terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Vida Mística e Oculta de Jesus(livro parte14)

Identidade de Religiões
Pelo caminho percorrido até agora, por assim dizer, de avião,
atravessando mares e continentes desaparecidos, aterrissando nas primitivas
capitais do antigo mundo, penetrando em seus templos, nos quais, devotamente,
assistimos à redenção de graças ao Deus de cada povo, pelos seus puros
Melquisedeques, introduzindo-nos em suas Academias, em que, sentados, ouvimos
as lições dos Magos, verificamos, a não ser possível a menor dúvida ou
contestação, que a humanidade inteira, há muitas centenas de milhares de anos,
adorava o mesmíssimo Deus, Criador, Onipotente e Misericordioso; que a base de
todas as ciências que conhecemos e outras que ainda desconhecemos foi por essas
academias estabelecida e desenvolvida até o mesmo grau em que hoje se acha,
embora as aplicações das suas leis tenham encontrado maior campo, como diversos
eram os aspectos dos cultos externos criados pela língua, pelos costumes, pela
crendice supersticiosa das camadas iletradas, pelas imposições de hordas invasoras
e vencedoras.
Foi nessas alturas que o Verbo de Deus se reencarnou na Terra, para pôr
um pouco de ordem na balbúrdia produzida pelo Poder, isto é, pelo Militarismo e
pela sua filha dileta, a Política, para restabelecer sua Palavra perdida que dormia
sob a letra dos hieróglifos mosaicos e nos empoeirados livros da índia, da Pérsia e
da Babilônia.
É essa antiga religião que o Verbo-Jesus procurou reimplantar na Terra,
como já tivemos ocasião de estudar, mas que o homem pretensioso desvirtuou
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completamente, com a formação de um Culto absolutamente antagônico com as
palavras de Cristo, motivando exegeses, cismas, rebeliões, guerras de religiões,
perseguições, entre seus próprios adeptos.
A primeira das provas reside exatamente na Igreja Ortodoxa, grega,
origem da Igreja Cristã, da qual saiu a Igreja Latina, que se cindiu daquela, com a
criação do culto católico, e que, por isso, lhe dedica o mais extremado ódio.
A ortodoxia, que significa Com ciência em religião, adotou no seu início
a doutrina de Platão, aceita pelos primeiros pais da Igreja Latina, para, mais tarde,
no século XIII, seguir a de Aristóteles, bastante tarde, como se vê, para provar que o
Catolicismo não era a doutrina que Jesus pregou e que os ortodoxos gregos
adotaram e continuam usando.
Tratando do Cristianismo na Rússia, que professa a mesma ortodoxia
grega, diz P. Seeberg, fervoroso cristão, professor de História da Igreja, na
Universidade de Berlim:
"Aqui ressalta, como inconscientemente preparada
pela própria História, o problema da sorte da Europa e
podemos, às apalpadelas, suspeitar do papel que, talvez, na
transformação da nova Religião, no correr dos tempos futuros,
o Cristianismo ortodoxo grego será chamado a
desempenhar223".
223 Les Révolutions du Monde — p. 419.
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Os maometanos que perseguem os cristãos também são cristãos, porque,
de acordo com o Alcorão e o Talmude224, continuam esperando a vinda do Messias,
anunciado por Moisés, que eles veneram, bem como ao próprio Jesus,
considerando, porém, falsa a qualidade de filiação divina, no sentido que o
Catolicismo lhe dá. Jesus, para eles, não passa de um respeitável profeta, cheio de
graças, dadas por Deus225, como exemplo, aos israelitas (Capítulo XLIII, 59). Todo o
Alcorão é judaísmo-cristão, e todo seu ensino é baseado na religião de Abraão, que,
já sabemos, era a de Rama, a de Melquisedeque, a de Jacó, a de Davi e a de Jesus.
Para que o leitor possa ajuizar do epíteto de herege dado pelo
Catolicismo ao povo muçulmano que adotou esta religião, transcrevemos em
seguida seu Credo: "Cremos em Deus, no que nos foi enviado a nós, a Abraão, a
Israel, a Isaac, a Jacó e às 12 tribos de Judá. Cremos nos livros que foram dados a
Moisés e aos profetas do Senhor e nos Evangelhos de Jesus Cristo. Entre eles
não fazemos diferença; entregamo-nos, inteiramente, ao Deus único, clemente,
misericordioso, vivo, imutável, sábio, poderoso, que está em toda a parte, Criador do
céu e da terra. Deus Onipotente, Senhor sem princípio, nem fim, que é o que é".
Os maometanos como os ortodoxos, como se vê, crêem no mesmo Deus,
nos anjos, nos santos, nos Livros Sagrados, nos profetas, na ressurreição dos
mortos, no Juízo Final, na predestinação, no céu e no inferno, denunciando, sempre,
uma origem judeu-cristã, se bem que, em 624, Maomé tivesse se separado do
Judaísmo, por isso, não mais se voltava para os lados de Jerusalém quando orava,
mas sim para Meca. O maometano usa rosário, sobre o qual vai remoendo um a um
os 99 nomes de Alá!
224 Livro da "Lei Oral", isto é, a explicação do desenvolvimento da "Lei Escrita" — a Bíblia.
225 De acordo sempre com os costumes mosaicos Jeová é chamado Alá!
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Os maometanos dão aos pobres uma porcentagem de sua renda, com o
que praticam uma espécie de socialismo. No dia de Bairã, eles se reconciliam com
seus inimigos (o que o católico não faz). Cinco vezes por dia eles fazem preces
(99% dos católicos nem sabem rezar). Jejuam rigorosamente, não havendo
despensas como no Catolicismo. Não bebem vinho nem álcool de qualquer espécie
(não raro é ver-se um pau-d'água que não seja católico). Anualmente fazem
peregrinações a Meca por obrigatoriedade. (Os católicos vão a Jerusalém por
turismo.) Não comem carne de porco, por ser animal imundo, portador da lepra e da
tênia, já condenado por Moisés e Jesus; este simbolizou a abstenção do porco com
a passagem dos maus espíritos pelos seus corpos.
Os maometanos estão perfeitamente de acordo com os próprios
evangelhos, quando Lucas IV, 24 faz Jesus dizer: "Nenhum profeta é bem recebido
em sua pátria".
Eis uma oração que a maometana Santa Rabia dirigia a Alá:
"Meu Deus, se eu te adoro pelo temor do inferno,
faz-me queimar nesse inferno: se te adoro na esperança de ir
para o céu, exclui-me do céu; mas, se te adoro, só por ti
mesmo, não me ocultes tua eterna beleza".
Para o Catolicismo isso é uma heresia!
O Talmude proíbe que se interrompa o idolatra em prece perante seu
ídolo; pois sem que ele o suspeite é ao Deus Supremo que ele se dirige.
O Catolicismo não é dessa opinião: reduzia a torresmo quem tal fizesse.
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O padre J. Michon226 proclama que, se não fossem os Maometanos, não
existiria hoje em Jerusalém o Templo destinado à Comemoração do Cristo. Foram
eles que evitaram a destruição dos Lugares Santos. E, coisa curiosa, são eles, os
anticristãos, os proprietários daquele templo; são eles que permitem aos cristãos,
mediante prévio pagamento, o uso e gozo, durante um pequeno lapso de tempo, de
uma reduzida parte da sala, a fim de se reunirem e orarem. Mas, verifica-se pelas
estatísticas, que as visitas àquele lugar são feitas por milhares de cristãos nãocatólicos,
já que os católicos só vão lá como simples turistas ou como qualquer
sábio em visita a um museu, sem se ajoelharem, orarem ou verterem uma lágrima
como fazem aqueles.
O Santo Sepulcro foi destruído uma vez por incêndio em 1808 e
reconstruído pelos maometanos. Se fosse o contrário que teriam feito os católicos?
Por que não procura o Vaticano adquirir aquela propriedade dos
muçulmanos e instalar-se ali definitivamente? Pergunta o padre Michon.
É porque não lhe convém afastar-se da Roma política, onde haure a vida
que emana do Ocidente; pois, se tal fizesse, seus dias seriam contados.
Ao menos, ao lado do falso túmulo do Cristo, se veria o verdadeiro túmulo
do seu último Pontífice, único que se poderia garantir como legítimo, porque está
provado que o Santo Sepulcro e tudo quanto ali é venerado, lugares, relíquias, etc.
são absolutamente falsos227.
Os protestantes, ironicamente chamados Bíblios pelos católicos, também
são cristãos, porque usam a mesma Bíblia e os mesmos evangelhos do Catolicismo.
E, se houve separação de Roma, foi por ter Lutero, frade Augustiniano, protestado
contra a escandalosa venda de indulgências, o vergonhoso tráfico de coisas
226 Questions des Lieux Saints – 1852.
227 GUSTAVE D’ALMAN – Les Itinéraires de Jesus
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sagradas e contra os dogmas da Igreja, pelo que, após uma terrível luta, foi
excomungado, não conseguindo, porém, a Igreja deitar-lhe a mão; se o fizesse teria
se transformado em carvão.
O protestante está de acordo com Paulo, que reconhece a necessidade
da pregação ser feita na língua vernácula de cada povo.
São idênticas as bíblias católica e protestante e não podem deixar de o
ser, pois o católico confessa que a Bíblia é a Palavra de Deus. Mas, incoerente e
arbitrariamente, substitui alguns artigos que lhe contrariam os planos.
O padre católico era obrigado a ler esta Bíblia todos os dias na missa,
cantar-lhe os hinos de Salomão, os Salmos de Davi, venerar Abraão e os Profetas,
mas, o fazia em latim, de modo a não ser compreendido, e, além disso, de costas
voltadas para a assistência, a qual, nesse intervalo, era obrigada a recitar orações,
com o intuito de desviar a atenção desse livro; e o padre, brevemente, do púlpito e
com ela debaixo do braço, o condenará como sendo obra de hereges!
É tal o rancor do clero católico contra o protestante e israelita, embora
venere Moisés que, sem recorrermos aos volumosos livros da História da
Humanidade, vamos encontrar exemplos de verdadeira selvageria cometida, aqui
mesmo no Brasil, nos tempos presentes e em vários Estados da União; a própria
dinamite, substituindo a palavra de Jesus, fez saltar templos protestantes.
Em Recife, por exemplo, um padre católico fez desenterrar do cemitério
secular a filha de um protestante, para ser novamente enterrada à beira da estrada e
isso sob as vistas de um juiz pusilânime, estando a Igreja separada do Estado; em
Pesqueira, no mesmo Estado de Pernambuco, os padres católicos atacaram e
estraçalharam um pobre homem, por andar vendendo Bíblias, a mesma que os
matadores traziam debaixo do braço.
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Entretanto... (é de ficar-se perplexo!) a Tribuna de Recife, de 9 de julho de
1931, publica um artigo do frade João José P. de Castro a respeito da Bíblia.
Acentua este frade que tal livro é usado pelo clero católico, mas não lido por
católico algum, o que É LAMENTÁVEL, diz ele, por causa da proibição de Roma,
que até as manda queimar.
Termina ele dizendo: "Sirva o exemplo dos metodistas a espalhar sua
Bíblia por todo o mundo para relembrar a humanidade de hoje sua grande fonte de
vida. Se esses pobres cristãos, eivados de erros protestantes, compreendem a
importância e a eficiência da leitura da Bíblia, como é que os verdadeiros cristãos,
que são os católicos, poderão deixar de lado o Livro dos Livros, o Livro Divino, a
Carta que Deus mesmo lhes escreveu?!"
Pondo de parte o maquiavelismo do trocadilho, perguntemos então ao
católico: "Por que queimar o Livro dos Livros, o Livro Divino, a Palavra de
Deus?!"
Arrancai a venda que vos puseram sobre o entendimento, e praticai, como
pratica o protestante, as palavras do meigo Jesus.
Mme. de Brinon e Pelisson escreviam: "Há muito que eu disse que,
quando se transformarem todos os protestantes em católicos, verificar-se-á que os
católicos se tornaram todos protestantes e, portanto, surgirá um misto que possuirá
tudo quanto reconhecereis de bom em nós e tudo quanto reconheceremos de bom
em vós".
Contudo, diz Pierre d'Angkor, "o puritanismo anglo-saxônico, notadamente,
nada mais é do que uma exageração do próprio espírito católico que
considera a Natureza como a inimiga da humanidade, e os mais naturais instintos
humanos como simples tentações do demônio para nos desviar de Deus".
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Nos limitemos a essas três igrejas saídas da mesma fonte para mostrar,
ainda uma vez, o modo nada cristão como o Culto Católico, com as armas na mão, e
fogueiras acesas, procuram impor dogmas criados por ele, que não tem nenhuma
relação com a essência da doutrina do fundador do Cristianismo.
Intolerância
O Evangelho faz Cristo dizer que se deve repreender seu irmão, primeiro
sem testemunha; se ele não quiser ouvir, denunciá-lo à Igreja e tratá-lo como
pagão. Esta sentença está em flagrante desacordo com o perdoar 70 vezes sete; e
foi daí que surgiram as delações que levaram tanta gente à fogueira.
Buda mandava que seus discípulos não se incomodassem com as faltas
de seus semelhantes.
Deus é o Pai de todos e não só dos cristãos. Tanto faz ser judeu,
muçulmano, hindu ou ateu: todos são filhos de Deus.
Dizia Voltaire228: "Deve-se lamentar um ente pensante que se desvia;
persegui-lo é insensato e horrível".
"Somos todos irmãos; mas, se um de vós, animado
do mesmo amor filial e da mesma caridade fraterna, não
saudar nosso pai comum (Deus) com as mesmas cerimônias
que emprego, devo eu degolá-lo e arrancar-lhe o coração?"
A oração que Mahatma Gandhi, o grande nacionalista indiano, compôs
para seu povo, em 5 de novembro de 1919, bem mostra que o budista é mais cristão
228 Traite de l'intolérance.
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que o católico. Assim reza ele: "Senhor, guiai a Índia no caminho da verdade,
ensinai-lhe, para isso, a religião do Swadeshi229 e estreitai a união dos hindus, dos
parses, dos muçulmanos, dos cristãos, dos judeus que vivem na Índia".
Citemos ainda Voltaire a respeito: "No primeiro século da Igreja, antes
que o nome de Cristão fosse conhecido, houve uma vintena de seitas na Judéia, que
se julgavam de acordo com a doutrina que Jesus pregou. No fim desse primeiro
século, esse número atingiu a uma trintena de seitas cristãs, na Ásia, na Síria, em
Alexandria e mesmo em Roma, as quais, vivendo em subterrâneos, se perseguiam
mutuamente".
"Quando, por fim, os cristãos abraçaram os dogmas
de Platão, que eram baseados nas religiões da Antigüidade,
misturados com um pouco de filosofia, a religião que eles
separaram da judaica, aumentou-lhes o número, mas sempre
duvidoso em seitas, sem que houvesse um só tempo em que a
Igreja Cristã fosse unida. Ela nasceu das divisões dos judeus,
dos samaritanos, dos fariseus, dos saduceus, dos essênios,
dos judaítas, dos discípulos de João e dos terapeutas. Ela foi
dividida em seu berço, ela o foi nas perseguições que às vezes
sofreu os primeiros monarcas. Às vezes o mártir era
considerado como um apóstata por seus irmãos, e o cristão
carpocrata morria sob o cutelo dos carrascos romanos,
excomungados pelo cristão ebionista, o qual era anatematizado
pelo sabeliano”.
229 . GANDHI – La Jeune Inde — Swadeshi é a boicotagem dos produtos dos seus opressores.
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"Esta horrível discórdia, que dura desde tantos
séculos230, é uma lição de que devemos perdoar mutuamente
nossos erros. A discórdia é o grande mal da humanidade, e a
tolerância seu único remédio”.
"Não há ninguém que não concorde com essa
verdade, seja que ele medite de sangue-frio no seu gabinete,
seja que ele examine tranqüilamente a verdade com seu
amigo".
Se o Cristianismo se desenvolveu foi em decorrência exatamente da
tolerância da Roma paga, porque os primeiros cristãos eram todos judeus. Ora, se o
cristão ou o católico persegue o judeu ou outro qualquer credo é porque,
decididamente, o cristão ou o católico não possui as virtudes nem as crenças cristãs;
eles permanecem, positivamente, pagãos. Não se é anti-judaico sem ser, ipso facto,
anticristão. Contestar semelhante aforismo é impossível.
O imperador Julião, o apóstata, já dizia que "os cristãos haviam herdado
dos judeus sua cólera e seu furor contra o gênero humano".
Amiano Marcellino, historiador do século IV, citando o imperador Julião,
disse: "Os animais ferozes não são tão terríveis quanto são os cristãos entre si, e
quando divididos por crenças ou por sentimentos".
"A consciência geral dos cristãos, diz Saint-Yves, à
medida que ela evolui, não aprova esses anátemas, essas
230 Escrito há duzentos anos.
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excomunhões, essas cóleras, essas violências que são armas
da fraqueza e da impotência irritadas."
A intolerância é a represália dos santuários ameaçados em seus
interesses materiais.
Por que, pois, homens que admitem em particular a indulgência, a
benevolência, a justiça, se erguem publicamente com tanto furor contra essas
virtudes? Porque seu interesse é seu dever. A esse monstro eles sacrificam tudo.
Uma anedota oriental conta que, numa discussão teológica, um dos
assistentes dissera que Moisés, Cristo e Maomé foram três impostores que
enganaram os judeus, os cristãos e os muçulmanos; ao que o outro respondeu
dizendo que um pai possuía um anel que representava uma fortuna; mas, como
possuísse três filhos, mandou ele fazer mais dois anéis semelhantes para, assim,
ser dado um a cada um.
O pai morreu, os filhos reclamaram a fortuna que devia estar encerrada
no anel original. Houve discussões, e o juiz sentenciou que cada um teria de herdar
igualmente daquele anel, provando assim que todos os três eram filhos do mesmo
pai, com direito à herança, assim como o judeu, o cristão e o muçulmano são filhos
do mesmo Deus.
Atualmente o católico combate o anglicano, o luterano, o ortodoxo, o
maometano e suas próprias igrejas estão divididas e subdivididas.
Entretanto, como disse D. Antônio, bispo de Viseu, a respeito das
manobras do clero católico: "A religião de Jesus Cristo é tão boa, que, estando os
padres encarregados de dar cabo dela, ainda não o conseguiram".
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Se Deus consente a anarquia do Catolicismo é porque ele entregou a
malícia do diabo aos pastores do Cristianismo, como fez com Jó.
O caráter do sacerdócio católico é de não saber viver em paz com
nenhum outro sacerdócio. Ele reclama, para si, a liberdade como privilégio de
oprimir os outros; quer libertar a consciência acorrentando a dos outros sacerdócios.
E, se Jesus vendo das alturas a corrupção e a imortalidade da sua Igreja
e de seus ministros, segundo as expressões de F. R. dos Santos Saraiva, não
fulmina esses clérigos hipócritas e charlatões que comem dele, é porque,
certamente, ou está dormindo há tantos séculos, ou já se desinteressou dessa
humanidade.
Fukusawa, um dos maiores letrados do Japão, escreveu: "Toda religião
basta ao fim a que se propõe. Há diversas religiões, o Budismo, o Cristianismo e
muitas outras. No meu ponto de vista, não existe entre esta e aquela maior diferença
do que entre chá verde e chá preto. Quer se beba de um ou de outro, a diferença
não é grande. Para aquele que ainda não provou do chá, o que ele deve fazer é
prová-lo uma vez para conhecer-lhe o sabor. Os doutores de religiões são como os
vendedores de chá. Cada qual se esforça em colocar melhor sua mercadoria. Mas
não é justo depreciar os produtos de outrem, para encarecer o seu. Deve-se,
simplesmente, tratar de oferecer a mercadoria bem sortida e barata".
Se não fosse a revogação do Edito de Milão, lançado por Constantino e
Licinius, é possível que a Igreja não tivesse cometido os horrores que cometeu. Esse
Edito concedia aos cristãos e a todos os outros cultos a faculdade que se tem hoje
de seguir a religião que se quer.
