terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Vida Mística e Oculta de Jesus(livro parte5)

Religião e Culto
146 Carlos Süssekind de Mendonça — O Catolicismo, partido político estrangeiro.
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Para melhor definirmos os dois termos, Religião e culto, em que se
esconde a malícia, passaremos a pena a Saint-Yves D'Alveydre.
"Religião indica a ligação por excelência, o que tende em reunir
todos os homens indistintamente e todos os povos, raças,
coletividades humanas, em um mesmo princípio e mesmo fim."
"O Culto, ao contrário, indica uma coisa particular, um sistema
de cultura humana, prestando-se às exigências do seu próprio
campo de atividade”.
“A Religião é una em sua essência’”.
“Os Cultos são e devem permanecer indiferentes em suas
formas”.
“Os monarquistas só consideram a Religião, que eles
confundem com o Culto, como meio de governo”.
“Os Republicanos, imbuídos de preconceitos e erros
consideráveis, embora em sentido inverso, procuram isolar o
culto e submetê-lo à vontade dos indivíduos; os liberais
bordejam em volta desses dois modos de ver."
É o que se está passando na 2º República brasileira em 1932.
Embora inofensivo na aparência, todo o mal de que sofre o mundo reside
exatamente na confusão desses dois termos — Religião e Culto —, confusão esta
que o próprio clero estabeleceu entre o povo, por isso, não sabendo o padre
discernir o joio do trigo, os confunde na sua imaginação, tachando de contrário à
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Religião aquele que só profliga os erros do Culto, arquitetado por homens
interessados.
A religião cristã abrange indistintamente todas as seitas que têm Cristo
por base e são inúmeras: protestantes, evangelistas, reformados, quacre, ortodoxos,
swedenborgistas, espiritistas etc.
O Culto católico as repudia e condena todas por não quererem cultuar
esse mesmo Cristo de acordo com sua idolatria, seus dogmas e sua liturgia.
A religião cristã assemelha-se a um espelho quebrado em vários pedaços;
os cacos são os Cultos, que, aliás, refletem mais ou menos embaçados, pelo
manusear de mãos sujas, o brilho que tinha aquele quando inteiro.
É uma Babel; ninguém se entende, nem o próprio sacerdote, quando,
pateticamente, do púlpito exclama que a Religião Cristã ou a Religião Católica,
conforme a conveniência, está sendo perseguida pelos hereges147. Cada qual
embaralha, seja pela palavra, seja pela imprensa, os termos de Igreja Cristã, Igreja
Católica, doutrina cristã, doutrina católica, religião cristã, religião católica. Por
quê? Por ignorância? Por astúcia?
O termo católico vem do grego katholikós e significa Universal.
Este termo foi adotado pelos Concílios, séculos após a ressurreição,
porque os primitivos adeptos, na maioria judeus, só eram conhecidos por cristãos,
com a idéia de que a Religião do Cristo, a cristã, se tornasse universal, o que,
infelizmente, ainda não se realizou em virtude exatamente dos famosos dogmas do
Romanismo.
O termo Católico seria mais apropriado ao Budista, porque abrange mais
da metade da população da Terra.
147 O termo herege não se aplica somente ao indivíduo sem religião, basta, para ser herege, discordar
do mais insignificante ponto da doutrina católica.
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Além disso, no termo Católico reside a mais flagrante contradição. O
filiado à Igreja de Roma tem de confessar-se "Católico", "Apostólico" e "Romano",
sine qua non. Ora, é impossível ser Universal e Romano ao mesmo tempo.
O Romanismo, portanto, é o pior inimigo do Catolicismo, ou seja, do
universalismo e, conseqüentemente, do Cristianismo, e torna o indivíduo um
renegado da sua pátria, para tornar-se súdito romano.
O pior, porém, é quando esse indivíduo é padre e ocupa cargo público ou
postos militares no Exército, apesar de desligada a Igreja do Estado.
Não raro é encontrarem-se indivíduos que se dizem católicos, mas não
apostólicos e ainda menos romanos. Ora, tais indivíduos não são coisa alguma, a
não ser: pobres inconscientes, e essa é a apregoada maioria do Brasil que,
ingenuamente, serve de instrumento a uma agremiação estrangeira, puramente
política, cujo fim único é de se assenhorear desse torrão privilegiado, para recuperar
o que acaba de perder na Espanha, no México e em outros países, de onde são
sempre escorraçados, após um lapso de tempo, deixando a prova evidente da
ineficácia do seu sistema.
De modo que essas expressões só se têm prestado a ambigüidades no
espírito das massas, servindo de espada de dois gumes nas mãos de sacerdotes
pouco escrupulosos ou na de... pobres de espírito, dando lugar aos contrários para
encararem as locuções como armas da malícia. Basta ler-se qualquer apologia
católica. As ambigüidades dos termos se chocam, se repelem, se atraem conforme
as conveniências da frase e do fim almejado.
Pouco importa à Igreja Católica a questão de qualidade, a sua questão é
de quantidade; quanto maior o número de analfabetos, boçais ou fanáticos e
cretinos, tanto melhor para... os cofres e para... futuras cruzadas.
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A religião cristã, na sua essência primordial, não encerra dogmas de
espécie alguma e os primeiros cristãos, que eram divididos em cerca de 30 seitas,
sempre combateram essas excrescências.
Na Idade Média, o povo romano andava saturado de todas as doutrinas
filosóficas do mundo; era o Druidismo céltico, o Hermetismo egípcio, o Cabalismo
judaico, o Helenismo grego, o Zoroastrismo ou Maniqueísmo persa, o Pitagorismo, o
Esoterismo maometano, o Gnosticismo, sendo ainda desconhecido o Bramanismo e
o Budismo, apesar de milenários.
O Cristianismo condensou todas essas doutrinas em seus evangelhos,
amalgamando-as de acordo com as necessidades oportunistas. A política romana,
sob a bandeira do Catolicismo, isto é, do Universalismo, confeccionou, copiando
delas, catecismo, dogmas, ritual, liturgia, para encobrir sob a capa do Espiritual o
poder Temporal de que usaram e abusaram à vontade, até o dia em que o dedo de
Cristo derrubou o orgulhoso trono pontificai, tirando-lhe esse Poder Temporal.
Mas o espírito do Mal, que não cessa de insuflar a vaidade dos
poderosos, conseguiu repor no trono o anti-Cristo, servindo-se por mefistofélica
ironia do punho daquele que mais o guerreou pela imprensa e pela palavra: o Sr.
Mussolini.
O tempo dirá quem será o vencedor.
Antagonismo entre Cristianismo
e Catolicismo
Com um pouco de atenção, verifica-se, que a chamada Religião
Católica, Apostólica e, sobretudo, Romana, ou antes, o Catolicismo, ou, melhor, o
Romanismo, é exatamente o contrário da Religião de Cristo.
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Jesus nunca disse que seu Pai tivesse três pessoas numa só, das quais
uma delas era ele. Jesus nunca batizou, considerando este ato como mera
formalidade de seita; o Catolicismo fez disso um sacramento, do qual tira fantástica
renda, aliás, sem pagar os devidos impostos de Indústria e Profissões, Licenças,
Selos de consumo, vendas a dinheiro, recibos e nem o próprio aluguel do templo em
que negocia, que, aliás, não é dele, por ser propriedade de todos os fieis
coletivamente e, portanto, da Nação.
Jesus proibiu categoricamente, como se verifica em Mateus V, 33 e seg.
que "ninguém jurasse, nem pelo céu, nem pela terra, nem por Jerusalém, nem pela
sua cabeça e que bastava a palavra do homem: sim, sim, não, não, porque, fora
disso, tudo é de procedência maligna".
Essas palavras se acham textualmente no chamado Livro de Enoch, de
existência anterior a Cristo (Livro II, capítulo 49, versículo 1).
Claríssimo! Não acha o leitor?
Pois bem! Que faz o Catolicismo?
Obriga ajurar sobre os Santos Evangelhos! Sobre aquilo mesmo que tal
proíbe!
Jesus nunca comeu porco, por ser proibido pela Lei Mosaica e por
considerá-lo imundo, como ainda observam os judeus e muçulmanos, mas o
Catolicismo aprecia a carne deste animal, que serve de refúgio aos demônios e é o
veículo da lepra e da tênia.
Jesus foi circuncidado, como medida de higiene, já existente na Babilônia
em honra ao Deus Priapo, e os católicos não o são. O próprio Paulo, que se arvorou
em apóstolo da incircuncisão, sendo ele mesmo circunciso, circuncidou um discípulo
seu, o que constitui o cúmulo da incoerência.
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Os moscovitas não comem pombo, porque dizem que seria comer o
Espírito Santo, representado por essa ave.
Jesus comia, de pé, o Cordeiro Pascal com alface, e o papa, além de
outras iguarias, o come, bem repimpado, com vários temperos.
Jesus celebrava a festa dos tabernáculos, o que os católicos não fazem.
Jesus observava o sábado e os católicos observam o domingo,
certamente por espírito de contradição, por não haver outra razão plausível, pois
ainda douto algum do mundo foi capaz de dizer se a criação do Mundo teve lugar no
solstício do verão ou no do inverno; se foi de manhã, à tarde ou à noite!
Jesus sacrificava o cordeiro no templo e os católicos sacrificam o pobre
Jesus-Cordeiro diariamente, chegando a comê-lo e a beber seu sangue.
Jesus lia no templo os Aftorath, cantava os hinos de Davi e de Salomão,
que os católicos censuram.
Jesus não se intitulava Deus e o Concilio de Nicéia fez-lhe a pirraça de o
promover a Deus...
Jesus não instituiu a sagração do diaconato e os católicos reconhecem
este ato como sacramental.
Jesus não aconselhou a confissão, aliás, usada no Budismo, de fiel a fiel,
e os católicos instituíram esse sacramento como visível arma de devassa e
perseguição.
Jesus dispensava templos para orar e os católicos não fazem outra coisa
se não construí-los, mas à custa de outro.
Jesus correu os vendilhões das portas do templo de Jeová e disse: "Está
escrito, a minha casa é de oração e vós fizestes dela covil de salteadores148", e os
148 Lucas XIX. 46.
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católicos vendem leitões e galinhas na porta dos mesmos, ao som de sinos
benzidos, repenicados com o compasso de chulas carnavalescas e desafinadas
charangas e aos berros de pregoeiros.
Jesus mandou que seus discípulos impusessem as mãos e curassem, e
os católicos, detentores do poder, perseguem e punem quem tal caridade ousar
praticar.
Jesus mandou que seus discípulos andassem sem dinheiro e, apesar do
voto de pobreza que fazem, conhecem-se fortunas de padres e, sobretudo, o
tesouro do Vaticano, que acaba de avolumar-se com o recebimento de cerca de dois
bilhões de liras pagos pelo governo italiano149. Jesus disse (Mateus X, 9, 10) "Não
leveis ouro, nem prata, nem cobre em vossos cintos, nem alforje para o caminho,
nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão, pois, onde estiver vosso ouro, estará
vosso coração."
Já São Jerônimo censurava que os bispos vivessem no templo cobertos
de jóias e pedrarias, enquanto o pobre Jesus agonizava no adro, nu e cheio de
feridas.
São Francisco de Assis pretendeu cumprir à risca essa recomendação de
pobreza, mas assim que ele entregou a alma ao Criador, não tardaram os filiados à
sua Ordem em adquirir bens por toda a parte, não só comprando-os a dinheiro,
como os obtendo por meios tortuosos, como entre nós sucede com os da avenida
Rio Branco e alhures.
149 Só do Brasil são remetidos anualmente milhares de contos de réis (moeda vigente na época da
edição original), sob o título de Dinheiro de S. Pedro, empobrecendo o nosso erário público, pois é
dinheiro que não volta. Foi o rei Ethelwolf, vencedor dos bárbaros em Londres, que, indo a Roma,
comprometeu-se a pagar anualmente ao Papa um tributo que fixou, chamando-o Dinheiro de S.
Pedro, e prejudicial às nações. Filippo Turati, ex-deputado da Itália e chefe da concentração
antifascista, assegura que o tratado de Latrão, que melhormente se chamaria de Ladrão, deu ao
Papa 150 milhões de liras em dinheiro e um bilhão de letras em títulos de 5%. Isso e mais afortuna do
Vaticano dão cerca de dez milhões de contos de réis. Lucas VII — Mateus XI.
