terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Vida Mística e Oculta de Jesus(livro parte9)

Ressurreição
Além dos que já temos citado, um dos principais alicerces do Catolicismo
é, também, sem contestação, a ressurreição de Jesus.
Mas como esse assunto não está positivamente explicado nos
Evangelhos, se bem que o aceitemos em tese, procuraremos sondá-lo, trazendo a
legenda desses livros diante da crítica científica.
Estamos de perfeito acordo com Albert J. Edmunds217 quando diz: "Como
cristão (porquanto não adoto nenhuma seita ou igreja) eu, pessoalmente, sustento
que o encargo da missão de Jesus, após sua ressurreição, não é uma simples
invenção para imitar o Budismo; mas uma realidade".
Mas, logo ao abrir o primeiro Evangelho, nota-se que Mateus não se
refere a esse extraordinário acontecimento, nem consta dos anais de Roma.
O que é citado pelos outros escritores, que redigiram aqueles livros 150
anos depois, não pode merecer a mínima fé, porque nenhum dos apóstolos assistiu
ao suplício e ao sepultamento provisório, tendo fugido covardemente, e, mesmo,
pelas contradições que apresentam.
E a prova disso é que:
217 I Vangeli di Budha e di Cristo.
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João XIX, 25, diz: "E junto da cruz de Jesus (portanto, mais perto não
pode ser) estavam a mãe e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena".
Mas, Mateus XXVII, 53, 56 e Marcos XV, 40 e Lucas XXIII, 49, que se
repetem, dizem: "E estando ali olhando de longe, vimos muitas mulheres, entre as
quais estavam Maria Madalena, Maria, Mãe de Tiago e de José, que também era
discípulo de Jesus".
Quem está com a verdade evangélica?
Ah! Santo Agostinho não leu com atenção!
Ademais, a leitura atenciosa desses três evangelhos salienta várias
contradições, dúvidas e inverossimilhanças, que vamos esmiuçar um pouco.
Assim é que, dizem uns e outros, ter aparecido no túmulo, ora um, ora
dois anjos; que Madalena não reconheceu o próprio Jesus, tomando o vulto por um
jardineiro (João XX, 14), o que se não pode admitir, dada a intimidade que havia
entre ambos, a não ser que Jesus se tivesse transformado de tal modo, a ponto de
tornar-se totalmente irreconhecível, o que, neste caso, faz transparecer a dúvida de
ser realmente ele, Jesus, que ali estivesse.
Ora, se o fim de Jesus, ressuscitando, era o de provar sua identidade
depois de morto, e confirmar as escrituras, sua palavra e a doutrina que pregou, é
inadmissível que ele se transfigurasse de modo a não ser reconhecido três dias
depois por Madalena e, mais tarde, pelos próprios apóstolos.
Não se pode conceber, em boa consciência, que seus próprios discípulos,
caminhando com ele e conversando durante 40 dias (número curioso), também não
o reconheceram; era outro homem que ali estava, comendo e bebendo com eles,
aparecendo e desaparecendo, sem mais explicações, episódios contados
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unicamente por João, sem o mais leve comentário, como quem conta um conto das
1.001 noites.
Mas concentremo-nos um pouco e reflitamos sobre essa aparição a
Madalena.
Se Jesus tivesse saído do sepulcro, afastando sozinho, pelo lado de
dentro, a pesadíssima porta de pedra que tapava a entrada, o que estava além de
suas forças físicas, máxime naquela ocasião218, ele teria aparecido a essa mulher,
completamente nu, visto como sua túnica fora dividida entre os centuriões, e o
Sudário em que o envolveram jazia dobrado a um canto.
Ora, semelhante apresentação em público não teria deixado de
impressionar vivamente os olhos de Madalena, que se teria apressado em
comunicar essa particularidade aos discípulos.
Mas o vulto que Madalena interpelou sobre o lugar em que teriam posto o
corpo de Jesus estava vestido com uma túnica idêntica, sem o que ela não o poderia
confundir com o jardineiro, ou coisa que o valha, no caso em que este estivesse nu,
sendo mesmo de notar que, nem pela própria voz, ela reconheceu Jesus. Era,
portanto, outro homem.
Esse raciocínio, que ainda não encontramos em nossos estudos, dá
razão à escola que admite ter Madalena sido vítima de uma ilusão, motivada pelo
estado anormal e sugestivo em que se achava; visão esta que representava Jesus
tal qual era visto antes, sem se lembrar que lhe haviam carregado a túnica.
Acreditam os críticos pesquisadores que os personagens (anjos) que ali
apareceram a Madalena eram membros da seita essênia ou terapeuta, da qual
Jesus fazia parte, como já vimos, que para ali fossem com a finalidade de deslocar a
218 Não nos venham com a arma do Milagre!
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pesada pedra e remover o corpo para seus templos, por não serem mortais os
ferimentos, auxiliados por José de Arimatéia, dono do sepulcro, bom amigo e
discípulo oculto, a fim de tratá-lo, mandando-o, em seguida, completar sua obra
como redivivo, para melhor cimentá-la, recolhendo-se, por fim, ao templo, sendo
ignorado o resto.
Marcos XVI, 7, conta, mesmo, que as mulheres, entrando no sepulcro,
viram um mancebo sentado219, vestido com uma roupa comprida, branca (como a
dos essênios) que lhes disse: "Não vos assusteis; buscais Jesus Nazareno que foi
crucificado? Já ressuscitou; não está aqui" etc.
Sendo a indumentária, o corte da barba e do cabelo desses essênios
idênticos aos de Jesus, não é de admirar que isso tivesse concorrido no espírito
atribulado de Madalena para que ela afirmasse aos discípulos ter visto o Rabi, e
fizesse com que eles, eivados de dúvida, acabassem por crer, sendo, porém, preciso
que fossem ao local, com medo, verificar a... solidão do sepulcro.
De modo que, se os próprios discípulos que Jesus havia escolhido, dos
quais só um desnorteou, chegaram a duvidar da ressurreição do Mestre, como conta
Marcos XVI, 9 a 14, Lucas XXIV, 14, Mateus XXVIII, 17 e o próprio Tomas, exarquiteto;
se só João, cujo evangelho é considerado apócrifo, é que se estende
sobre esse fato, como quer o Catolicismo que seus antagonistas acreditem numa
história tão mal contada por uma mulher sugestionável? O tema da ressurreição é
todo decorrente de Madalena. Se não fosse essa mulher, o Cristianismo não teria
florescido por intermédio de Paulo, que se baseou na ressurreição; o corpo do Cristo
teria desaparecido dali, para ser devidamente inumado em outro lugar, por ser
aquele provisório; os discípulos se teriam dispersado, como fizeram alguns, e nem
219 É curioso ver anjos descansando, sentados!
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eles teriam tratado mais da questão, que se cingia, exclusivamente, doravante, ao
Reino do Céu.
Por isso Paulo, emérito sofista, em Coríntios XV, 4, frisa, com alguma
intenção, certamente, que Jesus ressuscitou no terceiro dia, segundo as escrituras,
isto é, conforme já estava escrito pelos profetas, mas não de fato, porque ele não
assistiu ao ato, nem acreditava no boato que corria naquela ocasião.
Só depois ele organizou seu programa sobre essa ressurreição, fazendo
os apóstolos repudiarem a tese do Reino de Deus, do que não mais cogitaram.
Diz Hippolite Rodrigues220: "Encarando este assunto de mais alto, a
história, pelo que parece, deve procurar saber se a crença na ressurreição de Jesus
depende ou não em linha reta da crença nas ressurreições de Enoch, Moisés e
Elias".
"Se este ponto for aceito, resultará a necessidade
absoluta da ressurreição de Jesus."
"Pois, com efeito, segundo as idéias do tempo, se
Jesus não ressuscitou, Jesus é reconhecido inferior àqueles
que Deus havia ressuscitado, e, então, toda a doutrina
nazarena fica derrubada."
É possível, portanto, que, recolhido o corpo de Jesus pelos essênios e
terapeutas, reanimado e tratado, fosse ele, de fato, conviver 40 dias com seus
discípulos, abatido pelos sofrimentos, sendo por fim reconhecido.
220 PIERRE, p. 53.
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Lázaro e outros personagens, segundo os evangelhos, teriam igualmente
ressuscitado, sem que tal fato extraordinário focasse consignado nos anais de
Roma, apesar da estupefação que deveria ter causado.
A curiosidade pública teria ido verificar o estado de suas carnes, que já
tinham sofrido a segunda fase da putrefação cheirando mal e teria indagado acerca
do destino que teria tido seu espírito, nesse intervalo de quatro dias.
Quanto tempo viveu mais e quando morreu, de fato, tal ocorrência as
escrituras não dizem.
Ademais, toda a magistratura judaica teria organizado um relatório a
respeito de tão importante acontecimento, pois Tibério exigia que todos os Pretores,
Procônsules etc. o informassem minuciosamente de tudo quanto ali se passasse.
Tibério não teria igualmente deixado de interrogar o ressuscitado, a filha
de Jair e o filho de Nun, igualmente ressuscitados, como conta Lucas VII, 14, e
Marcos V, 41.
Contrariamente ao que pensam os protestantes, quando Jesus disse:
"Lázaro, sai para fora", não foi à alma que ele se dirigiu, pois esta não mais fazia
parte desse corpo putrefato, visto ser a alma o sangue, segundo as próprias
escrituras; mas, sim, a outra essência mais elevada, ao espírito, que ele teria feito
baixar do céu, novamente, para reencarná-lo no mesmo corpo decomposto, sem
células, sem fibras, sem sangue, em suma, sem as condições de funcionamento; e,
admitindo-se mesmo, a hipótese de um milagre, remédio eficaz para os casos
difíceis, seria isso de uma grande crueldade.