Aí vai mais uma exuberante prova da intolerância, da incoerência e da
perversidade do Catolicismo.
353
Quando Jesus disse que "aquele que ferisse com a espada, com ela seria
ferido", quando ele ensinou o amor ao próximo, quando aconselhava perdoar 70
vezes sete, quando ensinava a humildade, mandando dar a outra face ao agressor,
quando definiu os dois poderes, ordenando que se desse a César a matéria e a
Deus o espírito, ele apregoava que a doutrina que pregava era contrária à
sangueira, à carnificina, ao ódio, à guerra em suma.
Mas, quando o mundo inteiro, por meio de Ligas, de Congressos
internacionais, de intervenções diplomáticas, procura resolver o mais importante
problema deste século, qual o do desarmamento, para garantir a paz neste pobre
planeta, quando todos os homens de boa vontade, de religiões antagônicas em seus
cultos, confraternizam e se abraçam para descobrir a magna equação, eis que
surge, em maio de 1933, o Monsenhor Gillet, do púlpito da Catedral de Notre Dame
de Paris, em discurso, perante 27 delegados de várias nações, aconselhando a que
todas as nações "se armem até os dentes, que multipliquem seus engenhos de
morte para uma futura hecatombe!"
Eis a doutrina católica, doutrina de Satanás; mas não a do meigo Jesus,
que de pretende representar, quando, de fato, representa o gênio do mal!
Edificante de ironia!
E ainda há homens que se ajoelham perante esses criminosos inimigos
da humanidade!
Ódio Católico
Como já temos repetido, Jesus nunca instituiu sacramentos ou dogmas de
espécie alguma, a não ser os pontos de moral da doutrina que pregou, pontos que
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se aplicam à humanidade inteira. A doutrina de João forjou o sacramento e o
dogmatismo produzindo o Catolicismo.
Os dez mandamentos que os próprios evangelhos citam
incompletamente, por causa de interesses de doutrinas, são repetições dos de
Moisés com criminosa variante; a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos:
"Pai Nosso..." é um resumo da oração de Zoroastro; as sentenças que pronunciou
são repetições de Buda; os atos que praticava eram todos pautados na moral do
patriarca Rama. Nunca ele perseguiu ou mandou perseguir ou odiar crença
contrária; ele procurava convencer por palavras e atos. Nunca ele excomungou
ninguém, nem mesmo Pedro, que o negou três vezes, nem Judas, que o traiu nem o
Pontífice que o entregou à multidão.
Entretanto, o Papa, seu representante, não cessa de vomitar
excomunhões e anátemas a quem não pactuar com sua Igreja.
A excomunhão, além de aberrar da própria doutrina de Cristo, e das
palavras de Paulo, é o maior contra-senso do Catolicismo, pois, em vez de procurar
salvar as ovelhas perdidas, como prescrevia Jesus, as precipita aos milhares nos
braços de Satanás, tolhendo-lhes, no seu modo de ver, até o direito de salvação
eterna. É verdade que, com dinheiro, é possível obter-lhe a revogação dessa
sentença, porque em Roma tudo se vende, lei, consciência e alma.
Todos os discípulos de Jesus fugiram desabridamente apavorados,
quando ele foi preso e ia ser levado ao Calvário; e o meigo Cordeiro não teve sequer
um gesto de censura, ao contrário, sorriu docemente para Pedro quando passou por
ele.
Por que se perseguir esse povo israelita, genericamente cognominado de
Judeu? Esse povo é da mesma descendência de Jesus, segue a mesma doutrina
355
dos dez mandamentos, por ele apregoado como base, usa a mesma Bíblia que o
Catolicismo usa, entoa os mesmos hinos de Davi e de Salomão, cantados por
Jesus231 e pelo clero católico, celebra as Vésperas, como o católico, que venera
Moisés e seus profetas como Jesus os venera e também a Igreja Romana, que,
afinal, foi o principal motivo da sua encarnação: reunir as ovelhas perdidas desse
povo e salvá-lo mesmo com o sacrifício de sua vida, conforme se vê em Mateus X,
5, 6, 9, 10: "Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidades de
samaritanos; mas, ide antes às ovelhas perdidas da Casa de Israel". Quando Jesus
atravessou a região de Tyr e Sidon, uma cananéia exortou-o para que tivesse
piedade de sua filha que era atormentada por maus espíritos; Jesus não quis
atendê-la apesar da intervenção dos Apóstolos.
"Não! Disse ele, porque só fui enviado às ovelhas perdidas da Casa de
Israel".
Em Atos XIII, 23 e em muitas outras passagens se lê: "Da descendência
deste (Davi), conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel".
Em todos os atos e das palavras de Jesus, ressalta, claramente, que todo
seu sacrifício em pregar a boa palavra tinha, unicamente, por fim, instruir o povo de
Israel e não a humanidade ou a Ásia, fonte da própria doutrina difundida.
Não se pode, pois, compreender semelhante antonomia, semelhante ódio
a um povo amado pelo Mestre. Será pelo fato de terem os antepassados desse povo
levado seu Salvador ao Calvário?
Seria pueril essa lógica, pois, se Jesus veio ao mundo para redimir o povo
de Israel com seu sangue, que ele sabia tinha de ser derramado, onde está,
portanto, o crime dos judeus? Estes nada mais fizeram do que contribuir,
231 Marcos XIV, 26 — XXVI, 56.
356
materialmente, para a realização de um fato já previsto por seus profetas, portadores
da palavra de Deus, uma vez, como dizem as escrituras, que este enviou seu filho
para ser imolado!
Nem por ser o carrasco o executor da Lei, deixa ele de merecer o respeito
do povo.
Não é o ato que faz o crime, mas sim a intenção. É por isso que os judeus
que crucificaram Jesus, sem conhecê-lo, não podiam ter pecado. Mais criminosa e
mais contrária à doutrina de Jesus é a propaganda, a guerra e o ódio à Casa de
Israel, pelos discípulos daquele que, exatamente, veio se sacrificar por ela e a qual
ele perdoou: "Perdoai-lhes, Senhor, eles não sabem o que fazem".
Seria o caso dos judeus dizerem também dos católicos: "Perdoai-lhes
Senhor, eles não sabem o que dizem nem o que fazem".
Mas, infelizmente, há judeus que repudiam a Jesus, por não o
considerarem como o Messias, o Verbo, o qual, aliás, ainda esperam. E por que não
este e sim outro? Pois se os evangelhos dizem que Jesus é da raça de Davi, de
cujos lombos deveria sair o Messias, como esperar outro, uma vez que esta raça já
está extinta?
É de pasmar-se, portanto, ver-se que, no século XX, ainda haja terrível
perseguição da Igreja do Cristo contra os israelitas em geral e, especialmente,
contra as duas tribos de Judá e Benjamin; pois chamar-se este povo, geralmente, de
judeu, é erro e maquiavelismo do Catolicismo, visto como as dez tribos há muito
tempo se haviam separado, por quererem essas duas um rei, ao passo que aquelas
cingiam-se à Sinarquia de Moisés, que só admitia um Pontífice. O epíteto de judeu,
com caráter deprimente é obra genuinamente católica.
Pergunta, com razão, o ex-padre Santos Saraiva:
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"De onde veio ao Vaticano o direito de condenar
sem ouvir o delinqüente, de excomungar sem instruir e esperar
o arrependimento do pecado? Do Evangelho? Não, porque
este manda perdoar 70 vezes sete. Dos exemplos do Cristo?
Também não, porque ele disse que não vinha julgar e ninguém
tinha o direito de o fazer. Logo, este suposto direito nasce do
capricho, da arbitrariedade, da imprudência, do espírito tirânico,
cruel e vingativo do culto católico, e este Espírito reside no
Princípio do Mal, que é a força que move os cordéis do
Vaticano".
A excomunhão é uma paródia do Deus Júpiter do Paganismo, que
fulminava a torto e a direito os que discordavam do culto que lhe rendiam.
Mas não é de admirar essa prática estulta, para com a humanidade,
quando o leitor souber que a excomunhão é lançada até a pobres vermes e insetos,
obedecendo a uma curiosa legislação e a um complicado ritual.
Seria fastidioso relatarmos, aqui, os inúmeros processos intentados pela
Igreja Romana contra animais, acusados e defendidos por advogados, para, por fim,
serem condenados à excomunhão, sofrendo as penas que lhes eram impostas. O
leitor ávido dessas informações recorrerá a J. G. Frazer, em seu Folclore, do qual
vamos extrair um escandaloso processo que se realizou no Brasil (p. 353):
"A prática de intentar processos aos animais
malfazejos existia ainda na primeira metade do século XVIII e
foi transportada pela Igreja para o Novo Mundo. No ano 1713,
358
os frades de Piedade, da província do Maranhão (Brasil),
intentaram uma ação às formigas desse território, por cavarem
traiçoeiramente os alicerces do mosteiro e saparem as adegas
dos ditos frades, o que enfraquecia os muros do mosteiro e o
ameaçava de ruína total. Não contentes de saparem as
fundações do edifício sagrado, as ditas formigas se tinham
introduzido nos compartimentos das provisões e carregado a
farinha destinada ao consumo dos frades. Isso não se podia
tolerar; por isso que, depois que todos os remédios foram
empregados, em vão, um dos frades exprimiu a opinião de que
era necessário voltar ao espírito de humildade e de
simplicidade, que tinha, tão eminentemente, distinguido seu
fundador seráfico, quando ele chamava todas as criaturas de
irmãos e irmãs, tal como irmão Sol, irmã Lua, irmão Lobo, irmã
Andorinha, e assim por diante, e que era preciso intentar um
processo às suas irmãs 'Formigas', perante o tribunal divino da
Providência; ele convinha em designar advogados para as
acusadas e para os queixosos e o bispo devia, em nome da
Justiça suprema, presidir ao processo e pronunciar o
julgamento.
Essa sábia proposta foi aprovada e quando todas as
disposições foram tomadas para o processo, o advogado dos
queixosos tomou a palavra e mostrou que seus virtuosos
clientes, os frades, viviam da caridade pública, recolhendo as
esmolas dos fiéis, o que lhes causava grande trabalho e
359
amofinações; enquanto as formigas, cuja moral e vida eram
evidentemente contrárias aos preceitos do Evangelho e que
eram, por conseqüência, encaradas com horror por São
Francisco, fundador da Ordem de seus clientes, subsistiam por
pilhagem e por embuste; pois, não contentes em se entregarem
a roubalheiras ordinárias, elas empregavam a violência para
fazer arriar a casa sobre a cabeça dos frades. Em
conseqüência, as acusadas deviam se justificar ou serem
entregues ao extremo rigor da lei, a saber: a morte por
pestilência ou pelo dilúvio ou pelo menos ao extermínio na
comarca. Por outro lado, o advogado das formigas argüiu que,
tendo recebido do seu Criador o dom da vida, elas eram
constrangidas, pela natureza, a conservar por meio dos
instintos naturais que lhes eram inerentes; que era de
conformidade com esses meios que elas serviam a
Providência, dando aos homens um exemplo de prudência, de
caridade, de piedade e de outras virtudes, em prova do que o
advogado citava as passagens das Escrituras, de São
Jerônimo, do abade Absalão e mesmo de Plínio; que as
formigas trabalhavam mais duramente que os frades, os fardos
que elas transportavam eram às vezes mais volumosos que
seus corpos e sua coragem ultrapassava suas forças; que aos
olhos do Criador os homens mesmos nada mais são do que
vermes da terra; que suas clientes possuíam o terreno muito
antes dos queixosos lá se instalarem; que, em conseqüência,
360
eram os frades e não as formigas que tinham de ser expulsos
do território, sobre o qual não lhes assistia outro direito senão o
da força; enfim, que os queixosos deviam defender sua casa e
suas provisões por meios humanos, aos quais as acusadas nio
se oporiam, uma vez que elas pudessem continuar sua
maneira de viver, obedecendo à lei que era imposta pela
natureza, gozando da liberdade da terra, tanto mais não
pertencendo ela aos queixosos, mas sim ao Senhor, 'assim
como tudo quanto ela contém'.
Essa resposta foi seguida de réplicas e tréplicas, no
curso dos quais o advogado da acusação se viu constrangido a
confessar que os debates tinham mudado sua opinião acerca
da criminalidade das acusadas... O resultado dessa causa foi
que o juiz, depois de ter cuidadosamente considerado os fatos,
decidiu que os irmãos escolheriam um campo na vizinhança,
onde poderiam habitar as formigas, para onde elas se dirigiriam
imediatamente sob pena de excomunhão maior. Graças a esse
arranjo, ele observou, as duas partes ficaram satisfeitas e
reconciliadas; pois as formigas deviam se lembrar que os
frades tinham vindo ao país para semear o grão do Evangelho,
enquanto as formigas poderiam, facilmente, ganhar sua vida
alhures e com menos despesas. Esta sentença, tendo sido
pronunciada com toda a gravidade exigida, um dos frades foi
designado para levá-la ao conhecimento das formigas, o que
ele fez lendo-a em voz alta em frente aos buracos de suas
361
galerias; os insetos conformaram-se lealmente e todos as viram
em espessas colunas abandonar seus formigueiros para irem,
apressadamente, em linha reta, até o território que lhes foi
designado".
"Risum teneatis?"
"Vinte séculos de infamantes delitos, de rapinas sem
número, de sangueira; os cruéis tormentos inquisitoriais, a
ereção de horripilantes fogueiras, um imenso acúmulo de
males, de corrupções, de ignorância, de ferocidade, de
escravidão de tantos países da terra, nos fazem estremecer a
alma e pensar que é o sacerdote católico que tem sido a causa
de todas as misérias da humanidade232".
Teria sido este o programa de Jesus?
Judeu-Cristianismo-Búdico
Se as 12 tribos de Israel quisessem estudar Saint-Yves, a aliança do
Judeu-Cristianismo seria um fato em curto prazo e o resultado ultrapassaria os mais
importantes feitos, desde que a terra existe, não só em benefício de Israel, como da
humanidade inteira, porque a cristianização da índia e da China e do próprio
Catolicismo seria uma conseqüência lógica.
Os israelitas, em geral, se convenceriam de que todo o fim de Jesus foi
exatamente reconciliá-lo na mesma Lei de Sinarquia, e que sua doutrina é a mesma
que Moisés lhe ensinou, pois é a condensação de todas as outras.
232 J.M. PING CAUSARANC – Secretário da Educação Pública do México
362
Monsenhor Duchesne233 escreve: "É certo que o Cristianismo tem suas
raízes na tradição judaica; que as primeiras crises de sua história são comparáveis
às de uma criança que se separa da mãe; que os livros sagrados de Israel são
também seus livros sagrados; e houve, mesmo, um tempo em que ele não conhecia
outro”.
“As cristandades constituíram-se, mais ou menos,
como as sinagogas judaicas. Como estas, elas foram núcleos
religiosos fundados sobre a comunidade da fé e da esperança.
Mesmo no ponto de vista do culto propriamente dito, a
semelhança é ainda maior. Os dois termos de sinagoga e igreja
significam a mesma coisa: ajuntamento e reunião”.
“Naqueles primeiros tempos, a analogia vai mais
longe: assim como os judeus de todos os países se consideram
irmãos em Abraão, Isaac e Jacó, do mesmo modo as
cristandades locais sentem vivamente sua fraternidade em
Jesus Cristo. De ambos os lados, todos olham para Jerusalém,
que ainda é o coração do Cristianismo, assim como do
Judaísmo".
Jean Izoulet234 diz que Jerusalém é a capital da terra cristã, maometana e
judaica. Jerusalém é venerada pelos judeus, adorada pelos cristãos e respeitada
pelos muçulmanos.
233 Histoire Ancienne de l’Église.
234 Paris, Capital dês Réligions.
363
Com efeito, replica Alfred Bizat, ultracatólico, "os primeiros cristãos
permaneceram judeus na estrita observância da lei, que constituía uma sorte de
higiene corporal e espiritual. Talvez fosse uma infelicidade o desaparecimento, por
extinção, das comunidades judeu-cristãs, e, talvez, se possa, até certo ponto,
encarar sua ressurreição como desejável e capaz de favorecer a entrada eventual
dos israelitas na comunidade cristã, quando vierem os dias prescritos por Paulo".
O Judeu-Cristianismo dominou em Jerusalém e em Roma. O papa
Clemente I era bispo judeu-cristão.
A Índia e a China, ou seja, quase 2 bilhões de almas, verificariam,
igualmente, pelos seus Pontífices, que a doutrina que Jesus pregou ao mundo é
positivamente a que se acha expressa nos Livros Védicos, isto é, no Mahabharata,
no Upanishaba, no Bhagavad-gita235, nos de Confúcio236 etc., porém, reduzida a
termos mais singelos.
O Bhagavad-gita (Canto dos Santos), que contém 700 hinos, assim se
exprime (12, 5-8):
"A dificuldade é maior para aqueles que tendem ao
Incognoscível por meio do seu pensamento; pois, o fim, que se
não deixa de reconhecer, é dificilmente atingido por seres
encarnados. Mas, para aqueles que oferecem a mim todas
suas obras, abandonando-se inteiramente a mim e que me
servem, pensando em mim com devoção, que se não deixam
orientar por lado algum contrário, aqueles cujos pensamentos
me são dirigidos, para estes eu me torno rapidamente seu
235 EMIL SINARD - Já em português
236 W.G GAUTHIER - Paris
364
salvador; eu os liberto do fluxo da existência no mundo que
encaminha para a morte."
"Volta teu coração para mim só, dirige tua vida
interna para mim e tu viverás futuramente junto a mim; isso não
padece dúvida alguma."
É possível ver-se nessas palavras doutrina de hereges, de pagãos? São
as mesmas que, milhares de anos depois, Jesus veio repetir à humanidade
sofredora.
Os únicos dois pontos divergentes entre o Catolicismo e o Budismo
baseiam-se na Origem do Mundo e na Transmigração da Alma. Para o Budismo, o
mundo foi criado há milhões de anos; para o Catolicismo somente há 6 mil anos.
Para o Budismo, o espírito evolui até chegar à perfeição, reintegrando-se em Deus,
como ensina o próprio Paulo; para o Catolicismo ela vai para o céu ou para o
inferno.
Segundo Edwin Arnold237: "as Leis da evolução, de causalidade, de
continuidade, de energia, a unidade do mundo, a homogeneidade e o encadeamento
dos seres, sua metamorfose em formas passageiras, a diminuição progressiva do
mal pelo acrescimento do saber, do altruísmo e da solidariedade, teorias estas
dominantes da ciência e da filosofia modernas, são, com efeito, as Sublimes
Verdades pregadas pelo Buda".
Buda, ou Cakya-Muni, ou ainda o Fo-Hi da China, foi o Lutero do
Bramanismo, o pregador da Caridade Universal e da igualdade fraterna entre todos
237 Lumière d’Asie
365
os filhos dos homens, o restaurador da tradição deformada por um clero ambicioso e
açambarcador da riqueza nacional.
Sua doutrina, saturada de uma profunda e incomparável moral, pauta o
mais insignificante ato da vida corrente de um budista. O verdadeiro budista é
aquele que vive com a cabeça de um adulto e o coração de uma criança, de onde as
palavras de Jesus, com referência ao reino do céu que pertencia às crianças; ao
passo que, no Ocidente, os fiéis católicos só se lembram de seus deveres religiosos
aos domingos ou dias de festas, ou quando, por circunstâncias fortuitas, vão ao
templo assinar o livro de presença em missa de defunto graúdo, ou tiram o chapéu,
automaticamente, com uma cara compungida, com o pensamento alhures, ou lendo
o jornal, no ônibus, à passagem pela frente do mesmo templo, embora de portas
fechadas.
Outros há, também, que guindados ao Poder, para satisfazer a uma
facção política, se declaram publicamente, da tribuna do Parlamento, contrários ao
Catolicismo e, no dia seguinte, beijam pública e oficialmente os pés de um ídolo de
pau, venerado como santo e não reconhecido pela Constituição do país.
Jesus disse um dia: "Hipócritas! Bem profetizou de vós Isaías quando
disse: 'Este povo honra-se com os lábios, mas seu coração está longe de mim'. Em
vão, pois, me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens".