176
O clero católico, contrariamente ao que preceitua o cap. XXII, 14 de
Mateus, que censura aos fariseus hipócritas de devorarem as casas das viúvas com
pretextos de prolongadas rezas por suas almas, não faz outra coisa a não ser
insinuar a essas pobres viúvas e a capitalistas de legar à Igreja suas fortunas para
missas e rezas.
Há mesmo instituições de mulheres cujo fim é descobrirem velhas ricas
moribundas, para, sob o pretexto de amparo espiritual, lhes arrancarem uma parcela
de suas fortunas — o autor dessas linhas foi parente de uma das vítimas, em 1911,
em Vila Izabel.
Jesus mandou que Pedro embainhasse sua espada150 e teve uma frase
adequada ao ato, e o Vaticano mantém um exército... certamente para guerrear com
os demônios...
Jesus disse que seu reino não era deste mundo e o Vaticano acaba de
ser reintegrado em seus domínios, constituindo um Reino em outro Reino, com o
título de Rei.
Jesus disse151: "Ficai, porém, vós na cidade de Jerusalém, até que do alto
sejais revestidos de poder". Entretanto, a sede passou-se para Roma, sem que essa
ordem viesse do Alto.
Jesus mandou amar e perdoar seu próximo setenta vezes sete e os
católicos odeiam-se e odeiam os contrários, anatematizando-os, excomungando-os
por gerações afora, isto é, enxotando-os do rebanho, contrariamente ao que
praticava o Mestre, as ovelhas desgarradas, que reunia. No próprio termo — Roma
—já se encontra a antítese de Amor.
150 Nos Adendos estudamos esta questão de espadas.
151 Lucas XXIV, 49.
177
Por isso os verdadeiros cristãos devem se constituir em turmas de
bombeiros para prevenir e apagar esses incêndios de carne humana.
Jesus usava barba e não era tonsurado e o clero católico a raspa e usa
tonsura, imitando o sacerdote egípcio.
Jesus foi sempre antipolítico e anticlerical como fartamente se vê dos
seus atos e palavras, e foi esta a causa do seu suplício e não a doutrina que ele
pregava, que era, exatamente, a de Moisés, pois ele mesmo dizia: "Se crês em
Moisés crê em mim, porque de mim escreveu ele152". Ele não cessava de tratar os
fariseus padres e os escribas de raça corrompida, raça adúltera, raça de víboras,
sepulcros caiados, cegos e condutores de cegos, filhos do diabo, doudos,
insensatos, ignorantes, hipócritas, salteadores, ladrões, etc. Ele era contrário à
política e ao domínio romano, como provam seus atos e suas respostas a Pilatos. Ao
próprio João, seu discípulo amado, ele o chamou de inconstante e leviano,
censurando-o várias vezes153. Ao próprio Pedro, a quem acabava de prometer as
chaves do céu, chamou-o de Satanás154.
O próprio letreiro da Cruz — INRI — exprime clarissimamente que sua
condenação foi motivada por ele intitular-se — Rei dos Judeus — (Tu o dizes).
A epístola de Paulo aos hebreus é toda saturada de anticlericalismo. E
que é o Catolicismo, em suma, senão um clericalismo intolerante?
Para corroborar ainda mais a antinomia existente entre o Cristianismo e o
Catolicismo, transcrevemos da bela obra colorida de Guilherme Delhora155 a concisa
comparação que segue:
Quadro 1
152 João V, 46.
153 Lucas VIl — Mateus VI.
154 Mateus XVI, 23.
155 La Iglesia católica ante Ia crítica en el pensamiento y en el arte — México 1929.
178
O CRISTO
Teve uma coroa de espinhos
Lavou os pés dos seus apóstolos
Pagou os tributos
Nutria seus cordeiros
Era paupérrimo
Não quis títulos honoríficos
Levou a cruz ao ombro
Expulsou os mercadores
Pregou a paz
O PAPA
Usa coroa de ouro e brilhantes
Dá-os a beijar a reis e vassalos
Cobra-os com usura
É nutrido por eles
É o monarca mais rico
Monopoliza até o de Santidade
É levado ao ombro por nobres
Acolhe-os com agrado
Abençoa a guerra e as armas.
Quadro 2
CRISTO em
Mateus, ver. 39, 40,41,45.
A qualquer que te ferir numa face dá a
outra; quem quiser apossar-se de tua
roupa dá-lhe também tua capa; Amai
vossos inimigos, bendizei os que vos
maldizem; fazei bem aos que vos
aborrecem e orai pelos que vos ultrajam,
para que sejais filhos de vosso Pai que
está no céu, que faz com que seu sol
brilhe sobre maus ou bons, justos e
injustos.
BULA DO PAPANICOLAU II
"Anátema eterno e excomunhão ao
temerário que não tenha em conta nosso
Decreto e que em sua perseguição
tentar submeter ou perturbar a Igreja
Romana. Que nesta e na vida futura
prove a cólera de Deus e a ira dos
apóstolos Pedro e Paulo, cuja igreja ele
tenha tentado derrubar; que sua casa
fique deserta, que seus filhos fiquem
órfãos e viúva sua mulher; que seja
desterrado e seus filhos obrigados a
mendigar seu pão e expulsos de sua
179
casa. Que o usurário se arroje sobre
seus bens, que o fruto de suas fadigas
seja disperso; que toda a terra combata
contra eles e que todos os elementos
lhes sejam hostis!" Brr!!! Sai Satanás!
O MAOMETANO
Aqueles que seguem a religião judaica,
os cristãos e qualquer que haja
acreditado em Deus e praticado o bem
receberão a recompensa do próprio
Senhor. A virtude não consiste em voltar
a face para o Nascente ou o Poente para
rezar, mas sim em ser tolerante. Se
qualquer idolatra te pedir asilo apressate
em lhe dar.
O CATÓLICO
Por decreto de São Luiz — rei da
França
Os heréticos que derramam seu veneno
em nosso reino e sujam grandemente
nossa Igreja devem ser exterminados.
Quem se desvia da fé católica que seja
imediatamente queimado vivo.
Proibimos a toda pessoa dar
hospitalidade aos heréticos, defendê-los
de qualquer modo, sob pena de
confiscação de seus bens. Ao que
denunciar um herético lhe será dada
uma pensão.
Para reforçar o que fica dito, pediremos permissão ao padre Mattos
Soares para extrair da sua moderna obra O Novo Testamento, aprovada pelo Papa
Pio XI e pelas autoridades eclesiásticas, as seguintes passagens dos Evangelhos
por ele feitas, que produz exatamente um efeito contrário aos que ele desejava. O
tiro saiu-lhe pela culatra, pois põe em evidência os próprios erros do Catolicismo.
São carapuças admiravelmente talhadas.
Assim faz ele falar Jesus. (Os parênteses são as carapuças) — (p. 39):
"Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim (é o que se
vê nos templos). E em vão que me honram, ensinando doutrinas e mandamentos
180
dos homens (dogmas e catecismo), transgredindo o mandamento de Deus (a
Bíblia) por causa da sua tradição" (Judaica).
(Pág. 217): "Examinai as Escrituras (a Bíblia), porque julgai ter nelas a
vida eterna e elas são as que dão testemunho de mim" (repudiada pelo
Catolicismo).
(Pág. 217): "Porém, se vós não dais crédito aos seus escritos, como
dareis crédito às minhas palavras?" (E ainda teimam em não lhe dar crédito?).
(Pág. 223): "O que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio
correrão rios de água viva" (Fizeram correr rios de sangue).
(Pág. 225): "Se vós permanecerdes na minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos tornará
livre do pecado" (A verdade é um mistério)...
(Pág. 241): "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai
senão por mim". (Passando previamente pela mão do padre, sem o que vai para
o inferno ou, quando muito, para o purgatório).
(Pág. 183): "Guardai-vos dos que querem andar com vestidos compridos
e gostam de ser saudados nas praças e de ter os primeiros assentos nos banquetes;
os quais devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Receberão
uma condenação mais severa" (Que profecia terrivelmente verdadeira aplicada ao
clero católico).
(Pág. 561): "Assentam-se no templo de Deus, apresentando-se como se
fossem Deus" (Quem não vê aí o Papa?).
(Pág. 409): "E enquanto todo sacerdote se apresenta cada dia a exercer
seu ministério e a oferecer muitas vezes as mesmas hóstias, que nunca podem tirar
pecados (oh! Reverendo, está comprometendo os colegas), Jesus, ao contrário,
181
tendo-se oferecido uma só vez, como hóstia pelos nossos pecados, está assentado
para sempre à direita de Deus" (o que nulifica o efeito das missas).
(Pág. 212): "Deus é espírito; em espírito e, verdade, é que deve adorar os
que o adoram, porque é desses adoradores que o Pai procura" (Logo não é na
Igreja Católica que serão encontrados, pois ali só predominam os ídolos).
(Pág. 269): "Jesus Cristo é a pedra que foi rejeitada por vós que edificais,
a qual foi posta por fundamento de ângulo e não há salvação em nenhum outro
nome, porque nenhum outro nome foi dado entre o homem pelo qual devam ser
salvos (este nome de Jesus e de Cristo já existia na religião de Zoroastro). (Esta
pedra angular é a Pirâmide de Gizé)".
E toda sua obra gira se contradizendo.
Vejamos agora o guarda-roupa do Papa para mostrar a pobreza que
Jesus aconselhava (Figura 19).
"Solideus de seda, luvas de lã branca finíssima,
tirada de 50 ovelhas especialmente criadas para esse fim e
para sua indumentária, sandálias de finíssima camurça e
sobrepelizes de pura seda. Todos esses ornamentos são
bordados a ouro com incrustações de custosas pedras
preciosas. O trono em que se senta vale uma fortuna, que
tiraria muita gente da miséria”.
“Cada dia muda de uniforme, os quais se desafiam
em pedrarias caras e fios de ouro maciço”.
“Como pode essa vaidade se coadunar com as
palavras de Jesus e seu exemplo de humildade?”
182
“A alma da antiga religião está escondida sob as
roupagens pomposas dos Pontífices romanos, razão pela qual
não se pode ver”.
“O tesouro de São Pedro é mais precioso do que a
pureza das almas. Para essa Igreja mais valem alguns servos
submissos e amigos endinheirados do que legiões de beatos”.
“Arnaldo Brescia, discípulo de Abelardo, escrevendo
ao papa Eugênio III, disse: 'Quem me dera antes de morrer ver
a Igreja de Deus, tal qual foi nos antigos dias, quando os
apóstolos atiravam suas redes, não para recolher ouro e prata;
mas, sim, almas'."
Esse prelado e tribuno foi perseguido por Frederico Barbaroxa e o papa
Adriano IV e queimado vivo sem testemunhas no Campo de Nero.
Se, como escreve Lucas, o reino de Deus é dos pobres e o reino dos ricos
é de Satanás, segue-se que o Vaticano é a Tesouraria do Príncipe do Mal.
O Plágio Católico
Pecado original, venial ou capital, batismo, confissão, comunhão, céu,
purgatório e inferno, foi tudo adaptação feita, pelos bispos romanos, de crenças
básicas, de religiões antigas, que chamam de pagãs156. A própria missa, como
veremos mais adiante, também é uma adaptação de cerimônias da Etiópia, do Egito
e, ainda hoje, das ilhas da Oceania.
156 Pagão vem de paganu, o homem do campo e não como sendo religião alguma. Esses campônios
serviam de intermediários entre o campo e a cidade e professavam vários credos orientais, onde o
Catolicismo foi beber seus dogmas e ritos.
183
O padre Huc, que sofreu da cúria romana o castigo de ser atirado ao
ostracismo, por ter divulgado verdades que não agradaram ao papa, estabelece a
perfeita analogia que existe entre o Catolicismo e o Lamaísmo, do Tibete,
modalidade do Budismo hindu.
Diz ele, na p. 45, Dans le Thibet: por pouco que se examine as reformas e
as inovações introduzidas por Tsong-Kabá, no culto lamaico, não nos podemos
deixar de impressionar pela relação que existe entre ele e o Catolicismo. O báculo, a
mitra, a dalmática, o pluvial, o ofício com dois choros, a salmodia, o exorcismo, o
incensório suspenso por cinco correntes, podendo abrir-se e fechar-se à vontade, as
bênçãos dadas pelos lamas, estendendo a mão direita sobre a cabeça dos fiéis, o
rosário, o celibato eclesiástico, os retiros espirituais, o culto dos Santos, o jejum, as
procissões, as litanias, a água benta, a consagração do pão e do vinho ofertados ao
Criador, a extrema-unção, as rezas para os doentes e para os mortos, a manutenção
de mosteiros que honram sua religião, as missões de proselitismo feitas por
missionários descalços e desprovidos de dinheiro, a igualdade do Papa e do Lama,
além de muitas outras paródias, como, por exemplo, as medalhinhas de santas,
escapulários (imitação do escaravelho da medalha egípcia hieroglífica), que,
certamente, não foram copiadas pelo Budismo, que é mais velho milhares de anos.
