Os Dez Mandamentos
A religião, síntese da ciência, revelada ao homem desde a mais remota
Antigüidade, de milhares de séculos antes que a Europa existisse, era fundada
numa incomparável moral condensada nos Shastras indianos, nos vedas, no
Bramanismo e no Budismo, e resumida, como sua quinta-essência, nos
simplíssimos dez mandamentos que, diz a Bíblia, Moisés trouxe do Monte Sinai.
Os vestígios dessa religião ainda se encontram mais ou menos puros e
textuais entre as tribos dos sertões da África e na Pérsia, que lhe conservam a
tradição.
No entanto, esses dez mandamentos não foram ditados nessa ocasião a
Moisés pelo Supremo Criador, como se depreende da história mal contada na Bíblia,
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visto que tais mandamentos já existiam na Índia milhares de anos antes de Moisés
subir ao Sinai.
Na Babilônia têm sido, igualmente, encontradas as mesmas sentenças.
Uma das provas de que o budismo, saído do Bramanismo, como o
Cristianismo saído do judaísmo, foi propagado muito além da Índia, é que, pela
cronologia organizada na China sobre os Budas, vê-se, 167 anos antes de Cristo, o
22º patriarca viajar até Forgana, na Bukkaria (Turquestão), a 400 léguas da Índia,
penetrar em outros países do Oriente até o Egito, segundo os estudos de A.
Rémusat.
Ademais, hão de convir que Jeová não iria se divertir com Moisés,
mandando que ele preparasse outras pedras para levá-las ao seu flamejante
escritório no Monte Sinai57, depois de ter quebrado as primeiras, em um rasgo de
aborrecimento com seu irmão Aarão, apesar de ser o mais manso dos homens,
conforme o próprio Deus disse. Contudo, quebradas que foram as primeiras, ainda
assim elas deveriam permitir, com um pouco de paciência, a leitura dos supostos
dez lacônicos artigos ali gravados, pelo próprio dedo de Deus, além da facilidade
que ele teria em decorá-los nos 40 dias que lá esteve, mesmo sem comer e sem
beber, o que vai de encontro às leis biológicas, principalmente a última. Hão de
convir, também, que Jeová é um gravador indolente, para levar tanto tempo em
gravar tão poucas palavras, que outro qualquer faria em oito dias. E verdade que ele
gravou com o dedo, o que não deixa de ser incômodo e magoante.
E, se dissemos acima, os supostos dez mandamentos, é porque, de fato,
não é possível encontrá-los na ordem e com a mesma literatura com que são
vulgarmente apresentados.
57 Êxodo XIX, 18
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Em Êxodo XX — É Moisés quem sobe ao Monte Sinai, a convite de Deus
e escuta os 19 artigos inseridos neste capítulo, dez dos quais, com alguma boa
vontade, constituem o que se convencionou chamar de Mandamentos da Lei de
Deus, e que abaixo reproduzimos; seguindo-se o capítulo XXI, que mais se
relaciona com o código civil. Não foi, portanto, nessa ocasião, que Deus gravou sua
Lei.
Só em Êxodo XXXII é que se vê Moisés subir ao Monte, de lá trazer as
pedras gravadas por Deus e quebrá-las, sem dar o conhecimento dos textos; mas,
em Êxodo XXXIV, 1, vemos Moisés subir, novamente, ao Monte com outras pedras,
em que Deus iria escrever sua Lei, repetindo, certamente, as mesmas palavras
que deveriam ter estado nas primeiras.
Ora, é claro que essa Lei deveria estar de acordo com a que verbalmente
Deus ensinou a Moisés. Entretanto, isso não acontece, porque os versículos 12 a 26
de Êxodo XXXIV, gravados por Deus, pela segunda vez, são absolutamente
diferentes do assunto de que tratam os referidos dez mandamentos conhecidos, não
se encontrando nele nenhuma das recomendações feitas verbalmente.
Diz C. F. Potter que o professor Charles Foster Kent completou os
trabalhos dos professores Bertheau, Evald, Dilman, Briggs e Paton, pela descoberta
de dez séries de dez mandamentos no Êxodo, cap. 20 e 23, no Deuteronômio e
Levítico 17 a 25. Mas, de fato, só há dois decálogos bem definidos e diferentes: o
habitual, de Êxodo XX, 1, 17, que se acha no Deuteronômio V, 6, 21 e o decálogo,
menos usado, de Êxodo XXXIV, 14, 26.
Daí se conclui, portanto, que os apregoados dez mandamentos da Lei de
Deus, ou, por outra, o Decálogo, não foi gravado, como se diz, em nenhuma pedra
por Deus.
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Esses dez mandamentos já existiam na religião brâmane e se dividem em
três espécies58:
1 °. Pecado do corpo
2°. Pecado da palavra
3º. Pecado da vontade
os quais se desmembram nos dez mandamentos pela seguinte forma:
Tabela 2
NOS VEDAS PARÓDIA DE MOISÉS
Do corpo:
I – Bater I – Pai e Mãe honrarás
(Avesta porta II)
II – Matar seu semelhante II – Não matarás
III – Roubar III – Não furtarás
IV – Violar mulheres IV – Não adulterarás
Da Palavra:
V – Ser falso (dissimulado) V – Não darás falso testemunho
VI – Mentir VI – Não mentirás
VII – Injuriar VII – Um só Deus adorarás
Da Vontade:
VIII – Desejar o Mal VIII – Não caluniarás
IX – Cobiçar o bem alheio IX – Não cobiçarás a mulher de teu
58 THEODORE ROBINSON – Introduction de l’histoire dês Religions – p.134
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próximo, nem seus bens
X – Não ter dó dos outros X – Amarás ao próximo como a ti próprio
Ora, se é verdade que o que aí fica dito, então isso provoca uma
formidável interrogação.
Quem mentiu?
Visto que, segundo a Bíblia, Deus chamou Moisés ao Monte Sinai para
gravar sua Lei, pela qual a humanidade, doravante, teria de guiar-se, Lei simplíssima
que se resume em dez lacônicos artigos.
Moisés falou com ele, diz a Bíblia, cara a cara, sem figuras, sem enigmas,
e perguntou-lhe uma vez, qual era seu nome: "Serei o que Serei" — "Eu Sou" —
"Jeová" em suma, segundo as notas59, lhe respondeu — "Não há outro Deus senão
eu, a quem adorarão sem figuras ou emblemas60".
Jeová não disse a Moisés que ele possuía três pessoas numa só, e que
um dia mandaria seu filho carnal para redimir o povo de Israel, mas que suscitaria
um profeta maior que ele.
Como vimos, portanto, pesquisando os livros védicos, lá encontramos
textualmente esses famosos dez mandamentos, o que não deixa de causar
perplexidade, colocando em dúvida a palavra de Deus.
Vem Jesus, que se intitula Filho do Homem, tal qual os profetas se
intitulavam profetas que ele considerava e venerava, em especial a Ezequiel e, como
tal, também se considerava, por sinal, que "mal recebido entre os seus". Cumpriu
essa Lei de Jeová, ensinou-a nas sinagogas aos discípulos e ao povo de Israel, a
quem vinha salvar. Diz que uma vírgula não se perderia até a consumação dos
séculos. Institui Pedro como chefe de sua doutrina, que ele diz, aliás, não ser sua.
59 Êxodo III, 14 — VI, 2, 3, 9.
60 ÊXODO XX, 4, 5.
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Ordena que todos obedecessem à palavra e aos ensinos dos escribas sentados na
cadeira de Moisés.
Surge Paulo e, após uma suposta aparição de Jesus, ab-roga essa Lei,
contende com os apóstolos, discípulos diretos do Messias e cria outra doutrina, a da
Incircuncisão, deixando Pedro com a da Circuncisão61, como se Jesus lhe tivesse
dito: "Quando vivo, julguei a Lei boa e verdadeira, agora, porém, que sou Deus, em
uma das três pessoas, vejo que estava errado; derruba, pois, tudo aquilo e arranja
outra doutrina a teu jeito". E foi o que fez Paulo, revogando a Lei, sofismando e
derrotando a doutrina do Judeu-Cristianismo de Jesus, de Tiago, seu irmão, de
Pedro, de João e dos outros discípulos.
Vem o Catolicismo, o qual, a seu turno, após 400 anos de um
Cristianismo mais ou menos puro, refunde tudo isso. Adota e não adota Pedro,
adota e não adota Paulo, adota alguns discípulos do Mestre e não adota outros por
contrários ou mentirosos, e, séculos mais tarde, novamente atira tudo nas
discussões dos Concílios e nas praças públicas, onde corre sangue a jorros e cria
dogmas, sacramentos e ritos não indicados ali, interpreta passagens a seu modo e
funda uma Igreja totalmente contrária à doutrina de Cristo.
Quem mentiu?
Jeová, enganando Moisés, gravando algo já conhecido de uma fantástica
maioria da humanidade, embora a essência, de fato, deva ter partido dele em
priscas eras?
Moisés, plagiando essa Lei, da Índia ou da Caldéia, e a impingindo a seu
povo, atribuindo sua gravação nas tábuas pelo próprio dedo de Jeová?
61 A circuncisão era um costume de higiene do primitivo culto fálico, do Deus Priapo.
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Jesus, cumprindo, mandando que se cumprisse e ensinando essa Lei de
seu pai Jeová?
Paulo, ab-rogando-a?
O Catolicismo, refundindo tudo?
Incontestavelmente, alguém há de ter mentido: ou Jeová, ou Moisés, ou
Jesus, ou Paulo ou o Vaticano.
Não há de fugir diante desse terrível dilema.
Pois, se foi Deus, de fato, quem decretou essa Lei, a ela só é que a
humanidade inteira se deveria cingir e a mais nenhuma, portanto, ou bem é a Lei de
Deus ou bem não é. Se é, deve se banir toda e qualquer idolatria, dogmas,
sacramentos e ritos de qualquer culto. E se Deus não instituiu essa Lei, que resta?
O embuste! Seja do Budismo, seja do mosaísmo, seja do Cristianismo,
seja do paulinismo, ou seja, do Catolicismo.
Fontes Mosaicas
Mas não foi só dos vedas que Moisés tirou o material para sua obra. Nos
numerosos documentos cuneiformes, achados agora na Babilônia, datando de mais
de 4.000 anos antes dele, do tempo dos acadianos e dos sumerianos e nos Livros
de Zoroastro, se encontram: a lenda da criação do homem no estado de inocência;
sua tentação pela serpente Thiamat, dragão do mar; a queda de Adamu, isto é,
homem negro oposto à virtude de Sarka, homem claro; a guerra dos deuses e dos
sete espíritos, análoga à guerra dos deuses e dos gigantes; o pecado do deus Zu,
roubando as insígnias de Soberano do seu Pai Elu, adormecido, protótipo da lenda
de Nôha (Noé) e Chãm (Cham), que Ferreira de Almeida traduziu por Cão, a
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corrupção dos homens; a construção de uma gigantesca torre na Babilônia,
causadora da cólera dos deuses; o dilúvio que durou 7 dias; a arca com um certo e
limitado número de animais; a pomba, a andorinha e o corvo que foram soltos etc.
etc.