"O hindu esquece seu Eu no Todo e se identifica com o Todo; o
homem moderno ocidental esquece o Todo em seu próprio Eu e se
identifica com este238."
238 Formichi — La pensée réligieuse de l'Inde.
366
A nomenclatura, a tecnologia e o simbolismo dos livros védicos, frutos de
uma série de observações e estudos milenários, por isso mesmo aparentemente tão
diferentes dos livros ocidentais, compreendem um Deus único e Inefável, adorado
em Espírito e não em figura, como geralmente se crê, porque o Brahma dos
Bramanistas não é representado por boneco nenhum, mas simplesmente pelo termo
Brahman, que simboliza o Deus supremo, do mesmo modo que o Buda do Budismo,
embora representado pela figura de um homem sentado239, espécie de estátua do
primeiro legislador da índia, como o Cristo do Corcovado representa o profeta da
Galiléia, não simboliza de modo algum o Criador Onipotente, nem seu filho
antropomorfo; mas, simplesmente, uma síntese da Teocracia de Rama. No Oriente
entra-se descalço no Templo, deixando-se as sandálias à porta do mesmo. Nas
igrejas católicas... é visível a falta de escrúpulos de certas devotas, a falta de
compostura de certos moços, a falta de respeito à Santidade do lugar.
A maioria lá vai como que para assistir a uma representação teatral ou a
uma conferência quando há sermão ou com fins mundanos.
Como não ser assim, pois, se na torre os sinos repicam jazz-bands e
chulas carnavalescas, se no adro a charanga de circo remói polcas e tangos, se no
coreto se vendem leitões e o altar se torna um balcão, se na rua a garotada, aos
berros, corre atrás dos foguetes comprados com dinheiro de esmolas, que melhor
aplicados seriam para socorrer os famintos ou edificar escolas?
No Oriente, as romarias aos templos são acontecimentos profundamente
religiosos. No Ocidente, e especialmente no Brasil, as romarias são verdadeiras
festas ao deus Baco, são piores que as bacanais do Paganismo. Sem falar de outros
239 Vide Capa.
367
Estados, citemos só a Festa da Penha, do Rio de Janeiro, cuja orgia é bem
conhecida.
Já Ovídio, em Fastos, como que assistindo há dois mil anos a esta festa,
escrevia a respeito da de Ana Petronilha (Ana Perena):
"Nos Ides, é a festa genial de Ana Perena, não longe
das tuas margens, ó Tibre vagabundo. A plebe açode, e, cá e
lá, deitados sobre a relva verdejante, bebe-se e come-se, cada
qual com sua companheira. Uma parte permanece ao ar livre;
outra, arma tendas; alguns arranjam barracas com ramos de
árvores; outros espetam moirões à guisa de colunas e neles
penduram suas roupas. Entretanto, o Sol e o vinho aquecem
essas cabeças. Cada qual pede tantos anos de vida quantos
são os copos de vinho que esvaziam, cujo número se conta.
Alguns engoliriam os anos de Nestor pela série de seus
bródios, atingindo a idade da Sibila. Ali também se canta tudo
quanto se ouviu nos teatros e os gestos acompanham a letra;
depois, pousando a taça, executam danças grotescas, e a
companheira se esbate com a cabeleira ao vento. No regresso,
cada um vem cambaleando e os transeuntes que os vêem
passar, divertem-se e acham que são felizes".
O que se não pode contestar é que todos os adeptos das várias formas
de religiões existentes no mundo sejam eles israelitas, protestantes, bramanistas,
budistas, lamaísta etc. cumprem à risca os preceitos do culto interno, já cantando
368
seus hinos e orações diariamente às horas próprias, já fazendo suas abluções, já se
abstendo de carnes e bebidas alcoólicas, já realizando rigorosos jejuns, já repartindo
suas fortunas entre os necessitados. Nelas não há meios-termos, nem confissões,
nem perdões, nem indulgências, dispensados por procuradores do céu; quem
transgride suas leis morais, encontra em si mesmo a punição e se impõem certos
rigores psíquicos.
O pecador procura não recair no pecado, porque está persuadido que as
reincidências nulificam seus frágeis arrependimentos e o condenam às penas do
além. O católico, porém, reincide constantemente no pecado, porque está
convencido de que cada absolvição pelo sacerdote, que lhe permite aproximar-se do
altar para engolir Cristo em uma hóstia, e redime, tornando sua alma negra tão pura
como a de um anjo, seja ele, embora, o maior assassino ou o mais desprezível
recidivo.
O culto católico é tão contrário à eqüidade, que ele proclama que Deu-Pai
mandou seu Filho sofrer na terra, fez correr lágrimas a sua mãe, consente as
torturas infligidas em seu nome por um carrasco a quem não fulmina, impõe o
Espírito Santo a 12 homens quando devia fazê-lo à humanidade inteira.
O Catolicismo romano compreenderia, então, que se fez da doutrina que
o Cristo-Jesus pregou, um código político que só tem servido para irritar o mundo e
causado as antipatias que se verificam, de vez em quando, em certas nações e, por
fim, poderia exclamar como Saint-Yves:
"Sim, sou católico, isto é, universal, até o alto do Himalaia".
369
E, olhando, não para tão alto, mas para o cume do nosso Corcovado,
veria o Verbo Redentor, não mais como o Cristo Sofredor, pregado a uma cruz;
mas como o Cristo Glorioso, dispensando, por isso mesmo, o contínuo sacrifício,
em atitude de abraçar toda a humanidade sem distinção de raça, de cor ou de
crenças.
O Cristianismo primitivo teve quatro fases: o palestiniano, o pauliano, o
judeu-grego e o joânico.
A Igreja Apostólica ensinou a humanidade de Jesus; Paulo sua natureza
humana e João sua preexistência, sua divindade, terminando o Concilio de Nicéia,
por decretar sua deidade, o que causou o rompimento.
Entretanto, a diferença aparente entre o Judaísmo e o Catolicismo
reside, igualmente, no seguinte: o judeu crê no imenso valor da vida terrestre, ponto
final da alma e do homem; o católico crê no infinito valor da vida terrestre e só aceita
a vida do além, no céu ou no inferno. Se o judeu aprofundasse seus livros veria que
Moisés cogita esotericamente da alma, do espírito e da sua sobrevivência. Basta
citar Deuteronômio XXXIII, 1, 2: "O senhor veio do Sinai. Ele levantou-se sobre vós
de Seir. Ele apareceu no monte Faran240 e milhões de santos com Ele".
Entre esses milhões de santos, figuravam, provavelmente, os antigos
ortodoxos que foram espíritos terrestres.
Em Deuteronômio XVIII, 11: "Moisés proíbe terminantemente que seu
povo interrogue os mortos”, isto é, o espírito, o que denota que as religiões da
Antigüidade já se ocupavam de espiritismo, o que não pode ser contestada. Na
previdência desse teurgo, não convinha que seu povo, a que ele acaba de arrancar
da idolatria espiritual, se entregasse a essas especulações perigosas, que teriam
240 Referência a Rama
370
certamente desorientado aquelas fracas inteligências. Contudo, essas práticas não
deixaram de ser difundidas entre o povo de Israel, tanto assim que se vê o rei Saul
invocando, por meio da pitonisa, o espírito de Samuel que lhe apareceu (Samuel
XXVIII, 3, 7, 8, 9 etc.).
E que é a invocação dos santos do Catolicismo senão a invocação dos
espíritas?
O caso é que, em boa lógica, tanto o israelita como o muçulmano ou o
budista, ou mesmo o ateu, podem, perfeitamente, atravessar a existência sem entrar
em explorações metafísicas, procurando sondar a divindade, merecendo, por fim, a
recompensa com a condição de cumprir fielmente os simplíssimos dez
mandamentos que resumem a Lei de Deus, para os homens, lei em uso em
qualquer povo do mundo, desde que se adote a frase resumida do Espírito da
Verdade:
"Sem Caridade não há Salvação".
371
Elucidações
No alinhar desta colcha de retalhos, tivemos ocasião de tocar em alguns
pontos, dos quais, depressa, nos afastávamos, para não argumentar a
complexidade do assunto.
Julgamos, porém, ser útil elucidar alguns, embora muito superficialmente,
pois seu completo desenvolvimento poderá ser obtido, recorrendo-se às obras de
Saint-Yves, de Fabre d'Olivet, de Edouard Schuré e de outros escritores que temos
citado. Estamos certos de que não será pequeno o benefício que isso trará aos
estudiosos e sedentos de Verdade, porque é pelo estudo, remontando às principais
fontes e fazendo comparações, que o espírito inteligente tirará suas conclusões,
descobrindo, senão a Verdade, pelo menos o erro que os sofismas produziram.
Assim é que várias vezes nos referimos a Rama, como primeiro patriarca
legislador das índias, do Irã241 e do Egito.
A existência desse personagem foi descoberta por Fabre d'Olivet242,
porém mais profundamente pesquisada por Saint-Yves, que remontou a 86 séculos.
Edouard Schuré243, igualmente, estuda esse primitivo patriarca e
reconhece sua passagem na Terra.
Mas como conhecemos pessoas eruditas, que duvidam dessas
existências, considerando-a, pelos enciclopedistas interessados, como uma
divindade mitológica da Índia, vamos passar a pena a Saint-Yves:
241 Chamado mais tarde de Meda, Persomeda, Pérsia etc.
242 Histoire philosophique du genre humain.
243 Os Grandes Iniciados.
372
"Há três meios para fixar a data do ciclo de Rama: 'a
cronologia dos Bramas, a de Arriano e um documento escrito
pelo próprio Rama no céu mesmo244”.
"Daçaratha, o Rawhó245 destronado pelo patriarca
Rama, era o quinquagésimo monarca solar desde Ikshauku,
filho do sétimo Menu, filho de Vaivasuata, que foi salvo do
último dilúvio”.
"Ora, os Bramas contam 12 mil anos por Menu ou
Lei Orgânica interdiluviana; eles recuam o reino de Daçaratha a
21 séculos após o último cataclismo”.
"Esses cálculos dão pouco mais de 86 séculos antes
da presente data de 1884 e concordam com os do sábio
historiador Leonard W. King, já falecido, que os computava em
seis ou sete mil anos antes de Jesus Cristo".
Ademais, para confirmar essa relativamente pequena Antigüidade de
8.600 anos pelas provas acima, basta recorrer-se aos incontestáveis livros de
Heródoto, historiador do Egito, que lá viveu familiarmente entre os sábios, enquanto
o país estava sob o domínio dos persas, os quais lhe mostraram as 341 estátuas
dos Pontífices Reis, dos Melquisedeques, representando gerações de homens, cuja
duração é estimada por esse historiador em 11.340 anos.
Em Assur, antiga Capital da Assíria, o deus do céu era chamado Anu, o
qual compartilhava do templo de Raman, que supunham ser o filho daquele deus,
244 Subentende-se – o planisfério astrológico.
245 Monarca – sendo seus representantes os Pha-Raós (Reflexo do Rei).
373
isto é, do pontífice Ram, igualmente conhecido na Babilônia, conforme veremos
abaixo.
"Segundo os dados dos Santuários gregos, sírios e
egípcios, Arriano diz que, desde Rama até Sandrocottus,
contavam-se 64 séculos.
"Ora, Alexandre foi contemporâneo e rival de
Sandrocottus, três séculos e 26 anos antes de nossa era, o que
dá para a fundação do ciclo de Rama, de Dionísio, de Osíris,
86 séculos e alguns anos.
"Plínio concorda com Arriano."
Priaulx e Lightfort, dois reputados sábios orientalistas, sustentam que
Hércules, da mitologia grega, bordado sobre o planisfério a que se refere Plínio, foi
Rama.
"Enfim, continua Saint-Yves, Rama, tendo escrito ele
mesmo um dos seus livros em língua hermética e em
hieróglifos primitivos, na Esfera estrelada que lhe devemos246,
tomou o cuidado de lhe indicar a data astronomicamente,
pondo ali seu Carneiro zodiacal à frente, face para a
retaguarda, fugindo o Ocidente."
"Ora, o ano céltico era lunar, e, se bem que Rama
conhecesse o ano solar e reservasse o total sistema do mundo
246 O Arqueômetro.
374
ao ensino esotérico, ele deixou a seus povos o uso do ano
lunar, ao qual estavam habituados."
"Esse ano começava na Modra-Necht, nessa noitemãe
do Solstício de Inverno, em que se celebravam em volta
dos Cromlechs a festa da Nova-Salvação, da Nova-Saúde,
New Heyl, Noel, nosso Natal."
"Esta noite, ponto de partida da Ordem Zodiacal do
Carneiro, corresponde hoje ao Sagitário."
"Esse afastamento, de cerca de quatro signos, nos
dá mais de 86 séculos na hora atual."
"Essa quádrupla concordância cronológica dos
Bramas, de Arriano, de Plínio e de Rama mesmo, fixa,
exatamente, o início do ciclo do Carneiro ou do Cordeiro."
"Não é indiferente notar-se que as festas de
Mammon e de Osíris celebravam-se no Natal247, como a de
Baco, de Devanahirsha, de Gian-Shyd etc."
Rama, cujo nome em celta e em inglês (Ram) significa Carneiro, era celta
europeu, tendo adotado esse epíteto, que lhe deram insultuosamente, como brasão
do estandarte que guiou seu povo na conquista da África, da Índia, da Pérsia, do
Egito.
Os persas substituíram o nome da constelação do Carneiro pela do
Cordeiro, quando Rama, deixando o Poder, assumiu a Tiara pontificai com o título
de Lama, que significa Cordeiro.
247 Isto é, no dia em que o Sol, se achando no zênite, recomeça uma nova carreira. O Cristianismo
adaptou esta tradição ao nascimento de Jesus, por considerá-lo como o início de uma nova era.
375
E esse povo celta europeu, que constituirá mais tarde os arianos,
derivação de Áries (carneiro) e que os modernos historiadores aplicaram,
erroneamente, como sendo um povo de raça ariano, que nunca existiu, como raça
propriamente dita e que o chanceler alemão Hitler queria ainda mais embaralhar,
atribuindo a origem desse povo, como provindo da antiga Germânia, o que é falso.
É esse povo Celta que, muito mais tarde, Moisés selecionará no Egito
para constituir o povo de Israel. "Lembra-te que eras estrangeiro na terra do Egito",
lhe repetia Moisés.
Sylvain Levy248, com sua abalizada opinião como erudito professor do
Colégio de França, acha que os arianos têm como fonte principal a ítalo-celtida.
C. P. Tiele249 diz que a mitologia comparada provou que os arianos, no
sentido amplo do termo, abrangem os hindus, os persas, os leto-eslavos, os frígios,
os germanos, os gregos, os ítalos e os celtas, os quais possuíam, outrora, a mesma
língua, bem como a mesma religião, dando assim razão a Moisés quando diz que a
terra era de uma só língua e de uma só fala.
Do mesmo modo, errada é a denominação de raça semítica, que, mais
tarde, deram como origem dos israelitas, pois, Sem, o suposto filho carnal, do
suposto Noé, o princípio biológico do nosso sistema solar, corresponde a Abel e
significa espaço etéreo.
As raças da terra, propriamente ditas, foram somente quatro: a vermelha,
a negra, a amarela e a branca250. Classificar, portanto, como raça os povos
germânicos, teutônicos, anglo-saxônicos, latinos etc., é tomar a nuvem por Juno.
248 L'Inde et le Monde — 1928.
249 Manuel de l'histoire des religions.
250 Nos tijolos achados na Babilônia e estudados por François Martin, já citado, existe um com o
oráculo dedicado a Assurbainpal, que, numa das linhas, assim se exprime: "... afim de que sobre os
homens das quatro línguas..." o hino a Varuna, no Atharvaveda, fala em cinco raças humanas.
376
São essas confusões e deturpações de termos que têm produzido as incoerências
de que a História está cheia. E é pela rotina que os erros se vão confirmando.
Foi no ciclo de Rama, no Império Sinárquico Universal e especialmente
nas Índias, que se instituiu uma lei que dividiu o povo em quatro categorias sociais: a
raça vermelha à dos Xátrias, isto é, a casta militar; a raça amarela aos Vaixiás, isto
é, a casta comercial e industrial; a raça negra ou Sudras aos trabalhadores ou
párias e a raça branca ou Bramas, à classe sacerdotal.
No túmulo de Sethi I, que a ciência há de reconhecer um dia como o
sucessor de Rama, foram pintadas essas quatro raças com suas respectivas cores
(Figura 8).
Cada figura tem um nome inscrito: a branca é Tamahu; a amarela, Amu;
a negra, Halasiu e a vermelha, Rot, provavelmente os Rutas da História.
Não seria de estranhar que essas figuras, ali gravadas, representassem
uma comemoração à visita que esses reis, representantes dos seus países,
tivessem feito ao primeiro monarca Rama ou ao monarca então reinante e cujos
títulos pessoais fossem ali inscritos.
E bom lembrar, também, que essa antiga tradição, gravada por Moisés na
Gênese, simboliza essas quatro raças como sendo quatro rios oriundos de uma
mesma fonte (a religião) deslizando para os quatro pontos cardeais da terra. Moisés
chama-os de fluidos e dá-lhes os seguintes nomes: Phishon, Gihon, Hiddekel e
Prath.
Segundo tudo leva a crer, pelos destroços ainda espalhados no México e
na África, a primitiva raça da terra devia ter sido a Vermelha, por isso Moisés a
simboliza no seu Adão, feito de barro vermelho, segundo a crença babilônica de
onde ele a transplantou para a Gênese.
377
RAÇAS CONHECIDAS DOS EGÍPCIOS
Vermelha Negra Branca Amarela
Figura 8
A vaca de Deir-el-Bahari, descoberta por Naville, em 7 de fevereiro de
1906, em Tebas, tem mais de três mil anos. Junto a ela se vêem dois faraós, um de
pele preta, de mãos postas, como que submisso à vaca; e o outro de cor vermelha,
segurando-lhe o leite. Entre os chifres da mesma, se vê o disco solar, representativo
da raça Vermelha e da sua respectiva dinastia solar, submetendo a Africana. É a
mesma dinastia solar que vigorava na. Atlântida, no México, no Peru, no Egito etc.
A vaca tem por nome Hathor, emblema da Ordem Touraneana (Thor-
Ram), o antigo Touran.
Pela tradição de todos os povos de Norte a Sul, cuja origem se perde na
noite dos tempos, dentre as quais se destacam os habitantes da zona glacial, os
escandinavos (que significa navegantes), bem como pelos livros sacros, dos
relativamente mais modernos, como sejam os caldaicos, os egípcios, os gregos, os
378
persas, os chineses na parte oriental, os de Angola, Congo, Tenerife e quase todo o
litoral da África, dos incas, do Peru, dos astecas do México, dos guaranis e tupis do
Brasil no novo Continente, em todos se verifica, a não se poder pôr em dúvida, que
a dinastia que regia esses povos era a mesma, por isso, todas adoravam o Sol como
símbolo visível da Potência Vital Criadora, como sendo o Filho do Deus Onipotente.
Esses povos possuíam uma profunda e antiqüíssima ciência acerca da
astronomia, que exigia, forçosamente, vastos conhecimentos matemáticos, químicos
e físicos. São essas ciências que Rama veio difundir pelo Oriente. Uma vez
vencedor no Continente africano, onde ele foi cognominado de Gian-Cid,
corrompido, com o tempo, em Djem-Shid, ele se dirigiu para a Índia, onde, mais
tarde, o poeta Valmiki lhe dedicou um poema intitulado Ramayana, verdadeira obraprima,
já traduzida em todas as línguas.
O Ramayana251 é o histórico inicial da grande conquista das índias pelos
celtas, tendo Rama à testa. A índia era uma colônia da raça negra.
