.
566
Haverá alguém no mundo que não tenha ouvido falar de Gandhi e de sua
incomparável moral, cujo Verbo manso tem feito estremecer a mais potente nação?
Como Cristo, ele veio redimir um povo de 500 milhões de almas,
escravizadas pelo despotismo das armas; como Cristo, ele deu a vida por esse
povo; como Cristo, ele implora ao Todo-Poderoso, a Deus, que ilumine a Inglaterra.
Será ele uma nova encarnação de Jesus, como o indicam os livros
védicos?
Pois foi a esse homem que o vice-Deus fechou a porta!
É o orgulho de Satanás rechaçando pela sua sentinela armada a
humildade de Jesus. É a política vaticanista de braço com a política inglesa. É o
poder temporal afugentando o Espiritual.
Entretanto, se há religião que exclua a política dos seus ensinos
doutrinários, é decerto a de Jesus, pois ele disse: "Dai a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus", e "entre vós não haverá nem primeiro nem último porque
meu reino não é deste mundo" (Figura 23).
Jesus cedeu a César todo o Poder deste mundo, assim disse Wyclif.
Santo Atanázio escreveu que "é lamentável quando se lê a história do
quarto século, ver a política penetrar na Igreja e a própria Igreja se dividir em
partidos; de ver tantas assembléias, tanta velhacaria, tantos compromissos, tanta
fraqueza, tantos anátemas".
Shopenhauer (Philosophie des Religions) diz:
"Entre os governantes, os mais astutos fazem
aliança com os padres; os outros pelos padres são
dominados".
567
Jesus, inspirando-se no duum virato, Saul-Samuel, dividia com esta frase
o Poder em dois Poderes, o Espiritual e o Temporal, isto é, a Igreja e o Estado.
No Monte das Oliveiras, respondendo aos seus discípulos, que o argüiram
a respeito da destruição dos templos, ele disse, entre muitas outras coisas, o
seguinte, que repetimos em paráfrase: "Embora o Espírito de fanatismo vos
empolgue e vos atormente, pregai a tolerância, exortai ao amor e à paz e não vos
interesseis por partido algum, religioso ou político".
Entretanto, em terrível antagonismo com essas palavras do Cristo, por um
verdadeiro espírito de contradição e de desrespeito às suas sentenças, o Papa Pio
XI, Rei do Estado do Vaticano, cria duas moedas, em que estampou, por ironia, não
só sua imagem, como a do próprio legislador que a condena e de sua venerável
mãe!
São essas as características dessas moedas: as de ouro, de cem liras,
têm a efígie do papa, com a legenda: "Plus Papa XI Pontifax Maximus Anno VIII". No
reverso, a imagem do Cristo-Rei, com cetro de coroa (é o cúmulo) e a inscrição:
"Estado da Cidade do Vaticano".
As de prata, de dez liras, ostentam o busto de Pio XI, e no reverso a
Virgem coroada e sentada em um trono.
Com sinceridade: isso é religião ou política?
E de onde lhe vêm esse ouro e essa prata, que lhe permitem cunhar
avultada soma, quando é patente não existir na Itália e ainda menos na cidade do
Vaticano minas desse rico metal?
É do Dinheiro de São Pedro, colhido em todo o Universo.
568
É uma das causas do empobrecimento do Brasil onde, aliás, ele aflora à
terra, onde as minas não faltam e onde jamais conseguimos cunhar uma só moeda
nos 40 anos de República.
É sabido que ao estourar a República, em 1889, o país nadava em ouro;
o caminho estava além do par, o papel valia mais que o metal.
É edificante!
Os judeus disseram a Jesus, na cruz: "Se és o filho de Deus, desce da
cruz" (Mateus XXVII, 40).
O verdadeiro cristão tem hoje o direito de dizer ao Papa: "Se és o
Pontífice, desce do trono". Porque os dois cargos simultâneos são incompatíveis,
são incoerentes, se combatem e se repelem. A mesma cabeça não pode mandar
ferir e perdoar. O trono e o altar são invenções da tirania e da fraude.
Os poderes Espiritual e Temporal, reunidos na mão de um único Senhor
do Planeta, seriam a pior das escravidões e a maior calamidade humana. Além
disso, o Papa torna-se um verdadeiro bicéfalo.
A perda do Poder temporal em 1648, na frase do ex-padre F. R. dos
Santos Saravia, foi um benefício para os povos, pois hoje se usufrui maior liberdade,
mais justiça e humanidade, menos violências brutais no funcionalismo, mais
liberdade de consciência, menos opressão religiosa e, sobretudo, a ausência
completa do Tribunal do Santo Ofício e o descrédito das pessoas espirituais da
Igreja.