A raspação (retirada — depilação) dos pêlos faciais é outra paródia tirada dos
sacerdotes asiáticos.
O ritual, o cerimonial, o aparelhamento católico, nada mais são do que
cópias de religiões orientais e do paganismo romano, com o qual os primitivos
cristãos se mancomunaram até sentirem-se suficientemente fortes paia persegui-los
em dezenas de sanguinolentas cruzadas, como hereges.
184
O templo católico assemelha-se aos templos pagãos. Em ambos se vê
um verdadeiro jardim zoológico: pombos, cobras, porco, asno, águia, dragão,
serpentes, cordeiro, boi etc.
O Catolicismo é o único culto que costuma passear seus ídolos pelas
ruas, certamente não para os arejar, mas, possivelmente, para farejar aquilo com
que os manda fabricar.
Então não censurem o budista, quando seu pontífice, montado no
sagrado elefante branco, percorre as ruas da cidade em dia de comemoração a
Buda.
A não ser que considerem essas manifestações carnavalescas, como a
expressão de um culto altamente divino da Costa da África, como de falo se verifica
pelos Tópicos do Dia do Diário Carioca (11-IX-1931), que transcrevemos com a
devida vênia:
"O esnobismo na religião — Pode-se dizer que todo
o povo paraense agora se agita, no empenho de conseguir o
retorno do tradicionalíssimo Ciro, imponente precisão porque
se encerram as famosas festas de Nossa Senhora de Nazaré,
ao ritual de todas as épocas, somente há cinco ou seis anos
proscrito pelo então arcebispo daquele Estado, D.João Irineu
Joffily. Foi extraordinário o descontentamento que essa medida
despertou no seio de quase todas as classes de Belém. E terse-
ia tal estado de alma coletivo concretizado em sérias
perturbações da ordem, por ocasião do majestoso cortejo, se
as autoridades eclesiásticas não houvessem obtido todo o
185
apoio das civis — fato esse que, aliás, andou perto de
impopularizar o senhor Dionysio Bentes, governador, a esse
tempo, da referida circunscrição.
“Em que consistiu, a rigor, a providência adotada por
D. Irineu Joffily? Na supressão de práticas que realmente
davam à cerimônia caráter um tanto profano, por pitorescas em
demasia, e assim chocavam os observadores de sensibilidade
mais fina, os próprios fiéis de maior unção. Aqueles, porém, e
são quase todos os paraenses, que se não resignaram com as
inovações decretadas, e apelam agora para quem de direito,
na esperança de as colocarem abaixo, facilmente defenderiam
o seu ponto de vista recordando aspectos verdadeiramente
carnavalescos e até por vezes nada edificantes que, em vários
países da Europa, notadamente a Espanha, a Itália, a própria
França, conservam até hoje algumas festas católicas, sem que
os impugnem os representantes da Santa Sé. Compreendem
estes, com certeza, que, uma vez estilizadas, como as gostaria
de ver o esnobismo — flagelo ridículo apontado em toda a
parte, tais solenidades perderiam sua maior sedução para as
massas, o que redundaria em dano para a propagação e
incremento da fé".
Diz Swedenborg:
186
"Haverá coisa mais detestável do que render culto a
homens mortos, ajoelhar-se ante suas estátuas e beijar seus
ossos e os restos dos seus cadáveres?"
Toda idolatria era reprovada por Moisés, Jesus e demais fundadores de
religiões; entretanto, a Igreja Católica faz disso seu maior comércio colocando a cruz
como tabuleta de reclame.
Lê-se em Êxodo XX, 4, 5, a seguinte Lei, ditada por Jeová: "Não farás
para ti imagens de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima no céu ou
embaixo na terra, nem nas águas, nem debaixo da terra. Não te encurvarás a elas,
nem as servirás". Jesus confirma esta Lei.
O papa Gregório, o Grande, no ano 590, apercebendo-se do alastramento
da idolatria, mandou retirar das igrejas todos os ídolos de santos e santas,
censurando os bispos que tal consentiram. Mas, depois, vieram Bonifácio III e IV,
que ordenaram o restabelecimento do Culto dos ídolos.
Como a coisa é rendosa para a indústria, para o comércio e para seus
cofres, o Vaticano atualmente não faz outra coisa senão canonizar santos e santas,
e isso aos centos de uma vez para economia de cera!
Que o leitor consciencioso dê um nome a esse procedimento.
Os templos dos primitivos israelitas eram construídos em lugares altos.
Os profetas e o Rei Josias, porém, para moralizarem as depravações que se
praticavam nessas alturas, condenaram esses templos, o que foi ratificado por
Moisés e, conseqüentemente, por Jesus.
Jeremias disse: "que Deus censurava a construção de templos sobre as
colinas".
187
Ezequiel... "eles galgaram as colinas e aí me ofereciam seus sacrifícios
que me irritam."
Cristo, venerando Moisés e os profetas, e cingindo-se as leis, estava com
isso de acordo. Entretanto, que faz o Catolicismo? Entendendo que Jesus não
soube o que disse, não faz outra coisa senão construir templos a ídolos em lugares
altos e sacrificar diariamente o pobre Cordeiro, que ali está em carne e osso, isso,
naturalmente por quatro razões: a primeira para estar em desacordo com a Bíblia,
que adota e detesta; a segunda para mais facilmente escaparem de algum novo
dilúvio; a terceira porque ali, costumando haver uma residência para o vigário, os
ares são mais puros para sua saúde; e a quarta por estar mais afastado das vistas
curiosas e bisbilhoteiras dos desocupados que perambulam pela vizinhança ou de
comadres despeitadas.
A religião de Cristo, fundada como todas as outras sob o culto do Sol,
recebeu as mesmas idéias, as mesmas práticas, os mesmos mistérios; os
acessórios é que foram diferentes; a base, porém, é a mesma: Luz e Trevas (João,
1,5). É o que claramente se lê no Apocalipse.
A vestimenta do Grande Lama, no Tibete, conforme já dissemos
anteriormente, é rigorosamente idêntica à dos Bispos católicos. A cabeça é coberta
por uma mitra amarela, longo báculo recurvado na mão direita; seus ombros são
revestidos de um manto em tafetá violeta retido sobre o peito por um grampo.
Sobre o peitoral acha-se gravada a palavra hebraica I H O H (Jeová)
significando Deus-Vida. Muito posteriormente Moisés designou esses ancestrais
pelo termo Nepalim ou Nefilim (O Nepal, o Tibete).
O Dalai-Lama é a encarnação de Deus, que passa de um pontífice ao
outro; a forma visível desaparece, mas o ser divino nele reside sempre. O papa
188
romano representa Jesus Cristo, repetindo assim a mesma arenga, e como este é
Deus, na sua opinião, segue-se que, sendo ele o representante de Jesus, ele passa
a ser o próprio Deus em pessoa. É possível haver maior heresia?
Todas as festas do Catolicismo têm sua semelhança com as do
Paganismo.
Para mostrar como a ignorância e a credulidade de muitos homens da
Igreja copiaram e deturparam as palavras latinas usadas nas festas pagas, fazendo
desses termos santos e santas da Igreja, citaremos somente algumas:
Os pagãos adoravam Baco, conhecido pelos latinos como Líber.
Celebravam duas festas, uma chamada urbana, na cidade, e a outra, rústica, nos
campos. Para honrar o rei da Macedônia — Demétrio — acrescentaram mais uma
como se vai ver.
Este rei tinha sua Corte no golfo de Tessalônica. Pois bem, desse rei
fizeram um mártir desse golfo, no ano 303, e o canonizaram como São Demétrio.
Eleutério, que estabeleceu essas festas com a denominação de Festim
Dionísio, Festim Eleutério, Festim rusticum, passou a ser Santo Eleutério e as
festas chamaram-se São Diniz, Santo Eleutério e Santa Rústica!
O deus Baco tinha uma amante chamada Aura, e o vento plácido
personificava a doçura. Desses termos fizeram Santa Aura e Santa Plácida!
Os pagãos felicitavam-se mutuamente com os termos perpetuum,
felicitatum; os católicos fizeram disso Santa Perpétua e Santa Felicidade!
No ano novo eles usavam a fórmula: Quid faustum felixque sit; os
católicos transformaram isso em São Fausto e São Félix!
Das palavras rogare e donare fabricaram São Rogaciano e São
Donaciano!
189
De Gobineau157 diz que "a ignorância e, mesmo, a política apostólica
contribuíram para agravar a devoção rústica. Via-se Júpiter com Thor transformado
em São Pedro; Apolo em São Miguel; Wodan ou Marte em São Martinho; as mães
célticas tornaram-se as três Santa Maria; Ísis, a virgem que deve engendrar,
assimilada à mãe de Cristo; e, coisa mais estranha, Buda colocado nos altares
cristãos com o nome de São Josafá!"
Citando Henri Estienne158, apologista do Catolicismo, lê-se: "Há grande
conformidade em várias coisas entre os deuses dos pagãos e São Bento, entre as
deusas e suas sonatas; não há conformidade da parte dos verdadeiros santos e
santas, a fim de que meu dito não seja caluniado; mas sim da parte de seus
adoradores. Pois, se bem considerarmos a adoração dos deuses e das deusas
pelos pagãos, e a adoração dos santos e das santas pelos da religião romana,
achar-se-á completa semelhança, afora o modo de sacrificar. E, assim, do mesmo
modo que os pagãos se dirigem a Apolo ou a Esculápio, fazendo esses deuses
profissão de medicina e de cirurgia, os católicos não se dirigem também a São
Cosmo e a São Damião?
E Santo Elói, o santo dos ferreiros, não ocupará a mesma função do deus
Vulcano?
A São Jorge não dão eles, os católicos, o título que se dava outrora a
Marte?
A São Nicolau, não fazem eles a mesma honra que os pagãos faziam ao
deus Netuno?
São Pedro, como porteiro, não corresponderá ao deus Janus159?
Por pouco eles fariam crer ao anjo Gabriel que ele é o deus Mercúrio!
157 Les religions et les philosophies dans l'Asie Centrale.
158 Edição Le Ducha! 1735.
159 Da respectiva constelação astrológica.
190
Pallas, como deusa das Ciências, não estará representada em Santa
Catarina?
E, em vez de Diana, não têm eles Santo Humberto, o santo dos
caçadores?
Idêntico ofício é atribuído a Santo Eustáquio.
E quando vestem João Batista com uma pele de leão, não será para
oferecer à vista o deus Hércules160?
Não se vê comumente Santa Catarina com uma roda, como se quisessem
representar a deusa Fortuna?
Delfos decidia as questões religiosas fabricando deuses, como Roma
fabricava santos161.
Ora, quem fala assim é um católico de quatro costados!
Diz Léon Denis que na Capela Sixtina do Vaticano, por ordem do Papa e
pelo genial pincel de Miguel Ângelo, vêem-se ali agrupadas as sibilas do Paganismo
com os profetas do Catolicismo. É que naquela época a Igreja Católica ainda vivia
dos ensinos dos invisíveis; invisíveis estes que ainda se manifestam no Vaticano,
como acontece com as aparições de Pio X, verificadas pelos eclesiásticos ali
residentes, de cujas indiscrições têm-se conhecido cá fora, apesar da expressa
proibição de Pio XI, de serem divulgados esses fenômenos.
Nem as superstições do Paganismo escaparam a essa mania de
macaqueação.
Raro é o católico que não possua uma dose de superstição, que aberra,
absolutamente, dos ensinos de Jesus e o filia à feitiçaria.
160 Idem, idem.
161 LEI NAIN DE TlLLESMOND — Mémoires a servir a l'Histoirc ècléstasiastique - 1701.
191
Assim, são poucos os católicos que não tenham fé na ferradura atrás da
porta, na mão de guiné dependurada na janela ou no pescoço, orações a vários
santos em saquinhos sobre o peito, escapulários com dentes de animais, raízes etc.,
ramos de alecrim para benzer a casa, incenso para afugentar os maus espíritos,
imagens de Santa Bárbara e de São Jerônimo para preservação do raio, além do
panteão de santos e santas em péssimas oleografias ou de um museu de grotescos
personagens fabricados em gesso para cada especialidade milagreira.