A crença na ressurreição dos mortos era do domínio da religião egípcia,
da qual surgiu o embalsamento de corpos. Essa crença espalhou-se e perdura em
certas religiões, como no próprio Catolicismo.
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Anquetil Duperron diz que a idéia cristã da ressurreição da carne já se
achava na doutrina de Zoroastro.
O Cristianismo pôs fim, no Egito, ao costume de embalsamar os corpos,
condenando essa superstição; mas o Catolicismo, sempre por espírito de
contradição e incoerência, aprova e santifica essa operação em um católico e
mesmo nos papas, benzendo o corpo e encomendando-o a Deus.
O egípcio levava o cadáver ao Templo de Osíris, em Abidos, para que
pudesse entrar em comunicação efetiva com Deus. O mesmo faz o Catolicismo
levando seu morto à Igreja.
O egípcio transportava, depois, o corpo à necrópole, onde abriam os
olhos e a boca, procedendo-se então a descida do sarcófago ao túmulo, na
presença de padres e turiferários.
Do mesmo modo se procede no Catolicismo, mas sem abrir olhos, nem
boca... Pudera...
Os egípcios colocavam amuletos no túmulo para afugentar os maus
espíritos; o católico deposita rosários, santinhos etc., e espeta a cruz com o mesmo
fim. O livro chamado Horas também é posto no sarcófago pelo Catolicismo tal qual
faziam os egípcios com o Livro da Manifestação da Luz.
Ora, por que toda essa imitação do Paganismo? Provavelmente pelos
benefícios financeiros que daí resultam, pois de outro modo como poderia a Igreja
viver?
Os mitos de um Deus que morre e ressuscita e o nascimento virginal de
um libertador são crenças que já existiam muito antes do Cristianismo.
Assim é que se lê no Livro dos Mortos do Antigo Egito:
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"Osíris é o Filho que deve vir da terra ressuscitado.
Osíris é a alma do pão. Os homens devem comer a carne de
Osíris. Tu és o pai e a mãe dos homens; eles respiram pelo teu
sopro, eles comem tua carne". "Em um papiro se lê: 'Que este
vinho seja o sangue de Osíris.' "
Junte-se a esse trecho o que dissemos a respeito da missa e digam-nos,
em boa consciência, se todas as palavras que Jesus pronunciou, neste sentido, não
têm íntima relação com as doutrinas egípcias, conhecedor como ele era das
mesmas, por Moisés e pelos templos que ele percorreu.
Isaías LIII, 7, parafraseado por D. Merejkowski, em Mystères de l 'Orient,
assim diz: "Osíris conhece o dia em que não será mais. Conhece seu sacrifício. Ele
tem o poder de dar a vida e de a retomar. Seu suplício é voluntário. Ele foi
supliciado, mas ele mesmo o quis".
No Livro dos Morto do Antigo Egito, capítulo CLIV, também se lê: "Como
impedir que o corpo se corrompa?" O corpo de Osíris responde: "Não conhecerei a
corrupção; o verme não me atacará. Eu sou, eu sou! Eu vivo, eu vivo! Eu creio, eu
creio!" que se pode resumir nas palavras que Jesus pronunciou: "Eu sou a vida, a
via, a verdade!".
Não está evidentíssima a analogia de doutrina?
Ou Jesus conhecia essa religião egípcia, como é de supor, bem como a
profecia de Isaías e soube aplicá-la ao seu caso, ou os evangelistas, século e meio
depois, fizeram-lhe uma adaptação, transformando Osíris em Cristo, ou ainda, o que
é muito aceitável, Jesus era o Osíris esperado, o Messias prometido por Moisés,
depositário das tradições.
333
Na religião de Zoroastro, os magos representavam os fenômenos celestes
por figuras humanas, para a boa compreensão da massa ignara. Uma dessas
figuras era a ressurreição de Mitra*, filho do Deus-Sol, que simbolizava o equinócio
da primavera, após a morte do inverno. Mitra havia morrido antes, descido aos
infernos, isto é, ao hemisfério Sul, e ressuscitado em seguida, tal qual fizeram com o
Cristo.
Adônis, outro deus egípcio, também morreu, desceu aos infernos e
ressuscitou no equinócio da primavera. O mesmo se deu com Hórus, Atis, na Frígia,
Orfeu na Grécia e tudo isso, repetimos, muitos séculos antes de Cristo.
A todos esses deuses se erigia um túmulo, chorava-se sua morte e
cantava-se sua volta, anualmente, a vida, como se faz com o Cristo.
Era a vitória do Deus-Sol sobre o monstro do inverno, a Serpente que lhe
tirava a vida e o princípio de fecundidade de toda a terra.
P. Wendland221 notou uma extraordinária analogia entre a morte de Jesus,
em Jerusalém, por soldados romanos, e a que foi imposta em tempos idos,
igualmente por soldados de Roma, ao falso rei das Saturnais, em Denostorium, o
qual foi revestido da mesma roupagem com que foi revestido Jesus e executado no
mesmo dia em que se celebrava a Páscoa.
Idêntica analogia se encontra com o rei dos saceus, na Babilônia.
Mateus XXVII, 26, diz: "Então soltou-lhes Barrabás e, tendo mandado
açoitar Jesus, entregou-o para ser crucificado" (28, 29, 31). "E despindo-o, cobriramo
com uma capa de escarlate. E tecendo uma coroa de espinhos, a puseram sobre
* N. do E.: Acerca do Mitraísmo, sugerismo a leitura de Os Mistérios de Mitra, de Franz Cumont,
Madra Editora.
221 Jèsus als Saturnalien – KONING – PP. 175-179.
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sua cabeça, e em sua mão direita uma cana... E depois de o haverem escarnecido,
tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe seus vestidos e o levaram ao sacrifício".
Dion Chrypostomo descreveu o tratamento infligido ao rei dos saceus,
nestes termos: "Eles tomam um dos condenados à morte, e o colocam no trono do
rei, o vestem com a roupa escarlate do soberano, o deixam desempenhar o papel de
tirano, beber e se entregar a todos os excessos, usar das concubinas do rei; durante
esses dias, ninguém o impede de agir como bem entender. Mas, depois, o despem
de suas roupas, o flagelam e o crucificam", tal qual como entre os astecas dez mil
anos antes.
O costume de matar-se um Deus data de um período muito remoto;
posteriormente, continuaram a praticá-lo, interpretando-se mal o ato, como sucedeu
a Cristo. Ora, segundo o costume antigo, o assassino de um homem tido como
divino nada mais representava do que um bode expiatório, que carregava todos os
pecados e misérias da humanidade. Os israelitas possuíam tal bode como simulacro
do bode humano.
No magistral estudo de James George Frazer222 que se embrenha nos
mais recônditos lugares da Terra, assiste-se a milhares de sistemas, ora vegetais,
ora minerais, ora animais, para descarregar sobre eles os pecados ou os males da
humanidade, passando, por fim, a usar-se do próprio homem, assassinando-o,
anualmente, de um modo tão cruel, que o espírito moderno, embora pervertido,
jamais conceberia coisa igual, assunto a respeito do qual já tivemos ocasião de falar.
Do bode expiatório dos israelitas ao suplício de Jesus, a diferença não
existe, se considerarmos que os evangelhos, o apocalipse e o atual Catolicismo
222 Le boue émissaire.
335
representam Jesus como o "Cordeiro" imolado a bem da humanidade, tal qual rezam
os livros de Zoroastro.
Na mistagogia dos antigos, o Sol nascente tinha forçosamente, após seu
percurso, de ficar, ainda, três meses nos signos inferiores e na região afetada ao
príncipe das trevas e da morte, antes de galgar a passagem do equinócio, que lhe
garante o triunfo sobre a noite, e repara o mal causado à terra.
Daí, segundo Dupuis, a analogia da mistagogia cristã fazer Jesus, o
Cristo, nascer, crescer, morrer, ir aos infernos e ressuscitar no terceiro dia.
A ressurreição dos mortos, do Catolicismo, é outra paródia da religião de
Zoroastro. Diz o Bundadesh: "Os homens serão tais como foram e os mortos
ressuscitarão pelo que vier do Touro" (signo zodiacal).
E como o signo do Cordeiro segue o do Touro, a adaptação não foi difícil.
Todas as alegorias das mitologias seriam um absurdo, se os planisférios
astrológicos não estivessem aí para se verificarem as correspondências
astronômicas com toda a mecânica celeste. Fazendo-se as comparações, as
mitologias perdem seu sentido enigmático e deixam em evidência seu aspecto
puramente científico.
Dupuis foi quem descobriu a chave dos mistérios.
Na Babilônia era hábito flagelar-se, antes de crucificar-se, a vítima que
desempenhava o papel de deus.
Essas cerimônias de sacrifícios de um deus humano, segundo o jesuíta
Acosta, testemunha ocular, na época da invasão do México, pelos fanáticos
católicos, e, segundo o frade franciscano Sahagun, eram realizadas entre os astecas
na festa da Páscoa e já correspondiam, tanto em datas como no cerimonial, à festa
cristã, o que é confirmado por J. C. Frazer.
336
Todos os costumes pré-históricos que foram transmitidos de gerações a
gerações, entre os povos de todos os continentes, modificados de acordo com o
grau de desenvolvimento de cada povo ou com as necessidades locais, provam uma
origem única em sua essência.