O papel da religião é todo espiritual e pessoal e é neste terreno que ela se
deve conservar e de portas adentro, como em Portugal, no México e outros países
adiantados.
Já Mirabeau, em 1789, declarou perante as Câmaras:
569
"A Religião não é mais nacional do que a
Consciência. Não se pode proclamar uma religião nacional,
porque a verdade não se vota. Em uma nação só pode haver
de Nacional instituições estabelecidas para produzir um efeito
político e a religião não sendo senão a correspondência do
pensamento do homem com o pensamento divino, segue-se
que ela não pode tomar, a tal respeito, nenhuma forma civil ou
legal".
O rei Guilherme respondeu ao Papa Pio IX, em 1874:
"O dever me incumbe de dirigir meu povo numa luta
que já antigos imperadores alemães mantiveram durante
séculos contra a potência católica, cujo domínio nunca se
mostrou em país algum compatível com a paz e a prosperidade
dos povos".
Com que direito o Estado intervém entre o homem e a divindade para
dizer ao homem: "Proíbo-te de servir Deus desta maneira" e a Deus: "Proíbo-te de
receberes as homenagens que são oferecidas sob uma forma que não é a nossa!?"
Ora, se Jesus disse que "seu reino não era deste mundo, porque, se o
fosse, os judeus pelejariam por ele e seu pai mandaria legiões de anjos para
combater", como forçá-lo a ser Rei?
570
Mais curial seria, então, que o fizessem Rei dos judeus do que dos
Cristãos, pois na própria Cruz lá está o letreiro indicando que ele é o rei dos judeus
— INRI.
Ora, se ele é o Rei dos Judeus, não pode ser dos Cristãos e ainda menos
dos Católicos!
O dilema é asfixiante como se vê!
Daí surgiu a maquiavélica invenção da frase: "Jesus Rei dos Reis", que
tem envenenado o espírito das classes menos instruídas e causado os tristes
acontecimentos do México e de outros países.
O sofisma é evidente: "Se o Cristo é Rei, diz o Papa, e eu sou o
representante do Cristo, claro é que eu seja o Rei do Mundo".
Neste caso ele alça a cruz na mão esquerda, com o meigo Jesus
perdoando, e na direita o gládio da política, vomitando excomunhões e anátemas,
qual Júpiter do Paganismo a desferir raios!
Na Idade Média, o Papa absorvia o Poder; nos tempos modernos o Poder
absorve o Papa.
No Paganismo só havia um Poder: César era simultaneamente Imperador
e Sumo Pontífice.
O Catolicismo readotou a fórmula paga: Imperador e pontífice, tal qual o
Dalai-Lama do Tibete, que se intitula Papa-Rei e Deus Supremo, sendo que a China,
contudo, o força a acrescentar "Súbito obediente"!
Seria o caso de Mussolini empregar a mesma fórmula para com o Papa-
Rei do Vaticano.
Diz o padre Alta, na sua citada obra:
571
"Eis o que põe em evidência, o que era naquele
tempo, o que chamamos hoje de Igreja. Hoje a Igreja é uma
unidade administrativa como o Estado; é mais ainda do que
Estado, porque o Estado é limitado pelas fronteiras de cada
nação, enquanto a Igreja, por cima de todas as nações as mais
separadas politicamente, é una pelo seu Chefe único, do qual
dependem absolutamente todos os chefes locais, simples
funcionários da Lei Canônica, do ensino oficial e do orçamento
eclesiástico; e essa centralização suprime toda a liberdade de
pensar e de agir, não só a um simples cura, como também a
um arcebispo ou a um patriarca; nada é permitido executar
Ordens que não sejam do Soberano Pontífice e de suas
Congregações. Quanto aos fiéis, eles não têm outro direito nem
outra função senão a de crer maquinalmente e de obedecer
cegamente".
Para o Vaticano, a religião nunca foi um fim; mas um meio para conseguir
o fim. Eis seu segredo!
Pascal, fervoroso cristão, previu que a Igreja era mais uma agremiação
política do que uma potência religiosa e que, por isso mesmo, teria de cair na
corrupção.
Diz Saint-Yves, incontestável cristão leigo: "A política romana dos Papas,
com meios imensos, só atingirá fins nulos, e, longe de dar a vida ao que ela quer
dominar, ela só lhe dará a morte".