No Manava-Dharma e no Zenda-Avesta também se encontra a lenda da
criação do mundo em sete períodos e o aparecimento do homem por último.
O Dr. Ch. Contenau, encarregado de Missões Arqueológicas na Assíria,
diz que, entre os inúmeros deuses citados, havia o denominado Ea, por apelido o
Deus oleiro, porque os caldaicos julgavam que os homens haviam sido fabricados
de barro por ele, sobre os quais esse Deus soprara o espírito de vida. Daí a
legenda de Moisés, do Adão feito de barro e do sopro em suas narinas.
Mais tarde, esse Deus passou a ser chamado de Marduk.
Mas, um dia, esse Deus arrependeu-se de ter criado o homem, que se
"havia multiplicado". Por quê? A parte do poema inscrito sobre outros tijolos ainda
não foi achada, o que, talvez, se dará um dia pelas incessantes sondagens feitas por
missões científicas francesas, inglesas, americanas e alemãs.
Mas, Ea, tendo-se apiedado do homem, revela ao seu servo
Udnaspishtim o projeto da destruição da raça humana, e aconselha-o a construir
um barco, cujas dimensões lhe fornece, a fim de nele se recolher, bem como sua
família e alguns animais. Assim o fez, e durante seis dias e seis noites, a
tempestade desencadeou-se espantosamente e depois amainou. Quando o barco
descansou em terra firme, ele saiu e ofereceu um sacrifício aos deuses.
Este episódio, escrito muito anteriormente à construção dos canais do
Nilo, refere-se, sem dúvida, às grandes inundações periódicas dos rios.
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Não só estas como a alusão da queda do homem depois de um estado de
inocência em um jardim de delícias, as árvores do Bem e do Mal e sua respectiva
serpente (Figura 7) etc., tudo concorre, hoje, para indicar uma origem muito mais
antiga que a Gênese.
E, de fato, segundo os estudos de Dupuis, essa origem é plenamente
verificável nos planisférios celestes62-A, organizados por academias de sábios, em
uma época inconcebível da História da Humanidade, e ainda hoje usados pela
moderna Astronomia63.
Esses mapas celestes serviam aos primeiros navegadores, tais como os
escandinavos, que já conheciam a bússola, os argonautas, Colombo, Cabral etc.,
para se dirigirem sobre o vasto e misterioso Oceano Atlântico, como eles o
chamavam.
Esses mapas, como veremos nas "Elucidações", são divididos por
constelações, isto é, por grupos de estrelas fixas, que são outros tantos sóis, aos
quais deram um nome tomado da nomenclatura terrestre, o qual não reproduzimos
aqui para não nos alongarmos.
O caminho percorrido pelo Sol foi dividido em 12 partes, chamado
Zodíaco, tendo em cada uma um animal ou objeto como símbolo, adaptado a cada
mês do ano. A circunferência foi dividida em 360 graus.
O hemisfério norte representa o Bem, por comportar as duas estações,
Primavera e Verão, em que a Terra se enfeita e o homem vive do seu produto. O
hemisfério sul representa o Mal, porque comporta as duas outras estações, Outono
e Inverno, em que a Terra se entristece e o homem luta para sua subsistência: são
62-A Origine de tous les Cultes — Tom. VII— 1835.
63 C. Flammarion — L’Astronomie Populaire.
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desses símbolos que as mitologias pagas e católicas fizeram suas famosas árvores
do Bem e do Mal.
Antes de Rama, a constelação que se achava no diâmetro oriental era a
de Touro e correspondia ao culto do Touranianos. Rama surgiu quando a
constelação do Carneiro ocupou aquela posição.
A analogia da Religião de Rama já está visível.
O Éden da Bíblia, que figura nesses planisférios, corresponde nos
estudos de J. B. Obry6464 ao Airyanem-Vaedjô dos persas, ao Gan-Eden dos
hebreus, ao Maha-Meren dos indianos, ao Kuen-Lun dos chineses, ao Bam-i-
Dunia dos tártaros manchus etc., e correspondem, também, ao planalto de Pamer
ou Pamir, cujos contrafortes são o Belug-Tar e o Indu-Kush, planalto radiante de
beleza, onde residia o Deus Brahma (Ba-Rama, o chefe celta Rama) e de onde
saíram os kushitas que mais tarde foram para a Itália, originando o termo Bac-Kush
(Baccus).
Segundo D. J. M. Henry65, a arca de Moisés, os altares, as tábuas da Lei,
os levitas, os ornamentos, as oferendas, os sacrifícios, a escolha das vítimas, as
impurezas legais, as purificações etc., são idênticos aos da Judéia e do Egito,
muitíssimo antes de Moisés.
A Arca de Moisés, chamada de Aliança, entre Jeová e o povo de Israel,
era uma cópia, embora portátil, do Tabernáculo de Tebas, capital de cem portas do
alto Egito, que floresceu numa adiantada civilização há cerca de 8.000 anos e centro
da religião de Rama. Em seus templos figurava o Náos, isto é, o Sacrário, sobre o
qual se via a estatueta de Ammon (Carneiro), que respondia às consultas do
Sacerdócio.
64 Jehovah et Agni.
65 L’Egypte Pharaonique - 1846
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Na Igreja Romana, vê-se o mesmo Sacrário e o Cordeiro. Na Arca de
Moisés, essa estatueta é substituída por uma mesinha, que a Bíblia chama de
Propiciatório, confirmando, assim, a proibição de idolatrar imagens.
O lugar da misteriosa consulta, chamado na Bíblia, Santo dos Santos, é
idêntico ao que existia em Tebas.
Na Igreja Romana é o altar.
Essa Arca, segundo Lenormand, media 1,75 x 0,80 m de altura e de
largura.
Os dois querubins emblemáticos, de asas estendidas da Arca de Moisés,
cujo termo em hebraico significa Touro, símbolo da potência criadora de Jeová,
tinham a mesma analogia da estatueta de Ammon com cornos (Carneiro); por isso
Moisés é representado com esses adornos. A própria Bíblia consigna que o Eterno
(Jeová) ameaça seu povo com seus cornos.
Ora, será admissível que Jeová tivesse ordenado a Moisés a construção
dessa Arca, copiando-a do culto de Ammon? É mais verossímil que esse legislador
tivesse recebido nos templos de Jetro, onde se iniciou o plano dessa Arca,
construída, como era, com ouro, prata, bronze etc., servindo, de acordo com a
formidável ciência de que era detentor, de poderoso acumulador elétrico.
É sabido que a atmosfera, em certas regiões do globo, como no Canadá,
é carregada de fluidos elétricos de tal natureza, e em tão grande quantidade, que
uma pessoa pode acender um bico de gás simplesmente com a ponta do dedo.
No Egito, então, essa propriedade ainda é mais notável, em decorrência
da secura do ar. Não é, pois, de estranhar que sábios magos, como Moisés,
conhecessem essa força da natureza e que este tivesse sabido captá-la em seu
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formidável acumulador, para aplicá-la em certas oportunidades, quando seu povo
recalcitrava ou contra inimigos em batalha.
As extremidades das asas dos querubins de ouro recebiam o potencial
atmosférico positivo e o condutor inferior, que residia nos varais, que se
comunicavam com o solo, o negativo.
Segundo rezam os livros da Índia, Semiramis, rainha da Babilônia tentou
uma vez invadir esse país com um exército de dois milhões de homens. Os magos,
unicamente por meio dos fluidos elétricos, derrotaram seu exército, obrigando-a a
transpor o rio Brahma-Putra, que, nesse lugar, ficou amaldiçoado até hoje, razão por
que indiano algum o atravessa.
Na história da Grécia encontra-se o mesmo emprego dessas forças para
derrotar um exército invasor.
Houve até Pontífices fulminados pelo raio, quando, mal isolados,
invocavam o fogo celeste: Invocare fulmine, cogere fulmine, diz a frase latina. Foi
pela mesma razão que Zoroastro foi fulminado.
No catecismo da China, este fato está consignado quando o aluno,
respondendo ao mestre, diz que havia armas de fogo usadas pelos seus
antepassados, que matavam mais de dez e mais de 100 pessoas de uma vez, e
armas fluídicas que matavam mais de 1.000 de uma vez, mas só conhecida dos
sábios.
Esse incomparável legislador, que tinha à mão toda essa documentação,
nos templos de Jetro, Pontífice em Midiam, condensou e adaptou essa tradição da
Índia, da Pérsia e da Caldéia, em cinco livros de dez capítulos cada um, os quais se
chamam Gênese.
Moisés não ensinou nenhuma nova religião.
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Ele foi o editor responsável, na frase de Nicolas Notovitch66, da religião
natural, tal como era praticada desde o começo da humanidade, e a prova disso é
que, ele mesmo, se refere aos livros escritos antes de ele nascer e nos quais fora
buscar seus conhecimentos.
Moisés foi o primeiro que fez dessas doutrinas um facho e o transmitiu à
posteridade, os profetas conservaram-lhe a chama e Jesus com ela iluminou o
mundo.
Se dissemos anteriormente serem cinco os livros de Moisés, é porque os
outros que, comumente, chamam-se Pentateuco, foram escritos por seus
sucessores e não por ele; e, se dividimos o Sepher-Baereschit, de Moisés, isto é,
seu Livro dos Princípios, conhecido por Gênese, em 50 capítulos, é porque cada
um dos dez capítulos constitui, de fato, um livro tratando de uma matéria, como, por
exemplo, os 20 primeiros que tratam dos Princípios.
Swedenborg67 diz que os sete primeiros capítulos da Gênese pertencem à
antiga Palavra, e que não lhe falta uma só palavra. Essa Palavra foi perdida.
Em suma, nisso como em tudo, Moisés nada mais fez do que seguir o
método dos seus antecessores, iniciado como era em toda a Ciência dos egípcios,
segundo confirmam os Atos dos Apóstolos, VII, 22.
São os:
5 — Pandchavedam de Krishna
5 — Zenda-Avesta do 1 °. Zoroastro
5 — Kings de Fo-Hi
5 — Dyanas de Asi-Buda, do Oriente
5 — Boddishavitas
66 La vie inconnue de Jesus.
67 Escritura Santa, 10.
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5 — Grau de Sabedoria — Siu-Tu do Extremo Oriente
5 — Grau do Sacerdócio Druídico.