Segundo Dupuis, documentado pelo mapa 17 da sua Grande Obra, os
apologistas da religião cristã, Tertuliano e Justino, reconheceram que a mais
razoável opinião que os pagãos podiam ter acerca da nova religião dos Sectários de
Cristo era a de assimilá-la à dos persas e de crer que seu Salvador nada mais era
do que o Deus-Sol, adorado por estes sob o nome de Mitra. Com efeito, Mitra e
Cristo de Zoroastro nasciam no mesmo dia, em uma gruta ou em um estábulo; o
Cristo e Mitra regeneravam o Universo pelo sangue de um Cordeiro ou de um Boi;
eles morriam na época do renascer da luz, como tinham nascido na estação das
Trevas etc.
Ambos tiveram iniciações secretas, purificações, batismos e mesmo
confissões.
Os nomes Jesus e Cristo eram sinônimos de Mitra na religião de
Zoroastro, ambos se referiam ao Filho de Deus.
A ressurreição, portanto, do filho de Maria, pelo modo como está contada
nos evangelhos, não só deixa muito a desejar como estabelece uma prova
impossível de refutar, a de que o Catolicismo é uma adaptação malfeita das religiões
antigas, que ele chama de pagas, bárbaras e heréticas, adaptação que se foi
corrompendo com o tempo, pelas inúmeras transformações por que passou nos
Sínodos, nos Concílios, nas resoluções papais, em terríveis discussões que
motivaram excomunhões de papa a papa, de papa a bispo, de papa ao clero, de
337
papa aos homens, que eram trucidados e queimados, aos milhares, por não
aceitarem seus disparates.
Que Jesus tivesse ressuscitado, isto é, voltado à vida ao cabo de algumas
horas, não podemos, sem boa consciência, pôr em dúvida, porque inúmeras
ressurreições de homens notáveis das escrituras já se tinham realizado, como
inúmeras voltas à vida após algumas horas de catalepsia se têm verificado e se
continuam ocorrendo constantemente nos hospitais e alhures.
Nós que escrevemos essas linhas também já ressuscitamos, uma vez,
depois de uma paralisação do coração por quatro minutos, a dar crédito aos médicos
que, em 1917, nos operaram, na Santa Casa da Misericórdia, tendo a ciência
acudido a tempo com injeções.
Segundo os anais de medicina há, até, fatos muito mais importantes, a
respeito da volta à vida, após longo prazo.
Historiadores de nomeada contam que o verdadeiro Faquir na Índia, após
uma prévia preparação psíquica e submetido a um rigoroso e complicado ritual, é
enterrado durante meses, voltando à vida entre seus adeptos.
A constatação oficial, mas meramente superficial, da morte de Jesus, por
ignorantes centuriões, não pode ser tomada a sério, atendendo-se às dificuldades
de verificação, o que a ciência médica atual é a primeira em reconhecer.
Quantos catalépticos, após o formal reconhecimento da medicina, têm
sido enterrados vivos e encontrados, mais tarde, em posição contrária à que foram
enterrados, pelo esforço empregado para se libertarem da prisão?
Quantos, no ato de serem inumados, têm pulado do caixão, apavorando
os assistentes?
338
Ora, tendo Jesus ressuscitado, claro é que seu corpo deveria volver à
terra. Ele mesmo disse a seus discípulos, quando o reconheceram, que um espírito
não tem corpo. Que foi feito do dele? As escrituras nada dizem.
Só mais tarde é que acharam prudente, ou de bom aviso, fazê-lo
ascender ao céu, como Elias e outros. Deste modo, punha-se um ponto final a
qualquer interpelação.
Templos
Além do que disse Jesus a respeito dos Templos, como temos repetido
várias vezes, lê-se nos "Atos dos Apóstolos" (XVII, 24, 25, 29): "Deus não habita
em templos construídos pelos homens, nem tampouco é servido por mão de
homens". Isso quer dizer, claramente, que ele condena templos e sacerdotes.
Ou o que foi dito pelo divino Mestre e escrito pelos apóstolos que ele
enviou tem valor teologal, ou esses livros são uma pilhéria, e o Catolicismo, uma
formidável farsa, porque age em sentido contrário.
Os que pensam que a vitória de uma religião depende da freqüência dos
templos pelos fiéis se iludem. Os verdadeiros crentes procuram isoladamente, no
recôndito de suas consciências, uma solução para a tranqüilidade de seus espíritos,
e, se aceitam a exterioridade do Culto, é como mera satisfação convencional à
sociedade, forma elegante de hipocrisia.
Se querem elevar um templo de pedra em desacordo com a proibição
feita por Moisés, por Jesus e pelos Apóstolos, que seja um templo aberto, sem
ornatos ou figuras, como o dos quacres, como o dos protestantes, tendo gravado na
parede do fundo os simplíssimos dez artigos do Código Social da Humanidade,
único que agrada a Deus, e a seguinte inscrição do templo de Sais, no Egito: "Aqui
339
se adora o Ser que é a Causa de todos os outros, que encerra todos e de que
nenhum mortal jamais rasgou o véu".
Na China, de tempos imemoráveis, o templo era uma simples torre,
construída no lado sul da capital, e cercado de um bosque sagrado tão espesso que
o menor ruído lá não penetrava e o silêncio absoluto reinava ali. Sob uma cúpula
azulada representando o firmamento, erguia-se um altar de pedra, no qual o Sumo
Pontífice, que era o próprio Imperador, fazia surgir, uma vez por ano, o fogo
sagrado, por meios que nada tinham de humano, a não ser o servir de intermediário,
tal qual agia Moisés na Arca da Aliança. Sobre a parede do fundo, o nome Sangté, o
Supremo Regulador, representa a divindade. Prostrado, descalço e despido dos
seus ornamentos imperiais, ele adora o Espírito do Universo.
Essa analogia com a cerimônia do antigo rei de Salém, Melquisedeque, é
flagrante para quem estuda o Ciclo de Rama.
Na primitiva Índia, anterior à China, o templo era cavado na própria rocha,
obedecendo a um plano arquitetônico, previamente delineado, cujas esculturas
causam, hoje, assombro aos modernos arquitetos. São aos milhares esses templos.
Ali, o espírito humano se concentra por tal forma que chega a ser
exteriorizado.
Nos templos católicos, o espírito humano se concentra no semblante de
uma santa, que anda à procura de seu santo, e a crítica fervilha acerca da moda, do
pó-de-arroz e do carmim.
Sendo os Templos ou mosteiros, na generalidade, construídos com o
dinheiro dos seus respectivos fiéis, em terrenos adquiridos por compra ou doação,
claro é que tais edifícios, sem dono personificado, devem pertencer à nação e não a
entidades eclesiásticas de qualquer culto que seja, desconhecido oficialmente pela
340
Constituição. Tais templos são patrimônio da nação e, como tais, podem ser
cedidos a título precário, ao clero do respectivo culto, como se procede em nações
adiantadas, inclusive o México, percebendo o governo todas as taxas a que estão
sujeitos os estabelecimentos que auferem lucro da sua atividade. Não se pode, pois,
conceber em boa justiça que um templo que mercadeja com a venda de missas de
vários preços, de acordo com a sua qualidade ou eficácia, com casamentos,
batismos, água benta, talismãs, rosários, figuras e quejandos artigos próprios de um
bazar, esteja isento de aluguel, das licenças da prefeitura, dos impostos de indústria
e profissões, dos prediais, territoriais, de renda, dos selos de vendas a dinheiro, dos
de consumo, de cuja renda sai o décimo de São Pedro, que é remetido para Roma!
Salvemos, ao menos, nosso patrimônio, para que não suceda como no
México, onde, em 250 anos, o Catolicismo construiu 15 mil igrejas, mais do que
casas particulares e as do governo, e nenhuma escola!
Façamos reverter esses templos para o patrimônio da nação e
nacionalizemos, mesmo, o próprio clero, sujeito como está, o nacional, a revoltantes
preterições de estrangeiros escorraçados de outros países, não decerto pela eficácia
da doutrina que pregam.
Não fechemos os olhos, nem cerremos os ouvidos, aos gritos de alarme
dados por todas as nações mais velhas que a nossa, que já sofreram as más
conseqüências da tolerância aos maiores intolerantes. Não nos deixemos acorrentar,
de novo, como nos templos medievais. Disso depende o futuro social, comercial e
artístico de uma nação nova como a nossa, atrasada em alguns séculos pelo
imperialismo católico.
Se os exemplos de povos cultos e mais velhos de nada valem, então se
entregue o Brasil de uma vez, de mãos ligadas, ao Vaticano; mas não procedamos
341
como procedemos, com hipocrisia e falsidade, fingindo um divórcio oficial, para, de
fato, vivermos numa vergonhosa mancebia.
Identidade de Religiões
Pelo caminho percorrido até agora, por assim dizer, de avião,
atravessando mares e continentes desaparecidos, aterrissando nas primitivas
capitais do antigo mundo, penetrando em seus templos, nos quais, devotamente,
assistimos à redenção de graças ao Deus de cada povo, pelos seus puros
Melquisedeques, introduzindo-nos em suas Academias, em que, sentados, ouvimos
as lições dos Magos, verificamos, a não ser possível a menor dúvida ou
contestação, que a humanidade inteira, há muitas centenas de milhares de anos,
adorava o mesmíssimo Deus, Criador, Onipotente e Misericordioso; que a base de
todas as ciências que conhecemos e outras que ainda desconhecemos foi por essas
academias estabelecida e desenvolvida até o mesmo grau em que hoje se acha,
embora as aplicações das suas leis tenham encontrado maior campo, como diversos
eram os aspectos dos cultos externos criados pela língua, pelos costumes, pela
crendice supersticiosa das camadas iletradas, pelas imposições de hordas invasoras
e vencedoras.