Roma pretende sempre ao império do Mundo, que o Cristo tanto profligou.
572
A Igreja de Cristo condena a riqueza e o espírito de domínio. Como, pois,
se armam os padres com espadas e se colocam em tronos?!
Enquanto a Igreja se limitou à missão espiritual, suas virtudes, na
expressão de Eugénie Briffault340, foram a edificação da Igreja e suas luzes eram o
facho; mas, quando seus discípulos se tornaram patriarcas, eles fundaram a
dominação temporal, dividiram seu zelo entre o céu e a terra e envolveram de brilho
a nova dignidade, abandonando a simplicidade evangélica. Então viram-se eles
renunciando às piedosas funções do episcopado, só se ocupando de reinar.
"Escolheram Ministros, nomearam Conselhos,
criaram Oficiais, juntaram riquezas, fortificaram o território,
cogitaram de dilatar seu Estado, estabeleceram relações,
formaram ligas e alianças e misturaram-se às facções e aos
partidos”.
“A Corte de Roma ficou instituída, e os papas
recorreram a todos os meios dos soberanos temporais para
conservar e aumentar o Poder que acabavam de juntar à
potência espiritual!".
E assim chegaram a transformar presentemente o humilde Rabino da
Galiléia em Poderoso Rei da Terra!
A primitiva igreja, antes de ser uma organização hierarquizada, como
atualmente, era um organismo em cujo corpo circulava sangue puro. Hoje esse
sangue está corrompido pela sífilis exegética.
340 Le secret de Rome.
573
Daí a fatal decadência espiritual.
Quando um dia, Napoleão I aniquilou o Poder Temporal e substituiu o
Poder Espiritual, anexou Roma ao império francês, expulsou o Papa Pio VII, levou-o
para Fontainebleau, criando uma legislação especial, ele não teve o menor espírito
anti-religioso. Ele assim procedeu, embora excomungado pelo Papa, para impedir o
desenvolvimento da ingerência da Igreja Romana na política francesa, considerando
que a Cúria e as esferas eclesiásticas de Roma eram um foco permanente de
intrigas e complôs e procurou, assim, evitar o desencadeamento de uma guerra
religiosa341.
Em 1870, a Itália de hoje não existia. Roma pertencia ao Papa, mas de
um modo inconfessável, porque Jesus não legou coisa alguma à Igreja e ainda
menos ao Papa. E, se Roma era o domínio do Vaticano por direito divino, como se
lhe entrega hoje somente uma insignificante parte, segundo o judicioso raciocínio do
nosso eminente escritor e amigo Agrippino Grieco?
O general Garibaldi e o Rei Victor Emanuel empreenderam vitoriosamente
a unificação do território. Os domínios do Papa Pio IX reduziram-se ao necessário e
seu poder temporal cessou, de fato.
Mas isso não significa que ele se conformasse com a situação; sua
política continuou a ferver, embora a fogo lento, até o aparecimento de um Benito
Mussolini que, antes, exigia o arrasamento do Vaticano e a morte do Papa,
terminando por beijar-lhe o anel, aceitando o título nobiliárquico de Conde e
curvando-se à sua bênção Papal! O fogo foi reavivado, as fagulhas caíram sobre
algumas nações e por pouco não se produziram alguns incêndios na própria Roma,
entre o Quirinal e o Vaticano.
341 FERNAND HAYWARD — Passim.
574
Vamos apresentar alguns fatos:
Em 5 de julho de 1929, a imprensa recebia o seguinte comunicado de
Portugal: "Desta vez o motivo é de ordem religiosa, segundo o United Press. Os
ministros da Justiça, Agricultura e Instrução demitiram-se por causa da divergência
com seus colegas, motivada pela ordem dada pelo primeiro permitindo os cortejos
religiosos e o uso dos sinos da Igreja, sem licença especial do governo".
No dia seguinte, outro do Chile:
"Confirmando o que antecipamos, El Mercúrio
anuncia para breve a publicação do projeto definitivo que virá
dar forma às demarques feitas por Monsenhor Estore Felice,
Núncio Apostólico, perante o governo chileno, a respeito da
Concordata entre este país e o Vaticano, concordata que teve
por fim a separação da Igreja do Estado, mediante pagamento
de 2 milhões de pesetas, o que prova que a questão é mais de
dinheiro do que de Fé."
"Haia, 24 de agosto de 1929 — 'A Conferência das
Reparações passa por uma grande crise, em decorrência da
pressão do partido católico, representado pelo delegado
alemão Wirth'."