Não basta, igualmente, um Jesus e uma Maria, é preciso fracioná-los em
uma infinidade de atribuições, cada qual requerendo, forçosamente, uma igreja,
padres, sacristãos etc.
Não será, também, uma superstição crer e fazer crer a milhares de
homens que, por meio de palavras místicas, ditas só em latim, o sacerdote é capaz
de lazer baixar do céu a divindade e passá-la numa simples obreia para ser comida,
como contendo ou sendo o próprio Corpo de Deus?
Como qualificar um povo que se diz católico e que desregradamente se
entrega durante uma semana às maiores orgias carnavalescas, condenadas pelo
próprio Catolicismo, festejando o Deus Saturno do Paganismo, sob o irônico pretexto
de que é para se divertir?
Verdade é que depois é representada a comédia do arrependimento, para
no ano seguinte recomeçarem as mesmas cenas.
Mas o que ultrapassa as raias do absurdo, da incoerência e da loucura de
um povo é ter o governo brasileiro oficializado essa festa paga, num país que, diz,
conta uma maioria de católicos.
Não há dinheiro para dar água à população, as ruas suburbanas achamse
em petição de misérias, há falta de escolas, falta de higiene; mas a Prefeitura
192
gasta centenas de contos de réis para embalar uma população nas vésperas de
uma eleição, a cujos cargos os mandantes, desse modo, fazem jus.
Não será de admirar, para vergonha do Brasil, que um dia seja criado o
Ministério do Carnaval, com repartições de carros alegóricos, seção de críticas,
ateliês de cenografia, ateliês de escultura em papelão, orquestra de professores
para sambas etc.
Panem et Circenses, já dizia Juvenal aos romanos.
Impostos para o Carnaval, diz o Prefeito aos cariocas.
Entretanto, não nos consta que tais anomalias sejam praticadas por
israelitas, maometanos, protestantes, budistas, espiritistas etc.
Que concluir, portanto, daí?
Que o Catolicismo é professado por pagãos, feiticeiros e ocultistas. Que é
uma deturpação do Cristianismo, o qual, por sua vez, se derivou do Judaísmo, do
Budismo, do Maniqueísmo e das filosofias gregas.
"O Cristianismo deve muito ao profeta do Irã, e, se a
idéia da vida futura, tal como a concebe a ortodoxia cristã,
fosse despojada de todos os elementos Zoroastrianos que ela
encerra, ela preferia seu lado pitoresco. Mas, como todos os
devedores, os cristãos têm a memória curta e pouco há que
reconheçam seu débito." (C. Potter).
Se se perguntar hoje a um católico qual foi o grande chefe religioso que,
segundo as escrituras, nasceu de uma virgem, escapou da degolação dos
inocentes, confundiu os sábios pela precocidade da sua ciência, começou pregando
aos 30 anos, foi tentado no deserto pelo diabo, expulsou demônios, deu vista a
193
cegos, realizou outras coisas milagrosas e ensinou a existência de um Deus
Supremo de Luz, de Verdade e de Bondade, provavelmente ele responderá logo:
Jesus Cristo, pois tal é o ensino dos Livros Sacros.
Mas, o persa, ao qual se formulasse a mesmíssima pergunta, responderia
sem titubear: Zoroastro, pois tal a vida desse reformador e o ensino do Avesta que
existiu milhares de anos antes de Cristo.
Os maniqueístas têm bispos, patriarcas, anciãos, batismo, eucaristia,
jejum, ofício com orações cantadas, comemoração anual da morte do seu fundador
— Mani — tal como Cristo.
A oração diária dos maniqueístas é a seguinte:
"Eu me prosterno e adoro com um coração puro e
uma linguagem sincera, ó Grande Deus, Pai das Luzes,
Essência da Luz. Adorado e abençoado sejas tu! Tua
majestade e teus mundos que criaste, abençoado. Ele te
adora, aquele que adora teus exércitos (os astros), teus santos,
tua palavra, tua majestade e o que te parece bom, porque tu és
o Deus, que é ao mesmo tempo Verdade, Vida e Santidade162".
Todo Catolicismo contemporâneo reside no seguinte:
"Misticismo e ignorância, danação e mercantilismo,
rigorismo e ausência de senso moral,.devoção e pó de arroz."
Qulio Vinson).
162 C. F. Potter — Les fondateurs de religions.
194
Disse alguém: o Cristianismo atual é um erro; o Catolicismo é um crime.
Doutrina de Jesus
Como já vimos, Jesus era de descendência judaica e, como tal, teve de
submeter-se a todas as exigências da Lei Mosaica que abrangia a Economia, o
Ensino, a Justiça, a Higiene, a Moral e o Culto a Jeová.
As primeiras palavras que Jesus balbuciou foram, certamente, orações a
IEVE (Jeová) e nem sua mãe poderia ter lhe ensinado outra doutrina senão a que
ela mesma professava nos templos, tanto mais, crente como estava, de ser seu filho
o Messias, isto é, o profeta anunciado por Moisés, não podendo, pois, a religião ser
outra, por isso o nazareou, mesmo para estar de acordo com a Lei que mandava
consagrar ao senhor todo primogênito macho163.
Criado o menino, foi ele entregue ao templo para sua educação e final
desempenho da sua missão, tendo se dado essa ausência entre a idade de 12 a 30
anos, isto é, 18 anos, justamente o tempo omisso nos Livros Sagrados a respeito da
Vida de Jesus nesse interregno; mas exatamente concordante com o tempo
prescrito pelos templos da índia para as iniciações que regulava ser de 18 a 21
anos.
Esses 18 anos de ausência de Jesus são comparáveis aos 15 anos em
que Zoroastro também esteve ausente.
Apelemos para Lucas. O que ele diz em I, 80?
"E o menino crescia e se robustecia em espírito”.
163 Lucas II, 23.
195
“E esteve nos desertos até o dia em que havia de mostrar-se a Israel"
Esse deserto era toda a parte que se estende para o Oriente, cujo limite
pouco importava a esse evangelista.
Se as palavras do Evangelho devem ser consideradas palavras de
evangelho, não há como curvar a cabeça ante essa declaração que corrobora todas
as pesquisas feitas pelos cientistas.
Segundo Nicolas Notovich164, Jesus esteve em Djaguernat, na Índia, onde
os Bramas lhe ensinaram a doutrina dos vedas, a medicina, a matemática etc.
Notovich afirma que ele era conhecido sob o nome de Issa. Não haverá
neste nome uma corrupção profética de Isso — I-Sh-O — IESU?
Em celta Esus é análogo ao Eso etrusco, que era o epíteto de Júpiter, ao
ATsa grego, à Ísis egípcia. Esu significava o Ser, assim como Esuk, Eson ou César
significava Deus.
Mas, como esse Issa não se conformara com a hierarquia dos deuses
brâmanes, produzida pelo cisma de Irshu, 3.200 anos antes, ele retirou-se para as
montanhas do Nepal, no Tibete, onde reinava a doutrina budista, a qual aprendeu,
iniciando-se nos outros mistérios, dirigindo-se, então, para sua terra natal,
atravessando a Pérsia e chegando à terra de Israel, com a idade de 29 anos, o que
concorda com Lucas III, 23: "Jesus estava quase com 30 anos de idade, sendo
como se cuidava, filho de José", o que significa, claramente, que seu súbito
aparecimento ali, após tão prolongada ausência, produziu aquela dúvida entre as
pessoas da localidade.
164 La vie inconnue de Jesus — CHACORNAC — Paris — Obra raríssima. Consultar também Araujo
Jorge. Jesus. 7909, Rio.
196
Aprofundando-se, também, o sentido da exclamação de Marcos e de
Mateus VI, 3 etc.: "Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de
José, de Judas e de Simão? E não estão ali suas irmãs conosco?" verifica-se logo o
súbito aparecimento de Jesus, entre seus parentes. É de notar, mesmo, que Mateus,
não se referindo a seu pai José, faz supor que eleja tivesse morrido; mas João VI,
42, supre esta falta dizendo: "Não é este Jesus, filho de José, cujo pai e mãe nós
conhecemos?"
Segundo esse notável escritor, toda a documentação por ele copiada e
resumida em sua citada obra, cujas edições foram em grande parte queimadas na
Rússia e em Paris pelo clero interessado, se acha, entretanto, conservada nos
templos em Lhassa, para onde foi levada cerca de 200 anos após a morte de Jesus,
da qual é também ali falada e, igualmente, é encontrada em Bombaim e na própria
Biblioteca do Vaticano.
A história parece ter seu cunho de verdade, se compararmos as palavras,
as sentenças, as parábolas, os atos de Jesus com os ensinos da doutrina de Buda,
na qual elas se encontram em toda sua pureza, e do que faremos, mais adiante,
uma vasta comparação.
Também, segundo Saint-Yves165, Jesus fora iniciado em Agartha, no
Tibete, e sua doutrina é saturada da budista, que ele soube adaptar à Mosaica e de
acordo com a mentalidade e os costumes do seu povo.
Por outro lado, confrontando-se Notovich com Ed. Schuré166, ex-discípulo
de Saint-Yves, este escritor faz supor que, da idade de 29 para 30 anos,
Jesus havia se recolhido ao templo que funcionava em Engaddi, perto de
Belém, nas margens do Mar Morto, e que era dirigido pelos essênios (Assaia, em
165 Mission des Juifs.
166 Os Grandes Iniciados, de Edouard Schuré. Madras Editora.
197
siríaco) que significa — Médico — Terapeuta, os quais tinham por missão curar
doenças físicas e morais. Era o resto de uma casta sacerdotal pertencente às
Confrarias dos profetas, instituídas ali por Samuel, o qual, por sua vez, era filiado às
doutrinas de Rama.
Proibiam o matrimônio, a servidão e a guerra; recomendavam o amor a
Deus e ao próximo e ensinavam a imortalidade da alma; formavam uma singular
associação moral e religiosa e viviam numa espécie de mosteiros (Koinobions),
pondo seus bens em comum e entregando-se à agricultura. Eram opostos aos
saduceus, que negavam a imortalidade da alma. Há grande analogia entre esta seita
e os primitivos cristãos. Tinham, porém, muitas idéias e práticas budistas167. O título
de irmão usado na Igreja primitiva é de origem essênia.
Segundo F. Delaunay168 os essênios surgiram 150 anos antes de J. C,
nas cercanias da cidade dos Patriarcas, ao norte de Engaddi, não longe, portanto,
de Belém, onde se achavam disseminados seus templos.
Plínio, por sua vez, relata que os essênios eram budistas.
A doutrina dos essênios, se bem que aparentemente ligada à legislação
de Moisés, dela se afasta em pontos essenciais e especiais. Essenciais porque ela
admite, como no Budismo, uma vida futura, uma natureza das almas, uma
eternidade de penas, contrariamente ao mosaísmo ao pé da letra e de acordo com a
doutrina de Jesus. Especiais, com relação ao ritual e a certos costumes cristãos, tais
como orar com as mãos estendidas para o Oriente, o que era abominável para os
profetas.
Tal como os evangelhos, ou vice-versa, os essênios pregavam a proibição
do Juramento, o desprezo à riqueza, a renúncia ao mundo e à própria família, a
167 La Haube Magie
168 Moineo et Sybilles — 1874.
198
caridade, a abolição dos templos, a refeição mística, a hierarquia fundada sobre a
igualdade dos homens perante Deus; a distinção entre eles era dada ao mais velho
e a superioridade era medida pela virtude.
E o que fez Jesus senão cumprir à risca todos esses preceitos? Se ele
distinguiu Pedro foi só pela idade, obedecendo à regra, pois até uma vez o chamou
de Satanás.
Os terapeutas tinham estreita relação com os essênios e com o
Cristianismo posterior. Festas, abluções, cantos, predica, refeições místicas,
caridade, amor a Deus e ao próximo, luta contra a carne são análogas às virtudes
cristãs.
O nazareado essênio e terapeuta é idêntico ao mosaico: interdição dos
gozos físicos, celibato, austeridade ao último grau. Jesus foi o modelo.
Segundo Eusébio169, os terapeutas são judeu-cristãos dos tempos
apostólicos. Pertenciam a uma Igreja fundada pelo apóstolo Marcos, em Alexandria,
por volta do ano 45.