Foi nessas alturas que o Verbo de Deus se reencarnou na Terra, para pôr
um pouco de ordem na balbúrdia produzida pelo Poder, isto é, pelo Militarismo e
pela sua filha dileta, a Política, para restabelecer sua Palavra perdida que dormia
sob a letra dos hieróglifos mosaicos e nos empoeirados livros da índia, da Pérsia e
da Babilônia.
É essa antiga religião que o Verbo-Jesus procurou reimplantar na Terra,
como já tivemos ocasião de estudar, mas que o homem pretensioso desvirtuou
342
completamente, com a formação de um Culto absolutamente antagônico com as
palavras de Cristo, motivando exegeses, cismas, rebeliões, guerras de religiões,
perseguições, entre seus próprios adeptos.
A primeira das provas reside exatamente na Igreja Ortodoxa, grega,
origem da Igreja Cristã, da qual saiu a Igreja Latina, que se cindiu daquela, com a
criação do culto católico, e que, por isso, lhe dedica o mais extremado ódio.
A ortodoxia, que significa Com ciência em religião, adotou no seu início
a doutrina de Platão, aceita pelos primeiros pais da Igreja Latina, para, mais tarde,
no século XIII, seguir a de Aristóteles, bastante tarde, como se vê, para provar que o
Catolicismo não era a doutrina que Jesus pregou e que os ortodoxos gregos
adotaram e continuam usando.
Tratando do Cristianismo na Rússia, que professa a mesma ortodoxia
grega, diz P. Seeberg, fervoroso cristão, professor de História da Igreja, na
Universidade de Berlim:
"Aqui ressalta, como inconscientemente preparada
pela própria História, o problema da sorte da Europa e
podemos, às apalpadelas, suspeitar do papel que, talvez, na
transformação da nova Religião, no correr dos tempos futuros,
o Cristianismo ortodoxo grego será chamado a
desempenhar223".
223 Les Révolutions du Monde — p. 419.
343
Os maometanos que perseguem os cristãos também são cristãos, porque,
de acordo com o Alcorão e o Talmude224, continuam esperando a vinda do Messias,
anunciado por Moisés, que eles veneram, bem como ao próprio Jesus,
considerando, porém, falsa a qualidade de filiação divina, no sentido que o
Catolicismo lhe dá. Jesus, para eles, não passa de um respeitável profeta, cheio de
graças, dadas por Deus225, como exemplo, aos israelitas (Capítulo XLIII, 59). Todo o
Alcorão é judaísmo-cristão, e todo seu ensino é baseado na religião de Abraão, que,
já sabemos, era a de Rama, a de Melquisedeque, a de Jacó, a de Davi e a de Jesus.
Para que o leitor possa ajuizar do epíteto de herege dado pelo
Catolicismo ao povo muçulmano que adotou esta religião, transcrevemos em
seguida seu Credo: "Cremos em Deus, no que nos foi enviado a nós, a Abraão, a
Israel, a Isaac, a Jacó e às 12 tribos de Judá. Cremos nos livros que foram dados a
Moisés e aos profetas do Senhor e nos Evangelhos de Jesus Cristo. Entre eles
não fazemos diferença; entregamo-nos, inteiramente, ao Deus único, clemente,
misericordioso, vivo, imutável, sábio, poderoso, que está em toda a parte, Criador do
céu e da terra. Deus Onipotente, Senhor sem princípio, nem fim, que é o que é".
Os maometanos como os ortodoxos, como se vê, crêem no mesmo Deus,
nos anjos, nos santos, nos Livros Sagrados, nos profetas, na ressurreição dos
mortos, no Juízo Final, na predestinação, no céu e no inferno, denunciando, sempre,
uma origem judeu-cristã, se bem que, em 624, Maomé tivesse se separado do
Judaísmo, por isso, não mais se voltava para os lados de Jerusalém quando orava,
mas sim para Meca. O maometano usa rosário, sobre o qual vai remoendo um a um
os 99 nomes de Alá!
224 Livro da "Lei Oral", isto é, a explicação do desenvolvimento da "Lei Escrita" — a Bíblia.
225 De acordo sempre com os costumes mosaicos Jeová é chamado Alá!
344
Os maometanos dão aos pobres uma porcentagem de sua renda, com o
que praticam uma espécie de socialismo. No dia de Bairã, eles se reconciliam com
seus inimigos (o que o católico não faz). Cinco vezes por dia eles fazem preces
(99% dos católicos nem sabem rezar). Jejuam rigorosamente, não havendo
despensas como no Catolicismo. Não bebem vinho nem álcool de qualquer espécie
(não raro é ver-se um pau-d'água que não seja católico). Anualmente fazem
peregrinações a Meca por obrigatoriedade. (Os católicos vão a Jerusalém por
turismo.) Não comem carne de porco, por ser animal imundo, portador da lepra e da
tênia, já condenado por Moisés e Jesus; este simbolizou a abstenção do porco com
a passagem dos maus espíritos pelos seus corpos.
Os maometanos estão perfeitamente de acordo com os próprios
evangelhos, quando Lucas IV, 24 faz Jesus dizer: "Nenhum profeta é bem recebido
em sua pátria".
Eis uma oração que a maometana Santa Rabia dirigia a Alá:
"Meu Deus, se eu te adoro pelo temor do inferno,
faz-me queimar nesse inferno: se te adoro na esperança de ir
para o céu, exclui-me do céu; mas, se te adoro, só por ti
mesmo, não me ocultes tua eterna beleza".
Para o Catolicismo isso é uma heresia!
O Talmude proíbe que se interrompa o idolatra em prece perante seu
ídolo; pois sem que ele o suspeite é ao Deus Supremo que ele se dirige.
O Catolicismo não é dessa opinião: reduzia a torresmo quem tal fizesse.
345
O padre J. Michon226 proclama que, se não fossem os Maometanos, não
existiria hoje em Jerusalém o Templo destinado à Comemoração do Cristo. Foram
eles que evitaram a destruição dos Lugares Santos. E, coisa curiosa, são eles, os
anticristãos, os proprietários daquele templo; são eles que permitem aos cristãos,
mediante prévio pagamento, o uso e gozo, durante um pequeno lapso de tempo, de
uma reduzida parte da sala, a fim de se reunirem e orarem. Mas, verifica-se pelas
estatísticas, que as visitas àquele lugar são feitas por milhares de cristãos nãocatólicos,
já que os católicos só vão lá como simples turistas ou como qualquer
sábio em visita a um museu, sem se ajoelharem, orarem ou verterem uma lágrima
como fazem aqueles.
O Santo Sepulcro foi destruído uma vez por incêndio em 1808 e
reconstruído pelos maometanos. Se fosse o contrário que teriam feito os católicos?
Por que não procura o Vaticano adquirir aquela propriedade dos
muçulmanos e instalar-se ali definitivamente? Pergunta o padre Michon.
É porque não lhe convém afastar-se da Roma política, onde haure a vida
que emana do Ocidente; pois, se tal fizesse, seus dias seriam contados.
Ao menos, ao lado do falso túmulo do Cristo, se veria o verdadeiro túmulo
do seu último Pontífice, único que se poderia garantir como legítimo, porque está
provado que o Santo Sepulcro e tudo quanto ali é venerado, lugares, relíquias, etc.
são absolutamente falsos227.
Os protestantes, ironicamente chamados Bíblios pelos católicos, também
são cristãos, porque usam a mesma Bíblia e os mesmos evangelhos do Catolicismo.
E, se houve separação de Roma, foi por ter Lutero, frade Augustiniano, protestado
contra a escandalosa venda de indulgências, o vergonhoso tráfico de coisas
226 Questions des Lieux Saints – 1852.
227 GUSTAVE D’ALMAN – Les Itinéraires de Jesus
346
sagradas e contra os dogmas da Igreja, pelo que, após uma terrível luta, foi
excomungado, não conseguindo, porém, a Igreja deitar-lhe a mão; se o fizesse teria
se transformado em carvão.
O protestante está de acordo com Paulo, que reconhece a necessidade
da pregação ser feita na língua vernácula de cada povo.
São idênticas as bíblias católica e protestante e não podem deixar de o
ser, pois o católico confessa que a Bíblia é a Palavra de Deus. Mas, incoerente e
arbitrariamente, substitui alguns artigos que lhe contrariam os planos.
O padre católico era obrigado a ler esta Bíblia todos os dias na missa,
cantar-lhe os hinos de Salomão, os Salmos de Davi, venerar Abraão e os Profetas,
mas, o fazia em latim, de modo a não ser compreendido, e, além disso, de costas
voltadas para a assistência, a qual, nesse intervalo, era obrigada a recitar orações,
com o intuito de desviar a atenção desse livro; e o padre, brevemente, do púlpito e
com ela debaixo do braço, o condenará como sendo obra de hereges!
É tal o rancor do clero católico contra o protestante e israelita, embora
venere Moisés que, sem recorrermos aos volumosos livros da História da
Humanidade, vamos encontrar exemplos de verdadeira selvageria cometida, aqui
mesmo no Brasil, nos tempos presentes e em vários Estados da União; a própria
dinamite, substituindo a palavra de Jesus, fez saltar templos protestantes.