"Moscou, 17.2.1930 — 'A política anticlerical dos
Sovietes' — Os metropolitamos Sergius e Serafini, dois
arcebispos e um bispo, compreendendo o Sínodo da Igreja
Católica Grega, na Rússia, em uma entrevista concedida a
jornalistas do Soviet, mostraram-se ressentidos com os
575
protestos do Papa Pio XI e do arcebispo de Conterbury contra
as perseguições religiosas neste país. Os entrevistados
atacaram especialmente o Papa, por se estar metendo com os
capitalistas ingleses, franceses e italianos e as classes ricas
desses países, com as quais o Cristo jamais se associaria".
A Agência Tass anunciou, a título documentário, que dois metropolitanos,
membros do Sínodo, exprimiram ao seu representante a grande surpresa que lhe
havia causado o recente apelo do Papa.
"O Pontífice, acentuam eles, é considerado como o
Vigário de Cristo na terra; não queremos negar a Roma as
atribuições que ele diz ter; mas o que não lhe reconhecemos é
o direito de querer catalisar a Igreja Ortodoxa. A ação do Papa
e dos Chefes das diversas religiões, na defesa da Igreja
ortodoxa, é singular e muito suspeita."
Surgiram depois outros telegramas, pelos quais se verificou que a suposta
perseguição Soviética da Igreja Ortodoxa, a grega, também cristã, contra a Igreja
Católica, a latina, não passa de um pretexto maquiavélico, forjado por esta, como e
seu velho hábito, para levantar o mundo contra aquele país, e isso, como balão de
ensaio para novas Cruzadas ou guerras de religião, nas quais certamente tombariam
alguns milhares de homens, pois ninguém poderia prever o fim da hecatombe, se ela
se estendesse ao Oriente asiático.
576
Mas, não podendo o Papa convencer aquela igreja pela lógica e pela sã
razão, Oi para melhor incendiar a terra de Norte a Sul, em um irônico grito de
desagravo a Deus, como se este fosse suscetível de ser agravado ou desagravado
pelos homens, para exaltar os ânimos dos seus adeptos, acenando ao mundo
católico ajoelhado, com os olhos em terra, como um falso farrapo, qual antigo lábaro
romano, em que pintaram uma efígie, como sendo a de Jesus. Essa figura, segundo
o Catolicismo, teria sido ali estampada por milagre na via sacra que Jesus percorreu,
por uma suposta mulher, quando limpara com um lenço o suor do divino mártir e
que, para melhor confundir o espírito humano, transformaram em Santa Verônica,
quando este termo significa em grego: veron eicon ou icônica, cara, rosto, faces.
É falsa essa história de lenço com suas conseqüências mágicas, cujo
relato não é encontrado em parte alguma dos livros sacros, o que sempre prova a
invalidade desse culto.
Em "Adendos" faremos uma pequena descrição do Sudário de Cristo,
pelo qual foi imaginada essa figura do lenço.
Bem avisada, porém, andaram as nações e a própria Liga, para as quais
o Papa havia apelado, aconselhando calma e moderação.
O incidente limitou-se, pois, a algumas missas.
Entretanto, Jesus nunca pediu nem ordenou que o vingassem.
Aconselhava que suportassem, por amor a ele, os ultrajes recebidos, e, se alguém
fosse ferido na face direita, que apresentasse a esquerda. É essa a doutrina budista,
praticada por uns 600 milhões de homens, da qual o Mahatma Gandhi acaba (1932)
de dar a maior lição ao mundo.
Por que, pois, esse ódio de morte à Igreja Ortodoxa, mãe da Católica?
Por que esse infernal ranger de dentes contra irmãos da mesma família?
577
Porque o Espírito que anima o Vaticano não é mais o Espírito Santo; mas
o Espírito do Mal. É Satanás em pessoa que sopra, que atiça à carnificina seus
medievais parceiros, para seu rega-bofe e de sua corte infernal.
Porque a religião do Cristo passou a ser um pretexto para o Culto
Católico, de cuja confusão de termos ele vive, ora impondo-se às nações pela
violência ou pela astúcia, ora provocando o que maliciosamente se chama de
Questões religiosas, quando a questão é puramente político-romana, como
diariamente se verifica.
Dizer que ninguém se pode opor às decisões do Papa é ir de encontro à
própria essência da autoridade católica, que foi modificada no Concilio; e, sendo o
Catolicismo a igreja da imobilidade e da tradição, o romanismo fere-se
profundamente, operando uma transformação na sua constituição.