São Jerônimo, falando a Philon, disse: "vamos incluí-lo no número dos
escritores eclesiásticos porque ele elogiou os nossos, escrevendo um livro a respeito
da primeira Igreja fundada em Alexandria, pelo evangelista Marcos170."
Philon chama os terapeutas de discípulos de Moisés. Joio Batista parece
ter feito parte da ordem dos essênios, tal a semelhança da sua doutrina em certos
pontos teóricos, porém, opostos em relação ao lado prático.
O profeta Jeremias, predileto de Jesus, foi o precursor de João Batista,
assim como Sofônio o foi de Jeremias. Ambos, como seus antecessores, todos da
ordem de Rama, por Melquisedeque, Abraão, Jacó, e o próprio Jesus, anunciavam a
169 Histoire Ecclésiastique — I, II, cap. XVI.
170 Catal. Ecriptor. Ecclesiasticos.
199
mesma coisa: "O grande dia de Deus está próximo... dia de vingança, dia de
desgraças... dia da trombeta final!"
Jeremias foi o traço de união entre o Mosaísmo e o Cristianismo.
Esse profeta, em que Jesus não cessava de apoiar-se cm suas citações,
predisse o tempo em que não mais seriam precisos mestres, sacerdotes, pregadores
ou livros. Ninguém dirá: "Este que eu prego é o Deus Verdadeiro, pois o mais ínfimo
dos homens conhecerá Deus diretamente".
A tradição dos essênios foi violentamente sufocada pela Igreja Católica, a
partir do 2º século, a fim de fazer desaparecer, com o tempo, a verdadeira origem da
doutrina de Jesus, que ele mesmo não cansava de dizer que não era sua e atribuiaa,
por este modo, à inspiração divina, isto é, ao Pai, que, afinal, era Jeová, deus de
Moisés — deus de todos e não só dele.
Por isso os teólogos desconhecem hoje o verdadeiro alcance das
palavras de Cristo, com duplo e tríplice sentido, só lhe conhecendo o literal que
embaralham.
A cidade de Belém e a de Engaddi distam poucos quilômetros uma da
outra, sendo, portanto, muito admissível que Jesus tivesse recebido ali seu título de
Iniciado, dada a analogia da sua doutrina com a budista que ele conhecia da Índia.
Na proximidade havia o convento do profeta Elias, também da Ordem de
Rama, tão venerado por Jesus, que até o fez aparecer no monte, juntamente com
Moisés.
Segundo Silvain Levi171, é muito provável que essa seita dos essênios
seja o produto do Budismo, quando os monges indianos se espalharam pela antiga
Ásia, tal a semelhança de doutrina.
171 L’Inde et le Monde Paris.
200
"O Budismo não faz da existência do homem um
drama trágico, um ponto de interrogação entre dois infinitos, em
que se joga uma eternidade de salvação ou de danação: a
existência não passa ali de um acidente efêmero, numa série
de extensão incomensurável; a natureza não é um cenário, um
simples quadro: animais, plantas e a própria matéria bruta, bem
como o próprio homem, não são senão estágios temporários na
universal metamorfose da vida; uma imensa comunhão liga
todos os seres, desde as alturas dos céus às profundezas do
inferno, tudo submetido à mesma Lei do Carma."
Os indianos vivem em uma atmosfera divina. São humildes, dóceis,
tolerantes, inimigos da violência. Seu protesto contra o domínio inglês limitou-se a
uma guerra moral, sui generis, sem armas, sem insultos, sem intrigas, sem
represálias; só por meio da oração eles pediram a Deus (a Brahma) que
convencesse a Inglaterra da injustiça do seu ato.
O indiano possui a arte de tornar melhores seus compatriotas, seus filhos
e seus inimigos.
Confúcio disse: "Minha doutrina é fácil de penetrar. Ela consiste
unicamente em possuir a retidão de coração, a amar seu próximo como a si
mesmo. Os homens que habitam os quatro cantos da terra são meus irmãos. As
cinco virtudes cardeais são: bondade, probidade, polidez, sabedoria e sinceridade.
Ele não inventou sistema algum de moral, já o achou pronto no coração de todos os
homens".
201
O budista não só proíbe matar qualquer animal, por mais peçonhento que
seja, como proíbe comer-lhe a carne. O budista só se alimenta de vegetais ou frutas,
obedecendo assim às leis naturais, tal como o faz o gorila, antropóide robusto,
deixando a carnificina aos carnívoros. Assim, também, praticavam os valdenses que
foram sacrificados pelos católicos.
O Budismo pode vangloriar-se de jamais ter conquistado territórios
recorrendo à violência ou impondo-se pelas armas. E pela santidade e doçura de
coração, pelo exemplo de humildade, pelos sãos costumes, pelo incomparável
moral, pelo amor fraterno que ele se aninha em quase um bilhão de almas. O
Budismo tem monges, mas não tem clero. O Budismo não promete, dá no presente.
O católico promete tudo e nada dá, nem no presente, nem no futuro. No
Budismo só se aspira à perfeição, e este é o estado normal do budista. A lei de
Manu foi elaborada com todos os códigos da prudência, da moral e da prática de
milhares de anos.
Buda disse: "Não quero obter a suprema sabedoria perfeita, se houver,
neste mundo, um ser vivo que, depois de ter acreditado em mim, do fundo de sua
alma e do seu coração, e repetido meu nome, não deva renascer no paraíso".
A Igreja Católica, pela pena de São João Damasceno, na lenda de
Barlaão e Josafá, extraída do Ramayana no século XVII, e da qual La Fontaine fez a
fábula dos Patos do mano Philippe, tomou a virtude búdica como modelo de
santidade, e, como tal, aceita e aprovada por Gregório XIII, Xisto V, Urbano VIII,
Alexandre VII e Pio IX. Tirou igualmente do Apólogo Búdico, por parábolas e contos,
fartos exemplos de moral que foram introduzidos nos seguintes livros da Igreja
202
Romana: Gesta Romanorum, Vida Sanctorum, Vida Patrum, e Disciplina Clericales
etc.172.
O Budismo predomina entre os chineses, monges, tibetanos, afegãos,
tribos mongóis do Turquestão, tártaros, quirguiz, calmucos, indianos, japoneses, etc.
No Japão existem duas religiões sincretizadas: a Xintó (via dos Deuses),
religião familiar, culto dos espíritos, e a Butsudo (via de Buda), religião da moral.
Quando um peregrino depara com um templo, ele interroga: "Qual é o ser
que aqui reside? Não sei, lhe responde o sacerdote, mas meu coração transborda
de reconhecimento e as lágrimas me correm dos olhos".
No rito xintoísta verifica-se uma completa semelhança com o culto
católico. Assim: benzer pedra fundamental, consagrar casa nova, exorcismo para
afastar o espírito da raposa, venda de amuletos, de água benta para a cura de
doenças, assistência aos moribundos e preces ante o defunto, comemoração de
aniversário mortuário, preces para chover, para preservar de tremores de terra, de
incêndio, de inundações, para ganhar a vitória em combates, procissões do deus
Kami, culto dos mortos tal como no Catolicismo.
Há cerca de dois séculos o Budismo era totalmente desconhecido no
Ocidente. Foi Eugênio Burnouf, falecido em 1852, quem presenteou o mundo
estudioso do Ocidente com uma tradução da língua zende, que ninguém mais
compreendia na própria Índia, e a restituiu exumando, para o bem da humanidade, a
doutrina de Buda, que, sem isso, continuaria letra morta, para gáudio da Igreja
Romana!
Segundo sérios estudos, o Budismo, escrito há cerca de 1.300 anos antes
de Cristo, é originado do Bramanismo, religião que Rama (BA-Rama, Brahma)
172 G. DE VASCONCELLOS ABREU — Manual de Estudo de Sânscrito clássico.
203
implantou na Índia, na Pérsia e no Egito, oriunda provavelmente da Atlântida, por se
encontrarem vestígios na América, no México, no norte europeu e na própria África.
Segundo Marcel Clavelle173, os termos hindu e indiano não significam a
mesma coisa. São hindus aqueles que aderem à mesma tradição, mas, de fato, e
não de um modo exterior e ilusório como sucede ao Catolicismo.
São indianos, ou seja, não hindus, aqueles que não participam dessa
mesma tradição, como, por exemplo, os janias e os budistas.
Pode-se, pois, falar de Budismo indiano, mas não de Budismo hindu, de
muçulmano indiano e não de muçulmano hindu, o que seria um contra-senso.
Ora, à vista do que fica dito, não é de estranhar que Jesus curasse os
enfermos por simples imposição das mãos. Aos seus discípulos ele ensinou
secretamente o sistema de curar, mandando que impusessem as mãos, mas
obedecendo, como está provado, a certas regras científicas já conhecidas dos
antigos.
Contudo, com medo das autoridades civis, ele recomendava sempre a
todos que curava que nada dissessem a quem quer que fosse. A melhor maneira de
difundir um segredo é, exatamente, de recomendar segredo.
Alarico, Aristeu, Pitágoras, Empédocles, Apolônio de Tyane, Alexandre,
Abonetico, Peregrino Proteus, Simão, o mago, o rei Pyrrhus, o Imperador
Vespasiano etc., todos realizaram, muito antes de Jesus, curas maravilhosas à sua
maneira e de seus apóstolos — que vieram depois.
Que o homem possua fluidos magnéticos que influem no organismo de
outrem, que esses fluidos sejam regidos por leis naturais descritas em obras
173 Le Voile d’Ísis – jan. 1932.
204
especiais, como as de Reichenback, Durville etc., é uma questão perfeitamente
verificável por meio dos biômetros de Majewski, Baraduc e outros.
Nós mesmos, em 1905, provamos perante a imprensa e o corpo médico
reunidos em nossa casa, a influência desses fluidos sobre aquele aparelho.
A experiência consistiu em um pedaço de algodão hidrófilo conservado
durante cinco minutos na mão de Majewski (Boulevard Strasbourg, 3 —Paris) que,
após 21 dias de viagem em um envelope, sem dele sair, fez mover a agulha quantas
vezes se repetia a experiência.
Cada assistente repetiu a experiência com algodão de farmácia, e o
aparelho demonstrava graus diversos de forças fluídicas, conforme as pessoas,
sendo mesmo de notar que pela manhã são elas mais abundantes que à noite,
indicando, assim, que o homem se assemelha a um acumulador elétrico, que recebe
a carga do Cosmos durante a noite e a descarrega durante o seu labutar diário. O
corpo humano é um conjunto de minerais e dentre eles destaca-se o ferro, que se
imantará mais ou menos pelo magnetismo do Sol, como a minúscula agulha é
imantada pela mesma força e vibra indicando o eixo magnético da Terra. Daí certas
recomendações de orientar-se a cama de acordo com os quatro pontos cardeais.
Essa medicina elétrica já era conhecida na China há milhares de anos.
Atualmente algumas notabilidades médicas européias estão voltando sua atenção
para lá, conforme se vê do curioso estudo feito por Th. Vergnes, em Le Voile d'Isis,
número especial sobre "A China" (1932).
Essa experiência corrobora as de Reichenback, Mesmer e outros, acerca
dos fluidos humanos, e demonstra que, além dessas irradiações, ainda o homem
possui as luminosas, verificadas por Leadbetter, fotografadas por Baraduc, Majewski
205
e, em março de 1930, por um sábio italiano, cujo nome, transmitido pelo telégrafo,
nos escapa no momento.
Foi descoberta uma tela feita de uma película de dicianina e outros
produtos químicos prensados entre duas placas de vidro, através das quais é
possível ver-se uma forte irradiação luminosa em volta da cabeça da pessoa
examinada (Atalaia, março, 1933).
Nada há de extraordinário nessa luminosidade.
Os livros sagrados de todos os povos estão cheios de exemplos de
homens que irradiavam luzes.
Moisés, quando saía do Santuário para falar ao povo, tinha o rosto
resplendente; Buda tornou-se deslumbrante de luz ante seus discípulos. A
representação artística dos santos do Catolicismo, aureolados por uma coroa de luz,
demonstra, igualmente, que essa técnica da arte foi baseada numa tradição senão
nas visões diretas.
O fluido, a luz e o som ocupam na escala das ondas números
correspondentes às suas vibrações. Tudo que se move e vive vibra e é colorido e
musical.
Além dessas emanações, cuja ciência oficial sempre tratou de pôr em
dúvida, o homem possui mais as aromáticas e as visuais a distância.