Em Recife, por exemplo, um padre católico fez desenterrar do cemitério
secular a filha de um protestante, para ser novamente enterrada à beira da estrada e
isso sob as vistas de um juiz pusilânime, estando a Igreja separada do Estado; em
Pesqueira, no mesmo Estado de Pernambuco, os padres católicos atacaram e
estraçalharam um pobre homem, por andar vendendo Bíblias, a mesma que os
matadores traziam debaixo do braço.
347
Entretanto... (é de ficar-se perplexo!) a Tribuna de Recife, de 9 de julho de
1931, publica um artigo do frade João José P. de Castro a respeito da Bíblia.
Acentua este frade que tal livro é usado pelo clero católico, mas não lido por
católico algum, o que É LAMENTÁVEL, diz ele, por causa da proibição de Roma,
que até as manda queimar.
Termina ele dizendo: "Sirva o exemplo dos metodistas a espalhar sua
Bíblia por todo o mundo para relembrar a humanidade de hoje sua grande fonte de
vida. Se esses pobres cristãos, eivados de erros protestantes, compreendem a
importância e a eficiência da leitura da Bíblia, como é que os verdadeiros cristãos,
que são os católicos, poderão deixar de lado o Livro dos Livros, o Livro Divino, a
Carta que Deus mesmo lhes escreveu?!"
Pondo de parte o maquiavelismo do trocadilho, perguntemos então ao
católico: "Por que queimar o Livro dos Livros, o Livro Divino, a Palavra de
Deus?!"
Arrancai a venda que vos puseram sobre o entendimento, e praticai, como
pratica o protestante, as palavras do meigo Jesus.
Mme. de Brinon e Pelisson escreviam: "Há muito que eu disse que,
quando se transformarem todos os protestantes em católicos, verificar-se-á que os
católicos se tornaram todos protestantes e, portanto, surgirá um misto que possuirá
tudo quanto reconhecereis de bom em nós e tudo quanto reconheceremos de bom
em vós".
Contudo, diz Pierre d'Angkor, "o puritanismo anglo-saxônico, notadamente,
nada mais é do que uma exageração do próprio espírito católico que
considera a Natureza como a inimiga da humanidade, e os mais naturais instintos
humanos como simples tentações do demônio para nos desviar de Deus".
348
Nos limitemos a essas três igrejas saídas da mesma fonte para mostrar,
ainda uma vez, o modo nada cristão como o Culto Católico, com as armas na mão, e
fogueiras acesas, procuram impor dogmas criados por ele, que não tem nenhuma
relação com a essência da doutrina do fundador do Cristianismo.
Intolerância
O Evangelho faz Cristo dizer que se deve repreender seu irmão, primeiro
sem testemunha; se ele não quiser ouvir, denunciá-lo à Igreja e tratá-lo como
pagão. Esta sentença está em flagrante desacordo com o perdoar 70 vezes sete; e
foi daí que surgiram as delações que levaram tanta gente à fogueira.
Buda mandava que seus discípulos não se incomodassem com as faltas
de seus semelhantes.
Deus é o Pai de todos e não só dos cristãos. Tanto faz ser judeu,
muçulmano, hindu ou ateu: todos são filhos de Deus.
Dizia Voltaire228: "Deve-se lamentar um ente pensante que se desvia;
persegui-lo é insensato e horrível".
"Somos todos irmãos; mas, se um de vós, animado
do mesmo amor filial e da mesma caridade fraterna, não
saudar nosso pai comum (Deus) com as mesmas cerimônias
que emprego, devo eu degolá-lo e arrancar-lhe o coração?"
A oração que Mahatma Gandhi, o grande nacionalista indiano, compôs
para seu povo, em 5 de novembro de 1919, bem mostra que o budista é mais cristão
228 Traite de l'intolérance.
349
que o católico. Assim reza ele: "Senhor, guiai a Índia no caminho da verdade,
ensinai-lhe, para isso, a religião do Swadeshi229 e estreitai a união dos hindus, dos
parses, dos muçulmanos, dos cristãos, dos judeus que vivem na Índia".
Citemos ainda Voltaire a respeito: "No primeiro século da Igreja, antes
que o nome de Cristão fosse conhecido, houve uma vintena de seitas na Judéia, que
se julgavam de acordo com a doutrina que Jesus pregou. No fim desse primeiro
século, esse número atingiu a uma trintena de seitas cristãs, na Ásia, na Síria, em
Alexandria e mesmo em Roma, as quais, vivendo em subterrâneos, se perseguiam
mutuamente".
"Quando, por fim, os cristãos abraçaram os dogmas
de Platão, que eram baseados nas religiões da Antigüidade,
misturados com um pouco de filosofia, a religião que eles
separaram da judaica, aumentou-lhes o número, mas sempre
duvidoso em seitas, sem que houvesse um só tempo em que a
Igreja Cristã fosse unida. Ela nasceu das divisões dos judeus,
dos samaritanos, dos fariseus, dos saduceus, dos essênios,
dos judaítas, dos discípulos de João e dos terapeutas. Ela foi
dividida em seu berço, ela o foi nas perseguições que às vezes
sofreu os primeiros monarcas. Às vezes o mártir era
considerado como um apóstata por seus irmãos, e o cristão
carpocrata morria sob o cutelo dos carrascos romanos,
excomungados pelo cristão ebionista, o qual era anatematizado
pelo sabeliano”.
229 . GANDHI – La Jeune Inde — Swadeshi é a boicotagem dos produtos dos seus opressores.
350
"Esta horrível discórdia, que dura desde tantos
séculos230, é uma lição de que devemos perdoar mutuamente
nossos erros. A discórdia é o grande mal da humanidade, e a
tolerância seu único remédio”.
"Não há ninguém que não concorde com essa
verdade, seja que ele medite de sangue-frio no seu gabinete,
seja que ele examine tranqüilamente a verdade com seu
amigo".
Se o Cristianismo se desenvolveu foi em decorrência exatamente da
tolerância da Roma paga, porque os primeiros cristãos eram todos judeus. Ora, se o
cristão ou o católico persegue o judeu ou outro qualquer credo é porque,
decididamente, o cristão ou o católico não possui as virtudes nem as crenças cristãs;
eles permanecem, positivamente, pagãos. Não se é anti-judaico sem ser, ipso facto,
anticristão. Contestar semelhante aforismo é impossível.
O imperador Julião, o apóstata, já dizia que "os cristãos haviam herdado
dos judeus sua cólera e seu furor contra o gênero humano".
Amiano Marcellino, historiador do século IV, citando o imperador Julião,
disse: "Os animais ferozes não são tão terríveis quanto são os cristãos entre si, e
quando divididos por crenças ou por sentimentos".
"A consciência geral dos cristãos, diz Saint-Yves, à
medida que ela evolui, não aprova esses anátemas, essas
230 Escrito há duzentos anos.
351
excomunhões, essas cóleras, essas violências que são armas
da fraqueza e da impotência irritadas."
A intolerância é a represália dos santuários ameaçados em seus
interesses materiais.
Por que, pois, homens que admitem em particular a indulgência, a
benevolência, a justiça, se erguem publicamente com tanto furor contra essas
virtudes? Porque seu interesse é seu dever. A esse monstro eles sacrificam tudo.
Uma anedota oriental conta que, numa discussão teológica, um dos
assistentes dissera que Moisés, Cristo e Maomé foram três impostores que
enganaram os judeus, os cristãos e os muçulmanos; ao que o outro respondeu
dizendo que um pai possuía um anel que representava uma fortuna; mas, como
possuísse três filhos, mandou ele fazer mais dois anéis semelhantes para, assim,
ser dado um a cada um.
O pai morreu, os filhos reclamaram a fortuna que devia estar encerrada
no anel original. Houve discussões, e o juiz sentenciou que cada um teria de herdar
igualmente daquele anel, provando assim que todos os três eram filhos do mesmo
pai, com direito à herança, assim como o judeu, o cristão e o muçulmano são filhos
do mesmo Deus.
Atualmente o católico combate o anglicano, o luterano, o ortodoxo, o
maometano e suas próprias igrejas estão divididas e subdivididas.
Entretanto, como disse D. Antônio, bispo de Viseu, a respeito das
manobras do clero católico: "A religião de Jesus Cristo é tão boa, que, estando os
padres encarregados de dar cabo dela, ainda não o conseguiram".
352
Se Deus consente a anarquia do Catolicismo é porque ele entregou a
malícia do diabo aos pastores do Cristianismo, como fez com Jó.
O caráter do sacerdócio católico é de não saber viver em paz com
nenhum outro sacerdócio. Ele reclama, para si, a liberdade como privilégio de
oprimir os outros; quer libertar a consciência acorrentando a dos outros sacerdócios.
E, se Jesus vendo das alturas a corrupção e a imortalidade da sua Igreja
e de seus ministros, segundo as expressões de F. R. dos Santos Saraiva, não
fulmina esses clérigos hipócritas e charlatões que comem dele, é porque,
certamente, ou está dormindo há tantos séculos, ou já se desinteressou dessa
humanidade.
Fukusawa, um dos maiores letrados do Japão, escreveu: "Toda religião
basta ao fim a que se propõe. Há diversas religiões, o Budismo, o Cristianismo e
muitas outras. No meu ponto de vista, não existe entre esta e aquela maior diferença
do que entre chá verde e chá preto. Quer se beba de um ou de outro, a diferença
não é grande. Para aquele que ainda não provou do chá, o que ele deve fazer é
prová-lo uma vez para conhecer-lhe o sabor. Os doutores de religiões são como os
vendedores de chá. Cada qual se esforça em colocar melhor sua mercadoria. Mas
não é justo depreciar os produtos de outrem, para encarecer o seu. Deve-se,
simplesmente, tratar de oferecer a mercadoria bem sortida e barata".
