terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Vida Mística e Oculta de Jesus(livro parte4)

Predição da Vinda do Messias
Mas essa predição não partiu só de Moisés. Muitos séculos antes dela, os
druidas também profetizaram que o Messias nasceria de uma virgem, e isso se
verifica nos farrapos ainda existentes de obras célticas e nas esculturas dos templos
por eles construídos.
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Assim é que no local em que se acha construída a catedral de Chartres*
existia outrora o Grande Colégio dos druidas**. Ali foi descoberta nas escavações,
numa capela subterrânea, uma estátua representando uma jovem segurando uma
criança no colo, tendo esta inscrição: "Os druidas à virgem que deve conceber106".
(Figura 6)
Ora, tendo os druidas existido 18 séculos antes da era cristã, não se pode
admitir que eles tivessem feito essa estátua, com tal inscrição, só para agradar a
uma futura Roma.
Essa virgem era chamada Ísis, tal qual a deusa Ísis do Egito.
É a mesma figura da constelação da "Virgem", representada em todos os
antigos planisférios, de uma inconcebível origem. Vê-se ali a fonte bíblica da árvore
da ciência do Bem e do Mal, dos frutos que tentaram Eva, da Serpente tentadora,
com cabeça e asas do anjo decaído, da criança com o globo terráqueo na mão.
Na forma do costume, o Catolicismo transformou essa estátua do
paganismo na Virgem Maria do Cristianismo.
A própria catedral de Notre Dame de Paris é templo construído em honra
à deusa Ísis e todas as suas esculturas são a representação astrológica da
Cosmogonia caldaica, ou vice-versa, o que é mais provável, pois sabemos agora
que o Celta Rama, cuja semelhança de doutrinas com a das Atlântidas, do México e
do Peru, foi quem as difundiu há cerca de 9.188 anos pela índia, pela Pérsia e pelo
Egito, conforme veremos mais adiante.
* N. do E.: Saiba mais a respeito desse monumento por meio da leitura de Catedral de Chartres — A
Geometria Sagrada do Cosmos, de Sonja Ubrique Klug, Madras Editora.
** N. do E.: A respeito dessa cultura, sugerimos a leitura de Os Druidas — Os Deuses Celtas com
Formas de Animais, de H. D'arbois de Jubainville, Madras Editora.
106 Annales de Philosophie Chrétienne, T. VIII, pág. 327.
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Por sua vez, Isaías VII, 14 diz: "que uma virgem concebera um filho, que
se chamaria Emanuel"107.
Figura 6
O profeta Malaquias disse: "Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que
venha o grande dia do Senhor".
Em Provérbios VIII, todo o capítulo, especialmente de 22 em diante,
deixa ver, sem a menor dúvida, que se trata ali de Jesus, do Verbo Criador. O
versículo 35 diz: "porque o que me achar achará a vida".
Jesus repetiu essa frase em seus discursos.
107 De acordo com o Arqueômetro, este nome significa: Lei de Deus M-No-EI MNL.
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Nos Números, que é o livro que encerra os mistérios da Ciência, lê-se no
capítulo XXIV, 17, o seguinte: "uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de
Israel..." "e isso foi visto por Balaão, mago, em êxtase e de olhos abertos", tal qual
praticam ainda hoje os Magos da Índia e do Tibete. Essas frases serão igualmente
explicadas mais adiante.
No Livro dos Mortos do Antigo Egito, milhares de anos antes de Jesus
nascer, lê-se que "nas cerimônias dos mistérios de Abidos, comemorava-se a vida, a
paixão, a morte e a ressurreição de Osíris, desse Deus Homem, que ensinou aos
homens a mumificação dos corpos..." e... "Osíris, redentor e justiceiro108, espera
sobre seu trono seu filho que vem da Terra."
O livro apócrifo de Enoch, composto antes de aparecerem os evangelhos,
já trata da pessoa misteriosa que tem de sentar-se à direita do Altíssimo, ora
chamando-o de Filho do Homem, de Filho da Mulher, ora de Eleito, ora de
Misterioso, ora de Verbo, ora de Filho de Deus.
Este filho que tem de sentar-se à direita do Pai — EVE — I, é a
letra I de IShO, pertencente, como já vimos, pelo Arqueômetro, ao Verbo, acerca do
qual ainda teremos de voltar.
Lê-se em Plutarco (Ísis e Osíris) "Das profundezas do templo de Amon109,
o Tebano Pamylou, ouviu uma voz misteriosa dizer-lhe: 'Anuncia aos mortos o
nascimento de Osíris, o Grande Rei Salvador do Mundo' ".
Para Dupuis, o Cristo nada mais é do que a mesma alegoria das
mitologias orientais, com seus Filhos de Deus, nascendo, sofrendo, morrendo,
descendo aos infernos e ressuscitando, tudo de acordo com o funcionalismo das
constelações, descrito pelas cosmogonias, do qual ele deduz que Jesus nunca
108 Ressalta daí uma certa analogia com o “Jesus, Rei dos Patriarcas” e com Jesus ressucitado.
109 Lei de Rama
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existiu, sem se lembrar que só a correspondência, arquivada em Roma, trocada
entre Tibério e Pilatos, bastaria para provar sua existência, embora sua vida, seu
sofrimento, sua morte e sua ressurreição se harmonizem com o movimento sideral e
com as adaptações mitológicas personificadas, o que seria mais uma prova da sua
messianidade, mas não da sua divindade, porque Deus não pode passar por essas
fases.
Eis a carta textual que Públio Lêntulus, procônsul da Galiléia e amigo
particular de Pilatos, dirigiu a Tibério, imperador romano, quando este interpelou o
Senado:
"Aí vai a resposta que esperáveis com ansiedade:
Surgiu há pouco tempo na Judéia um jovem de grande poder,
chamado Jesus, cognominado pelo povo de Grande Profeta e
tratado pelos seus discípulos como Filho de Deus.
“Dele contam grandes prodígios: cura as
enfermidades, dá saúde aos moribundos e Jerusalém anda
assombrada com sua doutrina extraordinária. É homem alto e
de aparência majestosa; sua expressão fisionômica é severa e
doce ao mesmo tempo, inspirando amor e respeito a quem o
vê. Seus cabelos da cor de vinho lhe descem pelos ombros,
repartidos ao meio, como usam os nazarenos. Sua fronte é lisa
e altiva; a cútis é límpida e rosada; a barba da cor do cabelo é
abundante, tem olhos azuis, brilhantes e meigos; mãos finas e
longas; braços encantadores. E grave, compassado e sóbrio
quando fala. É temido quando repreende ou condena e,
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quando exorta ou instrui, sua palavra é doce e afável. Nunca o
viram rir, mas muitos o viram chorar. Anda descalço e com a
cabeça descoberta. Quem o vê a distância deprecia-o, mas na
sua presença não há quem não se curve com respeito. Os que
dele se acercam afirmam ter recebido dele grandes benefícios;
alguns há que o acusam de ser um perigo para vossa
majestade, porque proclama publicamente que reis e escravos
são todos iguais perante as leis que regem o Universo".
O Catolicismo, porém, desvirtuou os evangelhos e transformou o divino
profeta numa divindade real, enquadrando sua vida de acordo com aqueles Mitos
astrológicos e dando ganho de causa aos católicos.
Inúmeras e idênticas analogias com os dogmas fundamentais do
Catolicismo provam o sincretismo deste culto que, afinal, é uma amálgama de todos
os cultos do Oriente e não um culto organizado ou pregado pelo fundador do
Cristianismo. Mas, continuemos.
Platão, em um trecho memorável da sua obra, parece que já profetizava a
vinda de Jesus quando disse: "O justo perseguido, flagelado e crucificado é mais
feliz que o tirano triunfante".
Virgílio V, 4, diz: "Os tempos da Sibila já chegaram enfim; um novo
rebento desce do alto dos céus". E isso 19 anos antes do nascimento de Jesus.
Um dos Zoroastros também profetizou nesses termos, 3.200 anos antes:
"Ó vós, meus filhos, que já estais avisados do seu nascimento antes de qualquer
povo, assim que virdes essa estrela, tomai-a por guia, ela vos conduzirá ao lugar
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onde ele nasceu. Adorai-o e ofertai-lhe presentes, pois ele é a palavra (o verbo) que
formou os céus". (Zenda-Avesta).
Essa história da estrela, como está nos evangelhos, foi tirada do discurso
de Euzébio, de Cesarea, que tudo idealizou, calcando-a sobre a doutrina de
Zoroastro.