Cada corpo humano, o que quer dizer, bilhões de homens, tem um
perfume característico, reconhecível pelo cachorro vagabundo e, sobretudo, pelo
cachorro policial. A raça negra é a única que exala esse perfume, tão
pronunciadamente, que a torna reconhecível pela pituitária das outras raças, no seu
conjunto geral, sem, contudo, se poder discernir a personalidade como faz o
cachorro.
206
As irradiações visuais a distância, chamadas de sexto sentido dos
antigos, já foram possuídas pela humanidade que as atrofiou. Essas experiências,
como as de telepatia e leitura do pensamento, são facilmente verificadas na
metapsíquica e tomam o nome de telecinesia174.
Já antes de Jesus, Simão, o mago, que citamos acima, também curava os
enfermos em nome do Messias, sem mesmo conhecê-lo, o que escandalizou os
apóstolos que se foram queixar ao Mestre, que, felizmente, os tranqüilizou dizendo:
"quem não é contra nós é por nós175".
Essa propriedade de curar enfermos físicos e morais não era, pois,
monopólio de Jesus; mas se um dia resolvesse encarnar-se no Brasil e produzisse
esses supostos milagres iria para o rol dos paranóicos, como Laureano Ojeda,
cognominado o profeta da Gávea, o professor Mozart etc., a não ser que,
patrocinado pelo clero e por certa imprensa venal, agisse como as Santas Dicas,
Manoelinas e quejandas boçais.
Mas retomemos o nosso fio.
Finda, portanto, sua educação no templo essênico, condensando ali os
ensinos da doutrina de Moisés e, por conseqüência, da de Rama, Abraão, Brama e
Buda, numa doutrina mais simples, mais ao alcance das fracas inteligências, a quem
ele ia dirigir-se, sintetizando Deus (Jeová) na singela e meiga expressão de — Pai
—, com o que, ainda assim, cumpria com o hábito judaico de não pronunciar o
sacratíssimo nome de Jeová, substituindo-o pelo de Adonai, com medo de ofendêlo,
saiu ele a campo com a idade de 30 anos, a fim de manifestar-se publicamente,
restituindo, por essa forma, a Palavra perdida, destronando a anarquia dos poderes
174 CH. RICHET — La Métaphysique.
175 Lucas IX, 49, 50 — Mais adiante, porém, XI, 23, ele faz Jesus contradizer-se: "Quem não é comigo
é contra mim!" Entenda-se lá. 176.
207
sociais, quebrando a espada do militarismo insaciável, consolando as vítimas do
despotismo, curando os males físicos e morais e prometendo àqueles que nele
acreditassem a volta do Reino de Deus, do Reinado da Paz, do Evangelho de
Deus, cumprindo, aliás, o que dele mesmo já se achava escrito, assim como
obedecendo aos conselhos de seus próprios irmãos que lhe diziam: "Sai daqui e vai
para a Judéia, para que também seus discípulos vejam as obras que fazes",
porque, como frisa João176: "Nem ainda assim seus irmãos criam nele".
Ele não cessava de repetir que sua doutrina não era dele; mas sim do Pai
(Jeová); disse que não tinha vindo ao mundo para destruir a Lei, mas, sim, para
cumpri-la; ensinou-a aos seus discípulos e nas sinagogas, o que confessa a
excelência da mesma.
"Porque se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis
em mim", dizia ele.
"Eu vim salvar o povo de Israel."
"Eu não vim ab-rogar a Lei."
"Da lei não se perderá um til."
"A salvação vem dos judeus."
É possível haver declaração mais concisa e peremptória?
Pois bem, os evangelhos fazem Jesus contradizer-se quando disse: "Foi
dito aos antigos... mas, eu vos digo agora..." Ora, isso significa que o que foi dito aos
antigos não tem mais valor, só o que ele agora disser é que terá valor.
176 João VII, 3, 10.
208
Desse modo ele se desmente, desmente Jeová e todo o valor das
palavras do seu Pai.
Era crença entre os apóstolos que Jesus entraria em Jerusalém para
reconstruir o antigo brilho político do Estado Judaico e romper com o poder de
Roma.
Essa esperança só se desvaneceu na ocasião em que fugiram
covardemente, abandonando Jesus a seus algozes, pois ele ainda não se tinha
compenetrado do sentido espiritual da expressão "Reinado de Deus", traduzida
como "Reino de Deus", por ser o Reino das Leis Morais entre os homens, por isso a
mãe de João e de Tiago, que caíra aos pés de Jesus, pediu-lhe, à pergunta que este
lhe fizera acerca de seu maior desejo: "Quando estabeleceres teu reino, eleva meus
filhos à categoria que vem logo após a tua".
O apóstolo Judas não pensava de outro modo, por isso, como vingança
de ver frustrado seu intento, agiu do modo que todos sabem.
Mas já que falamos em Judas, permitido nos seja aproveitarmos este
ensejo, para salientar mais uma contradição e incoerência dos Evangelhos, além
das dezenas que ali se encontram, o que lhes tira o caráter de inatacáveis, de
inspiração divina, de Sagradas escrituras.
Mateus XVII, 5, diz "que Judas entregou o dinheiro ao templo e foi
enforcar-se."
Em Atos I, 18 lê-se: que ele comprou um campo onde arrebentou o
ventre, por onde lhe saíram as entranhas.
Há mais versões, mas bastam estas.
Vejamos agora a parte moral do ato:
209
Segundo a Moral Católica, expendida em vários livros teológicos, Judas
recebeu licitamente sua paga.
Senão, vejamos o que ensina esta Igreja:
"Os bens adquiridos por atos vergonhosos, como,
por exemplo, por um assassinato, por uma sentença injusta ou
por ações desonestas, são legitimamente possuídos e não
existe a obrigação de restituí-los". (Escobar)
"Há exceções quando esses bens são recebidos de
quem não tem o poder de dispor deles, como os menores, os
religiosos etc. Porque, ensina Lessius, se pode estimar em
moída uma ação má, pela consideração da vantagem que
recebe aquele para quem a executou. Eis por que não existe a
obrigação de restituir a paga recebida para fazê-la, seja qual
for sua natureza, homicida, sentença injusta, ação infame
(porque esses são os exemplos de que ele se serve em todas
essas matérias!) salvo o caso em que se haja recebido de
quem não tenha poder de dispor de seus bens."
"Direis, talvez, que quem recebe pagamento pela
prática de qualquer malvadez comete pecado. Mas, eu
respondo que depois da execução não há mais pecado algum,
seja em pagamentos, seja em recebimentos177!".
Logo, Judas não é digno de censuras! Voltemos ao nosso ponto.
177 ERNESTO LUIZ DE OLIVEIRA — Roma e a Igreja... (Anti-Cristo).
210
Essa doutrina de Jeová, do Deus dos Exércitos, como foi traduzido, é a
que se baseia nos dez mandamentos e foi essa e não outra a que Jesus ensinou,
repassada com toda a incomparável doutrina budista, como denunciam suas
sentenças e suas parábolas, doutrina simplíssima, sem complicações metafísicas,
sem dogmas, sem templos de pedra e sem sacerdotes hierarquizados.
E, se Jeová foi traduzido como Deus dos Exércitos, cabe a culpa aos
tradutores, pois isso não significa que seja literalmente o Deus dos Exércitos de
terra, mas, positivamente, o deus dos ELOHIM, isto é, das Forças Fenomênicas, dos
Princípios, das Potências, e que, por inversão, MIHELA, significa MILÍCIA celeste —
Astralidade, o Universo sideral, o Deus, portanto, dos exércitos celestes. Em última
análise, ainda se poderia sofismar que esse exército fosse o constituído pelo povo
de Israel, como se vê em Jeremias VII, 3.
Paulo I — Tes. II, 1, assim se exprime a tal respeito: "Assim os céus e a
terra e todo seu exército foram acabados".
São esses Elohins, plural de Eloha, babilônio, são essas torças, princípios
— que Moisés faz agir nos cinco primeiros dias de formação da terra, da vegetação,
dos animais, simples almas viventes, inclusive macacos e o homem andrógino,
macho e fêmea (Gênese I, 27), sendo que, só no sexto dia, é que aparece o nome
de Jeová (o Ea Babilônio, o deus da vida) criando Adão só (o Adam, babilônio)
soprando-lhe a vida nas narinas, isto é, dando-lhe o espírito inteligente e arrancando
de suas costelas sua infeliz companheira (Gênesis II, 21,24).
Se os críticos tivessem todos os conhecimentos de Saint-Yves e chegado
às suas mãos os tijolos de Babilônia, certamente não teriam interpretado esses dois
termos de Elohins e Jeová como dois deuses diferentes, criando, o primeiro, o
211
homem andrógino e o segundo o casal desobediente, dando ensejo às correntes
contrárias dos Eloístas e dos Jeovistas.
Alfred Poizat em suas Conclusões diz:
"Jesus não veio fundar uma nova religião. Uma
religião não se funda, ela se reforma, se enriquece, se estende,
se completa; porém, é sempre julgada como sendo a religião
primitiva saída do primeiro casal humano."
Jesus disse que não tinha vindo destruir a religião de Moisés, mas
completá-la.
"Se o Cristianismo é verdadeiro, o Judaísmo de onde ele saiu também o
é. Se o Cristianismo é falso, o Judaísmo perde sua maior prova e fica suspenso" e,
conseqüentemente, completamos nós, Jesus confirmando o Judaísmo, se ele fosse
falso, cometeria o maior embuste e suas palavras seriam falsas. Mas, como Jesus
veio confirmar o Judaísmo verdadeiro, segue-se que o Judaísmo é verdadeiro e o
Cristianismo seu corolário, reformado e enriquecido pela doutrina budista, que jorra a
cada passo dos lábios de Jesus e que não é encontrada no Pentateuco.
Não é demais nos estendermos sobre este ponto, embora caiamos em
repetições para esclarecer a doutrina que Jesus pregou.
Jesus disse: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o Único Senhor".
Ora, o Deus de Israel era Jeová, cujo nome, como já temos repetido, era
substituído pelo de Adonai, e tendo Jesus adotado o termo Pai, como fazia Platão
212
muito antes, claro é que este Pai é o Senhor nosso Deus, o Jeová, o único Deus, a
quem se deve adorar sem figuras ou emblemas e não um pai antropomorfo.
Dizendo mais, que não era dele a doutrina que pregava, mas do Pai que o
enviou como Messias, claro, ainda que essa doutrina era a que Moisés recebera
diretamente de Jeová (?) mandando que todos obedecessem aos escribas que
estavam sentados na cadeira de Moisés.
Ora, como Moisés era o depositário da tradição de Abraão, o qual, a seu
turno, era filiado à Ordem de Rama, a cuja ordem também pertencia Melquisedeque,
tanto que lhe pagou o dízimo da mesma, e, tendo Jesus venerado Abraão, Moisés,
Jacó e todos os profetas, e sendo ele o Pontífice eterno anunciado, segundo a
Ordem de Melquisedeque, confirmado por Paulo, claríssimo que a religião de
Jesus era a de Rama, difundida na Índia, na Pérsia, na Babilônia e, por fim, no Egito.
É uma das razões de Jesus ter dito: "Quando Abraão existiu, eu sou, isto
é, eu existia como Verbo".
Diz Gustave Dalmann178:
"Não se poderia conceber que Jesus nunca tivesse
orado de pé diante do altar. Segundo o Direito judaico, todo
israelita adulto, indo ao templo para uma Festa, tinha de
oferecer um tríplice sacrifício; um para apresentar-se perante
Deus (reiyya), outro, a título mesmo da solenidade (Kbagîgâ),
outro, finalmente, o da alegria da festa (Shimkha). Jesus uma
vez ou outra, ter-se-ia colocado à esquerda do altar, onde se
imolavam os animais, e, apoiando fortemente suas mãos sobre
178 Les itinéraires de Jesus.
213
um cordeiro pascal, o terá, mesmo, sacrificado, voltado para o
templo, enquanto o cordeiro era mantido na direção norte-sul,
com a face voltada igualmente para o santuário...".
“O altar era considerado por Jesus como
santificando as ofertas (Mateus XXIII, 19) porque ele tinha
consciência da vontade divina, sancionando o serviço que ele
desempenha. Jesus nunca exigiu que se cessasse de
sacrificar, mas, somente, prescreveu de só se entregar à
realização desse rito, depois de confirmadas as relações entre
os irmãos à ordem agradável de Deus”. (Mateus, V, 24).