Antes de Rama conquistar o Hindustão, ou seja, a Índia atual, cujo nome
era então Bharat-Khant ou Bharat-Versh que significa Tabernáculo de Bharat, já
esse país possuía, por intermédio do seu primeiro legislador, Bharat, a síntese
divina, representada por Wôdha, isto é, a Eternidade, ou antes, o padrão de tudo
quanto é eterno; a eterna bondade, a eterna sabedoria, a eterna potência etc. Esse
termo, que é encontrado em todos os cultos e mitologias da Terra, degenerou, com o
tempo, em Buda e passou a ser assim adotado até hoje. Bharat dava-lhe o
sobrenome de Iswara, isto é, o Ser Supremo.
Rama conservou esses termos.
251 Le Ramayana – H. FAUCHÉ – 1864.
379
É certo que todo aquele que ler este inimitável poema e não possua os
conhecimentos que, muito imperfeitamente, temos indicado nestas páginas,
considere Rama como um personagem puramente nacional ou mitológico, o qual,
auxiliado por uma legião de macacos, teria desenvolvido sua atividade,
atravessando florestas e vencendo, por fim, o inimigo.
Sabendo, porém, que esses macacos se referem aos negros
bosquínianos e a um povo de pigmeus, que ainda vivem na região mais povoada
desses quadrúmanos, e que os nomes ali citados são símbolos religiosos, facilmente
se reconhecerá o erro cm que muitos laboram, por falta de leitura.
Nessa ilusão vivem igualmente os Maçons que tomam o termo Hiram,
como um personagem de carne e osso e referem as enciclopédias, que construiu o
templo de Jerusalém, e foi morto.
A Pérsia, atual Irã, foi a terra em que Rama estabeleceu seu primeiro
templo, na cidade que ele chamou de Paradesa (paraíso), conforme veremos mais
adiante.
Não é de estranhar, portanto, a quem sabe pesquisar, encontrar-se, na
Maçonaria, o triângulo como um símbolo cabalístico, quando nada mais é do que
um resumo dos dois triângulos de que é composto o hexágono (Figura 2) redução,
por sua vez, do dodecágono do Arqueômetro de Rama, ou seja, da Síntese das
Ciências.
No Zenda-Avesta, p. 108, 9a., lê-se o seguinte: "Zoroastro consultou
Orzmud nos seguintes termos: 'O Orzmud, absorvido na excelência, justo juiz do
mundo... qual foi o primeiro homem que vos consultou como o estou fazendo!'
Então, Orzmud disse: 'o puro Giam-Shid, chefe dos povos e dos rebanhos, ó Santo
Zoroastro! foi o primeiro homem que me consultou como tu o fazes agora'. Eu lhe
380
disse: 'no começo, eu que sou Orzmud, tudo criei, submete-te à minha Lei... meditaa
e propaga-a entre teu povo... Depois ele reinou... Eu lhe pus na mão um gládio de
ouro. Ele se encaminhou para a Luz, para o país do meio-dia e ele o achou belo...'".
Depois de firmados ali seus ensinos, recebidos da tradição antediluviana,
seguiu ele para a Pérsia, fundando observatórios astronômicos sob a direção de
vários Zoroastros (Zaratustra)252, instituindo a dinastia solar, isto é, a religião do Fogo
sagrado, representado pelo Sol, pelo Filho de Deus, pelo Cristo em suma, salvador
e potência divina, como era conhecida.
Continuando sua marcha vencedora, entrou ele no Egito, onde fundou a
Ordem dórica, como tipo da ciência arquitetônica, a mesma que se encontra no
México, na Índia e alhures, e organizou seu Império sob a égide do Carneiro, não só
por simbolizá-lo (Ram) como chefe do rebanho, como por coincidir sua chegada ali,
com a entrada do signo zodiacal, representado por esse animal. Esse estudo foi
verificado por astrônomos e as descobertas arqueológicas vieram confirmar a
existência naquelas eras de um Reinado do Carneiro, ou seja, da Lei de Amon
(carneiro).
A arca de Amon, em Tebas, como se vê em qualquer livro de egiptologia,
Maspero e outros, é representada tendo à frente e atrás uma cabeça de carneiro e é
encimada pelo disco solar, representando a religião de Rama e sua dinastia.
Na Índia ainda hoje se vêem inúmeras esculturas nos templos, milenários,
reproduzidas pela revista Les Arts, na qual figura Rama, entre Carneiros e
Cordeiros, e na qual, igualmente, se descreve a vida de Buda, já se preparando para
descer a Terra, já caminhando sobre as águas, já distribuindo alimento à população
faminta etc.
252 Chefe da Milícia Celeste, ou seja: Diretor do Observatório Astronômico.
381
Na Babilônia, achou-se uma estrela representando Rama de pé sobre um
Carneiro, e coroado com o disco solar253.
Inúmeras alamedas conduzindo aos templos, ladeadas por carneiros
esculpidos, ainda são vistas no Egito.
Foi o Reinado do Carneiro — o Reinado da Paz.
A este reinado sucedeu o de Touro, cujo signo Zodiacal, igualmente,
sucede ao do Cordeiro.
Eram os touraneanos, os povos de Thor, do Thor-Ram, inimigos dos
persas. O touro alado, representando o rei da Babilônia, ainda é uma prova.
Quando Jesus se reencarnou na Terra para restabelecer o Reinado da
Paz, o Reinado do Cordeiro, entrava, igualmente, no Zodíaco, o signo
correspondente aos Peixes. Os primitivos cristãos perseguidos usavam este signo
como símbolo para se reconhecer254. Não haverá também nisso certa analogia com
os pescadores discípulos do Nazareno?
A atual tribo dos angamis, no Vale de Assam, ao nordeste da índia, nos
limites da Ásia Central, do qual alguns credos cristãos querem que tenha nascido o
primeiro casal humano255, é descendente dos conquistadores que agiram sob as
ordens de Gian-Cid, ou Shid.
Entre as três primitivas tribos romanas, havia a de Ramnensis. O sufixo
nensis significa: Autoridade, Poder.
Abdicando, mais tarde, do bastão de comando, tomou esse patriarca o
báculo pontifical, sob o título de Lam, ou seja, Lama, que significa Cordeiro.
253 François Lenormand — Histoire Ancienne de l'Orient.
254 Quo Vadis, de SIENKIEWICZ.
255 O Padre Raymundo Pennafort é mais arrojado; garante que foi no Amazonas! – História do Brasil.
382
Sua religião propagou-se por tal modo que vamos encontrá-la no
Lamaísmo, no Tibete, na Mongólia, para onde foi levada pelo grande guerreiro e
conquistador Gêngis Khan, e mesmo na China.
Ossendowski256 diz que o culto a Rama ainda existe na Mongólia.
Em um dos diferentes ritos lamaicos, da seita dos Bonés amarelos,
discípulos de Tsong Kaba, cuja descrição se encontra em Initiations lamaiques, de
Alexandra David Niel, surge a sílaba Ram em um círculo vermelho de fogo.
Vigoravam, pois, em todo o Universo o Império do Carneiro e a Religião
do Cordeiro.
Seu templo, ou antes, o templo que ele ergueu ao Deus Todo-Poderoso,
foi instalado no Irã (I-Ram) hoje Pérsia, entre Balk e Bamian, num local que ele
denominou Paradesa (Paradêsha) e que a lenda, mais tarde, transformou em
Paradesa, Pardesa, Paradiso, Paraíso...
Daí a história do famoso personagem maçônico que nunca existiu. Daí a
fantasmagoria do nascimento de Adão e Eva nesse lugar, que, certamente havia de
ser um jardim de delícias, não só pelo clima, que é o melhor do mundo,
correspondendo geograficamente ao dos planaltos da nossa hinterlândia, como pela
pureza da religião de amor que ali reinava e ainda reina no Budismo.
Adam (A D M), como teremos ocasião de estudar, significa naquelas eras:
Academia, Universalidade.
Da árvore da Ciência dos Patriarcas, que Rama ali implantou ou,
simbolicamente, plantou, isto é, a divulgação da Ciência astronômica, cujo
planisfério, como teremos ocasião de estudar, representa um hemisfério que encerra
o Verão e a Primavera e outro o Outono e o Inverno, o primeiro sentido da Bíblia fez
256 Homens, bestas e deuses – em português.
383
duas árvores desconhecidas da botânica; uma do bem e outra do mal, e numa delas
enroscou uma vil serpente, dotada, por milagre, só naquele momento, dos
complicados órgãos próprios a emitir voz humana e formar palavras, cuja prosódia
nunca se conheceu, para enganar torpemente uma pobre e ingênua mulher, que não
havia pedido para ser extraída de costela alguma257, causando depois o famoso
pecado original de que já tratamos, pecado ocorrido há uns seis mil anos, e por cujo
crime o meigo Jesus veio se fazer espetar em uma cruz, crença essa, em suma,
completamente desconhecida antes, e só introduzida, cerca de 400 anos depois, no
tempo de Santo Agostinho, quando vigorava em todo seu esplendor a doutrina
Zoroastriana de Mani, o Maniqueísmo, por este santo adotada.
Felizmente, a data de 8.600 anos em que Rama por ali andou, as
modernas descobertas de templos e cidade soterradas no Egito, no México, no Peru,
os livros de Maneton e outros, destroem por si só essa infantilidade de 6 mil anos de
idade da terra, ensinada pela Igreja Romana, e arrasta consigo todas as puerilidades
que a ela se prendem, e estabelece uma velhice para mais de 473 mil anos,
segundo as informações de Diodoro, colhidas nas observações astronômicas dos
Caldaicos.
Ora, em um país como o nosso em que muitos são analfabetos e dos
restantes apenas, talvez, 2% se dediquem a esses estudos, é claro que o clero
católico procure manter o povo na ignorância, pois a luz dissiparia as trevas em que
vive, e algo sofreriam suas finanças, e, conseqüentemente, a Fé imposta.
O padre Vigouroux em sua citada obra diz: "É certo que as tradições
conservadas pelos escribas assírios são anteriores a Moisés e mesmo a Abraão".
257 Foi uma das razoes que o Concilio de Trento negou alma à mulher!
384
Isso dito por uma das maiores mentalidades católicas serve de rolha a
apologistas incapazes mesmo de lê-lo.
Hoje, com o progresso da Arqueologia, não mais é permitido argumentar
com a letra desses textos para firmar teses, uma vez que esses mesmos textos
exprimem coisa bem diversa que o legislador de Israel soube condensar em sua
Gênese, sob três sentidos bem distintos, conforme vimos nas Figuras 3 e 5.
A religião de Rama, que era, exatamente, a que Moisés mais tarde
transmitiu à humanidade, tinha por símbolo de paz o Cordeiro. Esse símbolo servia
para os holocaustos do legislador de Israel como havia servido anteriormente ao
patriarca Abraão, na suposta imolação do seu filho Isaac, cujo nome, felizmente para
ele, significava Princípio de Agregação ao Centro.
Na-Ram-Sim, o rei de Acádia, era um descendente de Rama, de quem
herdou um grande império. Esse rei usava uma coroa com chifres de carneiro. O
signo divino com que este rei assinava seu nome era significando a dinastia
solar.
Os próprios cornos com que se enfeita a testa de Moisés nada mais são
do que o símbolo da religião do Cordeiro; pois há de convir que Moisés não era um
fenômeno humano! (Figura da capa)258.
O báculo de todos os pontífices, bem como a tiara do Papa com o
simulacro de dois cornos, o bastão de João, o Batista, além do cordeiro com que o
fazem sempre acompanhar, o cajado dos eremitas e profetas, nada mais simbolizam
pela sua curvatura, do que os chifres daquele animal e, conseqüentemente, a
religião de Rama.
258 Cópia da estátua de Moisés, no museu do Louvre esculpida por Miguel Ângelo.
385
Por que, em suma, a Igreja Católica chama e representa o próprio Jesus
como Cordeiro em vez de o representar, pelo menos, como o Pastor?
Porque a tradição impôs essa figura indestrutível da religião de Rama e
da sua cosmogonia.
Sobre o altar católico se vê o Livro selado com sete selos, sobre o qual se
acha deitado um cordeiro.
Jesus é de fato o Cordeiro Místico.
Até o ano de 680, sob o pontificado do papa Agatom, e no reinado de
Constantino, o Cristo era representado como um Cordeiro, ora unido a um cálice que
continha seu sangue, ora ao pé da cruz. Mas, no sexto Sínodo de Constantinopla,
este modo de figurar o Cristo foi substituído por um homem crucificado, o que foi
confirmado por Adriano I.
Nasce daí o Cristo na Cruz.
Agni, um dos atributos do Deus Persa, o deus do fogo, está igualmente
sentado sobre um cordeiro azul.
O Deus Amon do Egito é sempre representado com uma cabeça de
carneiro.
Essa denominação de Cordeiro, dada ao Cristo, na Cosmogonia dos
persas, antes de haver Cristianismo, se acha em todos os livros sagrados dos
cristãos; mas, principalmente, no Apocalipse de João. E como Cordeiro que ele
representa Jesus. Ali, os iniciados nos mistérios são qualificados de discípulos do
Cordeiro. Este é representado sangrado no meio dos quatro animais que,
igualmente, se vêem representados nas constelações zodiacais, e colocados nos
quatro pontos cardeais da esfera, um para cada um dos evangelistas. É perante
esse Cordeiro que os gênios das 24 horas, designadas no Apocalipse por 24
386
anciãos, se prosternam dizendo ser ele digno de receber potência, divindade,
sabedoria, força, honra, glória e bênção (sete qualidades, sete planetas etc.).
Pela Figura 9, gravada nos monumentos da Pérsia, milhares de anos
antes de existir o Cristianismo, é evidentíssimo e incontestável que João tivesse
extraído dali essa passagem do seu poema, como, aliás, todo seu livro, baseado
como está na astrologia, conforme veremos ainda.
Segundo Dupuis, o Deus Cordeiro de Roma é o antigo Júpiter dos
primitivos romanos, que já era cópia do de Amon dos egípcios, o vencedor do
príncipe das trevas na Páscoa; é o mesmo deus que no poema de Nonnus triunfa
de Tifon, na mesma época astronômica.
O Cordeiro também é a famosa besta do Apocalipse XIII, 1, 8, cujo
número 666 tem dado o que fazer ao engenho de muita gente, e que, pelo
Entretanto, é curioso notar-se que a soma dos valores dados pelos latinos às suas
letras, abstração feita do M, referente ao milhar, dá igualmente o famoso 666, sem
que, no entanto, as letras correspondam a nome nenhum de homem, como exige
João. Esse apóstolo se baseou, certamente, no alfabeto hebraico e seus respectivos
valores que, como vimos, claramente indicam o nome histórico de Jesus e sua
religião.
I = 10 M = 40
Sh = 300 Sh = 300
O = ___6 I = __10
316 + 350 = 666
É bem possível também que assim não seja, pois, do mesmo modo, isto
é, pela matemática quantitativa, se pode encontrar o termo Ph-I-Sh-O-N259 (Princípio
do Mal — o Militarismo) cuja soma também é 666; não encontramos, porém,
259 Um dos nomes simbólicos dos quatro rios ou fluidos etéreos, como já vimos, que ali é
representada pela casta militar.
387
correlação entre esse número e o nome de homem daquela época, nem mesmo com
o imperador Calígula, sob o reinado do qual foi escrito o Apocalipse, a não ser, por
analogia, com Nemrod, cujo epíteto, aplicado por Moisés, quer dizer Via do Tigre,
via do sangue, símbolo do militarismo, do qual surgiu a política, sinônimo de
Anarquia, que infelicita o mundo há 7 mil anos, quando Menés rompeu com os
templos de Tebas.
Figura 9
A numeração latina, representada por letras, foi uma composição
confusamente plagiada da numeração dos templos antigos, dos quais se originou a
Ciência do Verbo em que se baseava, por isso com essa numeração é impossível
remontar-se às eras pré-históricas e tudo quanto se bordar sobre ela é pura fantasia.
Entretanto, é curioso notar-se que a soma dos valores dados pelos latinos
às suas letras, abstração feita do M, referente ao milhar, dá igualmente o famoso
666, sem que, no entanto, as letras correspondam a nome nenhum de homem,
como exige João. Esse apóstolo se baseou, certamente, no alfabeto hebraico e seus
respectivos valores que, como vimos, claramente indicam o nome histórico de Jesus
e sua religião.
388
Assim:
I ................................. 1
V ............................... 5
X................................ 10
L................................ 50
C................................ 100
D................................ 500
666
Por isso todas as interpretações, por muito engenhosas que sejam, não
reproduzem nenhum nome de homem, embora pareçam simbolizar um futuro
personagem, como o Papa que, aliás, repudia por completo esta famosa Besta do
Deserto pelo pavor que lhe causam suas revelações.
Este número 666 está repetido três vezes na Bíblia segundo livro de
Crônicas IX, 13 — Esdras II, 13 — Apocalipse XIII, 1, 8.
Cordeiro em Caldaico se escreve A M R que, em hebraico, significa
Verbo, Palavra. É mais uma curiosa correspondência.
Segundo as descobertas modernas na Babilônia, o epíteto de Nemrod
corresponde a Izdubar, rei dos sumerianos, rei sanguinário, o que até então era
ignorado.
Moisés dizia-se filho de Am-Ram (Ordem de Rama) Êxodo VI, 20; o
profeta Jeremias XXXI, 15 aludia a esse personagem a voz que ouviu em Rama,
Eliú, amigo de Jó XXXII, 2, mago como ele na mesma Congregação, dizia-se da
família de Rama, e muitas outras passagens.
Abraão chamou-se primeiro Ab-ram.
389
Os termos Pirâmide (Pa-rama), Semiramis, Ba-rama (Brahma), Ab-Ram
(Abraão), Ab-Ra-h-am (Abraão), os vários Ramsés (faraós), os Rameseuns, as
inúmeras cidades espalhadas pelo Oriente, cujos nomes encerram a sílaba Ram,
são outras tantas provas da existência desse estúpido legislador, que talvez fosse o
mesmo Quetzachoaltl, a que já nos referimos, ou ainda o mesmo Jesus que,
segundo suas próprias palavras, teria existido antes que Abraão fosse, pois a
própria Igreja o chama de Rei dos Patriarcas de quem o profeta diz que suas
saídas do empíreo são desde os dias da eternidade.
Krishna, cujo primeiro nome era Gopalla, que significa carreiro, chamado
em grego Bootes, é o mesmo personagem que os árabes chamam ainda de
Muphrid-al-Rami, isto é, o que explica Rama.
É esse patriarca, cujas ciências atuais já haviam sido por ele consignadas
na Pirâmide de Gizé, que estudaremos mais adiante, e cuja pedra, simbolicamente
tratada de angular por Jesus, os homens rejeitaram.
São essas ciências que os Magos iam transmitindo aos seus sucessores,
aos Melquisedeques, aos Jós, a Abraão, a Jacó, a Isaac, a Davi, a Salomão, aos
profetas, a Moisés, a Aarão, a Josué e que Jesus censurava aos fariseus de não as
penetrar nem deixar que o povo as penetrasse; são essas ciências que Paulo
conhecia, mas não quis explicar aos hebreus porque eles não o entenderiam260.
Ao lado desse monumento sintético de todas as ciências, Rama esboçou
e construiu o símbolo da sua religião, representado na fantástica Esfinge,
religiosamente venerada pelo discípulo amado de Jesus; esfinge que, apesar de
cognominada de Besta pelo Catolicismo, serve de brasão aos quatro evangelistas!!!
260 Vide- sua epístola aos hebreus.
390
É essa religião, a do Cordeiro, que se espalhou por toda a Índia, pela
Pérsia, pelo Egito, pela Etiópia, que os Zoroastros, os Jós, os Krishnas, os Budas, os
Melquisedeques dizimados, se transmitiam de século a século, que Abraão legou a
Jacó, a Isaac, a Moisés e que Jesus veio restituir à humanidade esquecida, e que o
Catolicismo deturpou e cada vez mais anarquizou com seus Concílios, para estar de
acordo com os interesses políticos.
Como este nome de Rama pode motivar confusões a leitores pouco
afeitos à língua sânscrita, diremos que:
Rama (Ram), o Celta europeu é o primeiro patriarca;
Paraçu Rama, caracteriza a 6ª manifestação de Vishnu;
Rama Candra é a T. encarnação de Vishnu;
Bula Rama, irmão de Krishna seria uma manifestação de Xiva.
