domingo, 30 de novembro de 2008

Linguagem do vestuário

Os postulantes aos cargos públicos, em Roma, vestiam-se de túnicas bran­cas, indício da pureza de suas intenções e, por isso, chamavam-se candidatos (de candidus-a-um).
A toga, como qualquer peça do vestuário, é uma informação indicial da função exercida pelo juiz e a cor negra sinaliza seriedade e compostura que de­vem caracterizá-lo. Não se misturam trajes como não se usurpam funções e, as­sim, andou com a razão um ex-senador ao dizer que “japona não é toga”.
Tem-se notado a freqüência significativa de mulheres de preto em Macha­do de Assis, todas, ou quase todas, viúvas. Há mesmo um conto com o título: "A mulher de preto." De novo, a cor preta está associada ao respeito e à seriedade. Mas há quem se pergunte: Machado estaria realmente interessado na cor preta ou nas viúvas?
João Ribeiro, em nota de rodapé (1960:98), estabelece relação entre a propriedade básica - casa ou habitação - e os nomes de vestes: casa e casaca; capa e cabana (capana); habitar e hábito. Vai mais longe e associa fatiota à enfiteuse.
Há de se dizer, como remate, que mesmo o calar-se é um ato de comuni­cação. Eugênio Coseriu considera o calar-se como o "ter deixado-de-falar" ou "o não falar ainda". É, pois, determinação negativa de falar, o que constitui, também, uma prerrogativa do ser humano.
Tanto o é que, segundo Ernout e Meillet, os latinos, pelo menos até a épo­ca clássica, tinham dois verbos para o ato de calar-se: silere, para os seres irracio­nais, e tacere, para os seres racionais.

20 INTRODUÇÃO A COMUNICAÇÃO
No Direito, fala-se em "tácita aceitação", "tácita recondução", "renúncia tácita", "confissão tácita", "tácita ratificação". Magalhães Noronha (1969:115) diz que o silêncio do denunciado pode ser interpretado contra ele.
Observe-se que nos bons filmes de faroeste há sempre aquele momento em que o silêncio desperta suspeitas no mocinho.

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