A língua de Moisés era a dos Faraós, e os hieróglifos formavam uma série
de símbolos.
Para condensar esses conhecimentos em uma obra mortal, como de fato
ela é, ele organizou um alfabeto moldado sobre o aramaico e, genialmente,
escreveu sua Cosmogonia com três sentidos distintos sob a mesma grafia, um
simbólico para seu povo de seis milhões de almas68, outro ideográfico para os
iniciados, de que faziam parte os levitas ou Casta Sacerdotal e, outro hierogramático
para os Magos, como Aarão, Eliezer e mais tarde Josué, mas que só podia ser
compreendido por meio de uma chave, que Saint-Yves diz ser a letra E.
Há três modos, pois, para ler Moisés:
Verdades Sensíveis e
Inteligíveis
68 Números 1. 45: "Os contados aptos para a guerra foram de 603.550, de 20 anos para cima". Um
exército c mais ou menos composto de um décimo da população.
Grau
superl
ativo
Intelect
ualismo
científi
co
Grau
compar
ativo
Sintetis
mo
cientifi
co
Grau
positi
vo
Elementa
rismo
científi
co
Fenômenos
Leis
Princípio
s
91
Figura 5
Este modo de escrever era peculiar a todos os templos da Antigüidade, e
não escreviam de outra maneira. A mesma palavra tinha três sentidos, baseados na
matemática quantitativa e qualitativa.
O primeiro sentido refere-se à Androgonia, e, como tal, era lido e
comentado ao povo por Moisés mesmo de sete em sete anos e mais tarde uma só
vez por ano.
Daí as expressões de Adão e Eva, Caim e Abel, Abraão e Jacó etc.,
como personalidades de carne e osso, mais acessíveis às acanhadas inteligências
daquele povo do que complicadas frases científicas e é isso que constituía os
famosos Mistérios de todas as Iniciações.
Fosse Moisés dizer ao povo que Caim era o Princípio da Força
compressiva e adstringente, que agiu na nebulosa da Terra em formação,
subjugando, ou antes, matando Abel que é o Princípio da Força expansiva e
evolutiva, ou por outra, a luta das Forças centrípetas e centrífugas, de onde nasceu
o terceiro termo Seth, isto é, o resfriamento do Globo, certamente esse povo nada
entenderia. Caim, cosmogonicamente, representa o fogo subterrâneo e Abel, o fogo
etéreo.
Caim, sociologicamente, representa o povo agricultor e Abel, o povo
pastor.
É como se disséssemos a um ignorante: Dê-me um copo de H2O (água),
ou um médico, um jurisconsulto, um engenheiro, empregasse sua tecnologia
algébrica para explicar um fenômeno a um analfabeto.
92
O segundo sentido, como acabamos de ver, se relaciona com a
Cosmogonia, isto é, com a Ciência ou o Sistema da formação do Universo, e era
destinado aos iniciados, aos que se dedicavam aos estudos astrológicos. A chave foi
descoberta por Dupuis em sua citada obra.
O terceiro sentido pertence à Teogonia e, como seu nome o indica, era
destinado ao estudo acerca de Deus.
É, pois, no segundo sentido que se deve ler a Bíblia, isto é,
cosmogonicamente e não cosmograficamente como está traduzida, e assim mesmo
munido da respectiva chave.
O nexo e a verdade surgem com um brilho intenso e não deixam margem
à dúvida, que tem motivado as exegeses e as exóticas interpretações de tantos
cultos diferentes.
Essa chave só agora foi descoberta, mas talvez sejam precisos ainda
alguns anos para que homens de boa vontade façam-na funcionar para o bem da
humanidade.
Este alfabeto de 22 letras não era empregado pelo povo selecionado por
Moisés, na maioria analfabeto, nem pelos sacerdotes, pois tal multidão, seis vezes
maior que a da Capital do Brasil, só falava egípcio, aramaico ou fenício, tal qual seu
legislador, e escrevia com seus alfabetos demótico e hieroglífico, usados em todo o
Egito.
Max Müller diz que a língua dos judeus não diferia da dos fenícios, dos
moabitas e de outras tribos, senão de um modo pouco sensível.
Esse alfabeto só serviu para Moisés condensar aqueles conhecimentos
naquela obra, de modo a ser compreendido só por ele e pelos iniciados e nada mais.
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Jamais aquela legião de almas, idêntica a de Paris ou a de Londres, falou
hebraico, porque, para uma língua ser falada por um povo, é preciso que este esteja
constituído em corpo de nação, e tal não se deu com aquelas tribos que eram todas
egípcias e sujeitas a um poder organizado.
Jamais, tampouco, existiu outrora nação hebraica em parte alguma do
mundo e ainda menos povo hebraico.
Uma parte do povo egípcio, não todo, exatamente aquela que despertou a
escolha de Moisés, era constituída de descendentes de antigos celtas, bodhones,
isto é, errantes, por isso andava sempre de um lado para o outro, a fim de fugir ao
fisco e não se submeter à política de nenhum governo69.
Esta parte não mais falava sua língua originária, pelos séculos decorridos,
tendo adotado forçosamente a egípcia ou a dos países em que vivia.
Daí dizer Moisés várias vezes: "Lembra-te que eras estrangeiro quando
saíste do Egito", o que não admite sofisma70.
Para que uma língua possa morrer, basta que os pais não a falem a seus
filhos; eles mesmos a esquecerão ao cabo de alguns anos.
A palavra hebreu vem de Ebyreh, pequena localidade da Pérsia (I-Ram),
hoje Irã, onde Rama instalou-se com o povo céltico que trouxera da Europa,
juntamente com o de Thor (Touraneanos).
E, como já sabemos que Rama significa Carneiro (Arie), daí o motivo de
chamar-se este povo — gente de Arie — os arianos — sem que isso constitua raça,
como erradamente se propala nos dicionários.
Mas como a História Universal e as Enciclopédias em voga limitam suas
pesquisas somente dos medas (a antiga Pérsia) para cá, encobrindo os
69 Esdrai IV, 12, 13.
70 Levítico XIX. 34 - Deuteronômio X. 19.
94
acontecimentos anteriores sob o rótulo de "Eras heróicas", ou desvirtuando o sentido
das palavras, de acordo com o programa religioso dos seus editores, não há que
admirar ter-se também criado uma lenda, baseada numa Raça Semítica, como
descendente de Sem, suposto filho do suposto Noé, da qual fizeram alguns originar
o povo israelita, quando, de fato, ele descende da Ceutida européia.
Mais tarde, Daniel (Pontífice) e Esdras (escriturário), por ocasião do
cativeiro dos hebreus na Babilônia, procurando reconstituir o texto do livro achado, a
Tora (a Lei), serviram-se de um alfabeto caldaico, ou, mais exatamente, assírio, que
é a atual escrita hebraica, dita quadrada, e, auxiliados pela sacerdotisa Olda,
procuraram fonetizar os hinos para serem cantados, inventando, então, a pontuação
chamada massorética, que constituiu, com o tempo, o que se convencionou chamar
de língua hebraica, língua, aliás, falada hoje de diferentes modos pelas várias tribos
esparsas pelo mundo. Foi uma espécie de Esperanto mal organizado.
Esse novo alfabeto dito hebraico tem as mesmas 22 letras do primitivo
organizado por Moisés, que corresponde às 22 do vattan (adâmico); porém, suas
correspondências científicas foram modificadas, tornando-se o que elas são hoje no
Sepher-Ietsirah.
Como pequeno exemplo citaremos algumas dessas modificações que,
decerto, serão bem apreciadas por cientistas hebraicos, e cujo maior
desenvolvimento encontrarão na revista La Gnose de Set./Out. 1910.
Permutaram e , de modo a substituir o termo (Asoth), formado
pelo conjunto das três letras constitutivas (A S T h), que descrevemos mais adiante,
por (Emesh).
95
Permutando-se somente e tem-se o termo (Emeth) que,
em hebraico, significa Verdade. Lendo-se da esquerda para a direita o termo
(Emesh), este termo passa a ser Shema, outra forma do termo Shem. ( ) o
Nome, designação do Nome por excelência, do Nome que contém Iodos os Nomes,
isto é, o Tetragrama Divino.
Curioso, também, seria mostrar aqui que esta língua, ou pelo menos seus
termos litúrgicos e científicos, têm muita semelhança com o sânscrito, conforme
dizem Bopp e Saint-Yves. Isso, porém, nos desviaria da rota por demais
ziguezagueante, se bem que fosse incalculável o serviço prestado a israelitas e
judeus que em tal não acreditam.
Eis as fontes em que Moisés bebeu.
Filiação de Moisés
Mas, quem foi Moisés?
Na Bíblia71 diz-se que Moisés é filho de Amram (Am-Rama), Ordem de
Rama, e de sua mãe Io-Ka-Bed, isto é, o Santuário de Io ou de Ísis, sendo A-Ram
(Aarão) seu irmão72, o que prova, irrefutavelmente, que não se trata aqui de filiação
carnal, porque então a lenda da cesta do Nilo ficaria, ipso facto, desfeita; mas, sim,
da filiação intelectual do templo que o iniciou.
Se Moisés tivesse sido filho enjeitado de alguma hebréia, decerto o Faraó
não teria, como diz a Bíblia, mandado sua filha educá-lo, pois é sabido que os
71 Êxodo VI, 2 — Parte escrita pelos seus sucessores.
72 Êxodo XV, 20 — "... e Miriam, a profetisa, irmã de Aarão..." portanto, irmã de Moisés. Aarão e
Moisés tiveram filhos; os de Aarão sobressaíram, os de Moisés ficaram na penumbra.
96
egípcios tratavam este povo escravizado sem nenhuma benevolência e tê-lo-ia
misturado com seus domésticos, tanto mais considerando-se o espírito de castas
que animava esse povo.
Ademais, essa história da cesta embebida de asfalto e jogada ao Nilo com
Moisés dentro é uma cópia da vida de Sargão I, rei de Sumer e Akkad, que viveu
2500 anos a.C. e, portanto, antes de Moisés. Assim ele descreve sua vida gravada
em um tijolo de barro: "Não conheci meu pai; minha mãe me concebeu e me deu à
luz secretamente e me depositou em uma cesta de junco à beira do Eufrates. Cobriu
a abertura da cesta com asfalto e a fez descer pelo rio e as águas não me cobriram.
E o rio me levou para o poço d'Akki, o jardineiro. Este, na sua bondade, me fez sair
da cesta, me criou como seu filho e fez de mim também um jardineiro73. Foi então
que a deusa Istar inclinou seu coração para mim".