E, se não bastam essas citações, inumadas dos monumentos antigos,
passemos então à pena ao temível apologista católico, Louis de Ia Vallée Poussin.
Diz ele, em seu estudo acerca do "Budismo e das religiões da índia", na
parte que lhe coube, como colaborador da obra Christus, de Joseph Huby, que "a
origem do Budismo vinha do Arianismo, ou Indo-Iranismo, de onde surgiu o
Vedismo, cuja história foi longa, seguramente, surgindo daí o Bramanismo e mais
tarde, enfim, o Budismo".
Àp. 288, diz ele ainda: "... alguns (os hindus) adoram as mais sublimes
hipóstases de Brama, o Sol — Vishnu (naraiana) ou sua manifestação humana,
Krishna. Temos aí o Mitra da Pérsia (o Sol) como filho de Deus, chamado Jesus o
Cristo, e em Jesus Nazareno, a reprodução do Cristo".
Ora, tudo isso confirma o que temos dito a respeito do personagem Rama
(áries), cuja existência, se tivesse sido sondada por este escritor, como fez Fabre
391
d'Olivet e outros, fácil lhe seria identificar a religião zoroastriana, ou seja, o
Arianismo, que se difundiu num longo lapso de tempo pela Índia, pela Pérsia, pelo
Egito, onde foi implantada pelo patriarca Rama, sobre a égide do Carneiro (Áries).
Foi o ciclo do Carneiro egípcio e do Cordeiro persa.
Era a dinastia solar universalmente conhecida, como já vimos, oriunda da
Atlântida, que criou o culto ao Deus Sol, o Mitra da Pérsia, o Osíris do Egito, o
Adônis da Fenícia, que morria cada ano para ressuscitar no terceiro dia, pelos
esforços de sua amante Istar. Daí o poema da "Descida de Istar aos infernos". É a
razão de encontrar-se o termo de Ram, repetido em inúmeras denominações de
localidades, de nomes de patriarcas como Abraão, de nomes de reis, como os
Ramsés, as Semiramis e até na síntese da Ciência, a Pirâmide.
O termo Rá, dos egípcios, fez crer que se trata do mesmo personagem
Ram, pois este nome era o do soberano de Heliópolis (cidade do Sol), ou seja, a
sede da dinastia solar, da ordem dórica atestada pela arquitetura ali encontrada.
Uma das provas que fortalecem a tese da existência do ciclo de Rama é
que Babilônia consigna em seus anais ter sido Amminadab, rei da Babilônia, gerado
pelo patriarca Ram. A confirmação desse fato é encontrada na Bíblia em Crônica I
cap. II, 10: "E Ram gerou Amminadab..." o que, por um lado, se, como já temos dito,
a questão de geração não exprimisse as filiações templárias, como se verifica no
capítulo I, em Enos, Cus, Mesraim, Canaã, Sidon, Hur, Ophir etc., isso contradiria o
versículo 27, que diz que "os filhos de Ram primogênito de Jerameel foram Maaz,
Jamim e Eker", o que faz com que Ram seja filho de Jerameel e não de Hesron;
pois, pelo anterior versículo 9, vemos que Ram era filho de Hesron; mas, pelos
versículos 10 e 25, vê-se que Ram era filho primogênito de Jerameel, aliás, do seu
392
irmão mais velho, e não de Hesron, o que é confirmado pelo versículo 27, isto é, ser
Ram, filho primogênito de Jerameel.
De modo que Ram, como todos os outros nomes citados, não pode
representar, positivamente, personalidade de carne e osso, mas, sim, nome de
templos regidos por esses patriarcas, ou seja, academias ou princípios sociológicos
ou ainda cidades, como igualmente, se pode ver no versículo 10 que diz ser
Amminadab, filho de Judá, e, portanto, não de Ram, como se vê, ainda, no versículo
3, que estabelece a filiação de Judá.
Foi dessa genealogia templária que Jesus teria descendido, pois, da
filiação dos templos de Ram, surgiu Jessé (Isaías XI, 1), cuja árvore produziu Davi,
Salomão e outros, até o advento do Cristo.
Para corroborar ainda mais essas anomalias que deixam o espírito
vacilante a quem não prestar bem atenção, tomemos no mesmo capítulo II os
seguintes versículos:
Versículo 9, Diz ter nascido a Hesron os filhos Jerameel, Ram e
Chelubai; mas, no
Versículo 18, Vê-se que Caleb também é filho de Hesron, que não consta
no versículo 9, o qual gerou filhos, que não são os mesmos dos do versículo 42, e
que Caleb
Versículo 19, se casou com Efrata, que lhe pariu Hur, que é a cidade em
que viveu Abraão; e, tanto assim é que,
Versículo 24, Hesron morreu em Caleb-Efrata, como Jesus viria de
Belém-Efrata (Miquéias V, 23).
Ora,
Versículo 18, diz que Caleb era filho de Hesron, ao passo que
393
Versículo 41, diz que Caleb era filho de Jerameel que, por seu turno era
filho de Hesron, e o
Versículo 50, diz que ele é filho de Hur etc.
Se todos esses nomes pertencessem propriamente a personalidades
geradas de casais, veríamos que uns são filhos do irmão mais velho, outros são pais
dos próprios pais e outros têm vários pais.
Nota se, ainda, que os personagens, ora geram nomes de filhos diretos
com suas mulheres legítimas e ora diferenciam os nomes dos filhos tidos de suas
concubinas, o que significa que, além dos templos oficiais, havia os templos filiados
à Ordem.
Nota-se, igualmente, que são sempre filhos e não filhas que eles geram.
Mas, para não nos alongarmos nesse labirinto, aconselhamos ao leitor
abrir uma Bíblia, nesse capítulo, e analisar com atenção essa embrulhada. Quando
mais não seja, servirá de divertido passatempo em noites frias e chuvosas; o leitor
poderá continuar pelos subseqüentes capítulos, e neles encontrará coisas
edificantes e estonteantes, senão, mesmo, um excelente remédio contra insônia.
Então se convencerá, como temos dito várias vezes, que os nomes da Bíblia
significam coisa diversa do que lá está, partindo, porém, tudo do personagem que
levou a luz ao Oriente.
Ademais, é intuitivo para quem estuda que os primitivos povos da Terra, e
sobretudo o pai Adão, estavam muito longe da invenção da grafia, que data de
tempos relativamente próximos. Esses povos, como os sumerianos e acadianos, que
datam de mais de dez mil anos, não poderiam ter possuído um arquivo de
genealogias tão completo e cheio de detalhes e minudências como é o da Crônica I,
que parte do pobre Adão, levando-se ainda em conta que, entre os atuais povos
394
conhecidos, civilizados ou não, e entre nós mesmos no tempo da escravatura,
muitos nunca possuíram registros ou arquivos da sua origem e eram incapazes de
estabelecer a genealogia dos seus avoengos.
Acresce dizer que o dilúvio de Noé, que tudo aniquilou ou soterrou, não
permitiria que se reconstituísse a genealogia de Adão com tanta meticulosidade,
ficando esquecidos seus filhos Caim e Abel que lá não constam.
Que houve, de fato, o ciclo de Rama, muitíssimo antes de Moisés, não
padece mais dúvida; mas que esse Ram da Bíblia, com a genealogia truncada,
como ali está, seja o mesmo patriarca de há 86 séculos que foi colonizar o Egito, é o
que se não pode admitir, no sentido literal que lhe deram.
Que surgissem outros Ramas, depois do patriarca, como surgem reis e
papas de igual nome para conservarem a dinastia, é mais uma prova da existência
de um primitivo patriarca e do seu Ciclo.
Ora, por este pequeno estudo, é fácil deduzir-se, agora, que Rama não é
um personagem mitológico, como entendem os enciclopedistas, na sua maioria
acorrentados a interesses comerciais e ignorantes dos fatos passados nas eras que
denominam de Heróicas!
Missa
Há mais de oito mil anos, na Etiópia, já se dizia Missa idêntica à que se
diz, hoje, na Igreja Católica. A hóstia que o Pontífice consagrava ao Deus Supremo,
ao Todo-Poderoso, como o chamava o Pontífice Jó e os outros que o denominado
Livro de Jó nomeia, tinha a forma circular, tendo impressa, de um lado, a imagem do
Sol, simbolizando a dinastia solar e, do outro, o Cordeiro, representando a religião
de Rama.
395
Essa hóstia, bem como o vinho, produto das primícias da lavoura, eram
consagrados pelo Pontífice reinante ao Todo-Poderoso, em missa campal, na qual o
povo comungava, juntamente com ele.
Essa missa dita hoje nas igrejas católicas é a mesmíssima celebrada
naqueles tempos. Foi o alexandrino Ammonius Saccha, fundador da escola
neoplatônica de Alexandria e mestre de Orígenes, Plotino, Longino e outros, quem a
copiou e a deu aos padres católicos, que a souberam adaptar sub-repticiamente ao
seu culto, séculos depois da morte de Jesus, constituindo hoje o principal baluarte
em que se apóia o romanismo.
Essa missa era celebrada pelo Pontífice, em ação de graças ao Criador,
por ter ele abençoado e protegido a lavoura, razão pela qual lhe eram ofertadas as
primícias da colheita que haviam sido recolhidas ao templo; mas, sem holocausto a
divindade de espécie alguma. Esse ritual ainda se verifica em certas ilhas da
Oceania.
A missa chamava-se Avahna-Pudja, ou Festa da Presença Real de
Deus, e se decompunha assim:
Hassanah, que deu origem a Hosana. Invocação
Suagata, elevação (do cálice)
Arkia, consagração (da hóstia)
Madu-Parka, comunhão (no cálice de ouro)
Atchamavis, ablução das mãos (no alguidar de prata)
Dupa, incensamento do altar e do tabernáculo
Niveddia, comunhão dos fiéis
Asservadam, bênção aos fiéis e aspersão da água lustral.
396
Foi daí, como se vê, que a Igreja Católica (e não o Cristianismo) tirou a
cerimônia da missa, criando o sacramento da Eucaristia, como analogia à Presença
Real de Deus que se supunha estar ali presente, assistindo à festa de regozijo; ao
passo que nesta Igreja, se sacrifica Jesus, se lhe come a carne, se lhe bebe o
sangue, igual aos antropófagos, e o mais curioso e revoltante é estar isso em
absoluto desacordo com as próprias palavras da vítima aos seus apóstolos
estupefatos quando disse: "As palavras que vos digo são espírito e verdade... e não
carne e sangue que nada valem".
Jesus disse mais261: "Tudo que entra pela boca desce para o ventre e é
evacuado262, o que sai da boca procede do coração e isso contamina o homem;
essa contaminação vem das doutrinas e preceitos forjados pelos homens, que
fingem me venerar".
Poderá haver carapuça mais bem talhada para o clero católico?!
A ceia de Cristo, usada pelos judeus, era uma comemoração do Êxodo,
aliás, parodiada por Moisés da última ceia de Buda, perpetrando, assim, uma prática
igualmente antiga. Essa ceia era, igualmente, usada pelos essênios. Assim, também
pensava Paulo.
"Fazei isto em memória de mim", disse Jesus263, isto é, reuni-vos para
ceardes de acordo com a lei mosaica, que eu não vim ab-rogar, e com os costumes
do povo de Israel, comemorando este dia, e não: Instituí dessa antiga praxe, um
sacramento eucarístico à minha pessoa, em que comereis minha carne e bebereis
meu sangue, por cujo holocausto cobrareis uma espórtula.
261 Mateus XV, 9, 17.
262 Pobre Jesus! Comido hoje e evacuado amanhã!
263 Lucas XXII, 19.
397
Diz Swedenborg: "Pode haver coisa mais detestável do que dividir o corpo
e o sangue do Senhor, em que o pão e o vinho, na Santa Ceia, são manifestamente
contra a instituição do sacramento, com o fim único de celebrar missas, das quais
tiram proveito?"
A frase que Marcos XIV, 22, 25 emprega é a mesma da de Êxodo XXIV,
8: "Este é o sangue do novo concerto", concerto da Aliança entre Jeová e o povo de
Israel.
Essa ceia é idêntica a de Elêusis, na Grécia, a de Mitra, na Pérsia, o que
escandalizou São Justino, o Mártir, que via nisso um engano diabólico; pois, assim,
o Cristianismo perpetrava um rito pagão.
O Sangue do Concerto, de Êxodo, tinha por fim cimentar a amizade entre
o povo; e este sangue do Cordeiro foi mais tarde, com o progresso da raça,
substituído por vinho. Com isso não concordou Paulo, pois Jesus lhe informara que
sua palavra recomendava a perpetuidade do rito mosaico.
Santo Agostinho, um dos pais da Igreja, nunca ensinou o dogma da
transubstanciação. O próprio Papa Nicolau II, no Sínodo de Roma, em 1057,
confirmou por decreto "ser erro crer que na hóstia tocamos sensivelmente com as
mãos o corpo de Cristo, o partimos e o trituramos com os dentes".
Ou os Papas são infalíveis, ou então, o que se vê hoje é uma farsa,
cinicamente impingida a uma maioria de homens cegos e mantidos nesta cegueira
por espertalhões.
Suprimi essa missa e dizei-nos onde foi parar a Igreja Católica!
Recorramos ao dicionário de Voltaire, e vejamos o que ele diz na palavra
Missa:
398
"Com efeito, São Lucas nos ensina que Jesus,
depois de ter distribuído pão e vinho aos seus apóstolos, que
ceavam com ele, lhes disse: 'Fazei isso em memória de mim'.
Ora, isso não se parece, absolutamente com o que a Igreja
Católica pratica, obedecendo a uma tabela de preços, que vai
da simplicidade a maior pompa, falada em língua morta, por um
pobre padre, ou cantada por um bispo, com ou sem órgão”.
"Mateus XXVI, 30 e Marcos XIV, 20 dizem, além
disso, que Jesus cantou um hino mosaico, cumprindo, assim, a
religião de Moisés”.
"João, que não se refere em seu evangelho nem à
distribuição do pão e do vinho, nem ao hino, estende-se,
entretanto, largamente, a respeito desse último ponto em seus
Atos, do qual eis o texto citado pelo segundo Concilio de Nicéia
e sonegado à literatura sacra264: 'Antes do Senhor ser preso
pelos judeus, diz este apóstolo bem amado de Jesus, ele nos
reuniu e disse: 'Cantemos um hino em honra ao pai (Jeová)
depois do que executaremos o plano que havemos
estabelecido'. Ele nos ordenou, pois, de formarmos um círculo,
segurando-nos pelas mãos, uns aos outros; depois, tendo-se
colocado ao centro, ele nos disse: 'Amém, acompanhai-me'.
Então ele entoou o cântico e disse: 'Glória vos seja dada, oh!
Pai'. Todos responderam: 'Amém'; continuando Jesus a dizer:
264 Col., 358
399
'Glória ao Verbo', etc., 'Glória ao Espírito', etc., 'Glória à Graça',
e os apóstolos respondiam sempre: 'Amém'.”
"Após outras doxologias, Jesus disse: 'Quero ser
salvo e quero salvar. Amém. Quero nascer e quero engendrar;
Amém. Quero comer e quero ser consumido; Amém. Quero ser
ouvido e quero ouvir; Amém. Quero ser compreendido do
espírito, sendo eu todo espírito, todo inteligência; Amém. Quero
ser lavado e quero lavar; Amém. A graça arrasta a dança;
quero tocar flauta; dançai todos; Amém. Quero entoar cânticos
lúgubres, lamentai-vos todos; Amém’ “.
Santo Agostinho, que comenta uma parte desse hino, em sua epístola a
Ceretius, acrescenta o seguinte: "Quero enfeitar e quero ser enfeitado. Sou a
lâmpada para os que me vêem e me conhecem. Sou a porta para todos que
quiserem bater. Vós, que vedes o que eu faço, guardai-vos bem de o divulgar". (Foi
por isso que o Catolicismo sonegou essa parte.)
"Esta dança de Jesus e dos apóstolos é visivelmente
imitada dos terapeutas e dos egípcios, os quais dançavam
após a ceia em suas Assembléias".
Esses terapeutas eram os mesmos essênios, de cuja seita Jesus fazia
parte. A crítica científica aprofundou por tal forma este ponto, que não é mais
possível pôr-se em dúvida essa filiação. A ruptura do pão, o batismo e a
apresentação do cálice constituíam os usos sagrados dessa seita. O pai de Jesus,
400
fugindo da Judéia, atravessando o monte Cassius, achou asilo em casa de um
essênio.
Esta e outras supressões feitas por Concílios, dos livros atribuídos aos
apóstolos, são uma das mil provas de que os atuais evangelhos são um péssimo
arranjo adaptado às conveniências da primitiva Igreja Romana.
Por que razão essa Igreja procedeu a tais supressões? Porque cheiravam
elas demais a Judeu-Cristianismo; não lhe convinha que as doutrinas judaico-cristãs,
ensinadas pelos discípulos do divino Verbo, seguissem o rumo do Mosaísmo,
combatidas, como vimos, por Paulo.
É uma das razões, igualmente, por que os livros atribuídos aos outros
apóstolos foram afastados pelos Concílios, sendo até considerados falsos.
Ora, ou os discípulos ensinaram a doutrina que ouviram do Mestre, ou
essa doutrina estava em desacordo com a recebida do mesmo. Neste caso, ou
Jesus não soube o que fez, era um pobre ingênuo quando os escolheu, ou foi iludido
por apóstolos hipócritas, o que faz também periclitar sua previdência, ou os
apóstolos externaram a verdadeira doutrina de Jesus que, aliás, não era dele, e, por
isso, esses livros não deveriam ter sofrido modificações de espécie alguma.
Diniz, o menor, em seu Recueil des Canons, e outros escritores
confirmam que no começo todos os fiéis comungavam na missa. Eles traziam o pão
e o vinho que o padre consagrava e depois os entregava a seus donos. Este pão
não era fermentado, como de costume, e raras eram as igrejas em que ele não era
levedado. O uso era mergulhar o pão no vinho, comendo-o assim ou comendo-o e
depois chupando o vinho por um canudo. Esse rito que era uma imitação da ceia do
Cristo mudou com o tempo, ou por prudência dos pastores ou por capricho, ou ainda
por conveniência comercial, obedecendo a um plano financeiro.
401
Acresce dizer que o ritual organizado para a celebração da missa
Católica, sobretudo nas cerimônias Fúnebres, não passa de uma verdadeira paródia
da magia branca, nas práticas do ocultismo ou da feitiçaria; o mesmo se dá quando
o padre traça com o hissopo ou com o incensório, petrechos mágicos, círculos de
água e círculos de fogo, em volta do morto, acompanhados de palavras cabalísticas
e toque de sinos para afugentar o diabo ou os maus espíritos. Com sinceridade:
Jesus teria ensinado essa encenação teatral?
Não é de hoje essa prática das igrejas católicas de badalarem pesados
sinos para esses e outros fins supersticiosos. Segundo J. G. Frazer265, o Código
sacerdotal Mosaico (Êxodo XXVIII, 31,35) obriga o sacerdote a usar campainhas nas
orlas das suas vestimentas, com o fim de afastar os maus espíritos. O Escolasta
Cristão João Tzetzes, Luciano, o grande canonista Durandus, do século XIII, o
arqueólogo Francis Grose, W. de Worde em sua Legenda Dourada, Longfellow, o
Pontifical Romano, e muitos outros escritores sacros, não cessam, com ares
circunspectos e com a alma, talvez, em riso, de propalar que o som do bronze ou de
qualquer metal tem a propriedade eficaz de amedrontar e rechaçar os maus espíritos
e os demônios, bem como as tempestades, os raios e outras calamidades cósmicas,
dirigidas, como devem ser, por entidades infernais.
Os selvagens de toda parte do mundo, na falta de sinos, usam tambores
e outros instrumentos de madeira para o mesmo fim.