Se não fosse a revogação do Edito de Milão, lançado por Constantino e
Licinius, é possível que a Igreja não tivesse cometido os horrores que cometeu. Esse
Edito concedia aos cristãos e a todos os outros cultos a faculdade que se tem hoje
de seguir a religião que se quer.
Aí vai mais uma exuberante prova da intolerância, da incoerência e da
perversidade do Catolicismo.
353
Quando Jesus disse que "aquele que ferisse com a espada, com ela seria
ferido", quando ele ensinou o amor ao próximo, quando aconselhava perdoar 70
vezes sete, quando ensinava a humildade, mandando dar a outra face ao agressor,
quando definiu os dois poderes, ordenando que se desse a César a matéria e a
Deus o espírito, ele apregoava que a doutrina que pregava era contrária à
sangueira, à carnificina, ao ódio, à guerra em suma.
Mas, quando o mundo inteiro, por meio de Ligas, de Congressos
internacionais, de intervenções diplomáticas, procura resolver o mais importante
problema deste século, qual o do desarmamento, para garantir a paz neste pobre
planeta, quando todos os homens de boa vontade, de religiões antagônicas em seus
cultos, confraternizam e se abraçam para descobrir a magna equação, eis que
surge, em maio de 1933, o Monsenhor Gillet, do púlpito da Catedral de Notre Dame
de Paris, em discurso, perante 27 delegados de várias nações, aconselhando a que
todas as nações "se armem até os dentes, que multipliquem seus engenhos de
morte para uma futura hecatombe!"
Eis a doutrina católica, doutrina de Satanás; mas não a do meigo Jesus,
que de pretende representar, quando, de fato, representa o gênio do mal!
Edificante de ironia!
E ainda há homens que se ajoelham perante esses criminosos inimigos
da humanidade!
Ódio Católico
Como já temos repetido, Jesus nunca instituiu sacramentos ou dogmas de
espécie alguma, a não ser os pontos de moral da doutrina que pregou, pontos que
354
se aplicam à humanidade inteira. A doutrina de João forjou o sacramento e o
dogmatismo produzindo o Catolicismo.
Os dez mandamentos que os próprios evangelhos citam
incompletamente, por causa de interesses de doutrinas, são repetições dos de
Moisés com criminosa variante; a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos:
"Pai Nosso..." é um resumo da oração de Zoroastro; as sentenças que pronunciou
são repetições de Buda; os atos que praticava eram todos pautados na moral do
patriarca Rama. Nunca ele perseguiu ou mandou perseguir ou odiar crença
contrária; ele procurava convencer por palavras e atos. Nunca ele excomungou
ninguém, nem mesmo Pedro, que o negou três vezes, nem Judas, que o traiu nem o
Pontífice que o entregou à multidão.
Entretanto, o Papa, seu representante, não cessa de vomitar
excomunhões e anátemas a quem não pactuar com sua Igreja.
A excomunhão, além de aberrar da própria doutrina de Cristo, e das
palavras de Paulo, é o maior contra-senso do Catolicismo, pois, em vez de procurar
salvar as ovelhas perdidas, como prescrevia Jesus, as precipita aos milhares nos
braços de Satanás, tolhendo-lhes, no seu modo de ver, até o direito de salvação
eterna. É verdade que, com dinheiro, é possível obter-lhe a revogação dessa
sentença, porque em Roma tudo se vende, lei, consciência e alma.
Todos os discípulos de Jesus fugiram desabridamente apavorados,
quando ele foi preso e ia ser levado ao Calvário; e o meigo Cordeiro não teve sequer
um gesto de censura, ao contrário, sorriu docemente para Pedro quando passou por
ele.
Por que se perseguir esse povo israelita, genericamente cognominado de
Judeu? Esse povo é da mesma descendência de Jesus, segue a mesma doutrina
355
dos dez mandamentos, por ele apregoado como base, usa a mesma Bíblia que o
Catolicismo usa, entoa os mesmos hinos de Davi e de Salomão, cantados por
Jesus231 e pelo clero católico, celebra as Vésperas, como o católico, que venera
Moisés e seus profetas como Jesus os venera e também a Igreja Romana, que,
afinal, foi o principal motivo da sua encarnação: reunir as ovelhas perdidas desse
povo e salvá-lo mesmo com o sacrifício de sua vida, conforme se vê em Mateus X,
5, 6, 9, 10: "Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidades de
samaritanos; mas, ide antes às ovelhas perdidas da Casa de Israel". Quando Jesus
atravessou a região de Tyr e Sidon, uma cananéia exortou-o para que tivesse
piedade de sua filha que era atormentada por maus espíritos; Jesus não quis
atendê-la apesar da intervenção dos Apóstolos.
"Não! Disse ele, porque só fui enviado às ovelhas perdidas da Casa de
Israel".
Em Atos XIII, 23 e em muitas outras passagens se lê: "Da descendência
deste (Davi), conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel".
Em todos os atos e das palavras de Jesus, ressalta, claramente, que todo
seu sacrifício em pregar a boa palavra tinha, unicamente, por fim, instruir o povo de
Israel e não a humanidade ou a Ásia, fonte da própria doutrina difundida.
Não se pode, pois, compreender semelhante antonomia, semelhante ódio
a um povo amado pelo Mestre. Será pelo fato de terem os antepassados desse povo
levado seu Salvador ao Calvário?
Seria pueril essa lógica, pois, se Jesus veio ao mundo para redimir o povo
de Israel com seu sangue, que ele sabia tinha de ser derramado, onde está,
portanto, o crime dos judeus? Estes nada mais fizeram do que contribuir,
231 Marcos XIV, 26 — XXVI, 56.
356
materialmente, para a realização de um fato já previsto por seus profetas, portadores
da palavra de Deus, uma vez, como dizem as escrituras, que este enviou seu filho
para ser imolado!
Nem por ser o carrasco o executor da Lei, deixa ele de merecer o respeito
do povo.
Não é o ato que faz o crime, mas sim a intenção. É por isso que os judeus
que crucificaram Jesus, sem conhecê-lo, não podiam ter pecado. Mais criminosa e
mais contrária à doutrina de Jesus é a propaganda, a guerra e o ódio à Casa de
Israel, pelos discípulos daquele que, exatamente, veio se sacrificar por ela e a qual
ele perdoou: "Perdoai-lhes, Senhor, eles não sabem o que fazem".
Seria o caso dos judeus dizerem também dos católicos: "Perdoai-lhes
Senhor, eles não sabem o que dizem nem o que fazem".
Mas, infelizmente, há judeus que repudiam a Jesus, por não o
considerarem como o Messias, o Verbo, o qual, aliás, ainda esperam. E por que não
este e sim outro? Pois se os evangelhos dizem que Jesus é da raça de Davi, de
cujos lombos deveria sair o Messias, como esperar outro, uma vez que esta raça já
está extinta?
É de pasmar-se, portanto, ver-se que, no século XX, ainda haja terrível
perseguição da Igreja do Cristo contra os israelitas em geral e, especialmente,
contra as duas tribos de Judá e Benjamin; pois chamar-se este povo, geralmente, de
judeu, é erro e maquiavelismo do Catolicismo, visto como as dez tribos há muito
tempo se haviam separado, por quererem essas duas um rei, ao passo que aquelas
cingiam-se à Sinarquia de Moisés, que só admitia um Pontífice. O epíteto de judeu,
com caráter deprimente é obra genuinamente católica.
Pergunta, com razão, o ex-padre Santos Saraiva:
357
"De onde veio ao Vaticano o direito de condenar
sem ouvir o delinqüente, de excomungar sem instruir e esperar
o arrependimento do pecado? Do Evangelho? Não, porque
este manda perdoar 70 vezes sete. Dos exemplos do Cristo?
Também não, porque ele disse que não vinha julgar e ninguém
tinha o direito de o fazer. Logo, este suposto direito nasce do
capricho, da arbitrariedade, da imprudência, do espírito tirânico,
cruel e vingativo do culto católico, e este Espírito reside no
Princípio do Mal, que é a força que move os cordéis do
Vaticano".
A excomunhão é uma paródia do Deus Júpiter do Paganismo, que
fulminava a torto e a direito os que discordavam do culto que lhe rendiam.
Mas não é de admirar essa prática estulta, para com a humanidade,
quando o leitor souber que a excomunhão é lançada até a pobres vermes e insetos,
obedecendo a uma curiosa legislação e a um complicado ritual.
Seria fastidioso relatarmos, aqui, os inúmeros processos intentados pela
Igreja Romana contra animais, acusados e defendidos por advogados, para, por fim,
serem condenados à excomunhão, sofrendo as penas que lhes eram impostas. O
leitor ávido dessas informações recorrerá a J. G. Frazer, em seu Folclore, do qual
vamos extrair um escandaloso processo que se realizou no Brasil (p. 353):
"A prática de intentar processos aos animais
malfazejos existia ainda na primeira metade do século XVIII e
foi transportada pela Igreja para o Novo Mundo. No ano 1713,
358
os frades de Piedade, da província do Maranhão (Brasil),
intentaram uma ação às formigas desse território, por cavarem
traiçoeiramente os alicerces do mosteiro e saparem as adegas
dos ditos frades, o que enfraquecia os muros do mosteiro e o
ameaçava de ruína total. Não contentes de saparem as
fundações do edifício sagrado, as ditas formigas se tinham
introduzido nos compartimentos das provisões e carregado a
farinha destinada ao consumo dos frades. Isso não se podia
tolerar; por isso que, depois que todos os remédios foram
empregados, em vão, um dos frades exprimiu a opinião de que
era necessário voltar ao espírito de humildade e de
simplicidade, que tinha, tão eminentemente, distinguido seu
fundador seráfico, quando ele chamava todas as criaturas de
irmãos e irmãs, tal como irmão Sol, irmã Lua, irmão Lobo, irmã
Andorinha, e assim por diante, e que era preciso intentar um
processo às suas irmãs 'Formigas', perante o tribunal divino da
Providência; ele convinha em designar advogados para as
acusadas e para os queixosos e o bispo devia, em nome da
Justiça suprema, presidir ao processo e pronunciar o
julgamento.