Mas por outro lado também lê-se uma legenda idêntica, no Mahabharata,
da Índia, escrito muito anteriormente à existência de Sargon I, e, portanto, de
Moisés:
"Kunti ou Prita, filha de um rei, foi amada pelo deus
do Sol que lhe deu um filho. Envergonhada e receosa da cólera
do pai e da mãe, de cumplicidade com a serva, ela colocou o
menino sobre um travesseiro mole, em uma cesta de vime,
estanque, coberta de fazenda e, com lágrimas nos olhos, o
abandonou no rio Asva”.
“A cesta seguiu o curso do Gange e aportou na
cidade Champa, no território de Suta. Um casal sem filhos que
73 Era uma figura simbólica ou de retórica, significando um Sábio
97
por ali passava, vendo a cesta a recolheu, tirando dela um lindo
menino; belo como o Sol, revestido de uma armadura de ouro,
com as orelhas ornadas de ricos brincos o criaram. O rapaz, ao
qual deram o nome de Kama, tornou-se um poderoso Chefe".
Analisemos, agora, a personalidade de Moisés, de acordo com a própria
Bíblia em que lhe relatou a vida.
Para isso, reproduziremos aqui a resposta que tivemos a honra de dar ao
Rmo. Sr. D. C. S. de Presidente Soares, em Minas Gerais.
"Diz V. Rma, que publicamos: 'Não conhecer
Moisés, nem mãe e ainda menos pai; e aponta a Bíblia em
Êxodo VI, 20. — Num.: XXXVI, 59, que proclama Amram e
lokabed como tais'. Pergunta V. Rma, se isso não seria de
nossa parte uma interpretação absoluta de Ex: 2 sem consultar
as devidas referências?"
Respondemos: Não!
Visto que assim reza a Bíblia:
Ex: II, 1. — "E foi-se um varão da casa de Levi e
casou com uma filha de Levi."
98
Se casa, naquela época, não significasse Tribo, Colégio, Academia,
Universidade, Ordem, Congregação etc., isso implicaria um casamento
consangüíneo.
Os nomes do varão e da filha são ali omissos.
Ex: II, 2 e 3. — Esta mulher pariu um filho, escondeu-o, colocou-o em uma
cesta betumada, colocou-a no rio e deixou-a seguir à mercê da sorte.
Uma filha do Faraó o recolheu, entregou-o a uma hebréia, como sendo
vagamente a própria mãe, se não para servir-lhe como tal, a qual o amamentou, e,
quando o menino já era crescido, sem a menor dificuldade ou apego materno, caso
fosse a mãe, o entregou à sua salvadora que lhe pôs o nome de Moisés, pois,
decerto, V. Rma, convirá que, mesmo que fosse achada a mãe na tal hebréia, como
diz Ex: II, 8, a história, aparentemente tão meticulosa nessa questão de genealogias,
não deixaria de ter consignado o nome dessa mãe e, conseqüentemente, o do pai.
E, pois, evidentíssimo que, até agora, não se conheça pai e mãe de
Moisés.
Mas, Ex: VI, 20. — Num: XXVI, 59, diz: que a mulher de Amram foi
lokabed, que era filha de Levi, a qual pariu Aarão, Moisés e Miriam, o que
explicaria Ex: II, 1, isto é, que a filha de Levi foi lokabed; mas, se Moisés é filho da
tal hebréia, deixa de ser filho de Amram e lokabed e, assim, Aarão e Miriam
passam a ser filhos da mesma hebréia e não de Amram e lokabed; e, se Moisés,
Aarão e Miriam são filhos da mesma hebréia e não de Amram e lokabed, a lenda da
cesta do Nilo é uma fantasia, bem como o da suposta hebréia sem marido. Quanto
ao varão Amram, marido de lokabed, só se sabe que ele era oriundo de Kohath, da
família dos Koahtitas e que morreu com 137 anos, igualmente como Levi. (Ex: VI, 20
— VI, 16.)
99
Ademais em Ex: VII, 7, verifica-se que Aarão era mais velho três anos do
que Moisés, o que complica o seu nascimento de uma hebréia!
Não lhe parece claro?
Mas, sabendo-se que todos esses nomes não se referem a
personalidades de carne e osso, mas que são hierogramas simbolizando Patriarcas,
Pontífices, Princípios sociológicos ou teológicos, fácil se torna a leitura do primeiro
sentido em que se acha escrita a Bíblia, e mais fácil compreender-se a longevidade
inconcebível de certos personagens que, mesmo em idade inaceitável, pela Ciência,
iam procriando filhos e filhas, mesmo depois de falecidos (Gênese XI, Li e
seguintes), Tomemos, por exemplo, uma dessas Congregações, a de Jacó: —Ya-
Kob por si só significa movimento aparente sobre o Centro oculto, — Revelação
sobre a Base — modulação sobre a tônica.
Ele tem seis filhos, como Abraão, cujos nomes desmembraremos em
sílabas, dando-lhes seu valor próprio nas línguas então faladas:
I - Ru-bem, que significa Videntes filiados.
II - Sim-Eon, que significa Olfativos, sensitivos, fluídicos internos.
III - Lev-I, que significa Associados no amor ou na Simpatia em Iod, o Deus macho,
o Princípio Dórico.
IV- Jud-A, que significa Machos multiplicadores do Centro ou do Princípio —
Decadários da Mônade — Extensores do ângulo universal.
V - Is-Sach-Ar, que significa manifestantes do Princípio Fogo.
VI - Zab-Ulon, que significa Ordenadores do Elemento Princípio da Substância
Primitiva.
100
Desse modo vê-se que Am-Ram, o suposto filho de Kohath, significa o
Sacerdócio de todos os países ortodoxos, a Tribo de Levi, a Casta Sacerdotal, como
claramente ainda se vê de Ex: III, 15 em diante.
Senão, vejamos ainda:
Em egípcio primitivo, em hebraico e em árabe, Am significa origem,
descendência, família, mãe, metrópole, regra.
Em árabe, essa raiz exprime ainda a ação de servir de tipo e de modelo,
de regular e de metodizar, de ser ou ter um princípio ou uma causa.
Logo, no hierograma de Am-Ram, Moisés significa hermeticamente a
quem o possa compreender, que ele é o herdeiro da tradição teocrática e social de
Rama por Io-Ka-Bed, isto é, pelo Santuário de Io ou de Ísis.
Agora, eis aqui os elementos hierogramáticos de Io-Ka-Bed:
Em ideografia egípcia, Io exprime, no positivo a Lua, no comparativo a
doutrina e no superlativo a inteligência manifestada.
A mesma raiz exprime em cota, a Lua, em árabe o Sol, os árabes
propriamente ditos, filhos da serva ou do princípio feminino desligado, segundo a
alegoria assaz injuriosa dos ortodoxos, tendo do cisma de Irshu tomado o partido
pela inversão dos atributos, como os touraneanos, os tártaros e os mongóis, daí o
crescente lunar sobre os estandartes. Os germanos e os chineses adotam o mesmo
sistema.
Ka exprime propriamente um lugar, no figurado um ajuntamento, no
intelectual puro uma condensação, uma formação.
Em árabe, esse sinal indica ainda uma ação de reunir em volta por um
apelo.
101
Bed, raiz céltica do termo bodhone, sem leito, exprime um leito, no
figurado, um isolamento, no intelectual uma existência particular.
Em árabe, essa raiz afeta ainda a significação mista de meio.
É, pois, por meio da condensação de doutrinas de que os templos de Ísis
eram os Institutos, que Moisés reencontrou a tradição de Rama e é assim que,
semelhantemente à Ordem dos Abramides, Melquisedeque* era um dos Pontífices,
ele se religa à regra, à Lei pura do Carneiro ou do Cordeiro.
Nessa pequena excursão pelo bambual da Bíblia encontramos mais:
Num: III, 17 — Ex: VI, 16... que um dos filhos de Levi se chama Gerson.
Mas, Ex: II, 22 diz que Zéfora, mulher de Moisés, pariu um filho, a que
chamou Gerson, porque, disse: Peregrino fui em terra estranha. Ora, se esse nome
tivesse essa significação, o Gerson de Levi também deve significar a mesma coisa,
o que se torna uma anomalia porque Levi não foi peregrino em terra estranha,
mesmo porque Levi é uma Casta Sacerdotal, a casta dos levitas.
Ex: IV, 2 diz que Moisés teve filhos, os quais não tiveram a importância
que os de Aarão, seu irmão.
O nome de iniciação de Moisés, no templo do seu sogro Jetro, foi Assar-
Shiph e tem muita significação, como já vimos.
De onde resulta que Moisés não foi filho carnal, nem de hebréia, nem de
Amram e Iokabed; mas filho espiritual, filiado e iniciado nesses templos e
categoricamente declarado ali o depositário da Religião de Rama por Am-Ram, Ab-
Ram e pelo último Pontífice da Ordem, o famoso Melquisedeque.
Ordem de Melquisedeque
* N. do E.: A respeito de Melquisedeque, sugerimos a leitura de O Arcano da Transmutação —
Melquisedeque, de José Ebram e Wagner Veneziani Costa, lançamento da Madras Editora.
102
Ab-Ram (Abraão), ou anteriormente o homem que personificava a
Academia ou o Templo de Rama, ou melhor, o Princípio Religioso, já que ele era
pontífice em Uhr, não se conformando com a anarquia reinante na Babilônia,
resolveu de lá retirar-se com seu Colégio, ou seja, sua Congregação.
Nessa retirada, passando por Salém (cidade da Paz), hoje Jerusalém, no
monte Tabor, ficou muito admirado de ainda encontrar um Pontífice da sua Ordem,
pois a perseguição implacável do ionismo havia dizimado grande número de sábios
(magos), destruindo seus Colégios, de onde a explicação de não se conhecer
genealogia e ainda menos parentela, isto é, colegas pontífices, que não mais eram
eleitos nos templos, e não pai ou mãe ou primos ou causa que valha, como se
traduziu nas Bíblias correntes (Gênese XIV, 18 e refer. Hebreus, VII, 1 — V, 6 — VII,
1, 10).
Com ele comungou sob as espécies de pão e vinho, tal qual o fará mais
tarde Jesus e como o faziam há dez mil anos os Pontífices da Etiópia, pagou o
dízimo da Ordem e seguiu viagem; assim diz qualquer Bíblia e assim é ensinado
pela Igreja Católica, o que prova que Melquisedeque lhe era superior em categoria.