João Huss (1415), reformador e professor da Universidade de Praga,
protestou contra a dominação italiana, adotou as Teorias de Wiclef, que propunha a
supressão dos monges e a confiscação dos bens do clero; exigiu que se
continuasse a comungar na missa com a hóstia e com o vinho que haviam sido
265 Le Folklore dans l'ancien testament.
402
suprimidos. O Concilio recusou o pedido, declarando-o herético junto com seus
adeptos, e organizou três cruzadas contra eles, as quais, aliás, foram funestas ao
Papa, à vista do que foi novamente permitido o uso do vinho.
João Huss foi excomungado e, quando o Papa Alexandre V conseguiu
deitar-lhe a mão, entregou-o ao Concilio de Constança que o mandou queimar vivo!
Simplíssimo!
Segundo a descrição feita por Alexandra David Niel266 há na seita dos
Bonés Amarelos, no Tibete, um ritual equivalente à missa do Catolicismo,
denominada "Sete Membros", mas sem imolação de espécie alguma.
Esse serviço é assim dividido:
1 °. — prosternação.
2°. — oferendas à divindade impessoal.
3º. — redimir falta cometida.
4° — colher inspirações virtuosas.
5°. — desejar que a doutrina de Buda se propague.
6º. — pedir aos santos para que não entrem já no Nirvana, a fim de
poderem assistir os fiéis no mundo.
7°. — aplicar a acumulação de méritos para a obtenção do estado búdico.
Que conclusões, pois, tirar da Missa do Romanismo? Que é o mais
vergonhoso embuste mercantil, no qual a espiritualidade se evapora por tal forma,
que só restam os resíduos monetários que mais interessam aos cofres do Vaticano.
Mas, para não nos prolongarmos, digamos também: Ita missa est.
266 Les initiations lamaiques.
403
Vós Também sois Deuses
Se, pois, todas as palavras pronunciadas por Jesus, e colhidas pelos
evangelistas, devem ser religiosamente aceitas como verdades, devemos agora
aprofundar, também, o sentido da frase, com que ele retorquiu aos fariseus: "Vós
também sois deuses", e ver o que queria ele significar com o termo deuses, pois
temos de convir que ele não se podia referir aos deuses dos pagãos, sendo Jeová
seu Pai o único Deus.
Nas épocas faraônicas, e muito anteriormente ao seu nascimento,
existiam os três Colégios, ou seja, as Academias instituídas pelo patriarca Rama:
Colégio do Povo, Colégio dos Deuses267 e Colégio de Deus, sem que Deus e
Deuses significassem divindades, como veremos mais adiante.
O primeiro era destinado ao ensino inicial e correspondia à nossa escola
primária; o segundo, destinado aos iniciados, correspondia ao nosso bacharelado
em letras; e o terceiro, destinado aos sábios (magos), correspondia às nossas
escolas superiores.
Do segundo Colégio, o dos Deuses, dos Iniciados, saíam os mais aptos,
por exames rigorosos, para o Colégio de Deus, e deste saía, por concurso, e por
provas morais, o mais sábio dentre todos, que ficava sendo o Pontífice Rei, o
Melquisedeque.
Quando os fariseus, isto é, os letrados, insinuaram que Jesus era Deus,
eles queriam chamá-lo de Mago, de Sábio, de Pontífice, de Rei de Justiça, ao que
Jesus respondeu que eles também eram Deuses, isto é, Iniciados.
267 Moisés escrevia Celohins, isto é, metátese: Milícia celeste, Astralidade, o Exercito Celeste, as
Forças fenomenais — as ciências em suma.
404
Davi, em seus Salmos (LXXXII), disse: "Deus (o Pontífice) está na
Congregação dos Poderosos (dos Pontífices Reis), julga no meio dos Deuses (dos
Iniciados). 'Vós sois deuses' e todos vós Filhos do Altíssimo. Os fariseus são
nossos". Ora, tachar-se Davi de politeísta seria o cúmulo da ignorância. Deus, para
ele, é o Altíssimo, o Senhor, e portanto Deus e Deuses se referiam, de fato, como
claramente ressalta ali, aos iniciados e aos pontífices da Ordem, de que ele mesmo
fazia parte — a Ordem de Rama por Abraão, Jacó, Moisés e, por fim, Jesus.
Dos lombos de Davi saiu a genealogia de Jesus.
Ser rei equivalia, em toda a parte, naquelas eras, a ser Pontífice, padre,
poeta, mas não no sentido de versejador, filósofo ou médico, porque eram homens
iniciados nas ciências.
Foi uma das razões da resposta de Jesus a Pilatos268: "És tu o Rei dos
Judeus?" — "Tu o dizes". Esta resposta, aliás, destoa bastante da que João colheu
(XVIII, 34).
Que existissem esses Deuses, esses Reis Magos, esses
Melquisedeques, na época em que Jesus nasceu, basta lembrar a vinda dos três, de
pontos bem afastados da Pérsia, para adorarem o Verbo encarnado, anunciado em
tempos por Zoroastro, pela coincidência da conjunção astronômica que eles
conheciam, como astrônomos que eram, e se transmitiam de século em século. Um
deles, Cita, de origem, conhecido na Bíblia por Gaspar, mas cujo nome verdadeiro
era Gondophares, foi um dos mais poderosos reis do Grupo Saka, que invadiu a
Índia, e cujo domínio se estendia pela margem do Indus. Suas moedas ainda são
vistas, hoje, no museu de Madras.
268 Mateus XXVII, II.
405
Esse Rei-Mago chegou a contratar o arquiteto Thomaz que, mais tarde,
tornou-se apóstolo de Jesus, para construir-lhe um palácio na Índia, no estilo grego.
Um outro chamava-se Melki-Or, que significa Rei de Luz.
Chamaremos, também, a atenção do leitor, dizendo que as três estrelas
que vemos no firmamento, e que o povo tradicionalmente chama de Três Reis
Magos, já são uma cópia das três estrelas que figuram, com essa denominação, nos
antigos planisférios.
Não será isso uma adaptação do Catolicismo como entende Dupuis?
As sucessivas traduções, e as diversas interpretações, cada qual mais
imperfeita, satisfazendo a interesses partidários, encheram o Novo e o Velho
Testamento, que por aí correm, de verdadeiras contradições e incoerências.
Jó, mago filiado à Ordem de Rama, em seu antiqüíssimo livro,
incorporado à Bíblia, pela sua importância tradicional, não cessa de falar dessa
Congregação, desses Conselhos de Deus, de que ele fazia parte, e de um dos quais
foi destituído e sofreu a maior humilhação, por ter, como ele mesmo o declara, em
vários lugares, para quem o compreende, desvendado certos mistérios, sendo, por
fim, readmitido pela sua humildade, recuperando sua primitiva glória. Eis o
verdadeiro sentido e não a tolice que se lê naquele livro de ser Jó uma vítima da
brincadeira do diabo com a licença prévia de Deus.
São esses Colégios, essas Academias, esses templos, em suma, que
foram destruídos pela invasão dos Irshuitas e dizimados seus Pontífices, dentre os
quais escapou o famoso Melquisedeque, de Salém.
É esta Ordem Dórica que foi substituída pela Ordem Iônica, perseguidos
seus sábios (magos), que tiveram de se ocultar, ocultando as tradicionais ciências,
chamadas hoje impropriamente de Ciências Ocultas.
406
Os irshuitas ou hicsos, também chamados de Pastores, invadiram o Egito
na dinastia XVII, cerca de 3.200 anos antes de Cristo, época em que apareceu
Abraão, segundo o quadro de Manethon.
Heródoto confirma a existência desses Colégios, que eram regidos por
um Sumo Pontífice.
A Velha Crônica dos egípcios fixa a duração do Reinado dos Deuses, em
36.525 anos (Champollion-Figeac — L'Egypte, p. 266).
Eis a base histórica em que se assenta a frase de Jesus — o restante é
fantasia de Escolas Modernas.
Filiações Templárias
Esses Colégios, essas Academias, ou melhor, esses templos eram
organizados por Confrarias masculinas e femininas, correspondendo ao que
chamamos hoje — Convento de frades — Convento de freiras.
Há, porém, grande diferença a notar entre os daquela época e os de hoje.
Outrora, das Confrarias masculinas saíam os sacerdotes e os profetas, e das
femininas as sacerdotisas e profetisas, após prolongados anos de estudos, de
meditações, de sacrifícios e de desprendimento físico, que lhes transformava o
estado psíquico, dando-lhes visões do futuro e inspirações divinas, ao passo que os
atuais conventos não passam de simples refúgio de almas descrentes ou
arrependidas, que julgam melhor salvar-se, seqüestrando-se da sociedade e fugindo
egoisticamente ao cumprimento dos seus deveres humanos, decretados pelo
Criador; nisso não vemos merecimento algum, pois o verdadeiro mérito de uma alma
consiste, exatamente, em conviver no seio de maus elementos, vencendo-os pela
palavra e pelo exemplo.
407
Diz Rondelet: "Deve-se temer a solidão da alma, por ser uma perfeita
tentação do egoísmo e do orgulho".
O egoísmo, que é o amor exclusivo de si próprio, em contraposição com o
amor de Cristo, que manda amar a todos, é o princípio de todos os vícios, crimes,
ódios e paixões.
São Francisco de Assis, o fundador da Ordem dos Franciscanos, dizia em
seu livrinho: "A perfeição não é inseparável do ascetismo organizado e monástico,
pode ser realizada até na vida comum do mundo. Prazer e desprazer sensíveis são
inócuos".
"... fazei, Senhor que o distintivo da nossa Ordem
seja o de nada possuir de seu sob o Sol, para glória do vosso
nome, e de não ter outro patrimônio senão a mendicância".
São Bento fundou sua Ordem, como um Porto de Salvação das tormentas
humanas. São Bruno fundou o Chartreuse do mesmo ponto de vista. Para eles o
gozo de Deus exigia a eliminação do orgulho, do amor carnal e de qualquer coisa
que se relacionasse com a terra. O monge dizia adeus ao mundo. Questões
políticas, guerras, partidarismo, festas, pai e mãe, parentes ou estranhos, tudo devia
ser banido do seu pensamento. Era um suicídio psíquico.
Os ascetas das religiões orientais se recolhiam, ora no seio das florestas,
ora em mosteiros, mas para adorar o Ser Supremo, sem figura, ao passo que
nossos mosteiros são feitos para se adorar santos e santas de várias denominações,
cujas vidas são bem problemáticas.
408
Jesus mandou que se amasse o próximo como a si próprio, se lhe fizesse
o bem, retribuísse o mal pelo bem. Ora, é claro que, para pôr-se em prática todos
esses mandamentos, é mister conviver-se com o próximo, sofrer dos maus seus
efeitos. Como, pois, o monge e a monja se enclausuram entre quatro paredes,
fugindo à sociedade e à própria família que repudiam execrando, portanto, a
humanidade, deixando de concorrer para seu bem?
No entanto, a corrupção política conseguiu penetrar nesses claustros e foi
minando sorrateiramente os alicerces da sua moral. De santos homens, venerados
por todos, tornaram-se barões feudais, forçados a entrar na peleja das ambições. O
monge Gregório, cognominado o Grande, que vivia em sua cela, no Convento de
Coellius, foi de lá arrancado para salvar Roma e a Itália, invadida pelos Atilas, pelos
Lombardos, aceitando o título de Papa, e, assim, sua vida destoou completamente
dos votos que fez ao entrar ali.
O voto de pobreza toma o indivíduo preguiçoso e ladrão, o de castidade
infringe a mais sábia Lei de Deus; o voto de obediência cega é a alienação da
liberdade que Deus deu ao homem.
Observar esses votos é ser criminoso, não cumpri-los é ser perjuro. A vida
de um frade é a de um fanático ou a de um hipócrita.
Os frades podem ser divididos em três categorias: juventude fogosa —
meia-idade ambiciosa — velhice, fanatismo e crueldade.
A freira é uma imitação da Vestal, com a diferença de que esta era tirada
virgem do seio das grandes famílias, sendo incumbida de zelar o fogo sagrado. Se o
deixasse apagar, ou se se entregasse a qualquer homem, ela era enterrada viva.
Ao que se chama hoje de Convento de Freiras, mais apropriado seria o
termo de Conventilho.
409
Apesar da dureza da nossa linguagem, expressão viva dos fatos
consumados e que se consumam diariamente, não pretendemos generalizar; há de
forçosamente haver exceções, como em tudo.
Contudo, para que nosso dito não fique sem um apoio, citaremos dois ou
três fatos da História dos Conventos. Não assistiremos às loucuras das Ursulinas e
outras, mas apontaremos os escândalos ocorridos na França e em Portugal, por
ocasião da separação da Igreja e do Estado, em que o governo foi recebido à bala
por frades e freiras e onde se foi encontrar uma fábrica de... meninos Jesus.
Henrique III, da Inglaterra, ordenara a visita jurídica em 144 conventos de
freiras; a metade das recolhidas se achava grávida, não, decerto, por obra e graças
do Diabo e ainda menos do Espírito Santo — que é useiro e vezeiro nessas coisas.
O Bispo Burnet, apresentando seu relatório, atestou que Sodoma e Gomorra não
chegavam aos pés da Inglaterra.
Expuseram-se ao povo todos os instrumentos e aparelhos da fraude: o
famoso crucifixo de Baklau que se mexia e andava, os frascos contendo líquido
vermelho, fingindo sangue, que escorria das feridas de santos de gesso, velas de
ferro imitando velas que nunca se apagavam, tubos que comunicavam com a
sacristia e abóbada da igreja para simular vozes celestiais, enfim, milhares de coisas
inventadas pela velhacaria para subjugar a imbecilidade.
O próprio Papa Gregório, o Grande, que instituiu e sancionou o celibato
dos padres, mandou escoar um lago existente próximo a um convento de monjas, e
nele foram encontrados para mais de seis mil esqueletos de crianças!!! Draper269 em
seu Relatório ao Rei da Inglaterra diz: "Contaram-se mais de cem mil mulheres
corrompidas pelos padres", o que levou o governo inglês a suprimir os conventos.
269 Os Crimes dos Papas — Mistérios e Iniquidades da Corte de Roma — Maurice de Lachatre —
Madras Editora.
410
No Oriente, os frades tornaram-se os janízaros do ignorantismo; os mais
fanáticos pilhavam bibliotecas pagas para queimá-las; destruíam as obras de arte;
surravam os heréticos; assassinavam, em nome de Deus. Mais tarde eles se
tornaram odiados da cristandade pela sua preguiça, pela sua sensualidade, pela sua
insolente riqueza; eles escandalizavam a Igreja pelos seus incessantes conflitos com
o clero secular, ou por violentas querelas que as Ordens mantinham entre si:
"Conhecei a árvore pelo fruto, já dizia Jesus270".
Não está aí o escândalo passado com os bens de mão morta da nação
brasileira, durante o reinado de Rodrigues Alves, sendo seu Ministro J. J. Seabra,
bens que, por decreto imperial, respeitado pela nova Constituição da República,
passariam a pertencer à Nação pela morte do último frade ou freira brasileira, sendo
daí por diante proibido todo e qualquer noviciado? E, como lá existissem no advento
da República unicamente dois velhos frades, genuinamente brasileiros, frei Bento e
frei João do Amor Divino, a reversão daqueles bens não deveria demorar.
Para os frades estrangeiros, porém, que enchiam os conventos, urgia que
tal se não realizasse e, por meio de um sofisma, que consistia em naturalizarem-se
brasileiros, alguns frades alemães, novamente importados, que lá residiam,
tornaram-se brasileiros e milhares de contos de réis da nação, em dinheiro, jóias,
antigüidades e inúmeras propriedades, inclusive os mosteiros, passaram-se para o
Patrimônio do Vaticano, não sem alguma relutância da parte sã da imprensa e do
povo esclarecido que, afinal, foi facilmente subjugado pela cavalaria! É verdade que
isso valeu ao Brasil o Chapéu Cardinalício... e a Rodrigues Alves um bom lugar no
céu!
Qual será o patriótico governo que fará reverter esse patrimônio à Nação?
270 WILFRED MONO — Du protestantisme.
411
Mas ainda há coisa mais grave, ultrapassando as raias da desfaçatez e
constituindo o ato mais audacioso a que se não atreveria qualquer truste
estrangeiro. É o que ocorreu no Estado de Mato Grosso. A missão Salesiana obteve,
em 1921, do governo desse Estado, permissão para usufruir por dez anos um
latifúndio de 500 milhões de metros quadrados (território maior do que o de muitas
nações européias), na melhor e mais rica zona do Brasil. Terminado esse prazo, em
30 de julho de 1931, continuou a Missão na posse e usufruto e, em vez de, pelo
menos, pedir renovação de concessão, interpôs, muito ingenuamente, o pedido de
doação grátis daquele território!
Felizmente a "Coligação Nacional pró-Estado Leigo" interveio em tempo,
mandando um manifesto a Getúlio Vargas, chefe do governo provisório, cujo texto foi
publicado por Vanguarda em 7 de março de 1932.
Existe, porém, um fato que bem mereceria a atenção das nossas
autoridades. É o da crescente proliferação de congregações religiosas, sob
diferentes invocações e esquisita indumentária, cujos fins, aparentemente
destinados à caridade, são transviados em benefício dos que as dirigem.
Para isso empregam um simulacro de mendicância que, mais
propriamente, se classificaria de exploração do povo e dos incautos comerciantes,
como várias vezes têm sido desmascarados pela imprensa séria.
Além disso, é tão curiosa a homenagem prestada a essas congregações
que as próprias autoridades sanitárias não têm ingresso naqueles sagrados
claustros, a não ser acompanhados do bispo em pessoa, o qual, decerto, não está
disposto a esses passeios higiênicos, ao passo que colégios particulares e casas de
família são invadidos diariamente por legião de funcionários à cata do stegomia*
* N. do E.: Mosquito transmissor da febre amarela.
412
dentro dos armários, acabando por se pôr fora o vasilhame dos quintais, onde os
animais bebem água, deixando-os morrer de sede.
Que vemos ainda pelo lado das finanças do país? Absoluta isenção dos
pesados impostos de que se acham onerados, comércio, indústria, artes liberais etc.,
quando as escolas de congregações e as igrejas não passam de casas em que se
negociam ensino, missas de várias categorias, batismo, casamentos, enterros,
talismãs etc., dessa renda sai unicamente o Dinheiro de São Pedro, remetido
anualmente aos milhares de contos de réis para as arcas do Vaticano.
Pelo lado patriótico, que vemos ainda?
Isenção do serviço militar e outras obrigações sociais aos noviços ou
padres jovens, em condições de pegar em armas, sob o curioso pretexto de que isso
é contrário aos princípios do Cristianismo! Não serão esses princípios os mesmos
dos outros credos cristãos? São esses incoerentes privilégios a um credo não
reconhecido oficialmente que ofende a dignidade de uma parte da nação!
Ah! Se um dia no Brasil houver uma explosão de indignação como a que
se deu na ultracatólica Espanha, na Itália, sede do Catolicismo e em outras nações,
e o povo invadir subitamente esses antros satânicos, certo é que a suposta maioria
católica sofrerá bastante na sua porcentagem, encontrando ali, em vez de santas
mumificadas, uma verdadeira fábrica de anjos, senão uma nova forma aperfeiçoada
e velada dos haréns da Turquia.
Ainda hoje entre frades e padres perdura certa animosidade que, decerto,
não condiz com os ensinos de Jesus. Uma das últimas razões foi a da invasão de
milhares de frades espanhóis no nosso território, pela expulsão da Espanha,
rechaçando o clero nacional, substituindo-o nas mais rendosas paróquias e nos
melhores cargos eclesiásticos.
413
Para prova do que foi mostrado, transcrevemos, com a devida vênia, o
artigo do Diário Carioca de 28.7.33, em que fala um monge baiano:
“DEPOIS DE OITO ANOS DE MARTÍRIOS—DESPIU O
HABITO DE MONGE CARMELITA O SR ANTÔNIO
VALADARES — BAHIA, 27”
“(União) — Causaram verdadeira sensação nesta
capital, onde o povo é essencialmente católico, as declarações
do sr. Antônio Valadares, que acaba de despir o hábito de
monge carmelita, deixando a vida do claustro 'depois de oito
anos de martírios', conforme afirmou ao Diário de Notícias."