Todas as questiúnculas, impropriamente chamadas "questões
religiosas", todos os cismas não saíram da essência da religião propriamente dita,
mas das formas do culto, de que a política se apoderou.
A pior das guerras é a de religião, porque quando o homem simplório,
fanatizado por outrem, se imagina servir a Deus, entregando-se às suas terríveis
paixões sanguinárias, julga-se no direito de levar esse ódio ao infinito, destruindo
desta forma a própria essência da sua crença que é o amor ao próximo e o
perdão!
A superstição e o fanatismo só reinam onde as formas do culto
conseguem usurpar o lugar da religião.
Diz o padre Alta: "Qualquer teologia, mesmo imposta por uma autoridade
oficial, por Concílios, imperadores ou sumos pontífices, só tem conseguido, mesmo
depois de 15 séculos, produzir maior número de igrejas inimigas, censurando umas
578
às outras essa autocracia ou essa habilidade, que o versículo 15 profetizou, e que
pelas lufadas do pretenso ensino infalível tem impulsionado os espíritos infantis com
o curso dos séculos".
"Quando a Providência encontra um órgão capaz de transmitir sua
Palavra, um Profeta, um Teólogo, um Pontífice, um enviado, em suma, digno dela,
toda superstição e fanatismo desaparecem e o sangue humano não mais inunda os
altares." Assim se exprimia Fabre d'Olivet.
Não será para nossos dias; mas, dia virá, determinado pelo Criador para
essa transformação, como disse o jesuíta Wallace.
Enquanto, porém, o Verbo não julgar o momento oportuno para sua volta,
que os homens de boa vontade lhe prepararem, ao menos, o terreno, espalhando a
semente que desde o começo do mundo ele semeou na terra e que ainda viceja no
Budismo, no Mosaísmo e no Maometismo.
Jesus prometeu voltar. E, como ele é o Pontífice eterno, segundo as
doutrinas da Ordem de Melquisedeque, é de almejar que essa vinda seja abreviada
em benefício dessa pobre humanidade, entregue como está à sanha da política, seja
ela nacional ou internacional, que destrói o labor das classes produtoras, sugandolhes,
ainda por cima, a última gota de seu sangue nos campos de batalha, até
obrigá-las um dia a se refugiarem nas florestas como nas eras das perseguições
irshuítas.
Diz Matter: "A Providência fará decerto surgir uma religião do coração,
que não seja suscetível de infeccionamento pelo tráfico do padre e pelo hálito da
impostura".
579
Gauthier342 diz que "o clero é uma poderosa alavanca que, bem ou mal
manejada, pode destilar ópio para embalar o povo ou matá-lo."
Por isso Lenine dizia que a Religião era o ópio do povo.
O atual Dalai-Lama, Pontífice Rei do Tibete, reconhece os inconvenientes
que há em deixar ao clero certa preponderância sobre o povo, por isso procura
sempre refreá-la. Se o Papa fizesse a mesma coisa, é possível que se moderasse a
ambição do clero católico.
Mas, a imprensa, isto é, nossa imprensa, que só toca pelo mesmo
diapasão, é a primeira a desejar-lhe essa preeminência343.
Voltaire já dizia, confundindo os termos de religião e culto:
"A Religião Teológica é a fonte de todas as
perturbações imagináveis; é a mãe do fanatismo e da discórdia
civil, é a inimiga do gênero humano".
A religião, para o jesuíta, é uma máscara de hipocrisia e uma máquina de
política infernal do culto.
Rabindranath Tagore, o grande poeta e nacionalista indiano, diz: "em
cada religião, em cada instituição humana, há um princípio estático e um princípio
dinâmico. O clero, que representa sempre o princípio estático, nunca deixou de
combater a liberdade do homem e de fomentar a discórdia344".
342 Le livre des Róis de l’Egyte.
343 A Noite – Ecos e Novidades – 12.2.1931.
344 O exemplo do México é frisante. O episcopado pregava a desobediência do clero e os fanáticos
dinamitavam Deus, os cristãos pegavam em armas.
580
Conta o padre Huc que um personagem tibetano lhe dissera uma vez que
"a religião não passava de uma indústria inventada por inteligentes para a
exploração de imbecis".