Essa sábia proposta foi aprovada e quando todas as
disposições foram tomadas para o processo, o advogado dos
queixosos tomou a palavra e mostrou que seus virtuosos
clientes, os frades, viviam da caridade pública, recolhendo as
esmolas dos fiéis, o que lhes causava grande trabalho e
359
amofinações; enquanto as formigas, cuja moral e vida eram
evidentemente contrárias aos preceitos do Evangelho e que
eram, por conseqüência, encaradas com horror por São
Francisco, fundador da Ordem de seus clientes, subsistiam por
pilhagem e por embuste; pois, não contentes em se entregarem
a roubalheiras ordinárias, elas empregavam a violência para
fazer arriar a casa sobre a cabeça dos frades. Em
conseqüência, as acusadas deviam se justificar ou serem
entregues ao extremo rigor da lei, a saber: a morte por
pestilência ou pelo dilúvio ou pelo menos ao extermínio na
comarca. Por outro lado, o advogado das formigas argüiu que,
tendo recebido do seu Criador o dom da vida, elas eram
constrangidas, pela natureza, a conservar por meio dos
instintos naturais que lhes eram inerentes; que era de
conformidade com esses meios que elas serviam a
Providência, dando aos homens um exemplo de prudência, de
caridade, de piedade e de outras virtudes, em prova do que o
advogado citava as passagens das Escrituras, de São
Jerônimo, do abade Absalão e mesmo de Plínio; que as
formigas trabalhavam mais duramente que os frades, os fardos
que elas transportavam eram às vezes mais volumosos que
seus corpos e sua coragem ultrapassava suas forças; que aos
olhos do Criador os homens mesmos nada mais são do que
vermes da terra; que suas clientes possuíam o terreno muito
antes dos queixosos lá se instalarem; que, em conseqüência,
360
eram os frades e não as formigas que tinham de ser expulsos
do território, sobre o qual não lhes assistia outro direito senão o
da força; enfim, que os queixosos deviam defender sua casa e
suas provisões por meios humanos, aos quais as acusadas nio
se oporiam, uma vez que elas pudessem continuar sua
maneira de viver, obedecendo à lei que era imposta pela
natureza, gozando da liberdade da terra, tanto mais não
pertencendo ela aos queixosos, mas sim ao Senhor, 'assim
como tudo quanto ela contém'.
Essa resposta foi seguida de réplicas e tréplicas, no
curso dos quais o advogado da acusação se viu constrangido a
confessar que os debates tinham mudado sua opinião acerca
da criminalidade das acusadas... O resultado dessa causa foi
que o juiz, depois de ter cuidadosamente considerado os fatos,
decidiu que os irmãos escolheriam um campo na vizinhança,
onde poderiam habitar as formigas, para onde elas se dirigiriam
imediatamente sob pena de excomunhão maior. Graças a esse
arranjo, ele observou, as duas partes ficaram satisfeitas e
reconciliadas; pois as formigas deviam se lembrar que os
frades tinham vindo ao país para semear o grão do Evangelho,
enquanto as formigas poderiam, facilmente, ganhar sua vida
alhures e com menos despesas. Esta sentença, tendo sido
pronunciada com toda a gravidade exigida, um dos frades foi
designado para levá-la ao conhecimento das formigas, o que
ele fez lendo-a em voz alta em frente aos buracos de suas
361
galerias; os insetos conformaram-se lealmente e todos as viram
em espessas colunas abandonar seus formigueiros para irem,
apressadamente, em linha reta, até o território que lhes foi
designado".
"Risum teneatis?"
"Vinte séculos de infamantes delitos, de rapinas sem
número, de sangueira; os cruéis tormentos inquisitoriais, a
ereção de horripilantes fogueiras, um imenso acúmulo de
males, de corrupções, de ignorância, de ferocidade, de
escravidão de tantos países da terra, nos fazem estremecer a
alma e pensar que é o sacerdote católico que tem sido a causa
de todas as misérias da humanidade232".
Teria sido este o programa de Jesus?
Judeu-Cristianismo-Búdico
Se as 12 tribos de Israel quisessem estudar Saint-Yves, a aliança do
Judeu-Cristianismo seria um fato em curto prazo e o resultado ultrapassaria os mais
importantes feitos, desde que a terra existe, não só em benefício de Israel, como da
humanidade inteira, porque a cristianização da índia e da China e do próprio
Catolicismo seria uma conseqüência lógica.
Os israelitas, em geral, se convenceriam de que todo o fim de Jesus foi
exatamente reconciliá-lo na mesma Lei de Sinarquia, e que sua doutrina é a mesma
que Moisés lhe ensinou, pois é a condensação de todas as outras.
232 J.M. PING CAUSARANC – Secretário da Educação Pública do México
362
Monsenhor Duchesne233 escreve: "É certo que o Cristianismo tem suas
raízes na tradição judaica; que as primeiras crises de sua história são comparáveis
às de uma criança que se separa da mãe; que os livros sagrados de Israel são
também seus livros sagrados; e houve, mesmo, um tempo em que ele não conhecia
outro”.
“As cristandades constituíram-se, mais ou menos,
como as sinagogas judaicas. Como estas, elas foram núcleos
religiosos fundados sobre a comunidade da fé e da esperança.
Mesmo no ponto de vista do culto propriamente dito, a
semelhança é ainda maior. Os dois termos de sinagoga e igreja
significam a mesma coisa: ajuntamento e reunião”.
“Naqueles primeiros tempos, a analogia vai mais
longe: assim como os judeus de todos os países se consideram
irmãos em Abraão, Isaac e Jacó, do mesmo modo as
cristandades locais sentem vivamente sua fraternidade em
Jesus Cristo. De ambos os lados, todos olham para Jerusalém,
que ainda é o coração do Cristianismo, assim como do
Judaísmo".
Jean Izoulet234 diz que Jerusalém é a capital da terra cristã, maometana e
judaica. Jerusalém é venerada pelos judeus, adorada pelos cristãos e respeitada
pelos muçulmanos.
233 Histoire Ancienne de l’Église.
234 Paris, Capital dês Réligions.
363
Com efeito, replica Alfred Bizat, ultracatólico, "os primeiros cristãos
permaneceram judeus na estrita observância da lei, que constituía uma sorte de
higiene corporal e espiritual. Talvez fosse uma infelicidade o desaparecimento, por
extinção, das comunidades judeu-cristãs, e, talvez, se possa, até certo ponto,
encarar sua ressurreição como desejável e capaz de favorecer a entrada eventual
dos israelitas na comunidade cristã, quando vierem os dias prescritos por Paulo".
O Judeu-Cristianismo dominou em Jerusalém e em Roma. O papa
Clemente I era bispo judeu-cristão.
A Índia e a China, ou seja, quase 2 bilhões de almas, verificariam,
igualmente, pelos seus Pontífices, que a doutrina que Jesus pregou ao mundo é
positivamente a que se acha expressa nos Livros Védicos, isto é, no Mahabharata,
no Upanishaba, no Bhagavad-gita235, nos de Confúcio236 etc., porém, reduzida a
termos mais singelos.
O Bhagavad-gita (Canto dos Santos), que contém 700 hinos, assim se
exprime (12, 5-8):
"A dificuldade é maior para aqueles que tendem ao
Incognoscível por meio do seu pensamento; pois, o fim, que se
não deixa de reconhecer, é dificilmente atingido por seres
encarnados. Mas, para aqueles que oferecem a mim todas
suas obras, abandonando-se inteiramente a mim e que me
servem, pensando em mim com devoção, que se não deixam
orientar por lado algum contrário, aqueles cujos pensamentos
me são dirigidos, para estes eu me torno rapidamente seu
235 EMIL SINARD - Já em português
236 W.G GAUTHIER - Paris
364
salvador; eu os liberto do fluxo da existência no mundo que
encaminha para a morte."
"Volta teu coração para mim só, dirige tua vida
interna para mim e tu viverás futuramente junto a mim; isso não
padece dúvida alguma."
É possível ver-se nessas palavras doutrina de hereges, de pagãos? São
as mesmas que, milhares de anos depois, Jesus veio repetir à humanidade
sofredora.
Os únicos dois pontos divergentes entre o Catolicismo e o Budismo
baseiam-se na Origem do Mundo e na Transmigração da Alma. Para o Budismo, o
mundo foi criado há milhões de anos; para o Catolicismo somente há 6 mil anos.
Para o Budismo, o espírito evolui até chegar à perfeição, reintegrando-se em Deus,
como ensina o próprio Paulo; para o Catolicismo ela vai para o céu ou para o
inferno.
Segundo Edwin Arnold237: "as Leis da evolução, de causalidade, de
continuidade, de energia, a unidade do mundo, a homogeneidade e o encadeamento
dos seres, sua metamorfose em formas passageiras, a diminuição progressiva do
mal pelo acrescimento do saber, do altruísmo e da solidariedade, teorias estas
dominantes da ciência e da filosofia modernas, são, com efeito, as Sublimes
Verdades pregadas pelo Buda".