"Como baiano e como brasileiro, não podia mais ouvir calado,
sem ter consentimento de levantar a minha voz de patriota,
contra os insultos, as pirraças, as palavras amargas de crítica e
ofensa, dirigidas, constantemente, pelos monges estrangeiros
do Convento do Carmo, aos homens e às coisas do Brasil.
Para eles, que vivem maldizendo do solo protetor que os
acolhe com carinho, nada do que é nosso presta, nada vale, no
nosso querido Brasil, sempre por esses homens maltratados
nas mesas de refeições, nos recreios, em todas as horas."
“E como afirmação de maior sensação, encontramos
nas declarações do sr. Antônio Valadares este pequeno
trecho”:
"... É tanta coisa que causa horror: os nossos
patrícios, meninos alunos da Escola Apostólica, são
414
maltratados e até esbofeteados pelos habitadores do Convento
do Carmo. Ainda espero que os meus patrícios, um dia,
possam reagir contra esses indivíduos, que foram corridos de
sua terra por não poder ela mais suportá-los".
Onde, porém, culmina o arrojo da afronta é no haverem esses mesmos
frades, em número de 700, conseguido, quase, a supressão do Instituto dos Cegos e
Mudos, para desalojá-los e ocuparem, à guisa de hospedaria eterna, a propriedade
em que agasalhamos infelizes patrícios, que iriam para a rua sofrer os maiores
rigores!
Felizmente Deus teve piedade deles e interpôs o braço de um patriota
que ocupara cargo saliente no governo provisório paulista.
Não foi Jesus, decerto, nem seus apóstolos quem instituiu os conventos,
e jamais eles se referiram a essas agremiações de indolentes e improdutivos. Fora
os frades e os padres que inventaram essas prisões, a fim de separarem suas
vítimas das respectivas famílias, e poderem governar mais à vontade essas
consciências ingênuas e indefesas, apoderando-se de seus corpos, seus espíritos e
de suas heranças.
Mas não julgue o leitor que é frade ou freira quem o quer ser; ou que
baste querer alguém seqüestrar-se, para logo ser aceito até a morte. Esse desejo
poderá ser satisfeito, após sindicância, mediante grossa jóia ou dote de quantia
equivalente aos anos de probabilidade de vida, e essa não é pequena. Ademais, a
soma realizada irá estabelecer a condição monástica, a qual pode abranger, desde o
lugar de lavador de pratos até os mais altos cargos. A santidade ali não tem cotação
415
para a Congregação; só serve ao próprio seqüestrado, pois a casa não é Asilo de
Inválidos.
Naquelas antigas eras do Reinado da Paz, essas Confrarias eram
mantidas pelo povo, pagava-se o dízimo da Ordem, como Abraão e Melquisedeque,
e os futuros profetas ou profetisas eram selecionados pelo noviciado ou pela
vocação espontânea, após rigorosos exames e terríveis provas físicas e morais,
antes de se poderem dedicar à missão de porta-voz do Altíssimo. Hoje os conventos
são as instituições mais ricas do mundo e vivem de fabulosa renda, sem prestar
benefício à sociedade, pois as supostas missões, se bem que rotuladas de
propaganda cristã, visam a outros fins. Há um fato curioso a notar: para os
proventos, todos esses sacerdotes são brasileiros; para as obrigações ou deveres,
são romanos, isentos de tudo: sorteio militar, júri, impostos etc. Estes são para os
leigos, ou seja, para os patetas.
Eis por que não há mais profeta neste planeta!
Eram nessas Congregações que se preparavam também os Pontífices,
que tinham de desempenhar o cargo de Rei de Justiça, como Melquisedeque, Jó,
Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Samuel e Jesus.
Quem tiver lido as obras a respeito das iniciações na Antigüidade271, bem
poderá compreender o que diz Davi, em seus Salmos LXVI, 12: "Fizestes com que
homens cavalgassem sobre nossas cabeças; passamos pelo fogo e pela água, mas
nos trouxestes a um lugar copioso".
Nessas iniciações, era hábito mudar-se o nome do neófito, uma vez que
ele tinha vencido as provas. Sem pretendermos citá-los, o que seria vã pretensão,
destacaremos, porém, alguns: assim, Jó era o hieróglifo do cão de Syrius,
271 Pierre Christian — Histoire de Ia Magie.
416
significando a exaltação, tanto na alegria como na dor. Abraão passou a ser
Abraham, Moisés passou a chamar-se Oshar-Siph. O nome de Jesus já era
aplicação de IshO — Verbo. Ele mesmo, ao iniciar alguns dos seus discípulos,
adotou o mesmo hábito, por isso apelidou Simão de Pedro, Levi de Mateus, João de
Tiago de Boanerges, Dídimo de Tome, segundo os evangelhos272, Saulo tomou o
nome de Paulo etc. Ainda hoje, papas, frades, freiras etc. tomam outros nomes,
segundo a tradição de suas ordens. O mesmo se dá no Lamaísmo.
Quão diferentes são esses adeptos de vários santos e santas, como os
monges do Budismo e do Lamaísmo, que procuram imitar as virtudes de Buda.
A maior parte desses ascetas, desses anacoretas, vive nas montanhas,
sofrendo as intempéries do frio e as necessidades da fome, magros e esqueléticos,
ao passo que os monásticos do Catolicismo são vistos nas avenidas, nédios, gordos
e corados, usufruindo as vantagens dos automóveis e da boa mesa.
Questão de gosto e de época!
Que pobres incautos continuem a lhe beijar as mãos, e assim lhes apraz.
Filho de Deus — Filho do Homem
— Filho da Mulher
A cada passo encontram-se nos livros sacros os termos Filho de Deus,
Filho do Homem, Filho da Mulher empregados pelos profetas, e nos próprios
Evangelhos, sem que esses termos tenham aplicação fisiológica.
Ser Filho de Deus não só era ser filiado ao Colégio de Deus como
acabamos de ver, como também porque todo homem tinha e tem o direito de
considerar-se como tal.
272 Marcos III, 16, 19
417
O próprio Jesus disse aos fariseus: "Pois se a lei chama deuses aqueles a
quem a palavra de Deus foi dirigida, aos profetas, aos iniciados (e a escritura não
pode ser anulada), a mim, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis:
blasfemou, porque disse: Sou Filho de Deus".
Todos os deuses das mitologias orientais, muito antes de haver
Cristianismo, para melhor impressionar as massas eram considerados homens que
tivessem existido na Terra, os quais mandavam o Filho para ser morto, ressuscitar e
redimir a humanidade.
Assim se deu com Mitra, com Osíris, com Baco, que os órficos chamavam
de Filhos de Deus. Este Baco, segundo Macrobe, morreu, desceu aos infernos e
ressuscitou no terceiro dia. Seus adoradores foram perseguidos, como muitos
séculos depois, é bom frisar sempre, os da seita de Cristo e os de Serapis.
A expressão Filho de Deus, atribuída ao Sol por Zoroastro, é encontrada
em todas as primitivas religiões, desde há mais de dez mil anos, entre os astecas, os
peruanos, os indianos, os persas, os caldaicos, os egípcios, os chineses, os gregos,
etc., dos quais os gênios filosóficos criaram suas doutrinas como Orfeu, Platão,
Pitágoras e muitos outros, nas quais o Catolicismo, por intermédio dos seus
doutores, como São Justino, São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, etc., foi buscar
a analogia da personalidade do Jesus material, como o Jesus espiritual, — da Luz
do Sol material, com a luz do homem espiritual. Ego lux mundi, dizia Jesus.
Para Dupuis, Jesus é o Filho de Deus, do mesmo modo que o Sol era o
Filho de Deus para os antigos, apesar da diversidade de nomes e de atributos “Nam
tenebras prohibens retegis quod coerula lucet; Hinc Phoebum perhibent prodentem
occulta futuri; Vel, quia dissolvis nocturna admissa, Lsoeum. Te Serapim Nilus,
Memphis veneratur Osirim. Dissona sacra Mithram, ditemque ferumque Typhonem
418
Atys pulcher item, curvi et puer almus aratri; Ammon arentis Libyoe, ac Biblus
Adonis. Sic vario cunctus te nomine convocai orbis".
Cristo é esse famoso Apolo que triunfa da serpente inimiga da luz, como
Cristo triunfa do príncipe das trevas, que toma a figura da serpente para perder os
filhos da Luz, seus eleitos.
É o Bacchus Lyoeus que nasce, morre, desce aos infernos e ressuscita
depois de ter sido despedaçado pelos monstros serpentípedes. É o Deus Serápio,
no templo do qual, no Egito, se achou a cruz, símbolo da vida futura, segundo a
interpretação dada pelos próprios egípcios, como se pode ver em Sozomene e
Rufino; o mesmo Serapis ou Sol Serapis, que o imperador Adriano garante ser o
Deus dos cristãos. É o Osíris que nasce, morre e ressuscita como Cristo; é o famoso
Mitra, cuja festa natalícia se realizava no dia do Natal; Mitra, nascido em um antro,
como Cristo no estábulo, Mitra morto e ressuscitado, e que, por sua morte, salva os
que nele crêem; que tem seus mistérios, seu batismo, sua eucaristia etc., Mitra,
enfim, que se une a um Touro, como Cristo ao Cordeiro para regenerar a Natureza
na primavera. É o Deus Amon, representado sob a forma de um Cordeiro, que tem
sua sede no signo equinocial da primavera, em que o Sol tem seu mais belo triunfo.
É o famoso Adônis, que morre, desce aos infernos e ressuscita, e cujas festas estão
estabelecidas nos mesmos países em que nasceu a religião do Cristo. E o jovem
Átis que, depois de ter sido pranteado durante três dias, volta ao império dos Deuses
e cujas festas exprimem o triunfo do Cordeiro (Figura 9). É, enfim, o Deus de todos
os povos.
Dupuis não acreditava na passagem de Jesus pela Terra, considerando-o
como um simples mito solar, que se foi degenerando a ponto de ser personificado
pelo Cristianismo.
419
Entre os astecas, do México, era escolhido anualmente o mais guapo
rapaz para representar o papel de Filho de Deus. Durante esse tempo era tratado
na corte do rei, com todas as honras de um deus, podendo, mesmo, dispor à
vontade das concubinas do monarca. Quarenta dias antes do 25 de dezembro
(número notável em todas as religiões) ele era submetido a um complicado ritual.
Chegada a data, na noite de 24 para 25, era ele levado ao alto da pirâmide, e o
Pontífice cravava-lhe o punhal no coração, que era imediatamente arrancado e
oferecido, gotejante, ao Deus Supremo — o Deus Sol. Um deles, com uma maestria
só comparável a dos esfoladores dos matadouros, arrancava a pele inteira do deus
que morria, e era revestida pelo futuro deus que nascia. Seu corpo era retalhado e
comido pelos sacerdotes (analogia com o Catolicismo). A mesma cerimônia era
reproduzida com semideuses, saídos do povo; seus corpos, porém, eram atirados
pela pirâmide abaixo e seus adeptos disputavam suas peles, que eram levadas
durante oito dias pelos felizardos que delas se apoderavam.
Esse Filho de Deus, ou esse Deus que morria e ressuscitava no terceiro
dia, para o bem da humanidade, era o bode expiatório de todas as religiões da
Antigüidade.
A tal respeito enviamos o leitor ao extraordinário estudo de J. G. Frazer:
"Le Bouc Emissaire".
No tempo de Jesus o termo Filho de Deus designava todo homem
amando Deus; Jesus foi assim classificado, na acepção que os judeus lhe davam,
pois este título já é encontrado em Gênese IV, 22, 23 — Deuteronômio XIV, 1.
Esta tradição continuou pelos profetas Oséias X, 1, 10, — Jeremias III,
14, — Isaías I, 2, — XXX, 1, — XLIII, 6, — LXIII, 8, — Samuel II, 7, 14, — Salmos
11,7,12, —Sabedoria 11,13, —XII, 7,21—II, 13,18, — Eclesiastes IV, 11, —
420
Depois, seguem-se os apóstolos Mateus V, 9 — 44,45 — Lucas VI, 35, — Paulo,
Romanos VIII, 14, 19, — Gálatas III, 26 — IV, 6, — Hebreus II, 10 —XII, 6, —
Salmos XI, 7.
A esse título não era ligada nenhuma metafísica ou de natureza sobrehumana,
sobrenatural ou divina.
O ato da transfiguração de Jesus no monte (Mateus XVII) e a proposta de
Pedro em construir ali três tabernáculos — um para Moisés, um para Elias e outro
para Jesus — prova que os apóstolos não o consideravam como Deus ou seu Filho
carnal; mas, sim, um profeta igual àqueles dois, o "filho amado em que Deus se
comprazia naquela ocasião". Mais claro do que isso nem a luz do dia, se as palavras
servem para exprimir o pensamento. Além disso, essa passagem da transfiguração
é contada por Marcos e por Mateus do mesmo modo, sendo que Lucas IX, 32
diverge, dizendo que a aparição de Moisés e Elias só foi verificada quando os três
apóstolos despertaram de um pesado sono, o que dá justificável motivo a se poder
bordar algo a respeito do tema da hipnotização ou da auto-sugestão.
O termo hebraico AElohim, que traduziram por Deuses, não passava na
mente de Moisés de uma forma poética para expressar as forças hierarquizadas da
natureza, de uma imagem morfológica, de um símbolo dos fenômenos cósmicos e
anímicos; mas nunca significava Divindade, pois todas as religiões do passado eram
monoteístas, como o próprio Moisés, que condenava a idolatria.
A fé popular ingênua criava para cada fenômeno da natureza um Deus
com determinadas qualidades a quem dava o nome.
Toda a natureza era regida, não por forças, mas por divindades especiais.
Assim, no Japão, tais divindades se chamam Kami e orçam, segundo
cálculos japoneses, em 80 miríades!
421
No Catolicismo há três deuses em um só.
Todas as mitologias e filosofias oriundas da primitiva Cosmogonia ou
Astrologia adotavam a expressão Filho de Deus, como uma das funções cósmicas
da trindade que, em suma, são os três termos da eletricidade que rege todos os
fenômenos nessa imensidade incomensurável.
Ser Filho do Homem ou ser Filho da Mulher, na expressão de Jesus,
era ser filiado à respectiva Congregação, como já vimos; era ser iniciado pelo
Sacerdote ou pela Sacerdotisa, como parece ter sido a mãe de Jesus, filiada como
foi à Congregação dos essênios. Senão, como interpretar a frase de Jesus à sua
mãe, quando esta lhe fazia sentir a falta de vinho na festa: "Mulher, que tenho eu
contigo?", frase que, francamente, seria uma indelicadeza, senão uma grosseria,
dirigida à sua mãe legítima, caso não houvesse outro sentido mais elevado, além do
que seria uma transgressão ao respeito ordenado por Moisés aos seus parentes.
Esse modo de representar a paternidade intelectual pela paternidade
física era de uso entre os antigos sacerdotes273.
Moisés diz-se Filho de Amram, isto é, Filho intelectual da Ordem de
Rama. Era Filho do homem.
Séfora, sua mulher, era sacerdotisa em seus templos e Filha de Jetro, o
sumo Pontífice de Midian.
Todos os profetas se intitulavam Filhos do homem como se verifica nas
escrituras.
Os apóstolos tratavam seus discípulos de Filho. Paulo chama Timóteo,
Onésimo etc. de Filhos gerados, por ele, de suas entranhas, o que se fosse tomado
273 Ed. Schuré— Os Grandes Iniciados.
422
ao pé da letra não havia de agradar muito àqueles discípulos, que, certamente,
tinham pai legítimo.
Jesus disse que era Filho do Homem (João 1,51 — III, 28, etc.), "Quando
levantardes o Filho do Homem conhecereis quem sou" — "e os anjos de Deus (ele
aqui não mais se refere ao Pai) subirem e descerem sobre o Filho do Homem".
Ora, o Homem, neste caso, não podia ser seu pai José, que já havia
morrido, mesmo porque dele não era filho carnal, uma vez que o fazem nascer do
Espírito Santo; é, pois, do Pai espiritual, do homem que o iniciou, a que ele se refere.
Nataniel disse: "Tu és (o) Filho de Deus, tu és o rei de Israel" (João V,
49).
Mas, se ele se diz Filho do Homem, como conciliar seu outro dito de ser
Filho de Deus? É porque primeiro ele foi Filho do Homem, isto é, dos iniciados,
para depois ser Filho de Deus, isto é, Mago, Pontífice, Rei de Justiça (segundo a
Ordem de Melquisedeque), daí a explicação do Cetro que sairia de Israel e da
resposta a Pilatos de ser Rei.
Ora, já vimos que naquela época ser Filho de Deus era ser filiado ao
Colégio de Deus, fonte dos Melquisedeques, isto é, dos Reis de Justiça, dos Reis
Magos, dos Pontífices, em suma, o que concorda com Paulo, Davi etc. etc. e, como
tal, com ser o Rei de Israel, mas não como monarca, pois ele mesmo disse: "Meu
reino não é deste mundo".
Homero chamava Reis os portadores de cetros ou pastores de povos.
A vara de pastor era sinal de realeza na Grécia, na Assíria e na Babilônia,
e essa vara era recurvada simbolizando os chifres do Carneiro, a Religião de Rama.
423
Daniel VII, 13,14 — Ezequiel II, 1 dizem que Jesus é Filho do Homem.
Swedenborg diz que os profetas eram chamados Filhos do Homem, e isso verificase
a cada passo na Bíblia.
Toda a predicação de Paulo considera Jesus sempre como Homem, e a
Igreja assim o considerou durante cerca de 300 anos, quando, afinal, entendeu um
dia já não mais considerá-lo Filho do Homem, nem Filho de Deus, mas o próprio
Deus, como mais detalhadamente veremos no capítulo dos Dogmas.
Para Paulo, Jesus (o Senhor) era o Cristo encarnado em Jesus; mas o
termo Cristo significa "Salvador" e não filho de Deus.
Segundo Paulo, Deus criara Jesus inferior aos anjos; entretanto, o
Concilio de Nicéia reconheceu Jesus como Deus, superior, portanto, aos anjos.
Atualmente já o rebaixaram para Reis dos Reis.
Segundo a História Sagrada do Egito, cuja origem remonta a incalculável
Antigüidade, foi Thoth cognominado o Trismegisto, isto é, três vezes muito grande,
ou seja, ainda o primeiro Hermes, que escreveu a primitiva doutrina dos egípcios em
42 livros, por ordem do Deus Supremo.
Esse Thoth foi o Hermes Celeste, ou seja, a inteligência divina
personificada, o único dos Seres divinos que, desde a origem das coisas,
compreendeu a essência desse Deus Supremo, que o chamava de "Alma da minha
Alma", "Inteligência Sagrada da minha Inteligência". No diálogo que Thoth teve com
Pimander, este lhe revelou todos os mistérios, dizendo-lhe entre outras coisas:
"Esta luz, sou eu; eu sou a Inteligência; eu sou teu
Deus; eu sou mais antigo que o Princípio úmido que se escapa
da sombra; eu sou o gérmen do pensamento, o Verbo
424
resplendente, o filho de Deus. Reflete que o que vês, e ouves
assim em ti, é o Verbo do Mestre, é o Pensamento que é Deus,
o Pai. Eles não são separados e sua união é a vida.
“Da Vontade de Deus, porquanto a Inteligência é
Deus possuindo a dupla fecundidade dos dois sexos, que é a
vida e a luz da sua Inteligência, ele criou com seu Verbo outra
Inteligência operante”.
“A Inteligência operante e o Verbo operante
encerram neles os círculos que, rodando com uma grande
velocidade, fez com que esta máquina se movesse desse seu
começo até o fim, pois ela começa sempre no ponto em que
ela acaba."