Não é a religião que foi inventada; esta nasceu da Ciência e se
desenvolveu pelos séculos; são os cultos que o fanatismo ignorante inventou, tendo
um clero apropriado para conservá-lo, e um chefe a quem obedeciam ou
desobedeciam, quando este se afastava do programa, como sucedeu sempre no
Catolicismo, desde seus primeiros anos. E foi isso que provocou Pio IX, em 1870,
açulado pelo Jesuitismo, a declarar a Infalibilidade do Papa, que vamos estudar em
seguida.
Estava este trabalho na composição, em outubro de 1933, quando fomos
surpreendidos com a notícia publicada pelo Diário Carioca, intitulada: "O novo Papa
será Brasileiro?"
Além da estupefação que tal pilhéria ou balão de ensaio nos causou, e
provavelmente ao próprio apontado, ela contém no bojo o maior contra-senso que se
pode imaginar, visto como o clero católico, em geral, renegando a pátria em que
nasceu, confessa-se genuinamente romano, a cujas leis e jurisdição tem de
submeter-se. Portanto, nem mesmo o simples católico civil brasileiro deve ser papa.
A notícia assim se exprime:
"Paris, setembro — Os círculos mais ligados ao
Vaticano afirmam que Pio XI está cogitando de modificar o
sistema de eleição dos Papas, retirando o exercício de voto ao
colégio dos cardeais, para fazer participar o episcopado do
mundo inteiro, sob a forma de um concilio ecumênico. Este
581
importante projeto do Sumo Pontífice seria determinado pela
necessidade de afastar a escolha do chefe da Igreja do campo
estreito das intrigas políticas. Possuindo um caráter universal, a
eleição pontificial ficaria menos à mercê da influência da
diplomacia e dos governos, que, até agora, se tem feito sentir
de uma maneira quase decisiva".
Reconhece ainda, o missivista, que depois da renúncia pelo Papado, do
Poder Temporal, no Tratado de Latrão, a Santa Sé se vê cercada de iminentes
perigos e ameaçada na sua independência e prestígio mundial pelas intrigas
políticas da diplomacia em geral, dos governos e particularmente da sua política sui
generis.
Até então todos os papas têm sido italianos natos com raríssimas
exceções, eleitos por colégios de Cardeais, cuja carta no baralho é sempre forçada
pelo detentor da cadeira, sendo esta uma das causas da inveja e da ambição dos
cardeais de outras nações.
Pio XI, verificando que o tempo para tratar dos negócios espirituais
propriamente ditos é absorvido exclusivamente pela nefasta política universal e
vendo assim periclitar a fé e os interesses vitais da Igreja, não convindo, portanto,
manter o mesmo sistema eleitoral, entendeu modificá-lo, insinuando, desde já, ao
eleitorado Cardinalício o nome de um cardeal estrangeiro (?) absolutamente
estranho a todas as competições políticas da Europa e, nessas condições, achou-se
na pessoa do nosso Cardeal Sebastião Leme.
A preferência muito sensata, não há dúvida, apóia-se nas virtudes cívicas
e morais do ilustre prelado.
582
Mas a escolha é perniciosa ao mesmo. É um presente de gregos que Sua
Eminência deve recusar, para a tranqüilidade e salvação do seu espírito.
É lógico que, afastado como está do centro europeu e da sua
efervescência política, ele não sinta as brasas assopradas de longe; mas sentirá o
calor do braseiro; e, uma vez investido da tiara papal, como poderia ele fugir aos
vapores deletérios que emanam do Vaticano e têm envenenado tantos papas, de
que os exemplos pululam na História?
Se Sua Eminência, mesmo usando da sua prerrogativa Pontifical,
encouraçada pela irretorquível infalibilidade, se lembrasse, um dia, de mudar a
Santa Sé para o nosso Largo da Sé, ou qualquer outro lugar ou Estado, então a
calamidade seria maior, porque seria transferir para o Brasil todos os males que
afligem o atual Vaticano, a ponto de ter motivado essa malfadada idéia.
E, se Sua Eminência, qual outro Hércules, teimar em lá ficar com intenção
de fazer passar o rio Alfeu pelos estábulos do Vaticano, como aquele Deus
mitológico fez com os currais de Augias, perderá seu tempo, seu latim e... só Deus
sabe o que lhe poderá suceder ainda, uma vez que queira introduzir inovações.
Livre-nos, Deus, dessa calamidade! Já basta o que o Vaticano nos
propinou com o Chapéu Cardinalício, levando em troca, para Roma, alguns milhares
de contos de réis.
Se, porém, Sua Eminência quiser ser um dos sucessores para manter o
status quo, então, é possível que ele seja o último papa já predito pelo profeta São
Malaquias.
Antes assim!

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