"Foi no último pátio interno que Jesus se teria
achado no principal dia da festa dos tabernáculos (João VII,
37). O povo implorava que Deus fizesse chover dando sete
voltas no altar. Jesus convidou, então, o povo a estancar sua
sede nele mesmo (João VII, 38) etc."
O estudo atencioso dos capítulos dos Atos dos Apóstolos revela,
claramente, essa doutrina, que foi a da primitiva Igreja, pois ali não se trata nem da
doutrina de Pedro nem da de Paulo.
Verifica-se mesmo em Atos que Pedro, João e Tiago, os discípulos
escolhidos por Jesus para assistirem a sua transfiguração, ficaram em Jerusalém
para estabelecer a aliança de uma igreja Judeu-Cristã, que chegou a espalhar-se
por toda a Ásia, pela Grécia, indo mesmo até Roma e mais além.
A primitiva comunidade cristã praticava os costumes judaicos, participava
do culto do templo, observava a Lei; seus adeptos eram cristãos, mas judeus.
214
Na opinião de Albert J. Edmunds, o Budismo e o Cristianismo, sejam ou
não historicamente conexos, partiram de um grande movimento espiritual, de uma
elevação da alma humana, que surgiu primeiro na índia e, depois, na Palestina com
o advento cristão.
Pouco importa que as duas correntes de lava se encontrassem ou não no
primitivo tempo, o certo é que elas vieram do mesmo foco, espalhando-se sobre todo
o planeta. Desse encontro sairá a forma religiosa do futuro.
Entretanto, forçoso é reconhecer que a legenda cristã se aproxima mais
da masdeísta do que da budista, conforme teremos ainda muitas ocasiões de fazer
confrontos.
O que é certo, porém, é que a doutrina de Jesus nada tinha de original.
É fato incontestável que ele nada deixou estabelecido, a não ser a
confusão entre seus próprios discípulos.
É essa a doutrina de Jesus e não outra, conforme ele mesmo confessou.
Os primitivos cristãos, isto é, os primeiros discípulos do mestre, do Cristo, do
Salvador, do Redentor, como foi cognominado depois, nem sequer criaram uma
religião ou formularam uma doutrina com o nome de cristão, porquanto não existiam
livros nem dogmas do Mestre nem ritual. As cerimônias eram realizadas a Jeová, pai
de Jesus, como ele o chamava e no mesmo templo mosaico, sacrificando-se o
mesmo carneiro de Abraão e de seus descendentes.
Só posteriormente, quando os evangelhos principiaram a aparecer, é que,
por se atribuir a Jesus a paternidade das frases e da moral que pregou, se
convencionou chamar essa doutrina de cristã.
Os Concílios, porém, mais tarde, introduzindo a política nesse credo,
entenderam que Jesus não soube o que disse nem o que fez, e criaram, então, um
215
Culto à sua pessoa, a que denominaram de Católico, isto é, como se fosse
Universal, com um ritual à cruz, cheio de dogmas e, sobretudo, com um Código Civil
que conseguiram impor às nações, subjugando monarcas e povos a um suposto
direito divino, do qual o Bispo de Roma era o legítimo e único representante na terra.
Luta entre Pedro e Paulo
Foi por isso que surgiu com Paulo um conflito, de alcance universal, que
devia terminar pela vitória desse apóstolo, o que prova que nem sempre a verdade é
vencedora, pelo menos temporariamente.
Suas epístolas aí estão contradizendo vários pontos dos evangelhos,
dando ocasião ao aparecimento de inúmeras seitas contrárias ao Catolicismo.
Paulo disse a Pedro, quando este procurava ligar os cristãos de Antioquia
às rigorosas observâncias do Mosaísmo clerical: "O que tu ligas fica desligado". Ora,
esta frase contradiz a de Jesus quando ele disse a Pedro: "O que ligares na terra,
ligado será no céu".
Apesar de Pedro ter recebido diretamente de Jesus a investidura da
doutrina (Atos XV, 7), Pedro andou indeciso e com medo de Paulo, que se dizia mais
Apóstolo que os outros apóstolos (Coríntios); é por isso que, como já dissemos, este
organizou uma doutrina a seu modo, relegando a de Pedro, João, Tiago e Barnabé,
para um plano diferente. E, como só ele andou pregando e escrevendo sua nova
doutrina ou modo de ver, levando-a até a Europa, é claro que a de Pedro teria de
soçobrar, apesar de bem divulgada pela palavra no Oriente, como no Ocidente,
pelos 70 iniciados.
216
A verdade ressalta claramente de Atos dos Apóstolos XV, 7,
confrontando-se com a Epístola de Paulo aos Gálatas II, 7, de onde surge uma
tremenda contradição179. Senão vejamos:
Pedro diz em Atos XV, 7: "Sabeis, meus irmãos, que Deus há muito
tempo me escolheu para que, por minha boca, os gentios ouvissem a palavra do
Evangelho e cressem". O termo evangelho era tomado unicamente no sentido de
Boa Nova, pois não havia evangelhos escritos como os atuais. E Paulo diz:
Gálatas II, 7: "E vendo que o Evangelho me foi confiado para os
incircuncisos, como a Pedro para os circuncisos".
Essas duas doutrinas, uma da Circuncisão e outra da Incircuncisão,
confeccionada por Paulo, porque Jesus nunca tratou disso, circuncidado como ele
era, se opõem fundamentalmente e se contradizem.
Ora, se Jesus disse a Pedro, fazendo um trocadilho, que ciência não mais
aceita, que sobre essa pedra é que seria edificada sua Igreja, a do judeucristianismo,
não se pode, em boa consciência, aceitar as interpretações silogísticas
de Paulo, emérito casuístico e sofista, que, com admirável facilidade, transformava o
preto em branco, como se verifica em todas as suas epístolas e, especialmente, em
Gálatas IV, 4, 5, e fizessem de Paulo a pedra fundamental.
Aos Coríntios III, 10, 15, ele chegou a dizer que a obra de Pedro e,
conseqüentemente, a de Jesus seria destruída pelo fogo!
Como prova de sua astúcia, basta ler-se em Atos a passagem que se
refere à sua permanência no templo, durante sete dias, por isso, foi acusado de
profanação e, como tal, teria de ser condenado. Para defender-se, ele disse aos
juízes: "Meus irmãos, sou fariseu e filho de fariseus; é por causa da esperança de
179 Les fondateurs de religions – 1930.
217
uma outra vida e da ressurreição dos mortos que querem me condenar". (Atos XXIII,
6, 7, 8.)
Não se tratava, absolutamente, disso. O que ele queria era provocar uma
discussão entre saduceus e fariseus, afim de ser dividida a Assembléia; porque os
saduceus não acreditavam em ressurreição, em anjo ou espírito, ao passo que os
fariseus acreditavam nisso.
Paulo, entendendo, erroneamente, que Jesus havia ab-rogado a Lei, com
sua morte, o que colide com suas palavras e ensinos, torceu todo o sentido e
combateu tenazmente os apóstolos diretos do Cristo, tendo mesmo acerba
discussão com Pedro, o qual o chamou de hipócrita e covarde, e conseguiu pela sua
incansável propaganda no Ocidente desfazer aquela Igreja, o que lhe foi fácil,
porque esta não tinha representantes ali nem escritos por onde se pudessem guiar,
visto como os evangelhos só apareceram 150 anos depois das epístolas de Paulo.
Pedro proclamava a perpetuidade da Lei Mosaica, ao passo que Paulo a
negava.
Pedro foi o instituidor da Salvação pela Graça, ao passo que Paulo
mantinha que a salvação só era obtida pela Fé e pelas obras.
A facção de Pedro, em Jerusalém, logo após a morte do Mestre, seguia a
doutrina mosaica, como a praticava Jesus, adorando Jeová, ao passo que a facção
grega, a qual ainda não pertencia Paulo, divinizava a Jesus.
O versículo 46 de Atos atesta que os apóstolos e seus discípulos
perseveravam diariamente no templo e que, nem Jesus nem seus discípulos
conceberam jamais a idéia de atentar contra a Unidade de Deus, de destruir a lei ou
de fundar uma nova religião, pois qualquer motivo de suspeita que eles tivessem
218
dado a tal respeito importaria na revolta do povo contra eles, içando-lhes interdito
formalmente a entrada no templo.
O Catolicismo é que forjou essa agremiação política que nada tem de
cristã.
Pedro proclamava a circuncisão, o sábado e o desprezo das carnes
sacrificadas.
Paulo pregava a incircuncisão e o desprezo do sábado.
Pedro acreditava na superioridade do judeu sobre o gentio.
Paulo declarava a igualdade de ambos.
Pedro acreditava que o pecado de Adão foi expiado pelo dilúvio e que o
mundo descendia de Noé, o que é mais razoável.
Paulo acreditava no pecado original e na redenção pela graça de Jesus.
O Bispo de Roma, da facção de Paulo, era incircunciso. O Bispo de Jerusalém, da
facção de Pedro, era circunciso.
A igreja de Roma era saturada das doutrinas de Paulo e a de Jerusalém,
a judeu-cristã, era guiada pelas doutrinas do seu fundador, Jesus, e dirigida pelo seu
irmão Tiago.
A facção de Pedro era composta de Ebionitas (Ebjon), que significa:
pobre (Atos 45), e contava no seu início com 120 pessoas (Atos 15) aumentadas em
500, depois, em Jerusalém. A maioria, porém, era grega, sendo diminuto o número
de palestinos. A seita chegou a contar com três mil almas.
A facção grega, como acima dissemos, era, portanto, contrária à de Pedro
que era o chefe da Congregação.
De acordo com seu regulamento, Pedro tinha de convocar uma
Assembléia para a eleição do novo Chefe. Este, porém, não querendo largar a
219
cadeira, com receio desta cair nas mãos de gregos, ia constantemente adiando o
dia, até que, forçado por circunstâncias políticas, realizou a Assembléia em que foi
destituído e substituído por Santo Estêvão e mais os seis seguintes diáconos
gregos: Felipe, Proctore, Nicanor, Timon, Parmenos, Nicolau de Antioquia.
A intolerância e o fanatismo começaram a nascer das disputas entre
Estêvão, eleito Chefe da Congregação dos Ebionitas, e Pedro, seu pregador, os
quais se insultavam e se anatematizavam, tornando-se inimigos mortais (Atos VII,
48, 53, 58).
Pedro, judeu de origem, era fiel às tradições judaicas, ensinadas e
confirmadas por Jesus; ele desprezava todos os que viviam fora do Judaísmo
(Orígenes C.C. II — 1).
Perante o Grande Tribunal do Sanedrim, ele não cessava de afirmar que
suas doutrinas estavam de acordo com as crenças judaicas, com o espírito da Tora
e sua interpretação. Dizia mais que a única diferença existente é a de saber se
Jesus é o profeta anunciado por Moisés, pois uns crêem que Jesus é o Messias e
outros não acreditam em tal.
Mas como ele pregasse em nome de Jesus ressuscitado, o Sanedrim de
Jerusalém, por ordem de Caifás e de Pilatos, lhe proibiu de pronunciar tal nome em
público, por ser uma afronta ao Tribunal que o condenou e, portanto, a Roma, e uma
constante ameaça ao sacerdócio judaico.
Pedro desobedeceu duas vezes; foi repreendido e castigado pelas
autoridades. Mas a facção grega, mais numerosa, não cessava de fazer pressão
sobre a de Pedro. Chegou, porém, o dia em que Roma vendo que os cristãos gregos
suplantavam os da Palestina, com a divinização de Jesus, tratou de solucionar o
caso. Estêvão foi apedrejado pelos habitantes de Jerusalém.
220
Por causa de uma questão de dogmas, Pedro foge. Percorre o Oriente à
procura do seu maior rival, Simão, o mago, conhecido por Simão o impostor, que
chamava Pedro de falso evangelista. Este Simão foi primeiro discípulo de João, o
Batista, e um dos 30 discípulos de Dositéia, produzia milagres tais como Jesus,
Pedro e os apóstolos, os quais chamavam de Magia (Atos VIII, 9).
Felipe ficou substituindo Estêvão, mas, depois de mil peripécias, ele
dirigiu-se para Cezaréa com suas quatro filhas virgens, que profetizavam (Atos XXI,
89), o que prova que a primitiva igreja reconhecia a existência do dom de profecia,
substituída mais tarde pelas Santas.