Como Zoroastro (Zaratustra) significa: Chefe da Milícia Celeste, isto é,
Chefe do Observatório Astronômico, essa estrela, simbolicamente falando, como era
hábito na Antigüidade, referia-se à conjunção de Saturno com Júpiter, o que, de fato,
se realizou 3.200 anos depois, como foi verificado pelo astrônomo Kepler, ou, pelo
menos, ao cometa que apareceu em Jerusalém dois anos antes da data
convencional do nascimento de Jesus; esse cometa reapareceu 65 anos depois
para assistir à destruição de Jerusalém, e isso prova mais que esse Pontífice,
também da Ordem de Rama, possuía a fundo as ciências que se relacionam com
toda a mecânica celeste.
Se dissemos convencional é porque o Nascimento de Jesus e a Paixão
foram colocados, o primeiro, no solstício do Inverno e o segundo no equinócio da
Primavera, dando-lhe nove meses de intervalo para coincidir com o tempo da
gestação.
O Natal foi fixado em 24-25 de dezembro para favorecer a luta do
Cristianismo contra a religião de Mitra de Zoroastro, na Pérsia, cuja festa principal
celebra-se no solstício de Inverno (25 de dezembro), assim como a Paixão em 25 de
março, coincidindo com a festa da Paixão de Attis ou de Mani.
Santo Agostinho dizia: "Celebramos com razão o nascimento de Nosso
Senhor neste dia, não porque o Sol passe a nascer de novo, mas porque o Senhor
criou o Sol" (é a lógica católica!).
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E mais uma adaptação porque, de fato, a data exata não é conhecida.
Quem tiver noções de astronomia facilmente verificará essa adaptação
nas constelações do Cordeiro, da Virgo, da Serpente, do Aquário etc.
Pela religião de Zoroastro, baseada na astrologia, Mitra, também
chamado Jesus e Cristo, nasceu em uma gruta, no mesmo dia em que nascia o Sol
no solstício de Inverno, isto é, em 25 de dezembro, à meia-noite.
Quais foram os personagens que renderam homenagem ao Cristo Jesus,
em Belém?
Padres da religião de Zoroastro, magos, sábios astrônomos, adoradores
de Mitra.
Que ofereceram eles?
Os três primores que eles consagravam e ofereciam ao Sol, ao filho de
Deus, à Mitra, ao Cristo ou Jesus, e se compunham de ouro, incenso e mirra. O ouro
era o metal consagrado ao Sol, como a prata o era à Lua.
Como foram eles instruídos do nascimento do Deus-Luz, ou seja, do
Cristo?
Pela astrologia. Foi no Oriente, no ponto do horóscopo, que eles
reconheceram o nascimento do filho da Virgem: "Vimos sua estrela no Oriente,
dizem eles".
Pois bem, olhemos com Dupuis o Oriente, no momento preciso desse
nascimento. Que vemos no planisfério? A constelação da Virgem, tendo nos braços
uma criança. Ela é chamada Ceres, e Ceres se chama a Virgem Santa que dá à luz
Baco, nos Mistérios.
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Atrás dessa virgem surge a constelação da Serpente que parece
persegui-la, tal como é representada pelo Apocalipse de João, que assim se
esclarece.
Pelo planisfério vê-se mais a Constelação de Câncer, na qual figuram a
creche e o asno, que os antigos chamavam presepe jovis.
Segundo Mateus, Jesus nasceu sob o reinado de Herodes, o Grande.
Ora, Herodes, o Grande, morreu quatro anos antes de Jesus nascer, o que destrói a
lenda da matança dos inocentes, ordenada por Herodes, para apanhar Jesus.
Segundo Lucas, Jesus nasceu no ano sexto antes da era vulgar, pois este
evangelho diz que "Maria e José partiram de Nazaré, daí seguiram para Jerusalém e
daí para Belém, a fim de obedecer à lei do recenseamento decretada por Quirinus,
Prefeito da Síria, nomeado para tal cargo depois da deposição de Archelaus,
sucessor de Herodes”, e isso nos transporta ao ano sexto depois da nossa era.
Ao norte vêem-se as estrelas da Grande Ursa, que os árabes chamavam
de Marta e Maria e o sarcófago de Lázaro.
Outro fato que corrobora a incerteza da data do nascimento de Jesus
reside no seguinte:
O evangelista diz que Jesus no seu batismo tinha 32 anos, e que este fato
se deu no décimo quinto ano de reinado de Tibério, isto é, entre 29 e 30 da era
vulgar.
Mas, se Jesus tivesse nascido sob Archelaus, ele só teria 25 anos no
batismo, em vez de 31 ou 32, como afirma Lucas.
Foi, pois, na ocasião desse recenseamento que Maria dera à luz, em
Belém, para onde teria ido, como vimos, recolhendo-se a um estábulo, por falta de
alojamento, em virtude da afluência do povo.
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Dez ou quinze dias depois Maria apresentou Jesus ao templo e regressou
para Nazaré, que dista daí 50 quilômetros! Nazaré se chama hoje In-Naria. Essa
expressão em Sânscrito INRI (Inaraia) significa: Ele, o homem Deus, mas como
homem Superior. Mais adiante ainda tocaremos neste ponto.
Foi o frade Diniz-o-menor, originário da Cítia, quem, no ano 532 da nossa
era, instituiu o Calendário ora usado, supondo, erroneamente, que Jesus nascera
em 25 de dezembro do ano 753 da fundação de Roma.
Essa questão de data do nascimento de Jesus nos faz lembrar também a
da sua morte, que está em desacordo de dois anos entre as dadas por João e
Lucas.
Pela carta de Públio Lêntulus a Tibério, se deduz, igualmente, que Jesus
teria morrido com 50 anos e não com 33, o que é atestado por Santo Irineu, talvez
segundo Papia.
Voltemos à questão da Estrela.
Quem não ignora que uma estrela é um Sol milhões de vezes maior do
que o que nos ilumina, não pode deixar de revoltar-se ante o atraso que o
Catolicismo mantém, ensinando a crianças e adultos, por meio de catecismo e lições
orais, semelhante contra-senso de três Reis Magos, só referido por Mateus II, 1,
numa linguagem dúbia, vindos de pontos bem distantes, um dos outros, a se
juntarem, sem combinação, em determinado ponto da Palestina. Tais reis teriam
deixado seus domínios, sem acompanhamento, durante meses e meses,
atravessando desertos e sendo guiados de noite e mesmo de dia por essa estrela,
só vista por eles, como quem segue um guia no espaço, armado de facho em
punho, a qual, de repente, cai como um bólido em um determinado ponto, sem
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maiores conseqüências! Por que preparar a mentalidade de gerações futuras com
conhecimentos condenados pelos seus próprios observatórios astronômicos?
É porque, dizem as escrituras, "Felizes dos ignorantes, é deles o reino do
céu".
Mas retomemos nosso fio.
Daniel, igualmente na Babilônia110, profetizou a vinda do Messias,
marcando-lhe mesmo a data de 652 anos, sob um simbolismo de tempos e meios
tempos, cuja exatidão acaba de ser verificada pelo astrônomo e padre católico,
Moreux, já citado, e cujo desenvolvimento matemático daremos no capítulo que se
refere ao fim do mundo.
Esse fato tem contrariado bastante a facção judaica, que não quer
reconhecer Jesus como o Messias, mas, sim, como um simples profeta; em virtude
de Moisés ter anunciado a vinda de um maior do que ele111 e por ter Jesus mesmo
se considerado como tal.
Além dessas, temos ainda as profecias de vários profetas, como Isaías,
Ezequiel, das quais se destaca a de Miquéias, quando diz: (V. 2) "E tu Belém,
Eufrata, ainda que és pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que será
o Senhor em Israel e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias
da eternidade".
Só este final que salientamos basta para confirmar o que dissemos a
respeito da Revelação aos Patriarcas. E quem poderá refutar com provas, que
essas saídas (do empíreo) desde os tempos antigos, desde os dias da
eternidade, não se relacionam também com as encarnações de diversos
110 Daniel XVIII, 14 etc.
111 Deuteronômio XVIII, 18-19
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reformadores que surgiram na Terra, tais como Rama, Manu, Zoroastro, Hermes,
Krishna, Buda, Lao-Tsé, Moisés, Orfeu, Pitágoras, Platão, Sócrates etc. etc.?
Esses nomes simbolizam séculos, povos, filosofias e religiões precursoras
de Jesus, os quais caminharam anunciando-lhe a vinda.
Todos esses grandes homens iniciados contribuíram para a preparação
da humanidade futura.
Nessa série, Rama foi quem deu a chave do templo, Moisés, Orfeu e
Pitágoras mostraram-lhe o interior e Jesus veio representar o Santuário112.
Em Atos XV, 16, os apóstolos citam o seguinte, dos profetas: "Depois
disso voltarei e reedificarei o tabernáculo de Davi que está caído, e reedificarei suas
ruínas e tornarei a levantá-lo".