Ora, por este pequeno extrato daqueles livros, não é possível se pôr em
dúvida que o Egito já conhecesse a essência de Deus e o seu Verbo operante
personificado no primeiro Hermes-Thoth. É esse Verbo também personificado em
IPhO e IShO conforme já vimos, que veio constituir mais tarde a personalidade de
Jesus-Nazareno. E a esse Verbo Operante que os profetas se referem quando
dizem que suas saídas do empíreo são desde os dias da eternidade. É esse Verbo
que se teria encarnado nos vários legisladores que já tivemos ocasião de citar. E
esse Verbo que se encarnou, por último, em Jesus, e se encarnará de novo, como
ele mesmo prometeu fazê-lo, no corpo de um homem puro, predestinado por Deus
para esse fim, quando a humanidade, presentemente anarquizada, não mais puder
evitar a avalanche do militarismo que tudo destruirá, incendiando e dizimando os
povos, cujos sobreviventes, apavorados, se refugiarão nas selvas. É este Verbo que
425
se fez carne e era a Luz divina, como diz João; mas não é este Verbo que o
Catolicismo forjou, como sendo o Filho Carnal dessa Inteligência Operante, a fim de
servir de pretexto ao seu programa político. Não é este Verbo do romanismo que
atiça o ódio entre as nações, que atira as fogueiras àqueles que não comunguem
com seu credo, que benze armas de guerra para matar irmãos do mesmo credo, que
excomunga os que desmascaram seu embuste. É o Verbo Criador, o Verbo de Amor
e de Paz, Filho primogênito de Deus.
Como se vê, o assunto é por demais vasto para ser tratado em algumas
linhas. Contudo, as indicações que acabamos de dar permitirão aos estudiosos
remontar àquelas eras, em que esses termos eram correntemente empregados, e
verificar que as deturpações foram forjadas exclusivamente pelo Catolicismo, para
tornar Jesus o filho de um deus antropomorfo, classificado mais tarde como uma das
três partículas desse deus, terminando por fim em considerá-lo como o próprio Todo-
Poderoso, uma vez que esse Todo é indivisível.
Reinado de Deus
As várias interpretações, como temos visto, é que levaram, também, os
redatores dos Evangelhos a deturpar a expressão Reinado de Deus, pessimamente
traduzida para Reino de Deus, muito pior vertida como Reino do Céu e subrepticiamente
ligada a de Evangelho do Reino, pois era do Reinado de Deus, do
que se trata ali, e que a humanidade e, especialmente, o Egito fruíram naquelas
épocas, em que era regido pelos Pontífices, de quem acabamos de falar, o regime
da Autoridade274, isto é, pelo Ensino, pela Justiça e pela Economia, e não pelo
274 Autoridade vem de Autor. Não confundir com a classificação que lhe dão os modernos detentores
de uma parcela do Poder.
426
Poder, isto é, pelo Militarismo que lhe sobreveio com a dinastia instituída por Menés,
5 mil anos antes da nossa era, em que reinaram a Força, o Arbítrio e o Despotismo.
São Clemente de Alexandria recolheu em seu Strom, III, 13, 92 a
seguinte frase de Jesus, que não consta dos evangelhos em vigor e constava dos
outros: "Salomé lhe perguntou: 'Quando virá teu reino?' Jesus lhe respondeu:
'Quando dois forem um e que o masculino for feminino e que não houver nem
homem nem mulher' ".
Isto é, quando o Poder e a Autoridade se unirem em um só, quando a
humanidade for andrógina, quando houver anjos, quando, em suma, voltar a Paz.
Esse será meu reino, será o Reinado da Paz.
Reino é a localização de um território regido por um monarca — Reinado
é o regime social, bom ou mau, em que vive o povo sob o guante desse rei.
Foi, exatamente, esse Poder que Jesus veio destruir como, aliás, o
conseguiu em parte; mas que de novo reina em todo o mundo.
"Meu reino não é deste mundo", disse ele, repetindo a mesma frase de
Buda, como já vimos.
"O Reino de Deus está em vós", disse Jesus, é a paz da alma.
Confúcio já havia dito: "A lei do gentil-homem é o Reinado de Deus, que
reside em nós".
O Reinado de Deus sempre existiu na China; este país era o Céu real, o
Celeste Império; até que a malfadada política européia tornou essa nação um
verdadeiro Inferno.
Mas o Catolicismo prefere adotar a locução Reino de Deus, Reino do
Céu, por dar aos seus adeptos uma idéia mais objetiva de um local, povoado de
anjos, governado por Deus e seu filho Jesus, tendo os apóstolos como Ministros.
427
É mais simples e... mais rendoso.
Corrupções das Traduções
Se fôssemos estudar as corrupções que fizeram dos termos das línguas
templárias da Antigüidade, da grega, da siríaca, da hebraica, traduzindo-os pela
maneira por que se acham na Bíblia, seria preciso dedicar uma obra para tal fim.
Para dar um pequeno exemplo, entre centenas deles, de como as
traduções transmutaram o sentido das palavras, passemos a pena a Saint-Yves:
"Nossos tradutores (da Bíblia), diz ele, fantasiaram
em homem a rotação da Terra em volta do Sol, em 365 dias, do
que fizeram 365 anos de vida de Enoch*."
"Wa-ihiu Khol-imei Hanôch Lamesh w. shishim
Shanah w-shelosh mosôth sanab", cuja tradução verdadeira é:
"A totalidade dos dias de Enoch foi de cinco e seis
décuplos, e de três centenas de revoluções temporais, o que,
posto em algarismo dá: 5 - 6 x 10 = 60 - 3 x 100 = 300
resultando 5 + 60 + 300 = 365.
Enoch não se relaciona com homem algum, mas sim
com nosso Sistema Solar".
François Martin275 em seu belo trabalho diz que esse personagem nunca
existiu, e que o livro que tem esse título é antes um resumo de doutrinas de várias
* N. do E.: Para conhecer melhor o pensamento enoquiano, ver também O Livro de Enoch — O
Profeta, Madras Editora.
275 Le Livre d'Énoch traduit sur Ia langue éthiopienne.
428
seitas ou escolas, que se dividiam no meio judaico ortodoxo, no 1º e 2º séculos da
nossa era, depositárias das doutrinas de Rama.
Em nosso auxílio açode o erudito pastor patrício da Igreja Protestante, o
Reverendo Sr. Ernesto Luiz de Oliveira, na p. 151 (Roma, a Igreja e o Anti-Cristo):
"Isto de tomar-se um homem como o representante de um povo, de uma instituição,
é coisa comuníssima na linguagem da Bíblia".
Paulo, em Gálatas IV, 23, 24, 25, é o primeiro a condenar o sentido literal,
por considerar esses nomes como simples alegorias, dando-lhes, contudo, outra
significação, conforme seu costume de tudo sofismar em prol da sua causa; mas a
verdadeira tradução literal, feita sobre as línguas templárias e controlada com o
Arqueômetro, é a seguinte:
Abram (Abraão) por Agar produziu Ismael. Ora, nas academias
templárias, em védico e sânscrito, que Paulo ignorava, Ag-ar significa Faculdade
Central, angular, ígnea.
Is-ma-el, Princípio fluídico de expansão.
Por Sara, isto é, pela esfera do seu Raio, Abraão gerou Is-a-ac, Princípio
de agregação ao centro.
Enfim, por Ke-Torá, Condensação da Lei (Tora), fixação da relação da
ação circunferencial à ação central, ela gera seis Princípios e não filhos carnais,
como ali está, pois:
1 — Iam-Ram significa, literalmente, Potência múltipla do som.
2 — Iek-San significa, literalmente, Potência divisível da Luz.
3 — Mad-Ian significa, literalmente, Divisibilidade dinâmica ou química.
4 — Mad-an significa, literalmente, Divisibilidade estática ou física.
5 — Ies-Boch significa, literalmente, Potência silenciosa do Vácuo.
429
6 — Sue significa, literalmente, Ondulação, Estado Radiante, Ocultação
ou Destruição da Matéria.
O que quer dizer que essas ciências eram estudadas na Congregação
Adâmica.
As genealogias de Adão, Noé, Abraão etc. nada mais são do que os
primitivos templos ou academias e seus filiados, dos quais foram surgindo novas
gerações de pontífices e iniciados, e não como ali se acha traduzido, referindo-se a
personalidades carnais, a algumas das quais se atribuem longevidades próprias de
academias e não de homens, como Matusalém (Math-Salem) e outros.
Só este termo Math encerra em si a Tese, a Matese e a Síntese de uma
série de mistérios que não poderíamos descrever aqui.
Jesus disse não em latim, mas na sua língua: "Eu sou o A-Math” (a
verdade viva de onde procede toda a verdade).
Amath, em toda língua templária, encerra em si, por metátese, ou seja,
como querem os dicionários, por anagrama ou inversão Tha-Ma (Tema), o milagre
da vida, sua manifestação na existência universal.
Ma-Tha, por inversão, a razão suprema de todas as razões, a legislação
de todas as leis, a Eudoxia de todas as doutrinas.
Ath-Ma, por inversão, a Alma das Almas: ATH, Eu sou o primeiro e o
último, eu sou o alfabeto templário, eu sou a palavra, o Verbo. A e Th são a primeira
e a última letra dos alfabetos vatânico e hebraico.
Ademais, basta pegar-se em uma Bíblia e raciocinar-se um pouco no
capítulo V da Gênese, em que se lê que Adão viveu 130 anos, tendo gerado um filho
que foi Set, quando antes já havia gerado Caim e Abel. Portanto, quem viveu é
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porque morreu, e no versículo 4 diz: "Que, depois de ter gerado a Set viveu ainda
800 anos e morreu, tendo ainda depois de morto gerado mais filhos e filhas".
A mesma linguagem se reproduz matematicamente com os 12
personagens que se seguem, oriundos de Adão, os quais depois de viverem esses
tantos séculos ainda viveram outros mais, gerando sempre filhos e filhas.
Não é preciso muita perspicácia, mesmo sem possuir a chave, para ver
que todos esses nomes se referem a Academias ou Templos, que duravam séculos,
e aos filiados deles saídos, bem como aos sacerdotes e sacerdotisas, cujos nomes
de iniciação nada tinham de notável para passarem à posteridade.
E toda a Bíblia está escrita desse modo, aparentemente incoerente para
quem não lhe possua a chave. Daí as intermináveis interpretações que têm motivado
tantos cultos.
Mesmo sem recorrermos aos tempos antigos, vamos apontar a moderna
tradução de João Ferreira de Almeida, considerada como uma das melhores. Diz ele
em Gênese VI, 10: "E gerou Noé, três filhos, Sem, Cam e Jafé".
Ora, traduzir-se Cham por Cam, francamente, é denotar demasiado ódio
ao pobre desgraçado alcoólico, que chamou a atenção dos seus irmãos para a
nudez do pai, que dormia também alcoolizado, após a libação que haviam feito no
sacrifício rendido a Deus, conforme relatam, igualmente, os tijolos achados
ultimamente na Babilônia.
Felizmente que, lendo-se a Gênese no sentido cosmogônico e não no
cosmográfíco, como está redigida, de acordo com a verdadeira grafia, desaparece
essa bobagem e lê-se, então, em sua pureza, o verdadeiro sentido de Cham, nova
modalidade de Caim, além de todos os outros desde Adão.
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Verifica-se igualmente que Noé é o Princípio biológico do nosso Sistema
Solar. Noé, por metátese EON, são as vibrações elétricas deste Princípio, são os
íons que ocupam todo o espaço interplanetário, princípio de vida posto em evidência
por Georges Lakhowski276. Essa teoria já era adotada pelos cátaros, cuja doutrina
descreveremos em tempo.
Ora, se Noé fosse um homem de carne e osso, tendo, como diz a Bíblia,
gerado três filhos, estes forçosamente haviam de ser da cor do pai, ou seja, da
mesma raça. Como se explica, portanto, a diversidade de raças existentes, além do
repovoamento do mundo, pois se todos os homens e mulheres haviam morrido no
terrível Dilúvio Universal e os raros sobreviventes eram todos machos e da mesma
cor?
Ademais, se Deus salvou Noé e sua família, é porque achou-a virtuosa e
cumpridora da Lei. Mas, sendo Deus Onisciente, ele havia de saber o futuro da raça
(e não das raças) que dela teria de surgir após o repovoamento da Terra, a qual
devia ser pura, o que não é. Se, porém, Deus, na sua Onisciência, viu que a
humanidade havia de perverter-se novamente, como já havia sucedido com a de
Adão, porque não afogou logo Noé e sua prole, carregando-os para o paraíso,
deixando esse pião entregue às moscas ou aos gorilas que não se guerreiam, em
vez de mandar, um dia, seu filho, sacrificar-se, inutilmente, para uma suposta
redenção de um pequeno povo da Palestina, qual o israelita? Porque, nos
responderão alguns fanáticos, Deus sabe o que faz e não dá satisfação a Leterre
nem a ninguém!
Assim está certo!
276 L'Universion.
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Mas a que dilúvio se refere a Bíblia? Ao de Deucalião? Ao de Tespi, no
México, de cuja arca esse patriarca mandou um corvo e um colibri reconhecerem se
havia terra (Humboldt)? Ao da Atlântida, avaliada pelos maias, como tendo sido em
9973, a.C, dividindo-o em três épocas, o primeiro 8452 a.C, o segundo 4292 a.C?
Ou ao relatado por Moisés, em que Noé, parodiando Tespi, fez sair um corvo e uma
pomba para descobrir terra?
Cai também, sob nossa pena, o termo de Baco, do qual daremos uma
pequena explicação.
O império de Rama chamava-se o país de Cush, em substituição ao do
Bharat-Versh. Era o império arbitral do fogo sagrado de que o Carneiro era o
hieróglifo.
Os países afastados para fugirem às pequenas suseranias se
denominavam país de Cush. Por isso se encontram muitos países de Cush.
Eis a origem deste termo, a que a Bíblia tanto se refere, quando fala dos
cuchitas, deixando o espírito do leitor ainda mais obscurecido.
A religião de Rama espalhou-se pelas Índias, indo até a Europa, onde
sofreu várias oscilações. Em um dos movimentos recorrentes, a Itália festejou a volta
desta Religião. Back-Cush significava Volta de Cush. Nesses festejos o vinho era
absorvido em abundância, não tardando, pois, com o tempo, que este termo se
transformasse em deus do vinho — Baco, com suas conseqüências, as bacanais,
servidas por bacantes etc. É o mesmo espetáculo de orgia e de bacanal que se
observa na nossa festa da Penha, cuja padroeira já significa, entre nós, pagodeira,
bebedeira; é o mesmo festim grotesco anterior à quaresma, a que o povo se
entrega em homenagem ao deus Momo, do Paganismo, entre berros ofensivos ao
deus de Moisés e de Jesus EVOHE! (EVE-I — IEHOVAH — JEHOVAH).
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Moisés, em Gênese X, 6, 8 — Crônicas I, 8 — Miquéias V, 6, se referem a
esse país, como sendo o Império Arbitral, que foi substituído pelo império Arbitrário
de Nemrod. Foi o Poder, o militarismo, suplantando a Autoridade, isto é, o
Pontífice.
Saltando aos evangelhos, vamos encontrar as seguintes palavras de
Jesus277: "É mais fácil a um camelo passar pelo furo de uma agulha, do que um rico
entrar no reino dos céus".
Como se sabe, Jerusalém era uma cidade cercada de muralhas, com
várias portas de acesso. Entre elas havia uma, a menor, cuja configuração
assemelhava-se ao furo de uma agulha, por isso era conhecida por porta do furo de
agulha.
Era a essa porta que Jesus se referia, porque, de fato, ela não permitia a
passagem de um camelo e não como foi traduzido e correndo mundo.
Passar pelo "furo de agulha" e não de uma agulha é que deve ser.
A cena da legião de demônios, que Jesus fizera penetrar em dois mil
porcos, que se achavam ali pastando, é outra alegoria à proibição de Moisés de se
comer esse animal, causador da lepra. Hão de convir que Jesus não seria tão
ingênuo de pensar que, afogando dois mil porcos, afogaria, ipso facto, dois mil
demônios, e nem tão perverso para prejudicar o criador desses animais, o qual,
certamente, se teria queixado às autoridades pelo prejuízo, perdas e danos que este
ato lhe teria causado. Logo, se tal fato não se deu é porque tal acontecimento não
sucedeu materialmente falando.
Será mais outra antiga alegoria, igual à do Taoísmo do Japão, que faz
passarem os maus espíritos para dentro de um ovo.
277 Marcos X, 25.
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Além disso, não deixa de causar estranheza o fato do povo israelita não
comer porco, por ser proibido por Moisés, e haver criadores desses animais na
Judéia, a pastarem por cima de rochedos, quais simples ovelhas.
Há também uma evidente contradição entre Mateus VIII, 28 e Marcos V, 2
que não deixaria de desgostar Santo Agostinho. Aquele diz que foram dois homens
e este que foi um só!
A história da figueira que não dava frutos e que foi, por isso, condenada
por Jesus a secar (Marcos II, 13 — Lucas XIII, 6) é outro símbolo mal interpretado
pelos tradutores, segundo Gustavo Dalmann (p. 340), portanto, não era época de
figo nem de figos precoces (junho), nem da grande colheita (agosto), apesar da
frondosidade da árvore. Jesus preocupava-se com a sorte de Jerusalém, cidade de
soberbo aspecto, mas desprovida dos frutos da verdadeira Justiça, e a figueira lhe
forneceu uma imagem.
Os discípulos não compreenderam isso, e os escritores dos evangelhos,
séculos depois, concluíram que tal figura se referia à potência da fé que faz
milagres.
Frederico Portal278, analisando o simbolismo das cores em todas as
religiões da Antigüidade, da Idade Média e dos tempos modernos, sua generalidade
e suas adaptações, faz notar que "os mesmos dogmas que estabeleceram as
analogias reaparecem no Cristianismo. Neste, o Messias é vestido de manto azul,
durante os três anos em que ele inicia o homem nas verdades da vida eterna, e só é
vestido de preto quando ele luta com as tentações. As pinturas bizantinas, atribuídas
a São Lucas, representam a virgem com a face de uma negra. Quadros mais
278 Couleurs Symboliques 1837.
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recentes a vestem de preto, pois Jesus descido à terra revestiu, por sua mãe, os
males da humanidade".
No Arqueômetro, a letra do nome de IShO corresponde ao azul.
O branco, por ser a reconstituição de todas as cores, corresponde à
verdade, ao passo que o preto, que é a ausência da mesma, representa o erro.
Ora, se o branco foi sempre em todas as religiões o símbolo de Deus, por
ser a Luz, é claro que o preto deve ser o símbolo do diabo, por ser a treva. Isso se
verifica nos planisférios.
Não haverá também uma analogia entre o Papa branco do Vaticano e o
Papa negro do Jesuitismo?
Os vitrais das catedrais góticas encontram sua explicação científica na
aplicação do simbolismo, verificável com o Arqueômetro, com os vedas e com as
pinturas dos templos egípcios.
Tal foi o espanto dos primitivos cristãos, vendo que os símbolos e as
cerimônias do Catolicismo eram iguais aos do Mitatismo, religião de Zoroastro, que
os católicos não trepidaram, com a maior desfaçatez, em atribuir tal coincidência à
perfídia do diabo, que teria, maldosamente, ensinado aos persas a futura doutrina do
Cristo, apesar deles não ignorarem que a religião dos persas era mais antiga alguns
milhares de anos!
Por aí é fácil compreender a razão da série de incoerências, de
divergências, de costuras, de sofismas, de exageros, de contradições, dos plágios
com que escreveram a vida de Jesus, criando a escola dos Vancoeur, dos Lalande,
dos Dupuis, que negam sua passagem por esse mundo.
Pelas constantes descobertas arqueológicas, e pela reconstituição das
línguas mortas, incessantemente estudadas e guiadas por incontestáveis sumidades
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científicas do século XX, não será de admirar vermos surgir, em dia próximo, uma
formidável Academia, constituída pelos antigos patriarcas da humanidade,
reencarnados, presidida por uma nova encarnação do Verbo — Jesus.
Então, ali, tudo se esclarecerá, o joio será separado do trigo, e a palha
atirada ao fogo. Os homens se compenetrarão de que a Terra não passa de uma
microscópica parcela, no conjunto Sideral do Infinito. O homem reconhecerá sua
vaidade e condenará a presunção do romanismo. Voltará o Reinado da Paz — oReinado do Céu — e a humanidade será regida por um só pastor

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