Buda, ou Cakya-Muni, ou ainda o Fo-Hi da China, foi o Lutero do
Bramanismo, o pregador da Caridade Universal e da igualdade fraterna entre todos
237 Lumière d’Asie
365
os filhos dos homens, o restaurador da tradição deformada por um clero ambicioso e
açambarcador da riqueza nacional.
Sua doutrina, saturada de uma profunda e incomparável moral, pauta o
mais insignificante ato da vida corrente de um budista. O verdadeiro budista é
aquele que vive com a cabeça de um adulto e o coração de uma criança, de onde as
palavras de Jesus, com referência ao reino do céu que pertencia às crianças; ao
passo que, no Ocidente, os fiéis católicos só se lembram de seus deveres religiosos
aos domingos ou dias de festas, ou quando, por circunstâncias fortuitas, vão ao
templo assinar o livro de presença em missa de defunto graúdo, ou tiram o chapéu,
automaticamente, com uma cara compungida, com o pensamento alhures, ou lendo
o jornal, no ônibus, à passagem pela frente do mesmo templo, embora de portas
fechadas.
Outros há, também, que guindados ao Poder, para satisfazer a uma
facção política, se declaram publicamente, da tribuna do Parlamento, contrários ao
Catolicismo e, no dia seguinte, beijam pública e oficialmente os pés de um ídolo de
pau, venerado como santo e não reconhecido pela Constituição do país.
Jesus disse um dia: "Hipócritas! Bem profetizou de vós Isaías quando
disse: 'Este povo honra-se com os lábios, mas seu coração está longe de mim'. Em
vão, pois, me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens".
"O hindu esquece seu Eu no Todo e se identifica com o Todo; o
homem moderno ocidental esquece o Todo em seu próprio Eu e se
identifica com este238."
238 Formichi — La pensée réligieuse de l'Inde.
366
A nomenclatura, a tecnologia e o simbolismo dos livros védicos, frutos de
uma série de observações e estudos milenários, por isso mesmo aparentemente tão
diferentes dos livros ocidentais, compreendem um Deus único e Inefável, adorado
em Espírito e não em figura, como geralmente se crê, porque o Brahma dos
Bramanistas não é representado por boneco nenhum, mas simplesmente pelo termo
Brahman, que simboliza o Deus supremo, do mesmo modo que o Buda do Budismo,
embora representado pela figura de um homem sentado239, espécie de estátua do
primeiro legislador da índia, como o Cristo do Corcovado representa o profeta da
Galiléia, não simboliza de modo algum o Criador Onipotente, nem seu filho
antropomorfo; mas, simplesmente, uma síntese da Teocracia de Rama. No Oriente
entra-se descalço no Templo, deixando-se as sandálias à porta do mesmo. Nas
igrejas católicas... é visível a falta de escrúpulos de certas devotas, a falta de
compostura de certos moços, a falta de respeito à Santidade do lugar.
A maioria lá vai como que para assistir a uma representação teatral ou a
uma conferência quando há sermão ou com fins mundanos.
Como não ser assim, pois, se na torre os sinos repicam jazz-bands e
chulas carnavalescas, se no adro a charanga de circo remói polcas e tangos, se no
coreto se vendem leitões e o altar se torna um balcão, se na rua a garotada, aos
berros, corre atrás dos foguetes comprados com dinheiro de esmolas, que melhor
aplicados seriam para socorrer os famintos ou edificar escolas?
No Oriente, as romarias aos templos são acontecimentos profundamente
religiosos. No Ocidente, e especialmente no Brasil, as romarias são verdadeiras
festas ao deus Baco, são piores que as bacanais do Paganismo. Sem falar de outros
239 Vide Capa.
367
Estados, citemos só a Festa da Penha, do Rio de Janeiro, cuja orgia é bem
conhecida.
Já Ovídio, em Fastos, como que assistindo há dois mil anos a esta festa,
escrevia a respeito da de Ana Petronilha (Ana Perena):
"Nos Ides, é a festa genial de Ana Perena, não longe
das tuas margens, ó Tibre vagabundo. A plebe açode, e, cá e
lá, deitados sobre a relva verdejante, bebe-se e come-se, cada
qual com sua companheira. Uma parte permanece ao ar livre;
outra, arma tendas; alguns arranjam barracas com ramos de
árvores; outros espetam moirões à guisa de colunas e neles
penduram suas roupas. Entretanto, o Sol e o vinho aquecem
essas cabeças. Cada qual pede tantos anos de vida quantos
são os copos de vinho que esvaziam, cujo número se conta.
Alguns engoliriam os anos de Nestor pela série de seus
bródios, atingindo a idade da Sibila. Ali também se canta tudo
quanto se ouviu nos teatros e os gestos acompanham a letra;
depois, pousando a taça, executam danças grotescas, e a
companheira se esbate com a cabeleira ao vento. No regresso,
cada um vem cambaleando e os transeuntes que os vêem
passar, divertem-se e acham que são felizes".
O que se não pode contestar é que todos os adeptos das várias formas
de religiões existentes no mundo sejam eles israelitas, protestantes, bramanistas,
budistas, lamaísta etc. cumprem à risca os preceitos do culto interno, já cantando
368
seus hinos e orações diariamente às horas próprias, já fazendo suas abluções, já se
abstendo de carnes e bebidas alcoólicas, já realizando rigorosos jejuns, já repartindo
suas fortunas entre os necessitados. Nelas não há meios-termos, nem confissões,
nem perdões, nem indulgências, dispensados por procuradores do céu; quem
transgride suas leis morais, encontra em si mesmo a punição e se impõem certos
rigores psíquicos.
O pecador procura não recair no pecado, porque está persuadido que as
reincidências nulificam seus frágeis arrependimentos e o condenam às penas do
além. O católico, porém, reincide constantemente no pecado, porque está
convencido de que cada absolvição pelo sacerdote, que lhe permite aproximar-se do
altar para engolir Cristo em uma hóstia, e redime, tornando sua alma negra tão pura
como a de um anjo, seja ele, embora, o maior assassino ou o mais desprezível
recidivo.
O culto católico é tão contrário à eqüidade, que ele proclama que Deu-Pai
mandou seu Filho sofrer na terra, fez correr lágrimas a sua mãe, consente as
torturas infligidas em seu nome por um carrasco a quem não fulmina, impõe o
Espírito Santo a 12 homens quando devia fazê-lo à humanidade inteira.
O Catolicismo romano compreenderia, então, que se fez da doutrina que
o Cristo-Jesus pregou, um código político que só tem servido para irritar o mundo e
causado as antipatias que se verificam, de vez em quando, em certas nações e, por
fim, poderia exclamar como Saint-Yves:
"Sim, sou católico, isto é, universal, até o alto do Himalaia".
369
E, olhando, não para tão alto, mas para o cume do nosso Corcovado,
veria o Verbo Redentor, não mais como o Cristo Sofredor, pregado a uma cruz;
mas como o Cristo Glorioso, dispensando, por isso mesmo, o contínuo sacrifício,
em atitude de abraçar toda a humanidade sem distinção de raça, de cor ou de
crenças.
O Cristianismo primitivo teve quatro fases: o palestiniano, o pauliano, o
judeu-grego e o joânico.
A Igreja Apostólica ensinou a humanidade de Jesus; Paulo sua natureza
humana e João sua preexistência, sua divindade, terminando o Concilio de Nicéia,
por decretar sua deidade, o que causou o rompimento.
Entretanto, a diferença aparente entre o Judaísmo e o Catolicismo
reside, igualmente, no seguinte: o judeu crê no imenso valor da vida terrestre, ponto
final da alma e do homem; o católico crê no infinito valor da vida terrestre e só aceita
a vida do além, no céu ou no inferno. Se o judeu aprofundasse seus livros veria que
Moisés cogita esotericamente da alma, do espírito e da sua sobrevivência. Basta
citar Deuteronômio XXXIII, 1, 2: "O senhor veio do Sinai. Ele levantou-se sobre vós
de Seir. Ele apareceu no monte Faran240 e milhões de santos com Ele".
Entre esses milhões de santos, figuravam, provavelmente, os antigos
ortodoxos que foram espíritos terrestres.
Em Deuteronômio XVIII, 11: "Moisés proíbe terminantemente que seu
povo interrogue os mortos”, isto é, o espírito, o que denota que as religiões da
Antigüidade já se ocupavam de espiritismo, o que não pode ser contestada. Na
previdência desse teurgo, não convinha que seu povo, a que ele acaba de arrancar
da idolatria espiritual, se entregasse a essas especulações perigosas, que teriam
240 Referência a Rama
370
certamente desorientado aquelas fracas inteligências. Contudo, essas práticas não
deixaram de ser difundidas entre o povo de Israel, tanto assim que se vê o rei Saul
invocando, por meio da pitonisa, o espírito de Samuel que lhe apareceu (Samuel
XXVIII, 3, 7, 8, 9 etc.).
E que é a invocação dos santos do Catolicismo senão a invocação dos
espíritas?
O caso é que, em boa lógica, tanto o israelita como o muçulmano ou o
budista, ou mesmo o ateu, podem, perfeitamente, atravessar a existência sem entrar
em explorações metafísicas, procurando sondar a divindade, merecendo, por fim, a
recompensa com a condição de cumprir fielmente os simplíssimos dez
mandamentos que resumem a Lei de Deus, para os homens, lei em uso em
qualquer povo do mundo, desde que se adote a frase resumida do Espírito da
Verdade:"Sem Caridade não há Salvação".

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