Jesus repetia que veio para cumprir a Lei que a ele se referia e que
reconstruiria em três dias o templo em que estava, o que significa que esse templo
era o da sua religião, pois de outro modo ele teria respondido que derrubaria esse
templo, para não mais ser reconstruído.
Ora, o tabernáculo de Davi, árvore genealógica de Jesus, era
positivamente o de Rama, por Abraão, Jacó, Isaac e Moisés, por eles venerados,
reconstruído por Salomão, novamente destruído e que Jesus terá de reedificar
quando voltar, pois é esta sua religião e não outra.
Não prometeu Jesus que voltaria? Mentiria ele?
Nesse tabernáculo ele oficiava, sacrificava segundo o ritual mosaico,
ensinava o povo a interpretar a Lei Mosaica, já esquecida, mandava que todos se
guiassem pelos que estavam sentados na cadeira de Moisés — e muitas outras
passagens, que veremos no correr deste estudo.
112 ED. SCHURÉ - Os Grandes Iniciados, Madras Editoras.
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De avisos dados por anjos a respeito do nascimento de crianças se acha
a Bíblia cheia, como os de Sansão, Daniel, Zacarias e muitos outros.
A rainha egípcia Mutanait, há cinco mil anos, teve um sonho com o Deus
Amon (Lei do Carneiro), o qual, juntando-se a ela, anunciou-lhe que teria um filho,
que seria o rei de Tebas, e que, de fato, foi Amenófis III, avô de Tutankhamon113,
cuja múmia acaba de ser descoberta.
Ora, a negação ou o repúdio dessas profecias importaria na derrocada de
todos os Livros sagrados da Antigüidade e, conseqüentemente, de todo o edifício
cristão por ser ele alicerçado e construído com os materiais de todas as religiões do
passado.
Por elas verifica-se, até agora, com as migalhas que fomos apanhando
pelo caminho, que o Verbo já era conhecido desde a mais remota Antigüidade,
desde os dias da eternidade. No decorrer, porém, deste estudo, essas migalhas se
avolumarão de tal modo que, dificilmente, se conseguirá destruir a prova de que a
religião professada na Terra há 8.600 anos, era a de Rama, transmitida a
Melquisedeque, a Abraão, a Moisés, e que Jesus veio novamente confirmar com seu
sangue.
Verifica-se, igualmente, que o nome de Jesus obedece a uma sólida
tradição e mais consolidada ficará a prova, quando tratarmos da Astrologia e das
Mitologias dos antigos.
Provado ficará pelo artigo — Dogmas — que o Catolicismo, arbitrária e
blasfemicamente, fez desse Jesus um Deus, e de sua progenitora a Mãe de Deus,
imitando ainda, como é seu costume, a Frígia, que dava este título à deusa
mitológica Cibele.
113 Esse nome significa Imagem Viva de Amon (Rama, Lei de Áries, do Carneiro).
139
Ora, dar uma mãe terrena ao Deus eterno, incriado, só mesmo da cabeça
dos fornicadores desse Culto.
Nestorius, padre Siriaco de Antioquia, em 428, pregava e fez Santo
Anastácio, seu secretário, pregar, contrariamente ao que haviam estabelecido os
Concílios acerca da divindade de Cristo. Diziam eles que Jesus Cristo, filho de Deus,
não se podia confundir com o filho de Maria, que a carne só engendra a carne, que a
criatura não pode engendrar o Criador, que só havia entre o Verbo e o homem uma
união de afeto, de operação e de graça, que, por conseqüência, Maria não podia ser
chamada "Mãe de Deus", quando muito se podia chamá-la de "Mãe de Cristo".
Essa crença na maternidade divina já existia desde tempos inconcebíveis
entre tribos selvagens degeneradas. Assim é que os ibibios, negros habitantes no
Eket, distrito da Nigéria, na África meridional, crêem que a deusa Eka-Abassi, que
quer dizer Mãe de Deus, isto é, a Causa Primordial, concebera seu primogênito
chamado Obumo, sem o concurso de homem algum. Essa crença existe entre
milhares de tribos da África de Leste a Oeste e de Norte a Sul e vem de uma antiga
tradição muito anterior ao advento do Cristianismo, por isso nunca se pôde atribuí-la
ao contato de missionários católicos114. Encontra-se igualmente entre os babilônios.
O Concilio de Éfeso, no século XV, entretanto, confirmou a Maternidade
divina a Maria, por assim entenderem meia dúzia de átomos ignorantes e fanáticos.
E assim fizeram eles do Cristianismo; primeiramente um deísmo, depois um
diteísmo, em seguida um Triteísmo para acabar em um Tetraísmo!
Puro paganismo!
114 J. C. FRAZER — Les Dieux du Ciel.
140
O próprio dogma da Imaculada Conceição de Maria só começou a ser
aventado em 1854, e promulgado em 1870, pela suposta infalibilidade de um
homem, o Papa Pio IX.
Isso prova que a inspiração divina, de que se dizem detentores, estava
longe de os ter guiado nessa interminável disputa.
Maria era prima de Izabel, esposa do sacerdote mosaico Zacarias, que
pertencia à família de Aarão, irmão de Moisés, depositário da tradição de Abraão.
Maria, portanto, era de uma família de sacerdotes e, como tal,
sacerdotisa115 da casta sacerdotal dos levitas.
Dos 18 anos da ausência de Jesus, bem como após sua morte, nem o
Novo Testamento nem os antigos doutores da Igreja jamais fizeram a mínima
referência. Ignora-se o paradeiro de Maria e de sua família.
Mesmo no século IX, ainda nada se sabia acerca da morte e do destino
do corpo de Maria.
Mas isso não podia ficar assim; era mister endeusá-la e dar-lhe um fim
misterioso.
Por isso, nos séculos IV e V, aparecerem dois escritos apócrifos,
atribuídos a João e ao bispo de Melito, de Sardes, em que se dizia que Maria fora
arrebatada ao céu116. Dogma sem base e visivelmente fabricado para servir de
esteio.
Mais tarde o Concilio resolveu, em sua alta sabedoria, criar o dogma da
Ascensão de Maria, para servir, como tem servido, de arma sugestionável do
Espírito feminino.
115 Lucas, I, 36
116 GUSTAVE D’ALMAN — Les itinéraines de Jesus — 1930.
141
Não nos agacharemos atrás do confessionário. Se algum pai de família
quiser se inteirar do que se passa nessa ratoeira a fim de salvar sua mulher, sua
filha e sua honra, procure as dezenas de obras escritas pelos próprios padres que
tiveram de abandonar a batina horrorizados pelo que eles mesmos foram forçados a
cometer — e dentre as obras procure ler Chiniqui.
O Catolicismo representa a mãe de Jesus vestida de Sol, com a Lua aos
pés, coroada pelo zodíaco de 12 estrelas e segurando seu filho ao colo, tal qual se
representava em eras inconcebíveis, nos planisférios astronômicos, a Constelação
de Virgo.
Nos selos babilônios vê-se a deusa Istar-Mami nua, vestida de Sol, isto
é, de Luz, a Lua sob os pés, coroada com 12 estrelas: Na Babilônia já se lia gravado
nos templos:
"Mãe misericordiosa dos homens".
"Que todos teus filhos, ó Mãe, sejam por ti
protegidos e salvos."
"Rainha Poderosa, Protetora misericordiosa; não há
outro refúgio senão em ti."
Não será isso uma litania católica?
Não, responde Mereykowsky, é um texto cuneiforme da Babilônia! Que se
verifica de tudo isso?
Que o Catolicismo (nunca confundir com Cristianismo) é um grosseiro
plágio do Paganismo encoberto com a túnica branca de Jesus!
142
Divindade de Jesus
Depois de ter estudado as profecias acerca da vinda do Cristo, do
Messias, seu nascimento misterioso e a possibilidade desse fenômeno,
estudaremos, agora, a vida mais ou menos esotérica de Jesus, e a verdadeira
religião que ele pregou.
Como é fácil notar, esse trabalho não pode ser desenvolvido aqui, tendo
em vista a colossal literatura existente no mundo a respeito do assunto; mas
entendendo que todo homem bem intencionado tem, por assim dizer, o dever de
esclarecer seu semelhante, pouco afeito a essas leituras, externando o resultado de
suas pesquisas, tanto mais baseado na História e nos próprios livros sacros
indestrutíveis e não em sua própria opinião, diremos mais algumas palavras acerca
da personalidade de Jesus, julgando-as acertadas até encontrar alguém que destrua
nosso modo de ver, mas com sólidos argumentos, como o fazemos, e não com uma
simples interpretação pessoal, metafísica ou infantil, porquanto nosso fim é o de nos
aproximarmos da Verdade, que todos os credos têm a pretensão de possuir, como
exclusivo monopólio, e só lhe possuem a sombra e assim mesmo fugitiva.
Na opinião de Edouard Dujardin117, "o trabalho da crítica e da História
deve consistir em estudar a imagem que as comunidades fizeram de Jesus".