Esse pontífice, cujo nome, ou antes, cujo título usado por seus
antecessores era Millik-Shadai-Ka, corrompido pelas traduções em Mil-chi-Se-deka,
que significa Rei de Justiça, era um dos últimos sobreviventes filiados à Ordem
de Rama, ali deixado o primeiro por aquele reformador, na ocasião da tomada
daquela cidade.
Ora Abram (Abraão) chamava Deus de Senhor Jeová (Gênesis XV, 8);
logo, o Deus de Melquisedeque devia ser o mesmo, e esse Deus seria o de Rama,
conhecido na Caldéia como já vimos.
103
Se, por um lado, Abraão curvou-se a Melquisedeque pagando-lhe o
dízimo da Ordem, é claro que Jacó e seus descendentes eram todos filiados à
mesma Ordem de Rama (de Ab-Ram) como claramente se verifica no Pentateuco.
Por outro lado, Deus (Jeová) fez um pacto com Abraão e prometeu tornar
sua geração tão grande como os grãos de areia (Gen: XII, 2, 3).
E, se Jeová não mente, esta é que deve ser a religião da humanidade.
Ora, sendo Moisés o depositário das tradições e da religião de Abraão; e
se Davi, os profetas e o próprio Paulo repetiam que o Messias havia de ser o
Pontífice Eterno, segundo a Ordem de Melquisedeque; e se Jesus venerou, de
fato, como dizem os Evangelhos, Abraão, Jacó, Davi, Moisés e todos os profetas,
será possível restar a mais leve dúvida acerca da religião de Jesus, que ele mesmo
não cessava de frisar, dizendo que a doutrina que prega não era sua, que vinha
cumprir as escrituras sem faltar uma vírgula, e que ela perduraria até a consumação
dos séculos?
Para mostrar o que significava naquela época ser Rei de Justiça, ser
Millik-Shadai-Ka, ou seja, Melquisedeque, damos em seguida a tradução feita por
Cabas, do Papiro de Torino, encontrado ultimamente no túmulo de Tutankhamon*,
faraó, rei de Tebas, que viveu há cerca de 3.350 anos. Diz ele:
"Eu puno os criminosos. As palavras que os homens
proferem não as conheço, mas vejo suas ações. Ora, pois, eu
digo: Tende ânimo, livrai-nos de castigar o inocente, eu estou
com os Reis de Justiça. Mas, qualquer coisa que tenha sido
feita, que aquele que a fez, a veja cair sobre sua cabeça. Eu
* N. do E.: A respeito desse assunto, sugerimos ver também As Profecias de Tutankhamon — O
Segredo Sagrado dos maias, egípcios e maçons, de Maurice Cotterell, Madras Editora
104
protejo... e estou com os Reis de Justiça que estão presentes
perante Amon".
"Amon quer dizer: Lei do Carneiro — Lei de Rama.
Amon era o Verbo dos egípcios e sua palavra é textualmente
encontrada no Evangelho de João."
"A luz, diz o Pimander73−A sou eu, Deus
Pensamento, mais antigo que o Princípio Úmido que surgiu
brilhante do seio das trevas, e o Verbo radiante do pensamento
é o Filho de Deus e o Pensamento é Deus-Pai; ele não está
separado, pois, sua união é a Vida."
"Amon era a luz revelada, o Verbo divino e, como tal,
segundo Jamblique, era representado nos mistérios do Egito."
"A revelação personificada e separada da divindade
pelo pensamento tornou-se o Filho de Deus; Hórus, filho de
Osíris e de Ísis, nasceu da união do espírito e da matéria, como
o Verbo da religião dos persas, Honover e como Jesus do
Cristianismo."
Swedenborg74, o fundador da Nova Jerusalém, assim se exprime: "É
evidente que tivesse havido entre as nações antigas um culto divino semelhante ao
culto instituído por Moisés na nação israelita." Que esse culto tivesse existido
mesmo antes de Abraão, isso parece resultar da palavra de Moisés (Deut. XXXII, 7,
8) e mais evidente torna-se pelo fato de Melquisedeque, rei de Salém, ter
apresentado pão e vinho e ter abençoado a Abraão e este ter-lhe pago o dízimo da
73−A PIMANDER — Séc. V e VI.
74 Escritura Santa, 101.
105
Ordem; e pelo fato de Melquisedeque representar o Senhor, pois ele é chamado
Sacerdote do Altíssimo e Davi diz: "Tu és sacrificador para a eternidade segundo a
Ordem de Melquisedeque".
A cidade de Salém era ocupada em sua origem quase que
exclusivamente por mulheres, antigas druidas celtidas, tendo os homens como
escravos e se cognominavam de amazonas (Hamas-Ohne), que significa Sem
macho.
No Bundedesh, Zoroastro diz que elas habitam a cidade de Salém.
Os indianos chamam esse país das amazonas de Striradjya.
Essa palavra compõe-se da raiz mãs em latim, maste em francês antigo,
maschio em italiano, moth em irlandês. Ohne é a negativa, de onde mas-ohne, ao
que o fenício aplica o artigo ha, dando, portanto sem macho75.
As amazonas do Brasil (e isso é assaz curioso para provar mais uma vez
a aproximação dos continentes) têm a mesma origem européia, pois eram mulheres
brancas e guerreiras e se denominavam amazonas. Daí o nome dado pelos
primeiros descobridores da América àquele pedaço do Brasil.
Portanto, quanto mais se aprofunda a História, auxiliado pela chave e
pelas línguas antigas, confrontando-se os livros de vários povos, mais convencido se
fica de que Abraão (Ab-Rama), cujo nome pessoal não foi conservado pela tradição,
por não ter isso importância alguma, como não têm importância para a posteridade
os nomes pessoais dos Diretores de nossas academias, era o representante da
Ordem de Rama, era seu Pontífice, de cuja doutrina Moisés foi o depositário e Jesus
o herdeiro que a transmitiu à humanidade.
75 Fabre d'Olivet — Histoire Philosophique du Genre Humain — T. I, página 175.
106
Ademais, basta ler o cap. XXII da Gênese para ver qual era sua religião,
na qual o Carneiro e o Cordeiro são as principais figuras simbólicas, já usadas na
Caldéia, no Egito inteiro e na Pérsia. A Bíblia está cheia desse simbolismo, a
questão é lê-la fazendo comparações como a que, imperfeitamente, temos feito.
Da genealogia posterior a Abraão, foi surgindo uma infinidade de nomes
de Pontífices, de Melquisedeque, como os de Isaac, Jacó, Davi, Salomão etc., sem
que, entretanto, esses nomes signifiquem entidades de carne e osso, como mais
adiante provaremos; mas, positivamente, Princípios científicos ou sociológicos,
como pode ser verificado em Saint-Yves, até o aparecimento de Moisés.
. É muito natural, pois, que enquanto não se estude aquelas obras que se
afastam completamente de tudo quanto se tem escrito a respeito, por enfrentarem o
terreno puramente científico e não metafísico, continue a perdurar a errônea
interpretação de representarem todos os nomes citados na Bíblia, personalidades de
carne e osso.
Hoje, porém, a crítica moderna, baseada na ciência, e todos os credos,
inclusive o católico, estão de acordo em reconhecer essa verdade — é, pois, de
admirar, que ainda haja intelectualidades que se aferram à letra; mas esses são os
que têm olhos e não querem ver, têm ouvidos e não querem ouvir; eles lá sabem por
quê.
O próprio termo fornicação freqüentemente ali empregado é tomado por
eles no sentido lúbrico, quando significa simplesmente apostasia, isto é, passar para
culto contrário.
Maria e seu filho Jesus
107
Na escolha, por ordem de Deus, de um povo apto a conservar essa
tradição, já completamente esquecida e desvirtuada pelos inúmeros cultos
introduzidos no Egito, pela série de Faraós76, dentre os quais se destacaram os
Ramsés (Ram-Shes), filiados à Ordem de Rama, Moisés, organizou a corporação
sacerdotal dos levitas (tribo de Levi) com seus Colégios masculinos e femininos77,
de onde saíam os profetas e as profetisas, ou seja, sacerdotes e sacerdotisas, como
a filha de Aarão etc.
E de um destes que, cerca de 1.500 anos depois, sairá Maria, mãe de
Jesus.
Como sacerdotisa dos templos mosaicos, pertencendo a uma família de
sacerdotes, e, em virtude da predição feita por Moisés78, a respeito da futura vinda
de um profeta maior do que ele, de um Messias, ela só via em pensamento o
Salvador do Mundo, e, mais especialmente o libertador do povo de Israel; ela o
concebia espiritualmente, como o concebeu fisiologicamente79.
Foi nessa ocasião que o anjo Gabriel lhe teria anunciado o
acontecimento, ordenando-lhe que desse ao seu filho o nome de JESUS80,
confirmando, desse modo, a sólida tradição, embora em desacordo com o profeta
que já o havia chamado de EMANUEL.
E curioso mesmo notar-se que foi o mesmo anjo Gabriel quem ditou o
Alcorão a Maomé, no sétimo século depois de Cristo, para destruir, talvez, a
anarquia em que vivia o Cristianismo.
76 Pha é o Sopro — o reflexo; Rawhon é Rei. Eram os Reis de Justiça da Etiópia que enviavam seus
representantes após suas invasões vitoriosas. Alguns permaneciam nas suas idolatrias e outros
adotavam a religião pura de Rama, de Amon, como Tutankhamon.
77 Êxodo XIX, 6.
78 Deuteronômio XVIII, 15 a 19.
79 Segundo SAINT- YVES a mulher tem dois cérebros: um que concebe e outro que realiza
80 Mateus I. 21 - Lucas II, 21.
108
É falso, porém, que Jesus tivesse ido habitar a cidade de Nazaré, como
afirma Mateus II, 23, para ser chamado Jesus Nazareno, cumprindo-se desse modo
o que fora dito pelos profetas, pois nenhum deles jamais disse tal coisa. Essa idéia
partiu da cabeça de quem redigiu 150 anos depois o chamado Evangelho, segundo
Mateus, o que contribuiu para sempre provar que tais Evangelhos não podem
merecer a Fé que lhes é prestada.
É também interessante notar-se a luta que existe entre Lucas e Mateus:
este, procurando trazer os parentes de Jesus de Belém à Nazaré, aquele em levá-lo,
antes deste nascimento, de Nazaré para Belém, a fim de confirmar a profecia de
Miquéias e a descendência de Davi, da tribo de Judá.
Essa divergência dá razão a Dupuis quando diz que Belém era uma
cidade pertencente à tribo de Judá. Esta tribo está indicada no planisfério do padre
Kirsher, sábio jesuíta e historiador, sob o signo de Leão, de onde provém a
expressão evangélica Leão da Tribo de Judá. E, como o Sol tem domicílio
astrológico no signo de Leão, segue-se que Jesus é filho do Sol, de onde fizeram
Filho de Deus, de acordo com a antiga religião astrológica dos primeiros povos.