“A escola de Tubingue (Baur, Strauss, Zeller, etc.)
estabeleceu solidamente que os Atos dos Apóstolos são obras
de um paulino que, para aproximar e conciliar as duas partes
hostis que dividiam a sociedade cristã, se esforçou por fazer
parecidos tanto quanto possível Paulo com Pedro e Pedro com
Paulo e de substituir, assim, ao quadro de seus desacordos
reais o de um acordo ideal." (H. Rodrigues)
Paulo que, nessa ocasião, ainda se chamava Saul, forma hebraica do
nome Paulo, assistiu impassível à morte de Estêvão, cuja roupa jazia a seus pés.
Em decorrência da sua inteligência, se bem que horrendamente feio e
disforme, pois era ventrudo, narigudo e tinha as pernas tortas, Paulo foi incumbido
de perseguir e prender os cristãos gregos que fugiam para Damas. Entre esses
figurava o célebre Simão, o mago, inimigo de Pedro, pelos milagres e curas que ele
produzia em concorrência com Jesus (Atos VIII, 9).
221
Foi nessa viagem de oito dias a pé, acompanhado dos centuriões, que
Paulo tivera aquela suposta visão, ficando cego e ouvindo vozes, o que, segundo
os anais gregos, nada mais foi do que o resultado de um forte temporal com
relâmpagos e trovões, caindo, por isso, sem sentidos e com a vista ofendida pelos
clarões.
Aqui se verifica ainda outra contradição, como aliás, estão repletos os tão
apregoados livros sacros: em Atos IX, 7 lê-se que "os varões que iam com ele,
pararam atônitos, ouvindo a voz, mas, não vendo ninguém", ao passo que em Atos
XXII, 9, "os varões que estavam comigo (Paulo) viram, em verdade, a luz e se
atemorizaram muito; mas, não ouviram a voz..."
Paulo diz mesmo aos Gálatas e aos Coríntios que viu Jesus e uma luz
Que dizia: "Saul! Saul! Porque me persegues?"
É curioso notar-se que tendo Paulo nascido mais ou menos na mesma
época de Jesus, tendo morado em Jerusalém durante sua vida, como verdadeiro
judeu e fariseu, suas cartas nunca mencionem que ele tivesse jamais visto Jesus
que, para ele, era absolutamente desconhecido, apesar do rebuliço que o nome de
galileu ali causava.
Paulo declarou, mesmo, que a idéia que ele fazia de Jesus nada tinha de
comum com as opiniões dos 12 apóstolos. Foi o Cristo crucificado que ele pregou
toda sua vida e não o filho do carpinteiro, cuja doutrina e vida pouco ou nada lhe
interessavam.
Conduzido à casa de Ananias, chefe da Congregação Cristã, em Damas,
ali foi tratado durante alguns dias, em que esteve de cama.
Ali se converteu, foi batizado e começou sua pregação após um certo
tempo de preparo.
222
Os Atos dos Apóstolos foram escritos por um dos discípulos de Paulo, a
fim de conciliar as duas partes hostis, em um judeu-cristianismo. Este discípulo,
segundo todas as aparências do estilo, da língua e das idéias, foi Lucas, o qual teria
redigido os 12 primeiros capítulos, sendo os 12 restantes escritos posteriormente no
ano 52.
É inadmissível e incoerente, como já dissemos, que Jesus depois de
morto, numa suposta aparição a Paulo, seu maior inimigo, tivesse dito a este: "Vejo
agora que eu estava em erro, quando apregoei a excelência da Lei Mosaica; vai,
derruba essa lei e arranja outra doutrina do seu jeito, baseada sobre minha
ressurreição e próxima vinda nas nuvens."
Não se pode conceber um Deus onipotente, produzindo tantos milagres
por intermédio de Moisés, durante 40 anos, no deserto, para firmar uma religião que
ele levou séculos a formar, que jamais deveria perecer, devendo-se mesmo lapidar
os que pretendessem destruí-la, entregando sua guarda a um povo escolhido, para,
finalmente, depois, na carne de seu próprio filho que a confirmou, ordenar, em suma,
a Paulo que refundisse tudo aquilo!
Como admitir-se que ele fizesse nascer esse filho, judeu, professando e
ensinando essa mesma doutrina que ele pretendia agora aniquilar, filho que se
rodeia de 12 judeus e de 70 iniciados incumbidos de transmitir a posteridade a essa
doutrina que ele, agora, execra pela boca de Paulo?
É inadmissível e ilógico que, tendo Jesus dito a Pedro "Tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei minha Igreja, contra a qual não prevalecerão as portas do
inferno", Paulo tivesse sido a pedra fundamental de uma igreja da incircuncisão
quando a de Pedro era a da circuncisão.
223
Além disso, a incoerência e a contradição resultam logo, algumas linhas
abaixo, no versículo 23, capítulo XVI, quando Mateus faz Jesus dizer indignado a
Pedro: "Arreda-te de diante de mim, Satanás, que me serves de escândalo...",
sentença esta que Jesus não revogou, antes, a corroborou quando, nas vésperas de
ser condenado, ele disse a Pedro: "Quem, tu?... Não cantará o galo duas vezes que
não me renegues".
O imbróglio é patente e irretorquível!
Mas, mesmo que Pedro ficasse investido dessa hierarquia pela idade, o
que anula contradiria os preceitos de Jesus de "não haver maior nem menor", não se
pode admitir que este tivesse revogado seu decreto, para instituir Paulo como chefe
de uma só parte do povo, dos incircuncisos, ficando a outra parte, dos circuncisos,
com Pedro.
E se Pedro foi considerado por Jesus como um dos mais eminentes
apóstolos, o que parece lisonja de colegas, como Paulo declara (Coríntios II, XI, 5)
que não se considerava em coisa alguma inferior a qualquer apóstolo?!
Um psiquiatra ou psicanalista moderno encontraria em suas epístolas
evidentes sintomas de sadismo, masoquismo, dualidade de personalidade, transes
periódicos e outros estados patológicos, na expressão de C. F. Potter179−A.
Se não fosse Paulo, o judeu-cristianismo teria florescido no Ocidente e no
Oriente, e, se não fosse Santo Agostinho, que nele se baseou, o Cristianismo
moderno não seria conhecido no Ocidente, apesar do sacrifício do Calvário, aliás,
tão comum ali, sacrifício este que 200 anos antes de Cristo teve um culto sob o
nome de Culto da Cruz, sem relação alguma com o futuro Cristo. Este culto também
existiu entre os astecas e os incas, milhares de anos antes de Cristo.
179−A Les fondateurs de religions — 1930.
224
O Culto da Cruz só foi introduzido na Igreja Católica no século V da nossa
era. Antes disso, não havia templos católicos, nem cruzes, nem imagens e ainda
menos os dogmas de hoje.
A cruz ansada da arte cristã é uma imitação da letra egípcia, copiada da
sânscrita, da qual se originou a hebraica, que, por seu turno, parece ligar-se ao culto
fálico da Caldeia.
sânscrita
egípcia
hebraica
caldéia
Paulo fez de Jesus o centro de uma Igreja, de um culto, não pelo que ele
era, mas pelo que não era; não pelo que ensinou de verdadeiro, mas por predições
que não foram realizadas, e, portanto, falsas.
E, se o Cristianismo criou raízes no Ocidente, isto é, em Roma, de onde
se espalhou por toda a Europa, foi por lhe terem erigido um culto baseado
unicamente numa política local, criando um Poder Temporal, que absorvia e absorve
monarcas e povos.
O Bispo de Roma, abusando do seu título de Pastor, trocou seu modesto
báculo pelo orgulhoso cetro.
"Foi, diz Saint-Yves, graças a Constantino, que a
religião do Cristo tornou-se um culto oficial e o clero começou a
formar uma classe privilegiada e a Igreja uma das principais
engrenagens do Estado."
225
Foi por causa do concurso de várias nações, odiando-se mutuamente,
que o Cristianismo não conseguiu sobrepujar as outras crenças no Oriente, pois
demonstrava falta de unidade de vista em seus Princípios Psicológicos,
afugentando, por conseqüência, as que ela pretendia catequizar.
Não caberia aqui um resumo sequer da vida desse imperador, o que já foi
feito em volumosas obras, mas salientaremos, somente, que foi um rei perjuro e um
dos maiores assassinos de sua época, tendo chegado a ponto de lavar suas mãos
no sangue de sua esposa.
Ele construiu um lupanar no qual ia assistir aos maiores deboches.
Cheio de remorso de sua infame vida, ele dirigiu-se aos padres pagãos a
fim de lhe serem perdoados os crimes por meio das expiações praticadas nos
templos. Os padres lhe responderam que, entre as várias fórmulas de expiação de
seu culto, não havia nenhuma com força suficiente para apagar tantos crimes e
nenhuma religião as possuía capazes de abrandar os deuses tão ultrajados.
Mas um dos bajuladores do palácio, vendo o rei atormentado pelos
remorsos, disse-lhe, um dia, que seu mal não era desesperador; que existia na
religião dos cristãos várias maneiras de purificações, fosse qual fosse a natureza
dos delitos ou dos maiores crimes, que todos eram redimidos. Bastaria, para isso,
abraçar essa religião.
Assim fez Constantino, declarando-se o protetor de uma seita que trata
tão carinhosamente os maiores culpados. Como ele impôs os dogmas da Trindade,
da divindade de Cristo e outros, o domínio público sobre as nações etc., o leitor terá
ocasião de se instruir no capítulo dos Dogmas.
Entretanto, só no fim da sua vida, já às portas da morte, esse rei se fez
batizar, para, desse modo, aproveitar a eficácia desse sacramento, que tem a
226
propriedade de clarificar a alma mais pichada do mundo, como se deu com o próprio
Santo Agostinho, a ponto de ser aquele celerado canonizado santo.
Foi daí que começou o prestígio do Cristianismo.
Se o terrível Nero tivesse agido do mesmo modo se veria hoje seu
amaldiçoado nome figurando no calendário gregoriano como um respeitável santo,
tendo seu altar nas igrejas como o tem aquele.
Os padres do seu culto recusaram-lhe a entrada nos templos de Elêusis;
as portas do Vaticano lhe estariam abertas.
Portanto, repetimos, foi Paulo o único e principal culpado de ter sido a
doutrina de Jesus, o Cristo, completamente transformada, agravando-se o mal com
a organização do Culto Católico, criador dos dogmas, da adoração a santos, dos
milagres, dos mártires, das relíquias, da Eucaristia, do batismo, da confissão, da
idolatria e da simonia, tudo positivamente contrário ao ensino do divino Jesus.
Não é de admirar, portanto, que tenham surgido tantas doutrinas
constituídas cada qual com outras charadas com pretensões a explicar hieróglifos.
"Falsificadas por cada um dos partidos triunfantes,
cheias de asserções teológicas opostas aos fatos da história,
às leis da natureza e ao exercício da razão esses documentos,
aliados, assim, a substâncias perturbadoras, tornaram-se
fermento de misticismo, de engenhos e de servilismo." (H.
Rodrigues)
227
Mas Jesus também disse: "Toda cidade ou casa dividida contra si mesma,
não subsistirá" e "se Satanás levantar-se contra si mesmo e for dividido, não pode
subsistir; antes, tem fim" (Marcos III, 24). É o que se vê no Catolicismo.
A fonte era limpa, mas, a força de chapinharem nela, turvaram-na de tal
modo que, presentemente, é muito difícil destilá-la novamente ou mesmo filtrá-la.
E, por que essas exegeses se verificam exatamente no Catolicismo e não
em outras religiões?
É porque não tendo Jesus escrito coisa alguma, ele se limitou a dizer: "Na
cadeira de Moisés estão sentados os escribas e os fariseus. Observai, pois, e
praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais como eles, porque dizem e
não praticam"; isto é, não sejais hipócritas.
O Cristianismo primitivo tem quatro fases: o Palestiniano, o Pauliniano, o
Judeu-Grego e o Joânico.
A Igreja Apostólica ensinou a humanidade de Jesus, Paulo sua natureza
humana e João sua preexistência. A Igreja Católica e o evangelho de João
ensinaram sua divindade e o Concilio de Nicéia, sua deidade.
Diz Hippolite Rodrigues180: "A doutrina de Paulo é tão diferente e tão
oposta a de Jesus, que elas se anatematizam mutuamente. O antagonismo já vinha
entre Paulo e Estêvão".
Pedro chegou a ter o direito de vida e morte sobre seus adeptos (Atos V,
5, 10).
A morte do casal que havia sonegado parte dos seus bens à
Congregação deixa o espírito bem suspenso a respeito da santidade da doutrina.
180 Saint Pierre.
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