Sainte-Beuve disse que "a crítica é um homem que sabe ler e ensina a ler
aos outros. Para se adquirir o espírito crítico, é mister, portanto, saber resistir à
necessidade de crer. Devemos lutar contra a preguiça de raciocinar."
Ademais, esse modo de pensar, resultante da Ciência, da História antiga,
da sã razão e das próprias palavras dos Evangelhos, felizmente implica, unicamente,
117 Le Dieu Jânus.
143
na consciência individual de cada um a quem cabe a responsabilidade espiritual,
guiada pelo célebre livre-arbítrio, que, dizem os teólogos católicos, aliás, os
mesmos competentes em afirmá-lo por terem dele abdicado, ter sido dado ao
homem por Deus; mas que, por outro lado, procuram tirá-lo, mesmo à viva força...
Para o católico, a liberdade de consciência só pertence a ele, e dela se serve para
destruir a dos outros. É o inimigo implacável da liberdade. O absolutismo é sua
essência.
Sua tese assemelha-se à do reacionário Veuillot, quando, na tribuna da
Câmara francesa, disse aos liberais:
"Se triunfardes, deveis me conceder a liberdade,
porque ela figura no vosso programa; se, porém, for eu quem
triunfe, eu a recusarei porque ela não figura no meu".
O Vaticano se apavora ante o fantasma da liberdade de crenças e de
consciência, que julga prejudicial ao seu predomínio, sem se lembrar, porém, de que
a essência dessa liberdade é exatamente sua conservação no terreno espiritual.
Diz M. Miron118: "Distinguem-se duas liberdades: a da Consciência e a da
Religião; a da consciência repousa sobre um direito tal, que é difícil lhe ser
contestado, a da religião é mais ampla por conter a da Consciência".
Além disso, se formos considerar os critérios filosóficos em que cada
credo se baseia, teríamos de deduzir, logicamente, que nenhum possui ainda essa
Verdade, uma vez que esses critérios são calcados sobre outros critérios,
118 La séparation du spirituel et du temporel.
144
redundando numa vã metafísica que, por isso mesmo, deve estar errada por não
passar de mera concepção humana, visto como nada há de sobrenatural.
Todo dogma fecundo tem por essência produzir a heresia e a mãe da
heresia é a metafísica.
Em que critério científico, por exemplo, se fundam os que apregoam que
Deus é positivamente feito à imagem do homem, porque a inversão se equivale; que
o corpo de Jesus era simplesmente fluídico; que este é o próprio Deus encarnado na
Terra; que ele tinha duas naturezas e uma pessoa, como quis o Concilio de
Calcedônia em 412, já que o papa Leão era da opinião que ele só tinha duas
naturezas e mais nada? Em nenhum. As conclusões a que chegaram são os frutos
dos seus acanhados raciocínios e de decisões de Concílios, de encarniçadas lutas
sangrentas e de arbitrárias sentenças papais.
Poder-se-ia chamar Jesus de Homem-Deus, não porque ele fosse de uma
natureza diferente da dos homens; mas porque, sendo da mesma natureza, ele lhes
foi superior. Assim é que todos os Super-homens na Antigüidade eram
cognominados.
Tão fácil, também, é negar-se a existência do Messias, como a de garantir
haver habitantes na Lua, ou, por meio de um silogismo, provar que a virtude é um
vício, pois não há virtude que não tenha seu vício oposto.
Mas o único critério aceitável é o que seja baseado na história e na
matemática dos antigos, como veremos mais adiante, porque esta ciência, origem
de todas as outras, como da do próprio Verbo, partindo de Deus, que é a própria
Unidade, encerra toda a razão de ser do Cosmos, visto ser tudo regido pelos
números nos infinitos Universos. E a lei das vibrações atômicas. Tudo é numerado,
145
pesado e medido, e nada se cria como nada se perde, segundo o velho aforismo de
Hermes.
Jesus mesmo já o havia dito: "E até mesmo os cabelos da vossa cabeça
estão todos contados" (Mateus X, 30).
É exatamente nesse critério, profundamente científico, revelado pelo
Arqueômetro, que nos apoiamos, porque ele nos demonstra o valor do termo
"Verbo", tão mal compreendido pelos que não lhe conhecem a significação,
confundindo-o com a parlanda do povo.
Ora, que o filho de Maria fosse o próprio Deus Criador em pessoa, ou
uma parcela desse Deus, em carne e osso, a sã razão e todo e qualquer credo,
salvo o Catolicismo, repele: porque Deus, abstração espiritual, não só na expressão
do próprio Jesus119, como na de todos os legisladores da Antigüidade, de centros
civilizados ou dos sertões da África, inconcebível pelo homem e inexprimível pela
palavra, não precisaria lançar mão de expediente tão mesquinho, para fazer cumprir
seus Decretos e nem deixaria seu trono no empíreo, que ficaria acéfalo por 33 anos,
para vir representar um papel risível dos seus poderes onipotentes, no menor átomo
de pó desses infinitos turbilhões de sóis.
Para corroborar o que acima fica dito, pediremos ao grande apologista
católico J. J. Ampére120 que nos defina o termo Deus:
"Se se segue até o fim o desenvolvimento da
abstração, se não se é retido sobre o declive da dialética pela
necessidade de se apegar a um Deus inteligente e moral,
chegar-se-á, assim, a negar mesmo a espiritualidade, a
119 João IV, 23, 24.
120 La Science et les lettres en Orient.
146
bondade, a personalidade do princípio universal. Por que será
ele Espírito? Por que será ele bom? Por que será ele uma
pessoa? Todas estas qualificações poderão ser aplicáveis ao
Ser inefável? Todo atributo não será um limite ao Infinito? A
unidade não será superior a todas as diferenças que
distinguem as coisas limitadas? A maior, a mais alta dessa
diferença, a que separa o Ser do Não Ser, não será ainda uma
coisa inferior à idéia que deveremos fazer de Deus? Dizer que
ele E, quando não temos outra palavra para exprimir a
existência restrita e passageira, não será empregar um termo
inexato e insuficiente, uma vez que se trata da existência
absoluta e soberana? Como se quer, pois, reduzir o Inefável a
um corpo humano tão imperfeito como o nosso na pessoa de
Jesus?"
Como pode-se ver, é um teólogo católico que interroga!
Além disso, choca o bom senso admitir-se que um Deus se encarne na
Terra, no corpo de um belo Rafino, para repetir ipsis verbis, sentenças, aforismos,
contos e parábolas, já escritas nos vedas, e manifestasse prodígios já manifestados
antes dele e por seus próprios conterrâneos.
Que o Criador de todos os Universos encarnasse no ventre de uma
mulher é uma concepção só permitida a espíritos pagãos, que a parodiaram das
mitologias pagas.
O sarcástico cristão Voltaire, o fanático católico Pascal e o beatífico Santo
Anastácio disseram que "Deus nas entranhas de uma mulher era uma abominação!"
147
Sendo Deus indivisível, é inconcebível que ele se refugiasse no corpo de
um homem que, aliás, ficou distinto dele. O Deus-Filho encarnado é distinto do
Deus-Pai e morreu, se bem que a morte de um Deus é inadmissível a não ser nas
mitologias.
Diderot dizia: "Já que o Filho é Deus, como se admitir um Deus, matando
um Deus para apaziguar um Deus?"
Que essa encarnação fosse o filho carnal desse mesmo Deus, Jesus foi o
primeiro a repelir a insinuação, como veremos mais adiante. Ademais, tendo Jesus
vindo para ensinar nas sinagogas e confirmar a Lei Mosaica, ele não iria destruir o
cap. XX de Êxodo, embora tivesse respondido a Caifás: "Vós o dizeis, eu o Sou" à
pergunta que este lhe fizera de ser ele o Filho de Deus, pois, como veremos, esta
expressão significava outra coisa bem diversa naquela ocasião e não o Filho Carnal
do Onipotente.
O católico, com sua liberdade de pensar acorrentada pelos cânones,
vaidoso, presunçoso e incomparavelmente orgulhoso, comete a mais grosseira das
blasfêmias fabricando Deus à imagem do homem, dando-lhe um corpo tão imperfeito
como o nosso, assemelhando-o, além disso, com o macaco, sem falarmos na
questão de raças ou de cores, pois não disseram a qual delas Ele pertence. O negro
há de o desejar preto, como as outras raças hão de o querer branco, amarelo ou
vermelho.
Xenofonte, iônico, disse que, se os bois pensassem e quisessem um
Deus, eles o fariam "boi" à sua imagem.
A palavra ADM Adam (Adão) foi traduzida pelos samaritanos como sendo
o Homem Universal, isto é, o Reino Hominal, e não um homem; mas também
148
sabemos que essa tradução foi feita do primeiro sentido da Bíblia, visto lhe
desconhecerem o segundo e ainda menos o terceiro.