Curioso, igualmente, é reparar-se na contradição entre os dois
evangelistas sobre a origem de Jesus:
Lucas II, 4 — III, 31, diz que Jesus descendia de Davi*, logo pela carne,
como corrobora São Paulo; Mateus I, 20, diz que ele é o produto do Espírito Santo;
portanto, sem genealogia terrena e em desacordo com Lucas.
Mas, Jesus, por seu turno, censurava que os rabinos dissessem que o
Messias pertenceria à descendência de Davi (Mateus XXII, 41. — Marcos XII, 35),
* N. do E.: A respeito desse assunto, sugerimos ver também A Linhagem do Santo Graal: A
Verdadeira História do Casamento de Maria Madalena e Jesus Cristo, Laurence Gardner, Madras
Editora.
109
portanto, entra em contradição com Paulo e Lucas e consigo próprio quando diz que
tudo quanto está escrito no Velho Testamento se refere a ele.
Ademais, ele nunca se julgou nascido do Espírito Santo, como uma das
partes da trilogia divina, e nem seus discípulos, parentes ou ouvintes jamais o
julgaram como tal, mas como o filho de José, o carpinteiro (Mateus XIII, 55). A tal
respeito reportamo-nos ao que fica dito na tradução que damos no artigo Dogmas,
pela qual se verá, claramente, desafiando a menor contestação, pela base histórica
dos fatos, a maneira pela qual criaram a lenda da filiação divina de Jesus.
A analogia da passagem que se refere a Herodes mandando matar todas
as crianças para englobar Jesus é mais uma prova da simbiose do Catolicismo e do
preparo dos evangelhos muito posteriormente à morte do divino Mestre. Visto que,
no século XVI antes de Jesus Cristo, lê-se nos livros chineses que toda a dinastia
dos Tao foi destruída, exceto o último filho que foi sonegado por ordem celeste. O
destruidor havia mandado matar todas as crianças do sexo masculino para englobar
este no número.
Essa lenda de Herodes também se encontra no Bramanismo com relação
ao nascimento de Krishna: seu tio Kansa mandara prender Devanaky, mãe de
Krishna, e tomou todas as precauções para que ele não viesse ao mundo,
mandando, mais tarde, massacrar todos os filhos homens. Felizmente os deuses o
salvaram.
Diante de tais incoerências, a razão tem de estremecer e cria ânimo para
novas pesquisas.
Virgindade de Maria
110
A virgindade de Maria, portanto, antes do parto, é um dos dogmas do
Catolicismo, que mais guerra tem sofrido por parte de igrejas contrárias e entre as
próprias confrarias católicas, pois, da virgindade após o parto, os próprios apóstolos
que lhe conheceram a família jamais aventaram essa questão, que deveria ter
capital importância para a propaganda da doutrina, como nem sequer o povo sabia
desse acontecimento, que só veio a ser conhecido com a publicação, mais tarde,
dos evangelhos que teremos ocasião de estudar mais adiante.
Nenhum dos apóstolos fala do nascimento virginal de Jesus. Marcos I, 10,
o nega, mesmo, implicitamente, quando diz que o Espírito Santo entrou em Jesus no
ato do batismo e que, portanto, antes disso, nada havia nele de sobrenatural. O
evangelho Ebionita cita: "Tu és meu filho, hoje o adotei".
Se na ocasião do registro do nascimento da criança, José tivesse
declarado que seu filho era o produto do Espírito Santo, por assim lhe ter dito um
anjo em sonho, é fácil de imaginar a hilaridade que tal declaração produziria, tanto
mais desconhecido como era essa terceira pessoa de Jeová. Ele teve, portanto, de
confessar que o menino era seu filho legítimo. A lenda a respeito do nascimento de
Jesus foi tramada século e meio depois e, segundo Dupuis, baseada nos poemas
mitológicos bordados acerca da cosmogonia e da astrologia.
Se tal crença tivesse existido entre os próprios apóstolos, eles não se
refeririam pela forma por que o fizeram em várias passagens, muito antes de serem
seus discípulos.
Assim:
111
Mateus, XIII, 55: "Não é este o filho do carpinteiro? E não se
chama sua mãe — Maria — e seus irmãos Tiago, José, Simão
e Judas? E não estão aqui entre nós todas as suas irmãs?"
Mateus XXVII, 56: "Entre as quais Maria Madalena, Maria mãe
de Tiago e de José etc.".
Marcos VI, 1,6:"... sua mãe, seus irmãos e suas irmãs tinham
se fixado em Nazaré."
Marcos VI, 3: "Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão
de Tiago e de José e de Simão? E não estão aqui suas irmãs?"
Marcos III, 32: "Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam lá
fora."
Marcos III, V, 37: "E não permitiu que alguém o seguisse senão
Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago (o que faz supor que João
era filho de Maria e irmão de Jesus, o que confirmaria as
palavras de Jesus na Cruz: 'Eis tua mãe', se bem que Marcos
não poderia ter ouvido esta frase, por lá não estar), pois 'Atos
dos Apóstolos I, 14, diz mesmo: 'Todos perseveraram
unanimemente em orações e súplicas com as mulheres e
Maria, mãe de Jesus e com seus irmãos', e isso longe do
sacrifício, como dizem as escrituras. — Mas, prossigamos,
porque neste pequeno período ainda se poderia glosar a
respeito das orações e súplicas, feitas naturalmente a Jeová."
Paulo — Gaiatas I, 19: "E não vi a nenhum outro dos apóstolos
senão a Tiago, irmão do Senhor" frase impossível de torcer.
112
João II, 12: "Depois disto desceu a Cafamaum, ele e sua mãe e
seus irmãos e seus discípulos e ficaram ali não muitos dias".
Melhor especificado é impossível. João VII, 3, 6: "Disseram-lhe,
pois, seus irmãos. Sai daqui e vai para a Judéia, para que
também teus discípulos vejam as obras que fazes". "... porque
nem ainda seus irmãos criam nele". Francamente, é possível
haver mais clareza?
Lucas XIV, 26: "Se alguém vier a mim e não aborrecer seu pai,
sua mãe e mulher e filhos, irmãos e irmãs e ainda também sua
própria vida (como ele fez) não pode ser meu discípulo81".
Este versículo parece colidir com a doutrina de Jesus a respeito
de amar o próximo, honrar pai e mãe, e que a mulher e o
marido só faziam um e não deviam ser separados, pois o que
se separasse da família ou da mulher para ser discípulo de
Jesus (Mateus X, 8, 9) infringiria, ipso facto, este preceito.
Ademais, este versículo parece corroborar o procedimento que ele teve para com
sua família, quando, simbolicamente, respondeu aos que lhe avisavam que sua mãe
e seus irmãos estavam lá fora o esperando: "Quem é minha mãe e meus irmãos?
Minha mãe e meus irmãos são estes que aqui estão", confirmando assim aquela
frase e provando mais que sua doutrina fora bebida na Índia, pois a frase acima
citada por Lucas encontra-se no Bhagavad-Gita, leit. 8 a 13, e constitui também um
dos deveres dos Lamas: "Abandonar sua família".
81 Isso está em contradição com a doutrina de Moisés em Deuteronômio XXVII, 16: "Maldito aquele
que desprezar seu pai e sua mãe".
113
E muitas outras passagens, apesar da distorção que o Catolicismo lhes
procura dar, interpretando o termo de irmão, tão claramente definido nos
evangelhos, pelo de primo-irmão, o que a crítica científica refuta com argumentos
filológicos e com os usos e costumes daquele povo, que tinha termos apropriados
para nomear o grau de parentesco e que o sutil casuístico Paulo não teria
confundido.
É, pois, um fato a terem valor as escrituras, se é que nosso raciocínio está
certo, que a esposa de José conheceu seu marido após o misterioso nascimento de
Jesus, sem que isso possa de modo algum diminuir a pureza de sua alma.
Ademais, legalmente casado, como José devia ser, parece lógico que ele
não pudesse continuar convivendo com uma virgem, pela simples honra de ser pai
nominal de mais um Messias, aliás, não aceito, mais tarde, pelo povo e ainda menos
no seu nascimento, pois já havia surgido muitos outros antes dele e com o mesmo
nome82, além de Judas o gaulonita e Barcoquebas, tanto mais que o anjo
anunciador do advento não fez nenhuma alusão a sua condição marital após esse
acontecimento que, em suma, para José e para o povo israelita, não podia se
apresentar com a importância que, inesperadamente, teve séculos depois.
A relutância dos credos contrários repousa, pois, sobre o primeiro parto,
não narrado nos Evangelhos nem por Marcos, nem por Pedro, nem por João, nem
por Tiago, seu irmão, nem por Paulo. Só Mateus é que a ele se refere, mas de um
modo vago e contraditório.
Daí é que surgiu, mais tarde, após uma incubação de 1.300 anos, o
famoso dogma da Imaculada Conceição de Maria, promulgado pelo papa Pio IX,
nascido da controvérsia havida entre os frades franciscanos e os dominicanos. Os
82 João X. 8.
114
franciscanos afirmavam que Jesus não havia pecado no ventre de sua mãe, isto é,
que não era o produto do homem, mas sim do Espírito Santo, ao passo que os
dominicanos garantiam que Jesus pecara no ventre de sua mãe, por isso era o
produto de José e não do Espírito Santo.
Tal disputa, que já vinha de longe, deu em resultado a que os
franciscanos resolvessem vingar-se deles. Para não nos alongarmos na descrição
do processo arquivado em Berna, diremos simplesmente que, tendo eles
catequizado um pobre imbecil, chamado Jetzer, que vestiu o hábito, este se prestara
a jurar em público ter visto a Virgem Maria, Santa Bárbara e mais dois anjos, que
nada mais eram que quatro frades disfarçados na meia escuridão. Um belo dia, um
deles, fantasiado de Santa Maria, ordenou, como se fosse esta, que lhe cravassem
pregos nas mãos e nos pés, como estigmas comprobatórios da aparição,
ordenando-lhe mais que no dia seguinte fosse em pleno templo, ainda com as
feridas gotejantes de sangue, e afirmasse que Maria lhe havia mandado dizer aos
homens que Jesus não havia pecado no seu ventre, sendo seu filho o produto do
Espírito Santo.
O sucesso da comédia os levou novamente a preparar novo milagre; mas,
tendo o idiota descoberto que a voz era do seu superior, então se lhe abriram os
olhos, e recusou-se ali a representar essa farsa, prometendo tudo desvendar lá fora.