Que o homem seja feito à imagem de Deus espiritualmente e não
materialmente, aí está o versículo 27 da Gênese, que não a indica claramente —
Jesus disse: "Deus é espírito e importa que os que o adoram o adorem em Espírito e
Verdade", portanto, sem figuras.
Ou esta frase tem supremo e decisivo valor teologal na boca de Jesus,
ou, então, rasguem-se as escrituras: haja ao menos coerência com os ensinos do
Mestre.
Mais de acordo com essas palavras estão os protestantes, os
evangelistas, os swedenborgistas, os espiritistas, os budistas, os maometanos, os
israelitas etc., que não usam figuras em seus templos, cumprindo, assim, a Lei
Mosaica que Jesus veio confirmar.
Que Jeová, o Deus de Moisés e dos israelitas fosse o Deus de Jesus; não
precisamos reunir aqui todos os passos que se encontram nos Evangelhos, basta
citar Marcos, em XII, 29, 30, que põe essa sentença na boca de Jesus: "E Jesus
respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: 'Ouve, Israel, o Senhor
NOSSO Deus é o único Senhor'. 'Subo para meu Pai e nosso Pai, para meu Deus
o vosso Deus' ". E esse Deus é Jeová!
Heródoto já dizia que os primitivos persas da religião de Zoroastro
consideravam como profano fabricar estátuas ou ídolos, levantar templos ou altares,
considerando louco quem isso fizesse.
Os Atos dos Apóstolos confirmam essas declarações de Jesus; mas o
Catolicismo respondeu-lhe: Não sejas bobo, vou dividir Jeová em três pedaços, dos
quais você passará a ser um deles. Fabricaremos uma estátua da tua pessoa, outra
149
da tua Mãe, outra de um pombo, como sendo o Espírito de Jeová, e te adoraremos,
apesar da tua proibição, e até te imolaremos todos os dias, num templo, cuja
construção condenaste e teu apóstolo tudo confirma, e procuraremos mesmo fugir
tanto quanto possível das tuas predicações.
E assim foi que Constantino fez de Jesus um Deus.
Nos "Adendos", no artigo "Dogmas", o leitor conhecerá os fabricantes
desse dogma, a época, os materiais que empregaram e a argamassa de ossos e
sangue com que foi alicerçado.
A cidade de Belém, cidade da luz, pertencia à tribo de Judá, uma das 12
que Moisés organizou como povo de Israel, ou seja, a denominação dessa tribo já
figurava nos antiqüíssimos mapas zodiacais e constava, igualmente, do planisfério
de Kirkev, sob o signo zodiacal do Leão, daí a expressão: "Leão da Tribo de Judá".
O Leão da Tribo de Judá pertencia ao Sol, isto é, fazia parte do domicílio
astrológico do Sol; Sol invictus, que galga o zênite em 25 de dezembro.
A analogia, pois, de chamar-se Jesus, filho da Tribo de Judá, de cuja tribo
se originou Davi, por Jessé, e de cuja árvore genealógica procedeu José, pai de
Jesus, não pode deixar de concorrer para a destruição do dogma da Divindade de
Jesus, no tocante à partícula que o Catolicismo lhe deferiu por Decreto de
Constantino, fazendo dele um Deus. Segundo Mateus I, 1, Jesus é da geração de
Davi e de Abraão, portanto filho carnal de José e não de Espírito Santo nenhum.
Filho de Deus
Não só Rama, mas, antes dele, os primitivos patriarcas da humanidade
que residiam, provavelmente, nos continentes submergidos, os antiqüíssimos livros
védicos, os de Hermes, os de Jo, etc., cujas origens vão longe, as doutrinas de
150
Cakya-Muni, o Buda, de Manu (Ma-Noé), de Zoroastro, de Krishna, de Moisés e... do
próprio Jesus, sempre consideraram Deus como uma abstração espiritual,
inexprimível pela palavra, inefável, em suma, e, sobretudo, indivisível, luz que falava
aos homens como no diálogo que Pimander teve como Thot, pois nela residia o
Verbo, porque por ele é que foi ela criada em primeiro lugar.
Assim, também se exprime Paulo, o fundador do Cristianismo no
Ocidente, a respeito de Deus, isto é, do Pai, sendo que o Senhor (Jesus) "era o
filho da semente de Davi, segundo a carne (frisa ele) e que foi demonstrado
Filho de Deus, pela potência do espírito de Santidade que o ressuscitou dentre
os mortos".
Em Atos, II, 30, lê-se que "Jesus teria que sair dos lombos de Davi",
portanto, longe de ser do Espírito Santo.
O padre Alba em seu estudo a respeito de Paulo121 diz: "Jesus Cristo é o
Logos, e, portanto, o Verbo encarnado no Homem Cristo-Jesus".
E, João diz: "E o Verbo se fez carne".
Swedenborg122, o grande vidente, escreve: "aprouve ao Senhor descer do
céu e vir ao mundo realizar sua palavra (perdida) para reintegrá-la e de novo dar a
luz aos habitantes da Terra". Mas, isso não quer dizer que esse Senhor habitava o
céu em carne e osso como nós.
O fato de Jesus dizer e repetir que "quem via o Filho via o Pai", que "ele ia
para o Pai, para onde ninguém123 podia ir" e "de onde ele tinha saído" etc., não
significa que esse Pai seja de carne e osso como ele, habitando um planeta idêntico
121 Pau en l'an 51 — Paris, 1926.
122 Escritura Santa, III.
123 Este ninguém é inexplicável sem o Arqueômetro — No "Reino do céu" e onde reside o Pai,
segundo ele, e para lá têm de ir os justos _ que naturalmente verão o Pai.
151
ao da Terra em densidade atmosférica, que passaria a ser o céu, o que contradiria
suas próprias palavras de ser Deus-Espírito e Verdade.
Jesus nunca falou com clareza ao povo, nem mesmo a todos os seus
discípulos, mas, sim, por parábolas124, como o faziam todos os reformadores
antigos, empregando, até, uma fraseologia que feria o bom senso e não esclarecia a
inteligência, tanto que os próprios discípulos não o compreendiam, ficando às vezes
perplexos. Há, entre muitas outras passagens, uma em que a imaginação se perde
em um labirinto, é quando lhe perguntaram:
"Rabi, quem pecou, este homem ou seus parentes,
para que ele nascesse cego? Nem ele, nem seus parentes
pecaram, mas para que as obras de Deus sejam manifestadas
nele''
A resposta, como se vê, não satisfaz à pergunta; permanece vaga e
indecisa, a não ser que se queira admitir que esse homem nascera cego, só para
que Jesus pudesse ter ocasião de lhe restituir a vista e servir de prova a um povo
que tinha a petulância de duvidar de Jeová. Fraco meio para um Todo-Poderoso e
fraca justiça e bondade para com um desgraçado que foi criado para lhe servir de
joguete.
Marcos III, 21, chega mesmo a dizer que Jesus havia perdido o juízo.
De modo que o termo Pai tanto podia referir-se ao Pai espiritual que o
iniciou no templo essenico ou alhures como a seu Pai nominal José, como mesmo
124 “Por isso lhes falo por parábolas, para que vendo eles não vêem, e ouvindo, eles não ouçam." A
parábola era uma maneira de falar ao povo só usada na índia e que Jesus não desconhecia por ter lá
estado.
152
ao Pai Celeste, de um modo simbólico, pois, segundo ele, Jeová (o Pai) é Espírito e
Verdade.
J. Bricout125, em seu profundo estudo católico, diz: "Não estando
estabelecida (pelo Catolicismo) a relação de filiação entre o indivíduo e Deus, era o
povo de Israel, em seu conjunto, que se chamava 'Filho de Deus126'. A idéia de
Deus, no evangelho, é caracterizada por este traço que cada homem em particular
tem o direito de considerar Deus como seu Pai. Desse direito ninguém é excluído".
Jesus disse: "Sede perfeito como vosso Pai celestial". "Ora a teu Pai que
está oculto e que vê secretamente em público" etc.
Quando ele disse: "Subo para meu Pai e nosso Pai e para meu Deus e
vosso Deus127", o que se poderia simplificar por este modo: "Subo para nosso Pai e
nosso Deus", isso não especializa, absolutamente, ser este Pai e este Deus
unicamente seu, tendo dele derivado direta e carnalmente, pelo contrário, esclarece
que este Pai e este Deus são tanto dele como de todos.
João em seus capítulos XIV, 28 — XVII, 3 — XX, 17, refere-se fartamente
a essa questão de Pai e de Deus.
Dizendo Jesus que quem via o "Filho via o Pai" "eu e meu Pai somos
um", etc., pronunciaria uma blasfêmia por se considerar igual a Deus e, portanto,
Deus.
Porém, dizendo mais adiante128: "Vou para meu Pai porque meu Pai é
maior do que eu" ele destrói, por esta forma o que disse acima, de ser ele um com
o Pai; o que prova as incoerências dos evangelhos.
125 Où en est l'histoire des religions — Tom. II, página 189 — em que colaboraram 15 personalidades
católicas.
126 Êxodo IV, 22.
127 João XX, 17.
128 João XIV, 28.
153
O arianismo estava de acordo com essa passagem de João de ser Jesus
menos que Deus. Mas Roma entendeu que Jesus não soube o que disse e fê-lo
nem maior, nem menor, mas igual a Deus — isso é ousadia.
No entanto, essas frases perdem completamente seu sentido, lendo-se a
que o fizeram pronunciar: "que te conheçam a ti só (Jeová) como único Deus
verdadeiro e a Jesus-Cristo (o que é um contra-senso do escritor, pois, certamente
ele teria dito: a mim) a quem enviaste como Messias" (ou profeta).
Essas frases de Jesus explicam-se psicologicamente e não
teologicamente.
Não há que fugir ante tais argumentos.
Além disso, segundo Dupuis, toda essa alegoria de Pai e Filho é a
perfeita reprodução de todas as mitologias antigas, chamadas pagas, baseadas,
aliás, cientificamente, sobre os mapas celestes ou planisférios estrelados, em que
Mitra, Osíris, Baco, etc. já eram considerados, pelos diversos povos, como Filhos
de Deus, sendo Deus alegoricamente representado pelo Filho, que era o Sol —
como ainda teremos ocasião de repisar.
Por outro lado, o sucessivo nascimento de irmãos e família, tendo, até,
um irmão de Jesus entre eles129, senão mais, distinguindo-os claramente de
discípulos, sectários ou primos irmãos130 apesar da torção que pretenderam dar,
séculos depois, ao termo de irmão, esclarecido agora no lúcido estudo de Ch.
Guignebert, já citado, e no de muitos outros escritores como Renan, tira, por isso
mesmo, o caráter de divindade à entidade de Jesus, na acepção, bem entendido, de
ser ele o próprio Deus onipotente incorporado ao Homem-Cristo ou, pelo menos, seu
Filho carnal.
129 Paulo 1, 10 — Aos Gálatas.
130 João II, 12 — VII, 3,5 — Marcos VI, 3 etc.
154
Filho espiritual, ainda passa; encarnação desse Filho Primogênito que era
o Verbo, isto é, a Faculdade Verbal de Deus, criada em primeiro lugar, mas não em
carne e osso, pois sem a Palavra nada existiria, ainda se pode admitir131. É este
Verbo, conhecido por todos os templos patriarcais e simbolizado em I-Sh-O — I-Ph-
O, conforme já vimos, e de que Jesus, o Cristo, o Messias, tinha perfeito
conhecimento de nele residir por meio da Revelação direta, pela missão que vinha
cumprir, recebida nos templos, que ali percorreu em 18 anos de sua iniciação, que
se corporificou nele.
É essa reencarnação, ou seja, mesmo, como querem alguns espíritas,
essa encarnação especial de Jesus, entre o povo de Israel, isto é, NO Filho
Primogênito, como Deus chamava este povo, nesta raça escolhida por Ele e
confiada a Moisés para ser a guardadora da Sua palavra perdida, como o próprio
Jesus não cessa de confirmar, que o Catolicismo transformou em Filho Carnal de
um Deus antropomorfo, aliás, sumariamente condenado em toda a Bíblia que
representa a Palavra de Deus.
Por isso o Verbo se fez carne132, isto é, se encarnou em um homem puro
para reencaminhar o povo de Israel e a humanidade anarquizada pelo despotismo
político.
Lao-Tsé que viveu 1.122 anos antes de Cristo, chefe da sei Ia taoísta,
uma das três religiões oficiais da China, já falava do Verbo (Tao) que tudo produziu
pelos números: Um, que é a Unidade, produziu dois; dois, que é 0 Verbo produziu
três; e três tudo mais que essa doutrina vai enumerando e multiplicando ao infinito.
131 João I, 3.
132 João I, 4
155
O termo chinês Tao se traduz por via, caminho. É igualmente a pronúncia
da última letra do alfabeto hebraico. Jesus dizia: "Eu sou o primeiro e o último, eu
sou o alfa e o Tao, eu sou a via."
Para o taoísta, um se chama Yang, é a linha inteira, é o positivo. Dois se
chama Yin, é a linha partida, é o negativo. São os dois princípios, ativo (luminoso) e
passivo (escuro) que, procedendo de uma sorte de polarização da Suprema Unidade
metafísica, dá origem a toda manifestação Universal.
O homem participante do céu e da terra, ou seja, das duas forças
contrárias, é o termo médio da Trindade, isto é, o mediador entre o céu e a terra.
Trata-se, porém, aqui, não do homem material, mas do homem espiritual, do
verdadeiro homem, como foi Jesus.
"O Yin e o Yang residem em um princípio cósmico
único — o Tai-I o Grande
Um, isto é, um universo Éter, não ainda diferenciado.
Não é a escuridão, mas o que a produz.
Enquanto não polarizado, este éter é imperceptível
para nós. No estado de potência, ele contém todos os seres e
todos os corpos da natureza. Ele se manifesta sob duas formas
de atividade chamada Yin e Yang133".
Essas teorias conhecidas dos chineses há milhares de anos, estudadas
agora pelo Dr. Vergnes, correspondem às teorias presentemente descobertas por
Georges Lakowski134.
133 Les Dieux Du Ciel
134 Dr. VERGNES – em Voile i’Isis – Número especial, 1932 – La médecine chinoise.
156
Segundo Fabre D'Olivet, o Yin é o repouso e Yang o movimento, de cuja
ação resulta o princípio mediador, o terceiro termo, o equilíbrio chamado Pan-Ku, o
Ser Supremo.
Dupuis diz que Yang é a matéria celeste móvel e luminosa e o Yin, a
matéria terrestre inerte e tenebrosa de que se compõem todos os corpos.
J. C. Frazer135 reportando-se a Smith e Dale, conta que a tribo dos Bas-
Ilas chorava a morte do Filho do céu, Muana-Leza, que desceu à terra em Lusaka.
Ele era bom e meigo, aconselhava aos homens cessarem as lutas fratricidas.
Mataram-no no Congo. Dizem, também, os negros de Loango, que Deus (Mpungu)
fez descer seu filho do céu para velar pela humanidade e consolar os aflitos, o que
foi feito com amor, mas os malvados o mataram.
É bom relembrarmos que essas crenças, por muita analogia que pareçam
ter com as do Cristianismo, já existiam entre os povos africanos, desde uma
inconcebível Antigüidade. Se houvesse qualquer afinidade com ele, por certo ela
transpareceria nos radicais dos nomes que os missionários não se cansariam de
introduzir na língua indígena, e tal não se verifica por serem seus termos oriundos de
raízes seculares, e os lugares indicados pertencerem aos seus territórios e não à
Palestina.
Nos livros de Hermes, cuja origem se desconhece, encontra-se a seguinte
prece a Deus:
"Eu te imploro, poderoso Criador do céu, eu te
imploro, voz do pai, primeira palavra por ele proferida, seu
Verbo único, de me ser favorável".
135 L’Universion
157
Temos ainda a doutrina de Charles T. Russell, chamada por isso de
russelismo ou milenismo, porém, mais generalizada sob a denominação de
"Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia".
De uma de suas obras Estudo das Escrituras, vol. I, p. 179, faremos a
seguinte súmula, que parece bem definir a personalidade de Jesus:
"Antes de Cristo vir ao mundo, era ele um Ser
espiritual, possuindo natureza espiritual, não sendo, porém, na
acepção mais elevada, um Ser divino. Essa natureza espiritual
mudou-se quando ele apareceu no mundo, transformando-se
em perfeita natureza humana”.
“Depois da crucificação, ele mudou a natureza
humana pela divina. Não compartilha de duas naturezas
simultâneas, mas experimentou as duas cada uma por sua
vez”.
“Lá, ele era completamente espiritual, aqui era
completamente humano. Nele não houve união espiritual com a
humana, ou divina com a humana. Agora ele é completamente
divino, não possuindo coisa alguma de humano. Nem foi Jesus
uma combinação das duas naturezas humana e espiritual. A
união de duas naturezas não produz nem esta nem aquela;
mas, sim, uma coisa imperfeita, híbrida, prejudicial a todo
ajuste. Quando Jesus estava na carne, ele era um perfeito Ser
humano; antes disso ele era um perfeito Ser espiritual; desde
158
sua ressurreição é um perfeito Ser espiritual, pertencente à
ordem mais elevada ou divina”.