Receosos da ameaça, os franciscanos prepararam uma hóstia envenenada com
cloreto de mercúrio, e, num simulacro de comunhão, o administraram. Ele, porém,
sentindo ardor na língua, retirou-a, e, conseguindo fugir, foi queixar-se às
autoridades. O resultado do processo foi terem sido os frades queimados vivos no
dia 31 de março de 1509, na porta de Mazzilly. Fatos idênticos há aos milhares na
história do santíssimo Catolicismo.
115
Entretanto, por um lado, as inúmeras experiências de Partenogêneses,
encetadas e incessantemente prosseguidas por Tichemirof, Loeb, Yves Delages e
M. Goldsmit83 e muitos outros, não deixam mais dúvida a respeito da procriação sem
o concurso do macho, não só no reino animal como no vegetal.
Orígenes (L. I. XXXVII) diz: "O corvo produz sem o concurso do macho".
O escaravelho nasce de si próprio, sem pai nem mãe. Ele se junta
consigo mesmo, deposita sua semente no solo, mistura-a com o pó da terra, dá-lhe
a forma de um ovo, de uma esfera e a rola como o Sol do Oriente para o Ocidente.
O velho escaravelho morre e o ovo evolui84.
Que a experiência não tenha sido tentada no reino animal, na opinião
daqueles sábios, não invalida a possibilidade do fenômeno, tanto mais se sabendo
que fortes impressões na mulher grávida modificam grandemente o produto do
homem, que se apresenta, às vezes, com caráter animal, perfeitamente definido,
provando, com isso, certa ação auto-sugestiva, que lhe transforma a composição do
sangue, pela absorção de elementos químicos atmosféricos, mais ou menos
ionizados, como se verifica naquelas experiências, e que poderia se ter dado com a
mãe de Jesus, pela sua excepcional condição mística, e, por assim dizer, já
decretada pelo Criador.
Já que, para a encarnação do Verbo, da palavra de Deus, é lógico
admitir-se a necessidade de um corpo humano, ou, antes, de um espírito puro, e,
como diz Saint-Yves: "O espírito pode ser violado sem que o corpo cesse de ser
virgem, apesar desse monstruoso atentado".
Por outro lado, segundo as teorias de Teosofismo, Ocultismo, Espiritismo,
Cristianismo, Catolicismo, Budismo, Mosaísmo etc., existem no invisível certas
83 La Parthenogenèse — Paris, 1918.
84 D. Mekijkowskv - Mystères d'Orient.
116
entidades boas e más, chamadas astrais, elementais, íncubos, súcubos, espíritos,
anjos, arcanjos, demônios, querubins etc., ou seja, forças inteligentes genésicas de
fenômenos aparentemente contrários às Leis do Cosmos. O próprio Jesus confirmou
essa crença, ensinando até aos seus discípulos o modo de os expulsar, havendo até
uma categoria dele tão renitente, que só pela oração é possível vencê-los, o que se
aproxima muito das práticas católica e espírita.
Mas o Catolicismo monopoliza esta lição do Mestre, não admitindo que
mais ninguém possa ou tenha o direito de expulsar os maus espíritos (o que não é
nada caridoso), a não ser os padres, armados de fórmulas latinas e de uma
vassourinha mergulhada em água ben... suja.
Lembramo-nos de ter lido há cerca de 30 anos, em uma obra de
ocultismo, um caso melindroso, que emocionou Paris, passado com a esposa de um
almirante francês, ausente 18 meses no Tonkim, a qual dera à luz uma criança, sem
que, de modo algum, tivesse havido adultério, como se verificou dos debates nos
tribunais. Apelando aos advogados para essas teorias de íncubos e súcubos, e,
dada a perfeita semelhança da criança com o pai, resultou vir à baila uma
simultânea comunicação espiritual havida entre os dois em determinado momento
de um sonho mútuo, com suas conseqüências fisiológicas.
Diremos, mesmo, a título de documentação, que, já em 1318, a célebre
Academia da Sorbonne havia decretado o seguinte: "É erro crer que essas artes
mágicas e invocações dos diabos (súcubos e íncubos) sejam sem efeito".
O próprio São Tomas de Aquino, doutor da Igreja Católica, tratou desse
assunto admitindo-lhe a possibilidade85.
85 SUMMA — P. I. — Qaest. 51 — arts. 2 a 6.
117
O papa Inocêncio VIII (1434), também por sua Bula, afirma "ser possível
manterem-se relações impudicas com súcubos e íncubos". E, se os papas são
infalíveis...
Não citaremos a enorme literatura que trata desse assunto em todos os
credos citados, porque isso iria longe; bastam estas do próprio Catolicismo.
Há, pois, nesse caso, uma questão de transmissão de substância e não
de matéria, entre as quais há uma grande diferença. "A matéria, segundo Saint-
Yves, é um caput-mortuum, momentâneo, intercíclico, interorgânico; mas resultando
de um trabalho biológico anterior."
As antigas escolas egípcias e gregas já diziam que a matéria não existe,
que ela é uma ilusão dos nossos sentidos; o que existe é a substância.
Essa substância, segundo Georges Lakowski86, é imaterial, permanente e
subsiste eternamente.
São os Íons, partículas invisíveis da eletricidade87, que dão vida a todo o
Universo sideral, preenchendo todos os espaços e penetrando todos os corpos.
Baruck Spinoza, judeu, nascido em Amsterdã, em 1632, há quatro
séculos, construiu um sistema filosófico de tal natureza grandioso, que ele faz
repousar todo o edifício em um só termo: "Substância".
Segundo a definição que Adolphe Coste88 tirou do estudo que fez acerca
desse sistema, a "Substância" é o que se julga oculto sob as aparências que
percebemos, o que não muda através dos fenômenos que passam, o que
permanece um e idêntico entre as qualidades múltiplas e variáveis, que não há
fenômenos, qualidade, modo de ser, que não se relacione com a "Substância".
86 L'Universion, 1927 — Genial concepção destinada a estremecer os alicerces da Ciência.
87 Quando escrevíamos isso, o telégrafo da Califórnia comunicou ao mundo científico ter-se ali
descoberto um superultramicroscópico que permite a visibilidade dos Íons.
88 Dieu et L'Ame — 1880.
118
Esta "substância" não nos é conhecida senão por meio dos seus
atributos, sem que deixemos de considerá-la independente dos seus atributos.
A "substância", por conseqüência, não pode ser produzida por outra coisa
qualquer; ela não pode provir de outra substância e ela é causa de si mesma. Daí,
conclui Spinoza que ela é única, eterna, infinita, que ela é Deus, e, por conseguinte,
Deus só é livre, ficando o resto determinado em seus atos; que o espírito e a matéria
são, pela mesma razão, atributos da "substância única", isto é, de Deus, e que,
finalmente, as coisas não foram produzidas por Deus, nem de um modo, em outra
ordem, do que aquela em que foram produzidas, visto como tudo quanto existe é
necessário como fazendo parte do todo que é Deus, ou, segundo outra expressão,
da Natureza Naturante.
Foi da substância inicial e não da matéria que se originaram os quatro
reinos terrestres: mineral, vegetal, animal e hominal. Assim como nasceu o animal,
do mesmíssimo modo nasceu o hominal. Da mesma forma por que surgiu o gorila (o
homem das selvas), assim surgiu o homem (nas selvas), diferentes, porém, em cor e
conformação craniana, conforme a parte dos continentes, cujas condições vitais
estivessem de acordo com seu ser.
É de notar, mesmo, que bem diferentes dos de hoje eram esses quatro
reinos nos seus inícios. Havia minerais ainda não formados, vegetação colossal,
animais fantásticos e homens gigantes, de cujas espécies ainda restam vestígios na
África e na Patagônia, embora degenerados.
A guerra dos gigantes com os deuses, citada pela Bíblia, é um fato; mas,
no sentido da guerra que esses gigantes africanos sustentaram contra o deus, isto
é, contra os Magos da Ordem de Rama, conforme se lê claramente no Ramayana e
nos tijolos da Babilônia.
119
Portanto, em sã consciência, haverá quem possa se arrogar o direito de
sentenciar que alguma dessas ou de outras forças desconhecidas possa ter agido
ou possa agir no organismo humano, dadas, além disso, circunstâncias especiais,
como as de Maria?
Não estão aí os fenômenos teratológicos e os estigmas divinos, tanto em
santos da Igreja Católica como em santos de cultos contrários, chamados pagãos e
hereges?
Segundo Yves Delages, "não raro é encontrarmos, sem a menor suspeita,
indivíduos nascidos partenogenicamente, embora com pais conhecidos, os quais,
entretanto, não contribuíram biologicamente no desenvolvimento do óvulo feminino".
Pobre da razão humana, portanto, que quiser pôr limites às leis biológicas
da Natureza.
Para negar-se essa possibilidade, como fazem os contrários, era mister
que baseassem seus argumentos em critério científico; mas sequer os apresentam;
negam puramente a possibilidade, porque querem negar, porque acham-na
simplesmente impossível, absurda e contrária às Leis da Natureza, como se as
conhecessem todas e delas dispusessem à vontade.
É, pois, um fato admissível ter Maria concebido sem o auxílio de José;
mas auxiliada pelo Espírito da Terra, pela alma da Natureza, pelas suas Leis
imutáveis.
Virgens que Concebem
Pelos livros sacros do Tibete, da Índia, da Pérsia, da Babilônia etc.,
verifica-se que muitos legisladores nasceram de mulheres virgens.
120
Assim nasceram Tsong-Kaba, Krishna, Zoroastro, Sargão I, Lao-Tsé,
etc.
Gêngis Khan, o reformador da Mongólia, teria nascido de um raio de luz
solar89.
Do próprio Moisés, segundo a escritura, tal qual Sargão I, da Babilônia,
2.500 anos depois, nem a mãe se conhece e ainda menos o pai.
Rômulo, o fundador de Roma, nascera de uma religiosa que não
conhecera homem.
Simão, o mago, que revoltou os discípulos de Jesus pelos milagres que
praticava, curando enfermos, dizia: "Não cuideis que eu sou um homem como os
outros. Eu não sou filho de Antônio, pois Raquel, minha mãe, me concebeu antes de
dormir com ele, estando minha mãe virgem90".
Na Índia, as tradições hindus a respeito da vinda de uma criança
anunciada como o Salvador do Mundo estão reunidas em um tratado intitulado
História de Vicramaditia (Vicrama-Charitra — pedimos reparar nas sílabas Rama,
intercaladas).