“Um homem perfeito foi experimentado e fracassou,
sendo condenado; e só um homem perfeito poderia pagar o
preço correspondente como um redentor”.
“O humano teve de ser consagrado à morte antes de
poder receber mesmo o penhor da natureza divina. E, só
depois de efetuada essa consagração e haver ele realmente
sacrificado a natureza humana, mesmo até a morte, é que N.
Senhor Jesus se tornou perfeito participante da natureza
divina. Não foi ele exaltado à natureza humana antes de ter
sido esta realmente sacrificada — morta”.
“Tornando-se o resgate do homem, Nosso Senhor
Jesus deu o equivalente daquilo que o homem perdera; e, por
isso, toda a humanidade pode receber de novo, pela fé em
Cristo e obediência às Suas exigências, uma natureza, não
espiritual, mas uma gloriosa, perfeita natureza humana, isso
mesmo que se perdera”.
“Jesus apresentou em sacrifício Sua perfeita
humanidade”.
“Jesus, na idade de 30 anos, era um perfeito homem
natural. Era necessário que morresse pela humanidade um
homem perfeito, porque as reivindicações da Justiça não
poderiam ser satisfeitas de modo diferente. Esta recepção do
Espírito (por meio do batismo) foi a geração de uma nova
159
natureza — a divina — a qual haveria de achar-se
completamente desenvolvida ou nascida quando ele tivesse
realizado a Oferta — o Sacrifício da natureza humana?”
Segundo a doutrina budista, Jesus é um Nirmanakaya, isto é, um ser
humano muito evoluído, que, por uma série de existências, atingiu o Nirvana e de
cujas reencarnações ele se esquece para ficar simples homem como toda a
humanidade.
Diz Alfred Poizat136, irredutível católico: "muitas pessoas se afiguram que
nós, católicos, acreditamos em três deuses, numa família de três deuses, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, quando, afinal, o Filho é a Palavra (o Verbo), o pensamento
do Pai e, como tal, reside em si. O Verbo está em Deus e o Verbo é Deus, diz o
evangelista João; ele está em Deus, como seu princípio de atividade e de
expressão; Deus nada pode fazer sem seu Verbo, nem dispensar seu Espírito
Santo, pois seu Verbo e seu Espírito, comum ao Pai e ao Verbo, estão nele, são
dele e são sua tríplice maneira de ser um, de contemplar-se, de se possuir a si
mesmo e de se amar."
Ora, isso está perfeitamente de acordo com nossa tese de que o Verbo é
um atributo de Deus e não um Filho Carnal. É uma centelha desse atributo que Ele
delegou a um homem puro para repor no mundo anarquizado sua primitiva Lei.
Entretanto, o próprio João Batista, que o profeta Isaías, da Ordem de
Rama, chamava de "Voz que clama no deserto", que vinha preparar-lhe o caminho,
não tinha certeza de que Jesus fosse mesmo o Messias prometido, pois já tinham
aparecido falsos Messias como Judas, Galonite e Barcocheba, apesar dele dizer ter
136 La Vie ET l’Ceuvre de Jesus
160
ouvido uma voz dos céus que dizia: "Este é meu filho amado, em quem hoje me
comprazo137", para depois, quando na prisão, mandar dois dos seus discípulos
perguntar-lhe: "És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro138?".
Só as incoerências contidas neste trecho dão margem a uma severa
crítica.
Jamais Jesus se proclamou ou ensinou ser Deus, repelindo até essa
classificação, como se vê em muitas passagens dos evangelhos, que seria fastidioso
destacar.
Convém, porém, citar Marcos139, em que Jesus se considera um simples
profeta: E Jesus disse: "Não há profeta sem honra senão na sua pátria, entre seus
parentes e na sua casa". "De mim profetizou Moisés", isto é, que viria um profeta
maior que ele.
"Examinai as escrituras, disse ele, porque vós
cuidais ter nelas a vida eterna e são elas que de mim
testificam." "Porque se vós crêsseis em Moisés, creríeis em
mim, porque de mim escreveu ele." (João, V, 39, 46)
Mesmo Mateus140 faz Jesus dizer: "Jerusalém, Jerusalém, tu que matas
os profetas e que lapidas os que te são enviados, quantas vezes (como enviado,
como Messias, como profeta) quis reunir teus filhos como uma galinha junta seus
pintinhos sob suas asas e não o quisestes".
137 Mateus III, 17.
138 Mateus XI,3
139 Marcos VI, 4.
140 Mateus XXIII, 37.
161
Lucas141 empresta a seguinte frase a Jesus: "Importa caminhar hoje e
amanhã e no dia seguinte para que não suceda que morra um profeta fora de
Jerusalém". Esse profeta não podia ser outro senão ele.
Jamais, tampouco, os apóstolos o consideraram como tal, isto é, como
Deus, mas unicamente como o Messias, como o ungido, como o Enviado, como a
Palavra de Deus encarnada nele, para ser ouvida pelos homens de boa vontade.
Pedro, no Pentecostes, dirigindo-se ao povo, disse: "O Jesus que
crucificastes, ressuscitou. Ele era verdadeiramente o Messias que os profetas
anunciaram".
A samaritana, o próprio Jesus disse que era o Messias.
Visto que, apesar de todos esses argumentos e de mais alguns que se
seguem, o Concilio de Nicéia, no ano 325, em sua presunçosa sabedoria, resolveu
promover o pobre Messias a Deus. E em 1930, a Rei dos Reis, a Rei da Terra,
sendo o Papa seu representante, como se depreende e, portanto, Rei do Mundo,
politicamente falando.
Entretanto, o que dizem os Evangelhos, livros básicos do Catolicismo?
"Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo para o fazerem Rei, tornou a
retirar-se, ele só, para o monte" (João VI, 15).
O padre Alta, já citado, eminente professor da Sorbonne, que fez uma
rigorosa tradução dos originais gregos das Epístolas de Paulo, assim se exprime:
"O estado de espírito que criou entre nós, há
séculos, a pretensa teologia cristã, falseou consideravelmente
a idéia que tinham de Deus os apóstolos de Cristo”.
141 Lucas XIII, 33.
162
"Para Paulo e para João, Deus é o Princípio
Infinito142, absolutamente inimaginável de que não teríamos a
menor idéia se ele não tivesse emanado de si esta imagem do
Cristo, em que as nações têm a esperança da glória celeste no
reino desse Filho bem amado do Pai! (Aos Colossenses I 27
(14)”.
"Mas o homem Jesus, mesmo, não é senão uma
manifestação desse Cristo, que nele se fez carne, unindo-se de
modo transcendente ao corpo, à alma e ao espírito desse
homem, único entre todos os homens, e, quando Paulo diz:
'Cristo', com ou sem o artigo, como João diz: 'Logos', o Verbo,
seu pensamento por meio do visível vê o invisível e em Jesus
adora este Primogênito, divino, anterior a toda criatura e
superior a todas as criaturas, mesmo as mais elevadas que são
sua obra, dele Cristo de Deus. Logos — ou Reflexo de Deus”.
"Paulo, que se tornou cristão por ter visto Jesus em
espírito e dele ter recebido a Revelação, diz que Jesus, o
Cristo, é a imagem da Substância de Deus, o Primogênito de
Deus (o texto grego diz: — a imagem de Deus invisível e o
primeiro concebido de toda a criação) o que não quer dizer que
'este primeiro concebido' seja idêntico fisiologicamente ao
homem terrestre. "O Filho Primogênito de Deus, que nos céus
superiores foi criado antes da projeção do Cosmos, é o Cristo,
cabeça de vida de todos os espíritos e que, na Terra, no
142 Princípio não é começo no tempo; mas a essência, o radical.
163
momento favorável, encarnou-se no homem Cristo, para
reconduzir novamente ao conhecimento e ao amor espiritual os
espíritos caídos ou engendrados na vida animal”.
"O Filho Primogênito de Deus é preexistente ao
homem Jesus. "O Cristianismo é a Fé, a crença, a instrução
pessoal de cada cristão, de que Jesus é o Cristo, isto é, o
homem todo inteiro penetrado por Deus e enviado por Deus,
para reconduzir progressivamente todos os homens a se
amarem fraternalmente no amor deste mesmo Deus, pai de
todos."
Basílio, gnóstico do segundo século, dizia: "Deus falou e tudo foi feito —
esta palavra, este Verbo é o Filho de Deus. A filiação é a Palavra pela qual o Pai
projetou o gérmen do seu Pensamento".
Não é possível definir-se melhor e em tão poucas palavras a
personalidade de Jesus.
Sendo análogo a Deus, por ser uma encarnação da Substância, não é,
contudo, semelhante a ele.
Basílio e os gnósticos eram os homens mais instruídos do Cristianismo,
razão pela qual foram amorosamente queimados pelo Catolicismo como hereges!
Foi este Filho, na acepção de coisa criada, como o artista cria e realiza
sua concepção, foi essa faculdade divina, a Palavra, este Verbo, que Deus
concedeu ao homem para glorificar Sua obra, amando a seu semelhante, e que o
homem, pervertendo-se pelo egoísmo e orgulho, transformou em uma arma de
perseguição e de desamor. Foi este Filho Primogênito, este Cristo (salvado) que, de
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novo, Deus compadecido das misérias terrenas pelo despotismo que então reinava
no Ocidente, e especialmente em Jerusalém, contra seu povo, encarnou no corpo de
Jesus para chamar os homens ao bom caminho.
E, se dissemos que o despotismo reinava no Ocidente, é porque no
Oriente, Índia, China, Mongólia, etc., só reinava a teocracia, isto é, a religião e não a
política.
Que Jesus fosse um homem e não um Deus, aí temos, ainda, a maior
afirmação da boca dos próprios apóstolos:
Atos dos Apóstolos, II, 22:
"Homens israelitas, ouvi: 'Sabeis que Jesus
Nazareno foi um homem, um varão, que Deus tornou célebre
entre vós, pelas maravilhas, prodígios e milagres que Ele fez
por seu intermédio no meio de vós’ “.
Pode haver coisa mais clara?!
Ou valem ou não valem as palavras das escrituras, afinal de contas?
Mas os Papas e os Concílios rasgam-nas e proclamam que este Jesus
não foi homem, mas, sim, filho carnal de Deus e por fim Deus próprio em uma das
três pessoas!
Entretanto, quantos poemas encerram aquelas simples palavras!
"Homens israelitas, ouvi"! ... Por que não "ó humanidade ouvi?!"
Sabeis que Jesus Nazareno... por que não Belenense?
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"Foi um homem" ... porque não, o Filho de Deus, um profeta, um
Messias?
"Que Deus tornou célebre, pelas maravilhas que Ele fez por seu
intermédio"... porque não um enviado especial para este fim?...
Porque esta concepção da necessidade de um intermediário entre Deus e
o homem já era conhecida há talvez mais de 8 mil anos, entre os sumerianos, os
acadianos, os babilônios, por isso, adoravam Marduk, sendo Nabú, seu digno Filho,
intercessor junto ao Pai.
Outrora era Ea seu Pai e Marduk seu filho.
O profeta Oséias XI, 1, disse, como porta-voz de Deus: "Quando Israel
era menino eu o amei e do Egito chamei seu Filho" (o povo de Israel).
E se um dia Jesus, em sua misteriosa oração, exclamou: "Ó Pai, coroame
com a Glória que eu já tive antes que este mundo fosse143", é porque o termo
Glória naquela época era sinônimo de Palavra — Verbo — Justiça, e não como se
tendo visto aureolado em algum trono celeste.
A etimologia da palavra eslavo é slava, que significa Palavra e Glória.
Porque essa analogia em línguas tão antigas e distantes como o eslavo e o
caldaico? pergunta Saint-Yves. É porque, responde ele, isso se relaciona com a
Constituição primordial do Espírito humano, num princípio comum, ao mesmo tempo
científico e religioso, o Verbo.
De braços abertos na cruz, também ele exclamou: "Eloí, Eloí! Lama,
sabactâni144”,que as Bíblias traduzem por "Ó Pai, por que me abandonaste?"
Segundo o Reverendo J. Tissul Davis, em sua obra: In League With Life,
é possível que ele tivesse exclamado: "Eli, Eli, Lama Azabhthani" que melhor traduz
143 João XVII, 5
144 Marcos XV, 34 — Mateus XXVII, 46.
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o sentido: "Senhor, Senhor, como me glorificas!" pois esta frase era pronunciada
pelos iniciados quando passavam por grande prova.
Mas em celta Lama se traduz por Cordeiro, brasão que Rama adotou
como Pontífice, e é com o título de Lama que se designam os Pontífices do
Lamaísmo.
Portanto, Lama não podia referir-se ao Pai Celestial, conhecido por Jeová,
mas unicamente ao Pai espiritual, ao Pontífice da sua Ordem, que o iniciou na Índia,
na Agartha ou em Engaddi.
E se Jesus reconhecesse que seu pai celeste, Jeová, o abandonava
naquela trágica ocasião, ele mesmo, dessa maneira, destruiria sua filiação divina e
contradiria tudo quanto disse a respeito do Pai, duvidando, até, do seu poder e da
sua graça, nesse grito de desespero, ele que proclamava ser a Fé capaz de remover
montanhas, sendo até preciso que viesse um anjo reconfortá-Io.
Moisés, o depositário das tradições religiosas, por ordem de Jeová, no
monte Sinai, proibiu que se materializasse Deus, sob qualquer forma que fosse, e
Jesus, que veio ao mundo para cumprir a Lei Mosaica, a Lei de Deus, a Palavra de
Deus, condensada nos simplíssimos dez mandamentos, não iria destruí-la,
contrariando os desígnios de Jeová, mandando ou ensinando que o adorassem
como Deus, dizendo que "Quem via o Filho, via o Pai".
Ele mesmo repeliu essa insinuação quando replicou aos fariseus que
diziam ser ele Deus: "Vós também sois deuses".
Mais adiante explicaremos essa frase.
Quando Jesus dizia: "Estou no Pai e Ele em mim", nada mais fazia do que
repetir, parodiando o que os livros de Hermes, de Platão, de Pitágoras etc., escritos
milhares de anos antes dele, já diziam: "Deus vive em nós e nós vivemos nele".
167
Hoje a ciência reconhece que não há vácuo interplanetário. Todo o
firmamento é um campo infinito de íons elétricos em que se acham mergulhados,
terra inclusive, todas as miríades de estrelas. Logo Deus será esses íons que vivem
em nós e que fazem vibrar nossas células como nós vivemos nesses íons que é
Deus.
Se Jesus fosse Deus ou mesmo filho de Deus, no sentido católico, onde
estaria seu mérito?
Seus sofrimentos seriam uma fantasia e ele teria desempenhado uma
tragicomédia, porque Deus Infinito não pode sofrer. Ao passo que sendo humano
nada do que é humano lhe é estranho; ele sentiu a alegria, bem como a tristeza, a
dor, a humilhação, o sofrimento e, em decorrência da sua natureza altamente
sensitiva, possuía a acuidade das sensações em seu último grau. Se ele resistiu à
tentação, aí é que lhe cabe o mérito. Ele sofreu, foi injuriado, esbofeteado, carregou
a cruz e tudo com a maior humildade e perfeito conhecimento de causa, como
exemplo para o bem dos seus semelhantes, pois ele era livre de aceitar ou não
essas provações, como se verifica em suas palavras, em que ele vacilou por um
momento. "Ó Pai! Afasta de mim este cálice; mas, que seja feita a tua e não a minha
vontade" que era a de não tragá-lo, tendo mesmo sido assistido por um anjo que o
encorajou145.
Essa passagem dos Evangelhos também não deixa de ser confusa, pois
tendo Jesus se retirado dos apóstolos, cerca de um tiro de pedra (admitamos, sem
exagero, 30 metros) para orar, não se pode compreender como, estando eles
dormindo, pudessem ver na escuridão grandes gotas de sangue que lhe corriam
pelo rosto e ouvir aquelas palavras que, certamente, haviam de ter sido
145 Lucas XXII. 43-45.
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pronunciadas em tom baixo, como quem ora, e não como os alto-falantes modernos.
É bom notar, mesmo, que essa passagem só é relatada por este evangelista que,
aliás, não estava lá.
Visto que, apesar de todas essas repulsas e negações por parte de
Jesus, o culto católico, que, repetimos, nunca devemos confundir com Religião
cristã, e ainda menos chamá-lo de Religião Católica, porque o Catolicismo não é
Religião, mas simplesmente um culto político-romano146, entendeu, como já
dissemos, endeusar esse Jesus, como Filho carnal do Criador, como sendo o
próprio Deus inefável, em suma.
Das distorções e pescoções que o culto católico deu aos textos das
escrituras, resultou formarem-se duas facções: uma que acredita que Jesus é Deus,
esta é a maioria, mas constituída de indivíduos que só conhecem o culto exterior e
as especialidades de cada Santo Milagreiro do Panteão; outra, a minoria, mas
constituída na sua totalidade de indivíduos libertados, pelos estudos, das peias
dogmáticas, que reconhecem Jesus como homem, de acordo com os Atos dos
Apóstolos.
A maioria qualifica a minoria de falsos cristãos e esta qualifica aquela de
arbitrária, pois a maioria pratica a religião de Jesus e a minoria, a religião segundo
Jesus.
E a mesma controvérsia do Budismo moderno que se divide em Grande
Veículo e Pequeno Veículo.
A divindade de Jesus cai assim por terra.

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