Para não embaçar o brilho das palavras de Ernest Bosc91,
transcreveremos as páginas referentes ao Salvador do Mundo, na índia:
"Os Pandits hindus dizem que a prova certa da missão divina de um
avatar é a predição da sua vinda. Ora, as profecias relativas ao Salvador do Mundo
encontram-se a cada passo em seus livros." Vê-se ali que Krishna é considerado
como o primeiro em dignidade, como a principal encarnação, e que as outras lhe são
muito inferiores.
No tempo de Krishna, os oráculos eram lançados por escrito...
89 Alusão a dinastia solar, a Ordem de Rama de que fazia parte.
90 S.CLEMENTE. In. Recogn. Lib.II – c.14
91 Vie ésotérique de Jesus de Nazareth.
121
Krishna é o penúltimo avatar que deve aparecer antes da dissolução do
Universo (Pralaya).
Abordemos a legenda:
A maravilhosa criança devia manifestar-se depois dos 3.100 primeiros
anos do Kali-Yuga, isto é, no ano 3101 dessa era, que corresponde ao primeiro ano
da era cristã, segundo o Cumarica-Chanda e o Vicrama-Charitra ou a história de
Vicramadytia.
Segundo essa autoridade, o fim dessa encarnação divina era de afastar
do mundo a maldade e a miséria e seu nome devia ser então Saca, ou Rei
Poderoso, ou Rei Glorioso.
(Lenda) Saliva-hana era filho de Tachana (carpinteiro)92; ele nasceu e foi
criado na casa de um oleiro. Esse carpinteiro não era um simples burguês; mas o
chefe dos Tacchacas, tribo Serpentina de que falam os Puranas, que são
declarados os mais hábeis artistas mecânicos existentes no mundo.
O oleiro tinha por hábito fazer figuras de barro para distrair seu netinho
que não tardou em imitá-lo; chegava mesmo a dar-lhes vida.
Um dia sua mãe o conduziu a um lugar cheio de serpentes e lhe disse:
"Vai e brinca com elas, são teus parentes93". A criança brincou e nada sofreu.
Na mesma época, Vicramadytia, imperador da Índia, foi alarmado por um
rumor geral, pois profecias anunciavam que uma criança nascida de uma virgem
devia conquistar a Índia e o mundo inteiro; por isso ele enviou um emissário por todo
o país a fim de se informar da veracidade desse acontecimento e descobrir, se
possível, o recém-nascido celeste.
92 Analogia com José, marido de Maria.
93 S. Francisco de Assis considerava os animais, por mais perversos que fossem, como seus
parentes. Jesus disse que, quando chegasse o reino do céu (o reinado da paz), as crianças
brincariam com as serpentes.
122
Em breve os emissários do imperador voltaram e lhe anunciaram que o
fato era verídico e que a criança celeste entrava no seu quinto ano de nascido.
Vicramadytia levantou logo um exército a fim de exterminar, com a
criança94, todos os partidários que ela pudesse ter. Ele se encaminhou em grande
diligência e achou a criança entre inúmeras figuras de soldados de barro, de cavalos
e de elefantes de guerra. A criança deu vida a essas figuras e atacou Vicramadytia,
desfez seu exército e o feriu mortalmente no campo de batalha...
No IV Livro de Esdras, o Cristo é representado como vindo do lado do
mar.
O Scanda-Purana encerra, por assim dizer, as tradições Messiânicas,
pois, no §42 lemos: Quando 3.100 anos do Kali-Yuga se esgotarem, orei de Glória
Sacca aparecerá e libertará o mundo da miséria e do mal.
Ora, essa data corresponde precisamente, como já foi mencionado, ao
primeiro ano da era cristã.
A deusa Kali havia predito a Vicramadytia que sua posteridade reinaria
até que uma criança divina, nascida de uma virgem, pusesse termo à sua dinastia.
O Agni-Purana, também em um apêndice, profetizou que um poderoso
Espírito de retidão e de justiça não tardaria a aparecer com o nome de Salivahana.
A concepção milagrosa de Salivahana teve lugar no seio da virgem, sua
mãe. Ele era o filho do grande artista e sua virtude foi suspeitada95; mas o coro dos
Devas (deuses) desceu sobre a Terra para adorá-lo e chuva de flores caiu do alto.
O rei do lugar procurou matá-lo, mas em vão.
Ele ultrapassou os mestres com a idade de cinco anos, ensinava aos
mesmos perante a Assembléia96, cheia de admiração.
94 Outra analogia com a história de Herodes.
95 Analogia com Maria.
123
No Vrihat-Catha lê-se: "Então Mahadeva apareceu ao pai deste futuro
Salvador do Mundo e o informou que sua mulher conceberia, que o fruto de suas
entranhas seria uma encarnação divina e que seu nome seria Vicrama97.
Quando a mãe o concebeu, ela tornou-se deslumbrante de luz, como o
Sol nascente98 e esse esplendor corresponde ao Nur dos muçulmanos, de onde saiu
Issa99, conforme veremos adiante.
Quando nascido, todos foram adorá-lo.
O Sumo Sacerdote, que não tinha filho, teve um nessa ocasião100.
No Raja-tarangidi lê-se que o rei Arrya, 146 anos depois da ascensão ao
trono de Vicramadytia, seria infeliz, perseguido e que, enfim, morreria sobre uma
cruz, mas que ressuscitaria depois101.
Vá, nosso bom leitor, prestando atenção nas intermináveis analogias do
Catolicismo com as primitivas religiões da Antigüidade, e verá que um dia surgirá em
seu espírito um formidável ponto de interrogação. E não se diga que esses livros
foram escritos posteriormente, pois isso seria dar prova de muita ignorância. O
contrário é que é verdade.
Mas, prossigamos, já que temos em mãos mais alguma documentação:
Tcheng-tsai, mãe de Confúcio, recebeu igualmente a visita de um espírito
que lhe disse: "Terás um filho cuja sabedoria excederá a de todos os homens".
O Kilin sagrado, estranho animal intermediário entre o licorne, o veado e
o dragão, apareceu-lhe igualmente e depositou em sua fronte uma pedra preciosa,
96 Analogia com Jesus.
97 Analogia com José e com Rama.
98 Analogia com os planisférios astronômicos.
99 NikoIas NOTOVITCH — La vie cachée de Jesus.
100 Esta passagem tem surpreendente analogia com o nascimento de João Batista, filho de Zacarias,
o Sumo Sacerdote.
101 Analogia com Jesus.
124
sobre a qual se achavam gravadas essas palavras: "O Filho será um rei sem
trono102".
A tradição diz que a criança nasceu em uma gruta103. As primeiras
versões do nascimento de Jesus dizem que ele viu a luz, não em um estábulo, mas,
sim, em uma gruta.
Na China, Tchu-King, na ode inserida no Chi-King, escrita no século XII
antes da era cristã, diz:
"Quando homem, Hu-Tsi (fundador da dinastia dos
Tchu) nasceu, Kiang-Yuen tornou-se mãe. Como se operou
esse prodígio? Ela oferecia votos e fazia sacrifícios com o
coração aflito, porque o Filho não vinha. Enquanto ela se
achava possuída desses grandes pensamentos, o Chang-Ty
(Senhor Supremo ou Céu) satisfez aos seus rogos. Ela parou
em uma praça, na qual o Soberano Senhor tinha deixado o
traço do dedo do seu pé, e no mesmo instante sentiu suas
entranhas emocionadas, foi penetrada de um religioso espanto
e concebeu Hu-Tsi”.
“Chegado o termo, ela concebeu seu
PRIMOGÊNITO como um terno CORDEIRO, sem esforço, sem
dores, SEM MANCHA. Prodígio espantoso! Milagre divino!”
“Mas, basta que Chang-Ty queria. Ele acedeu ao
seu pedido, dando-lhe Hu-Tsi."
102 Jesus disse que seu reino não era deste mundo.
103 Analogia com Jesus.
125
“Essa terna mãe o deitou em um pequeno Recanto
ao lado do caminho104; bois e cordeiros o aqueceram com seu
hálito; os habitantes das matas acudiram, apesar do rigor do
frio; os pássaros voaram sobre o menino como que para cobrilo
com suas asas; entretanto, ele dava gritos poderosos que
eram ouvidos de longe105".
Diz a escritura mazdeana: "um raio da Glória divina (Hvareno) entrou na
mãe de Zoroastro".
Há analogia com o Espírito Santo penetrando no seio de Maria.
Na doutrina de Zoroastro, todo ser humano é nascido da conjunção de um
espírito chamado gandharva com a genitora no tempo da gestação. Há, pois,
semelhança com o relato de Lucas, referindo-se ao Espírito Santo, que fez Maria
conceber.
A mãe de Buda, adormecida, sonhou que o Elefante branco descia do céu
e entrava no seu seio. Sobre a coluna 89 do templo se acham gravadas estas
palavras: Bhagavato Okranti, que se traduz por Descida do Senhor.
Esse nascimento já havia sido predito por Asito. Em grande parte da Ásia
Meridional e Oriental, muito transitada pela via da Babilônia e da Antioquia, já era
desenvolvida no tempo de Jesus a legenda de um Salvador, descido do céu num
seio humano, e seu nascimento já havia sido anunciado por um anjo para o bem da
humanidade, cuja frase se encontra em todo livro canônico pali (língua arcaica), o
que prova que a história contada por Lucas é um simples plágio.
104 Equivalente à gruta. — Chamamos a atenção do leitor para os termos que salientamos pela
perfeita analogia com o Cristianismo.
105 R. P. de PREMARE, J. J. — Vestiges des principaux dogmes chrétiens, tirés des anciens livres
chinois avec reprodution des textes chinois. – Paris, 1878.
126
É possível desejar-se maior analogia com a história de Belém?
Isso significa que os reformadores da Antigüidade tinham de ter um
nascimento misterioso, fosse ele verídico ou simbólico, e que os evangelistas,
séculos depois, foram beber nessas fontes os elementos necessários à formação do
culto judeu-cristão, que o Catolicismo mais tarde desvirtuou com seus dogmas e
rituais.
Pode o fanatismo fechar os olhos e os ouvidos à História da humanidade,
pode o Catolicismo desviar dessas leituras as gerações infantis, que pais incautos
lhes confiam, pode mesmo o jesuitismo queimar todas as bibliotecas ocidentais,
jamais conseguirá abafar a voz dessa História, que repercutirá eternamente,
consignado em suas inflexíveis páginas os nomes dos atuais anarquizadores e
mistificadores da humanidade, com sede em Roma.
Portanto, parece-nos mais conforme com a ciência que a Deus pertence,
mais consentâneo com a lógica que é a resultante do raciocínio, da sã razão e com
a consciência que é a fé íntima, conseqüente da ciência e da lógica, do que se negar
a priori a possibilidade de um fenômeno só porque não lhe conhecemos as leis.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
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